quinta-feira, setembro 29, 2005

Era uma vez um pinguim e um sapo

Devo confessar que não me sinto muito à-vontade com o tema de hoje. Em primeiro lugar porque sei de antemão que algumas pessoas me vão considerar moralista. Depois, porque a minha esmerada educação na Suiça, me impede de empregar determinadas palavras que se encaixariam às mil maravilhas naquilo que quero transmitir. Sinceramente não sei como começar.

Bem, alguém conhece aquele anúncio do Sapo Messenger que passa na televisão, aquele em que entram um pinguim e um sapo? Estão a ver aquele pinguim que dá um arroto monumental e um sapo que dá um … quer dizer, o sapo dá … isto é, em que o arroto do sapo perde o elevador, estão a ver? Esse mesmo.

É sabido que a publicidade tem que ser imaginativa, muito embora na maior parte dos casos ela nada invente. Bastas vezes recorre à procura na sociedade daquilo que ela tem de bom ou de mau e cria e inventa anúncios de forma a poder chegar ao respectivo público-alvo. Quantas vezes com muita originalidade e graça, outras transpondo situações de forma nua e crua.

Mas é aqui que surgem as minhas dúvidas. Será aceitável que a publicidade faça anúncios de mau gosto só porque o mau gosto existe na sociedade?

O facto de na sociedade ser “normal” tanta gente andar para aí a arrotar (não me estou a referir às pessoas que “arrotam postas de pescada", e são mais que muitas) não justifica que a comunicação social e, nomeadamente, a publicidade, devam utilizar isso, dando-lhe até maior realce, como se o arroto fosse uma coisa que se possa considerar civilizada (na civilização ocidental, entenda-se) e de “bom tom”. Eu disse “bom-tom” e não” bom som”, que é o que na maior parte das vezes se ouve.

Não posso estar de acordo com a apologia da má educação mas parece que é isso mesmo que se pretende.
A continuarmos assim, os próximos anúncios apelarão para o “cuspir para o chão” (de resto, um gesto tão caro aos portugueses), depois será o atirar cascas de fruta pela janela do automóvel e, a seguir, certamente, o palitar dos dentes à mesa, quem sabe se o tirar a prótese no fim da refeição.

Meus amigos, a boa educação é transversal às diversas gerações. E se em casa e na escola esses valores não são transmitidos às crianças e adolescentes, pelo menos não criemos nelas a ilusão de que essa boa educação é coisa de outros tempos.
Agora, pretender que um anúncio seja engraçado com esse tipo de coisas não parece ser a melhor forma de educar. Pelo contrário.

E se começássemos a cultivar, no dia a dia, a elegância nos gestos e nas palavras, para que, depois, a comunicação social e os publicitários possam inspirar-se neste novo modelo? Não acham que seria uma boa ideia?

Repito, a publicidade apenas retrata o que já existe na sociedade. Eu sei disso, mas, garanto, que não é por eu conhecer a maior parte dos palavrões que vou andar para aí a gritá-los.

Agora uma coisa tenho que reconhecer, os bichos têm um grandessíssimo fôlego. Foi pena foi que os criativos não tivessem aproveitado esse atributo de uma outra forma.

quarta-feira, setembro 28, 2005

Um caso de sucesso

Em 2004 foram roubados das lojas portuguesas – em especial nas de roupa e nas de produtos alimentares – artigos no valor de 181 milhões de euros, o que corresponde a cerca de 1/4% dos lucros desses sectores.

Segundo a CheckPoint Meto, empresa especializada em soluções de segurança, esses roubos terão sido efectuados por clientes (53,9%), pelo pessoal das lojas (22,4%) e por fornecedores (9,1%), sendo os restantes 14,6% atribuídos a erros de funcionamento interno, que não foram, no entanto, especificados.

Com este resultado, Portugal conseguiu alcançar o 3º lugar do campeonato europeu dos países em que mais se rouba, sendo ultrapassado apenas pelo Reino Unido e pela Finlândia.

Esta é, sem dúvida, uma boa notícia. Numa época em que os portugueses andam tão deprimidos, talvez este sucesso possa contribuir para aumentar auto-estima dos cidadãos.

