quarta-feira, novembro 16, 2005

O seu a seu dono

Antes de mais, e para que não subsistam dúvidas quanto à isenção das minhas opiniões, devo dizer que não tenho uma simpatia por aí além pela Teresa Ricou, a conhecida “mulher-palhaço”.
E se me perguntarem porque razão é que eu não simpatizo com a senhora (que até nem conheço, a não ser dos meios de comunicação social), digo-vos com toda a franqueza que não faço a mínima ideia. Deve ser uma questão de pele ou, talvez, por ser uma mulher palhaço, que é uma actividade pela qual eu tenho o maior respeito mas com que nunca tive uma grande afinidade.
Declarado o princípio, há que dizer que trabalho é trabalho e conhaque é conhaque, pelo que, muito embora eu não simpatize com a Teresa Ricou não significa isso que não lhe reconheça um enorme mérito no trabalho que vem desenvolvendo há anos.
Na verdade, esse trabalho da mulher-palhaço não é muito conhecido. Ou antes, quando se ouve falar na Teresa Ricou e no seu Chapitô, pensa-se, de uma forma geral, numa escola de arte, vocacionada sobretudo para o circo, mas essa ideia representa uma parte muito limitada da actividade daquela escola.
A escola artística “O Chapitô” é, de facto, uma escola de arte mas é, também, um local que desenvolve há 25 anos em Lisboa, um trabalho de Acção Social destinado a integrar na sociedade as crianças e os jovens em situação de risco, através de actividades artísticas.
Mais, o Chapitô (onde já trabalham 120 pessoas) é uma associação privada sem fins lucrativos, criada em 1981, que presta um serviço cultural, social e educativo, ao cruzar o ensino e o divertimento com a intervenção social, através das artes e do espectáculo.
Também na área da Acção Social, o Chapitô está actualmente a construir uma residência aberta para jovens maiores de idade e que vivem em situações de risco.
Assim, e pelo conjunto da sua obra, a escola artística Chapitô, na pessoa da sua fundadora, recebeu recentemente no Parlamento Europeu em Bruxelas, o prémio europeu "Rosa de Prata", atribuído anualmente pela organização não-governamental Solidar, como reconhecimento pelo seu serviço na área social. Os prémios "Rosa de Prata", destinam-se a reconhecer pessoas ou organizações que trabalhem junto da sociedade civil para criar um mundo mais justo.

E justo, é exactamente a palavra adequada para definir o meu sentimento quanto à atribuição deste galardão. Em Portugal, onde o Estado não consegue dar resposta a muitas das carências mais básicas de tantas e tantas pessoas, o papel das instituições não-governamentais é absolutamente fundamental no apoio da população mais fragilizada. Instituições como é o caso do Chapitô.

Parabéns, pois, à Teresa Ricou pela sua obra em prol das crianças e dos jovens em situação de risco.
Pode-se simpatizar, ou não, com a Teresa mas temos que reconhecer que é uma mulher notável. O seu a seu dono.

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