quinta-feira, setembro 29, 2005

Era uma vez um pinguim e um sapo

Devo confessar que não me sinto muito à-vontade com o tema de hoje. Em primeiro lugar porque sei de antemão que algumas pessoas me vão considerar moralista. Depois, porque a minha esmerada educação na Suiça, me impede de empregar determinadas palavras que se encaixariam às mil maravilhas naquilo que quero transmitir. Sinceramente não sei como começar.

Bem, alguém conhece aquele anúncio do Sapo Messenger que passa na televisão, aquele em que entram um pinguim e um sapo? Estão a ver aquele pinguim que dá um arroto monumental e um sapo que dá um … quer dizer, o sapo dá … isto é, em que o arroto do sapo perde o elevador, estão a ver? Esse mesmo.

É sabido que a publicidade tem que ser imaginativa, muito embora na maior parte dos casos ela nada invente. Bastas vezes recorre à procura na sociedade daquilo que ela tem de bom ou de mau e cria e inventa anúncios de forma a poder chegar ao respectivo público-alvo. Quantas vezes com muita originalidade e graça, outras transpondo situações de forma nua e crua.

Mas é aqui que surgem as minhas dúvidas. Será aceitável que a publicidade faça anúncios de mau gosto só porque o mau gosto existe na sociedade?

O facto de na sociedade ser “normal” tanta gente andar para aí a arrotar (não me estou a referir às pessoas que “arrotam postas de pescada", e são mais que muitas) não justifica que a comunicação social e, nomeadamente, a publicidade, devam utilizar isso, dando-lhe até maior realce, como se o arroto fosse uma coisa que se possa considerar civilizada (na civilização ocidental, entenda-se) e de “bom tom”. Eu disse “bom-tom” e não” bom som”, que é o que na maior parte das vezes se ouve.

Não posso estar de acordo com a apologia da má educação mas parece que é isso mesmo que se pretende.
A continuarmos assim, os próximos anúncios apelarão para o “cuspir para o chão” (de resto, um gesto tão caro aos portugueses), depois será o atirar cascas de fruta pela janela do automóvel e, a seguir, certamente, o palitar dos dentes à mesa, quem sabe se o tirar a prótese no fim da refeição.

Meus amigos, a boa educação é transversal às diversas gerações. E se em casa e na escola esses valores não são transmitidos às crianças e adolescentes, pelo menos não criemos nelas a ilusão de que essa boa educação é coisa de outros tempos.
Agora, pretender que um anúncio seja engraçado com esse tipo de coisas não parece ser a melhor forma de educar. Pelo contrário.

E se começássemos a cultivar, no dia a dia, a elegância nos gestos e nas palavras, para que, depois, a comunicação social e os publicitários possam inspirar-se neste novo modelo? Não acham que seria uma boa ideia?

Repito, a publicidade apenas retrata o que já existe na sociedade. Eu sei disso, mas, garanto, que não é por eu conhecer a maior parte dos palavrões que vou andar para aí a gritá-los.

Agora uma coisa tenho que reconhecer, os bichos têm um grandessíssimo fôlego. Foi pena foi que os criativos não tivessem aproveitado esse atributo de uma outra forma.

2 comentários:

Anónimo disse...

Em outras situações não hesitaria em culpar imediatamente o cliente. Afinal são os grandes responsáveis por uma grande (mesmo muito grande) percentagem de má publicidade que é veiculada todos os dias, deixando, na maioria das vezes, bons trabalhos e boas ideias na gaveta - muitas bem mais ousadas, mais inovadoras e definitivamente com mais gosto. Mas o que interessa ao cliente, ao senhor do dinheiro, é vender. O resto são cantigas.

Um outro cliente lá constituem as excepções que confirmam a regra.


Contudo, neste caso do sapo, tenho sérias dúvidas se haverá mão do cliente no pormenor da discórdia.

Ainda assim, não há quem não tenha reparado no anúncio, fazendo ou não parte do público-alvo. E notoriedade ajuda a vender, não?



P.S.: A palavra que procuras é "flato". Não fosse o seu significado, até que soaria bem.

blah disse...

um pouco atrasado (3 anos), mas ficam aqui dois artigos precisamente sobre isso:

anúncio sapo (bleurgh):
http://www.inodium.com/?p=39

cuspir no chão:
http://www.inodium.com/?p=36

Sofro do mesmo ódio de estimação.