Sim porque, pelo menos neste sector (o do roubo) demonstrámos, de forma inequívoca, a grande capacidade, a organização, o empenho e o profissionalismo da nossa rapaziada. Na Europa do “gamanço” conseguimos, finalmente, atingir os primeiros lugares.

Uma nota final para referir que neste ano de 2004, apesar da “honrosa” classificação conseguida, apenas foram detidos 9720 “amigos do alheio”

É que – e vá lá saber-se porquê – embora Portugal esteja entre os 3 países com maior percentagem de roubos está, paradoxalmente, entre os 4 países que registam menores detenções neste tipo de furto. Ou seja, rouba-se mais mas nem sempre se é apanhado.

E digam lá se não somos mesmo bons.

terça-feira, setembro 27, 2005

Mais duas histórias

Acho que a dose (reforçada) de Sedoxil que tomei há pouco, deve ser suficiente para me manter mais ou menos calmo nas próximas horas. Contudo, as duas histórias (mais duas) que a seguir dou conta, são demasiado fortes para deixar qualquer pessoa indiferente. Senão, vejamos:

A primeira diz respeito à EPUL – Empresa Pública de Urbanização de Lisboa que pagou em Abril passado uma indemnização de 110.081 euros (mais de 22 mil contos) a Albertino Madeira Henriques, gestor de pequenos negócios, para este abandonar os quadros da empresa, onde trabalhava desde 2002 (há três/quatro anos, portanto). Mas, no mês seguinte, pagou-lhe um salário mensal de 7259 euros (1455 contos), correspondente a um contrato de prestação de serviços externos por três anos, pelo exercício das mesmíssimas funções como consultor externo.
De referir, ainda, que esta rescisão, e de mais 15 quadros da empresa, foi negociada e justificou-se porque, segundo a presidente da EPUL, “a empresa estava com o orçamento excessivamente pesado”.

Pergunto: e só viram isso três anos depois de terem contratado todos esses senhores? Que raio de gestão é essa?


A outra história tem a ver com membros de conselhos de administração de 89 hospitais públicos que receberam indevidamente mais de meio milhão de euros, um montante que daria para construir um centro de saúde de grandes dimensões.
Esta verba foi utilizada para comprar viaturas de cilindrada não permitida por lei, para pagamento de hotéis e viagens de férias particulares e para despesas de representação excessivas, sendo que, relativamente a estas últimas, eram recebidas não nos 12 meses, como a lei também determina, mas em 14 meses.
Depois da auditoria que descobriu estas fraudes (o sistema de controlo interno dos hospitais mostrou-se ineficaz para detectar, em tempo, os problemas) muitos dos gestores já devolveram o dinheiro recebido indevidamente. Só um deles devolveu 19 mil euros, mais de 3 três mil e oitocentos contos.
Mas, e apesar de tudo, dez desses senhores, recusam-se a obedecer à lei. Feitios …

E o escândalo continua no reino dos hospitais quando se sabe que muitos médicos recebem de horas extraordinárias, em média, 300% da sua remuneração-base, chegando alguns a atingir 755%.

Para quem não saiba, de acordo com a lei em vigor, os funcionários hospitalares, médicos incluídos, não devem receber remunerações relativas a extraordinários superiores a 1/3 do ordenado mensal.

Assim sendo, pergunto:

- Se as leis existem porque não se cumprem?
- O que é acontece àqueles que prevaricam?
- Existem ou não sistemas de controlo interno? E, existindo, funcionam?

É que, meus senhores, estamos uma vez mais a falar de dinheiros públicos. Do nosso dinheiro.

A continuarmos com todo este descontrolo, corremos bem o risco de um dia destes, um auditor perguntar a um responsável a que é que se refere determinado custo, e ele responder que corresponde ao pagamento de salários de uns quantos empregados de determinado serviço que está instalado no 13º. Piso e o auditor confirmar que não existe o tal serviço, nem os empregados e nem sequer existe um 13º. Piso.

Acho que, desta vez, não é preciso agarrarem-me. Mas que continuo a "passar-me", disso não tenho dúvida.

segunda-feira, setembro 26, 2005

Impaciências

Apesar da minha curta experiência como escrevinhador de blogues, já aprendi que, de uma maneira geral, as pessoas não têm lá muita pachorra para ler textos extensos. Provavelmente a dimensão das prosas é inibidora e, daí, vá de procurar coisas mais simples, que se leiam mais rapidamente.

