segunda-feira, novembro 21, 2005

Dar sim, mas …

Todos nós somos abordados constantemente por alegados membros de “associações de protecção a qualquer coisa”, de “ligas nacionais e humanitárias de …”, de “bombeiros voluntários de…”, de “organizações a favor de…”, enfim, das mais diversas áreas de assistência e solidariedade para pedir a nossa ajuda para uma determinada causa, seja em dinheiro, em géneros ou na compra de um qualquer objecto ou coisa.
E, muito embora, muitas dessas instituições sejam reconhecidamente da mais absoluta confiança, o facto é que, de forma quase inconsciente, muitas vezes somos levados a pensar se o nosso contributo se destina efectivamente à organização que o solicita ou se, pelo contrário, vai reverter para outros fins não identificados, nomeadamente para o proveito de trapaceiros que se sustentam à custa da boa fé das pessoas.
Não duvido que, na maioria dos casos, as razões invocadas sejam as mais justas e as mais credíveis mas, o assalto continuado ao comum do cidadão, começa a ser um exagero.
Ainda há dias num semáforo, uma Corporação de Bombeiros Voluntários não sei das quantas (ainda por cima de uma terra que fica a mais de 50 km da capital) me pediu para os ajudar. Depois, quando cheguei ao supermercado, pediram-me para comprar um boneco a favor de uma instituição de assistência social. Ao sair, junto ao parque de estacionamento, pediram-me uma contribuição para a luta contra já não sei o quê.
Tudo isto, quase no mesmo sítio e num curtíssimo espaço de tempo.
Naquele momento, juro que cheguei a pensar que se a pedinchice continuasse àquele ritmo, não me restaria outra hipótese do que montar a minha própria banca para promover uma recolha de fundos a favor de … mim.
Mas a verdadeira questão é esta. É que, para além do facto dos portugueses não terem – ainda que o quisessem – a possibilidade de contribuir para todas as causas que consideram justas, existe um outro problema. Na maioria dos casos não se conhecem essas instituições nem fazemos ideia da sua obra.

Essa questão não se coloca relativamente à instituição de que vos vou falar hoje – O Banco Alimentar Contra a Fome de Lisboa. Uma instituição reconhecida como “Instituição de Superior Interesse Social”.
Trata-se de uma organização bem estruturada e da máxima confiança, que luta contra o desperdício alimentar para minorar as carências alimentares de pessoas comprovadamente necessitadas.
Com a colaboração de uma lista numerosa de empresas doadoras de produtos e de serviços, com a generosidade de muitos particulares e com a dedicação de um grupo de voluntários e funcionários, o Banco Alimentar Contra a Fome de Lisboa (BACF) recebe os alimentos dos doadores e distribui-os às Instituições Beneficiárias.
E para que tenham uma ideia da dimensão da acção do BACF de Lisboa, referirei que em 2004 foram recolhidos 6.750.249.71 de quilos de produtos, os quais foram distribuídos por 258 Instituições, envolvendo um total de 54.210 pessoas assistidas. Tudo isto com instituições que mantêm um acordo com o BACF.
Relativamente às instituições que ainda se encontram em lista de espera, o BACF não as esqueceu e, mesmo a essas, entregou 309 toneladas de alimentos. É obra!
Mas para responder àquela dúvida que se coloca, tantas vezes, a quem dá - se os alimentos vão mesmo parar às pessoas que precisam - direi o seguinte:
O BACF acompanha em permanência as diversas instituições de solidariedade social com três objectivos principais:
- assegurar que os produtos sejam efectivamente entregues a quem deles necessita;
- evitar os desperdícios;
- e, naturalmente, inviabilizar as utilizações indevidas.
Deste modo o BACF recebe os alimentos dos doadores, distribui-os e assegura-se que eles chegam ao seu verdadeiro destino, ou seja, às pessoas carenciadas.
E, se alguma vez, se detecta algum procedimento inadequado por parte de alguém de qualquer Instituição, o BACF suspende imediatamente o fornecimento de alimentos.
Por tudo isto, o BACF é uma organização que merece toda a nossa confiança.

Porém, o Banco Alimentar Contra a Fome de Lisboa só pode dar aquilo que recebe. E recebe durante todo o ano das empresas doadoras a maior parte dos alimentos que redistribui, quer ao nível dos chamados produtos frescos, quer dos não perecíveis.
A restante ajuda chega através das doações efectuadas pelos particulares – por nós consumidores – nas duas recolhas em Abril e em Novembro de cada ano – efectuadas em diversos supermercados e hipermercados da zona de Lisboa.
E é muito reconfortante constatar que, nestas recolhas anuais, as pessoas, apesar das dificuldades sentidas, estão de ano para ano mais participativas e mais solidárias. Sente-se que existe a consciência de que “Há quem viva muito pior do que nós”

Dito isto, quero convidar-vos a participar na próxima recolha de alimentos que se realizará nos próximos dias 26 e 27 de Novembro – portanto, já no próximo fim-de-semana.
Vamos estar juntos por uma boa causa. Tenho a certeza que se vão sentir muito mais felizes por estarem envolvidos neste grande movimento de ajudar a quem necessita mais.

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