Mas, como perceberão mesmo os leitores mais apressados, se há assuntos que podem ser tratados num texto curto, outros há em que é necessária uma exposição mais longa. E, depois, um texto grande não é necessariamente chato, em muitos casos pode até ser bem interessante. Tudo depende do tema e da pena mais ou menos inspirada do autor.

Ler a obra de um clássico através de um resumo, pode ser mais fácil, mas, com toda a franqueza, parece-me ser um pouco redutor e, de certeza, muito menos estimulante. Dessa leitura poder-se-á ficar com uma vaga ideia, mas não se chegará, certamente, à alma do autor.

Daí que, de vez em quando, haja a necessidade de estender o texto. Em certos assuntos, poucas palavras poderão não ser suficientes.

Está entendido?

domingo, setembro 25, 2005

Pura Sedução


Naquela manhã, ao acordar, alguma coisa me sussurrava ao ouvido que aquele iria ser um dia muito especial. E a sensação foi de tal modo forte que pensei ter chegado o momento exacto para, enfim, dar asas aos meus sonhos mais profundos. Queria tentar novas experiências.
Decidi, pois, lançar-me à aventura, na exploração de alguma coisa que me pudesse dar um novo sentido à vida.

Foi então que, ao abrir a porta, melhor dizendo, ao abrir a porta da vitrina, tive um baque, como se algo tivesse sido atirado violentamente contra mim.
Fiquei assarapantado, estático mesmo, quando dei de caras com aquele naco de prosa empolgante. Senti ali sensibilidade, senti poesia.

No rótulo da embalagem de congelados podia ler-se:

“as nossas empadas diferenciam-se pela delicadeza da massa folhada e subtileza do recheio. Preparadas com ingredientes naturais e capazes de seduzir os mais exigentes”

Aturdido, peguei em três caixas e corri, como louco, para casa.

Ansioso, coloquei as empadas no forno.
Emocionado, tentei absorver a delicadeza da massa e a subtileza do recheio. Depois, deixei-me seduzir, seduzir, seduzir

quinta-feira, setembro 22, 2005

Nossa Senhora de Fátima

Independentemente da senhora ser ou não culpada, esta história do “caso Felgueiras” incomoda-me. E sabem porquê? Em primeiro lugar porque, na minha opinião, uma pessoa que é acusada de 23 crimes e teima em candidatar-se a um cargo público, parece revelar, no mínimo, uma grande falta de sentido político e uma enorme ausência de ética.

Recordo, a propósito, que há uns anos um senhor que tinha sido ministro e era, na altura, figura destacada de uma representação diplomática no estrangeiro, por causa de um deslize de um filho seu, pediu imediatamente a exoneração do cargo.
Há bem menos tempo, o então ministro António Vitorino, também saiu do governo porque não tinha pago uma verba irrisória relativa à sisa de uma casa que comprara.
Estes dois casos demonstram bem a lisura de carácter de ambos, em situações relativamente às quais não foram sequer acusados. Aliás, no primeiro caso, o erro não foi cometido pelo político mas sim pelo seu filho.

Repito, a senhora pode vir a ser considerada inocente de todos aqueles crimes de que é acusada, mas nunca deveria – antes de tudo estar esclarecido – ser candidata à Câmara de Felgueiras.
Aliás, o mesmo se passa relativamente a outros candidatos a presidências de câmara, nomeadamente o Major Valentim Loureiro em Gondomar, Avelino Ferreira Torres em Amarante e Rosa Damasceno em Leiria, que terão ser julgados por aludidas irregularidades, cometidas no âmbito do caso “saco azul”

A outra coisa que me incomoda é o fanatismo patenteado por uma boa parte da população de Felgueiras que, sem estarem minimamente informados do que se passa, cantaram as maiores hossanas à “Deusa Fátima”, a Amiga do Povo.
E que se cuidem aqueles que não manifestam a mesma simpatia pela ex-autarca. Ainda ontem, num dos telejornais, assistiu-se em directo a um cidadão que não comungava a mesma opinião que a multidão presente à porta do Tribunal de Felgueiras e, por um pouco, não era linchado pela populaça.

Mas, incómodo à parte, o que me preocupa deveras é o modo como todo o processo se desenrolou, uma vez que existem factos que foram muito mal contados e que suscitam muitas interrogações.
Fátima Felgueiras fugiu para o Brasil ao saber que ia ser detida e sujeita a prisão preventiva. Como soube, quem lhe disse? Dois anos depois, regressa agora como se nada se tivesse passado, numa conjuntura que lhe é favorável e vendo a pena anteriormente aplicada, ser alterada pela juíza do Tribunal de Felgueiras (não deve ter tido outra alternativa, senão a populaça linchava-a também) para termo de identidade e residência.
Mediática, isto é, com apetência pelas câmaras, voltou candidata. Depois de um dia intenso, apresentou-se, na conferência de Imprensa repleta de cidadãos eufóricos, com um ar rejuvenescido, para dizer "Mostraram-me que Felgueiras precisa de mim".

A sensação com que nós ficamos é que o crime compensa. Ou seja, faz-se uma aldrabice (ou 23), foge-se e, uns tempos depois, regressa-se e é-se aclamado.
Por isso, o descrédito no sistema de justiça vai crescendo, por isso, a descrença nos nossos políticos vai aumentando, por isso, a nossa democracia, vai definhando.

quarta-feira, setembro 21, 2005

Internacionalização, Glogalização, Mundialização

Mão amiga fez-me chegar um texto que, na minha opinião, todos deveríamos ler com a máxima atenção.

A história – verdadeira, censurada e não publicada – passou-se a 21 de Março deste ano, numa universidade dos Estados Unidos e teve como protagonista o Ministro Brasileiro da Educação, Cristovam Buarque.

Durante o debate, um aluno perguntou ao ministro brasileiro o que pensava sobre a internacionalização da Amazónia (ideia que surge com alguma insistência nalguns sectores da sociedade americana e que muito incomoda os brasileiros).

O jovem americano fez a pergunta dizendo que esperava a resposta de um Humanista e não de um Brasileiro.

Esta foi a resposta do Sr. Cristovam Buarque:

“De facto, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazónia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse património, ele é nosso.
Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazónia, posso imaginar a sua internacionalização, como também, de tudo o mais que tem importância para a humanidade.

Se a Amazónia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro... O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazónia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extracção de petróleo e subir ou não o seu preço.

Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser Internacionalizado. Se a Amazónia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país.
Queimar a Amazónia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.

Antes mesmo da Amazónia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo génio humano. Não se pode deixar esse património cultural, como o património natural Amazónico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país.
Não faz muito tempo, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele, um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.

Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milénio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhattan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.

Se os EUA querem internacionalizar a Amazónia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos também todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.

Nos seus debates, os actuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a ideia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de comer e de ir à escola.
Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como património que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazónia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um património da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar, que morram quando deveriam viver.

Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazónia seja nossa. Só nossa!"


O Ministro Cristovam Buarque foi fabuloso. Ainda que de uma forma elegante, ele deu uma grande lição àqueles estudantes americanos. Só espero que eles tenham percebido!

E, quanto a
nós, talvez fosse bom que também pensássemos nas palavras sábias deste humanista.

terça-feira, setembro 20, 2005

A Bandeira

A bandeira portuguesa que foi “plantada” por Santana Lopes no alto do Parque Eduardo VII é deveras imponente. Com os seus 20 metros por 12 e com um mastro de 35 metros, a bandeira “esmaga” qualquer um.

Foi exactamente o que me aconteceu quando passei por lá no último sábado. Passei tão perto, que quase senti o forte ondular da bandeira verde/rubra. Nunca antes tinha visto uma bandeira tão grande. Nunca antes uma bandeira me tinha dominado tanto.

Santana Lopes terá justificado a sua iniciativa da seguinte forma:

é uma manifestação de confiança no futuro de Portugal e exalta as virtudes do são patriotismo

Pode ser que sim. A bandeira pode, efectivamente, levantar a auto-estima dos portugueses mas, conhecendo já o ex-primeiro ministro de “outros carnavais”, é legítimo que nos surja a dúvida se esta não será, apenas, mais uma obra para Santana continuar a estar na ribalta, agora que saiu da presidência da Câmara Municipal de Lisboa.

A propósito, a imprensa fez já constar que nos partidos da oposição, corre a piada de que Santana Lopes começou por concorrer para o Guiness dos primeiros-ministros com menos tempo em exercício, mas acabou nos recordes das bandeiras.

Seja como for, acho interessante a ideia. A partir da Avenida da Liberdade, do Marquês de Pombal ou do próprio Parque Eduardo VII, podemos apreciar o “monumento do Santana” a flutuar ao vento lá no alto.

segunda-feira, setembro 19, 2005

Esquecimentos

A Barragem da Sobrena, na zona do Cadaval está pronta desde 1996. Era uma infra-estrutura considerada vital para toda a região como apoio à agricultura, de uma forma geral e, mais em particular, aos inúmeros pomares por ali existentes.
Repito, a barragem foi concluída em 1996. Só que nunca foi utilizada porque alguém se esqueceu de construir alguns dos canais necessários para abastecer a barragem.
Na época foram investidos dois milhões de euros.
Não muito longe, na zona do Bombarral, terra de uvas e de vinhos, da pera rocha e da boa maçã reineta, foi construída há uns anos, uma piscina municipal.
A obra, de real interesse público, deixou muito entusiasmados os munícipes. Só que, alguém se esqueceu que a piscina só podia funcionar se tivesse água. E, as ligações para o efeito, não tinham sido construídas.
Parece mentira, mas são esquecimentos como estes que, às vezes, nos fazem desabafar:
“Isto só em Portugal

quinta-feira, setembro 15, 2005

Um príncipe inteligente

Esteve esta semana em Portugal para falar de cultura, o príncipe Khalid al-Faisal bin Abdul Aziz al-Saud, filho do falecido rei Faisal e sobrinho do rei Abdallah, da Aráubia Saudita.
O príncipe Khalid, de 65 anos, é um dos mais importantes embaixadores da cultura árabe, tendo publicado vários livros e participado em diversas exposições em todo o mundo. “Culto”, “sensível” e “afável” são os adjectivos mais utilizados para o descrever, por aqueles que com ele privam.
O príncipe é dono de uma enorme fortuna mas, dizem, é uma pessoa simples.
Pois apesar de ser considerado um homem simples, chegou a Lisboa num Boeing 777, alugado à ‘Saudi Arabia Airlines’, que longe de ser um avião comum, é um autêntico apartamento de luxo, com sala de jantar e suite, decorado a verde, cor da Arábia Saudita.
E muito mais simples se mostrou ao ficar hospedado no Hotel Ritz, onde reservou os últimos quatro andares para a sua comitiva e onde pagou 3550 euros por cada noite da suite presidencial que ocupou durante uma semana.
Mas, simplicidade à parte, a verdade é que o príncipe Khalid mostrou ser, para além de culto, sensível e afável, um homem muito inteligente. Senão vejamos:
- É casado com uma só mulher, contrariando a tradição muçulmana; e
- Regressou a casa com uma camisola do Benfica autografada por Eusébio.

quarta-feira, setembro 14, 2005

E depois, o dinheiro é vosso?

Para desmobilizar uma manifestação de militares que estava marcada para ontem à tarde, parece que o Estado-Maior da Armada mandou dar banho aos navios (com as respectivas guarnições) e fez sair em missão para o mar – logo ao fim da manhã - o navio de transporte ‘Berrio’, as fragatas ‘Sacadura Cabral, e ‘Vasco da Gama, além de várias corvetas, algumas das quais, por falta de condições de segurança, não foram além do mar da Palha, no estuário do Tejo.

Ou seja, para que os cerca de mil militares não estivessem presentes na manifestação, o Estado-Maior da Armada decidiu que só havia uma coisa a fazer – mandá-los para o mar e pronto!...

Pronto, não, falta dizer que com esta movimentação gastaram-se milhares de contos. O que, na verdade, não interessa nada. O dinheiro era vosso, por acaso? Não, não era, o dinheiro era da Marinha, por isso, não é da vossa conta o que eles gastaram e como gastaram!!! …

Devo dizer, no entanto, que não vejo nada de criativo nesta iniciativa das Altas Chefias da Armada.
Aqui há uns tempos, tive um procedimento exactamente igual. Depois de um desaguisado com os meus filhos e para que eles não me azucrinassem (vá lá eu ajudo, apoquentassem) os ouvidos com as suas reivindicações (que, aliás, até eram justas) sabem o que fiz? Comprei-lhes passagem de avião para os “estates”, marquei quartos em hotel de 5 estrelas e dei-lhes cartões de crédito para gastarem à vontade. Eu sei que fui duro com eles mas acabei com o problema de uma vez.
E, perguntam, saiu-me caro? Claro que saiu. E depois, o dinheiro é vosso?

terça-feira, setembro 13, 2005

O turismo no Algarve e a crise da classe média

Há muito que não mergulhava em águas tão agradáveis no Algarve. Não propriamente quentes como outrora mas, ainda assim, bem amenas.
Enfim, “a tradição já não é o que era”. As águas estão mais frias e, até no que respeita às famigeradas “invasões” de pessoas de que tanto nos queixávamos, sobretudo no mês de Agosto, também elas têm vindo a diminuir.
Significa isto que o Algarve deixou de ser um destino de férias interessante?

Não foi bem isso que constatei quando estive por lá, a confirmar, de resto, as diversas reportagens efectuadas pelas televisões e pelos jornais que são unânimes em afirmar que o turismo daquela região vai de vento em popa no que se refere à ocupação dos hotéis, o mesmo não sucedendo, no entanto, no que respeita à utilização dos restaurantes. Ou seja, a rapaziada - portugueses e estrangeiros - continua a querer ir de férias para o Algarve, só que a carteira não dá para tudo. Assim, preferem instalar-se em hotéis mas, quanto à alimentação, procuram soluções mais económicas.
Como dizia um hoteleiro “Muitos turistas sobem para os quartos com sacos de supermercado. Chegam a vir de férias com dois carros, um com a família e outro cheio de comida, geleiras e tudo …”
O que parece querer dizer que os turistas passam menos tempo fora de férias e têm menos dinheiro para gastar.
Mesmo os estrangeiros, de quem costumamos dizer que têm um nível de vida muito superior ao nosso (e têm), mesmo esses, têm cada vez menos dinheiro.
Resumindo, e segundo a notícia do Expresso, mais gente nos hotéis, menos nos restaurantes e mais, muito mais, nos supermercados. Há quem diga que este é o Verão do Lidl, do Marrachinho e do Alisuper.

Claro está que os hotéis de cinco estrelas e restaurantes de luxo nem sequer ouviram falar da tal crise. Por exemplo, a gerente de um hotel em Vale de Lobo chega a recusar clientes no verão, num estabelecimento que tem diárias que vão dos 350 aos 800 euros. E, pasme-se, há famílias que ocupam quatro e cinco quartos.
O que quer dizer que só existe crise onde há classe média.

Apesar de tudo, a tão badalada crise para os restaurantes, não é assim tão visível como isso. A contrariar o que dizem os responsáveis da restauração, constatei que, por exemplo, os restaurantes da agradabilíssima zona ribeirinha de Portimão, quer os do chamado “Pátio dos Restaurantes” quer os que estão situados um pouco mais à frente, mesmo junto ao Rio Arade, e principalmente os dois primeiros - a “Casa Bica” e o “U Venâncio” (nome bem engraçado, este) - têm bastante gente quer ao almoço quer ao jantar.

Também quando visitei a “Fatacil – Feira de Artesanato, Turismo, Agricultura, Comércio e Indústria de Lagoa” (uff…) verifiquei que os restaurantes, tascas e tasquinhas estavam permanentemente cheios e com filas de espera, por vezes demorada.

Assim sendo, em que ficamos? Afinal, a classe média sempre está em crise?...

segunda-feira, setembro 12, 2005

Idosos

No passado sábado, dia 10 de Setembro, Maria de Jesus fez 112 anos, o que é verdadeiramente notável. Nascida em 1893, é a mulher mais idosa de Portugal. Parabéns.

Por isso digo – e penso que com toda a propriedade - esta senhora é, de facto, idosa.

É frequente, no entanto, ler ou ouvir notícias na imprensa e nas televisões, que dizem especificamente (e com todas as letras) que uma pessoa de 50 ou mais anos é uma pessoa idosa.
Ainda há dias, ouvi num telejornal
“um idoso foi internado por …”, ao que o jornalista acrescentava “... o homem de 50 anos sofreu um ataque cardíaco …”

Idoso, aos 50 anos?
Numa altura em que a esperança média de vida anda pelos 80 anos?

E, tão mau como isso, é ouvir esses senhores noticiarem factos (sobretudo coisas más, desastres, nomeadamente) acontecidos com pessoas na casa dos sessentas ou setentas, por exemplo:

“foi atropelado na Av. Da Liberdade um sexagenário …”,
ou
“vítima de ataque súbito, uma septuagenária foi transportada por …”

Sexagenários? Septuagenários? As criaturas terão, por acaso, nomes e idades?

Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!, como isto me irrita.

E depois digam que sou eu que tenho mau feitio.

domingo, setembro 11, 2005

Quadrilha

Como que para aliviar da tristeza provocada pela derrota do "meu SLB" perante os leões, só a ajuda (e a boa disposição) de uma poesia do grande poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade

João amava Teresa, que amava Raimundo,
que amava Maria, que amava Joaquim, que amava Lili,
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.


É deliciosa, não é?

quinta-feira, setembro 08, 2005

Atenção companheiros

Horários longos causam prejuízos à saúde

As actividades profissionais com horários de trabalho superiores a oito horas por dia implicam um risco acrescido de 61 por cento em prejuízos para a saúde dos trabalhadores, revela um estudo realizado nos Estados Unidos.

Os investigadores destacam a crescente evidência científica sobre o facto de horários de trabalho muito longos afectarem de forma negativa a saúde e o bem-estar dos trabalhadores

Estes estudos revelaram uma associação entre a realização frequente de horas extraordinárias e um horário de trabalho superior a oito horas diárias a um aumento do risco de problemas de saúde como a hipertensão, doenças cardiovasculares, fadiga, stress, problemas músculo-esqueléticos e doenças crónicas.


E só agora é que me dizem isto ??????????????????????............

Quero aplaudir

A mãe do presidente norte-americano, Barbara Bush, disse estar convencida de que os indigentes recebidos em Houston (Texas) estão melhor do que antes da passagem do furacão Katrina pelo Luisiana, Mississipi e Alabama

"Quase todos com quem falei dizem-me que se querem mudar para Houston", afirmou, acrescentando de imediato: "E como de qualquer forma muitas das pessoas que estão aqui no estádio são realmente indigentes, então tudo isto não é assim tão mal para eles

Apetece-me dizer

“Há males que vêm por bem”, ou

“Tal mãe, tal filho”

quarta-feira, setembro 07, 2005

Corrente de ar, precisa-se

Eu também acho que o Dr. Mário Soares não deveria concorrer a novo mandato. É necessário que haja – urgentemente - uma lufada de ar fresco no panorama político português. Sinceramente.
Mas, estou fartíssimo de procurar em todo o espectro político, e não consigo arranjar um candidato que seja jovem e, sobretudo, que tenha o perfil para o lugar. Ajudem por favor.

Mensagens

1 - P’ra Maria
Minha Amiga, tanto quanto eu conheça, a palavra “abazurdido” não consta no Dicionário de Língua Portuguesa. Digamos que pertencerá ao idioma “palmês” e que faz parte das expressões que vos transmiti. Pode, por isso, continuar a ficar “abazurdida” sempre que o seu espanto ou a sua perplexidade sejam do tamanho do mundo.
2 - Para os que leram “Resposta a um leitor anónimo ou … porque é que não falamos mais vezes em português?”
Não confundir a minha vontade de não querer empregar, de forma sistemática, os tais “estrangeirismos” com o não utilizar algumas expressões em latim. Não tem nada a ver. Afinal o latim é a língua científica por excelência e é a base do português. Na verdade, utilizo algumas vezes expressões como “mutatis mutandis” (mudando o que deve ser mudado), ou “pró forma” (pela forma) ou, ainda, "ex aequo" (com igual mérito). Mas, para ser sincero, a que mais gosto de usar é a “e pluribus unum” (o Benfica é o maior do Mundo … e arredores)

domingo, setembro 04, 2005

“Estou a passar-me …”

Correspondendo, de certo modo, ao desejo manifestado pelo Skinnypt, gostaria hoje de abordar um tema que mais tem que ver com “demónios” do que com os “deuses” (com letra pequena), invocados pelo nosso amigo. E faço-o de uma forma que nada tem de filosófica, pelo contrário, procuro ser o mais terra a terra possível.

No dia a dia, toda a gente se vai apercebendo que o oportunismo e a aldrabice se instalaram de vez na nossa sociedade. Infelizmente. A pouco e pouco vão-se conhecendo cada vez mais casos em que a trafulhice e o compadrio andam de mãos dadas. Graça o despudor e a desonestidade. E isso revolta-me. Como deve acontecer com a maioria da população.

Há anos que os diversos governos pedem os maiores sacrifícios aos portugueses, em nome do controlo do défice e do cumprimento do pacto de estabilidade. E a rapaziada amocha e vai fazendo os sacrifícios possíveis e impossíveis e, ingénuo como sempre, espera que as contas do Estado se equilibrem, o país se desenvolva e que, rapidamente, a vida melhore para todos. A começar pela vida do dito povo, claro. Sujeita-se, por isso, a vencimentos reais abaixo da inflação, a congelamento de salários por períodos mais ou menos longos, a acordos com as empresas que prejudicam gravemente as suas condições de trabalho e de vida. Todos os sacrifícios em nome da tal estabilidade e da mais ou menos rápida recuperação da economia. Mesmo assim, quando se fala em pouca produtividade faz-se crer que a culpa é maioritariamente dos trabalhadores, quase nunca de quem gere as empresas. E isto porque não há interesse em referir, que o sector bancário, a Auto Europa ou a Siemens, por exemplo, registam produtividades acima da média europeia dos respectivos sectores, apenas porque as Instituições estão bem organizadas, foram-se preparando para o futuro e estão convenientemente geridas.
Ou seja, o que nos estão a dizer é que, salvo honrosas excepções, as empresas portuguesas são pouco competitivas porque os trabalhadores têm uma produtividade reduzida e ganham salários bem acima do que a economia permite. Por isso, é justo que lhes sejam pedidos (exigidos) sacrifícios atrás de sacrifícios.
Mas, em contraponto e ainda que tímida e pacientemente, o povo espera também ver que no topo da pirâmide também se fazem sacrifícios, pelo menos em percentagem idêntica aos que lhes são exigidos. Como se costuma dizer, o exemplo deve vir de cima. O pior é que esses exemplos não aparecem, e o povo desespera, desespera cada vez mais.

Mas o desespero torna-se revolta quando na primeira página de um jornal (neste caso, o “Expresso” de 16 de Julho de 2005) se pode ler, com todas as letras, uma afirmação do presidente do BPI, Fernando Ulrich:

“a situação é grave e estrutural, mas os portugueses não estão mobilizados nem preocupados com a competitividade, querem é passar mais tempo na praia”.

Isto, depois de defender que:

“os portugueses deviam ter uma redução de 10% nos salários, como forma de ajudar a resolver a má situação das contas públicas. E, quem ganha mais, devia ter uma redução entre 12 e 15%”.

Redução de salários, será que li bem? O que o homem disse foi mesmo que os portugueses têm que ganhar menos? Mas, a que portugueses é que ele se estará a referir? Será ao Dr. Vítor Constâncio ou ao Engº. Mira Amaral? Ou será à grande massa de trabalhadores que mal ganham para comer, ou à generalidade dos reformados e pensionistas cujos proventos quase não chegam para comprar os remédios de que necessitam, quanto mais para o resto.
É que, se a redução dos 10% se aplicar àqueles que têm ordenados ou pensões acima dos dez mil euros (2 mil contos), bem, parece que essas pessoas poderão, ainda assim, sobreviver com menos mil euros (200 contos) por mês. Ainda lhes restam nove mil euros, qualquer coisa como mil e oitocentos contos para “governar a vida”. E, isto, só para os que ganham dez mil euros. E para os (muitos) que ganham acima disso, obviamente que também têm condições para ver baixar os seus proventos.
Mas poderão “governar a vida” (senão de forma satisfatória, pelo menos digna), aqueles cujos rendimentos não ultrapassam os 500 euros (100 contos) e a quem ainda querem tirar 10%? Isto para não falar daqueles (e são tantos) que ganham bastante abaixo dos 500 euros.

Em 2003, segundo o INE, o aumento médio do salário líquido dos portugueses que trabalham por conta de outrem foi de apenas UM euro. Médio, se bem me entendem …
Apesar disso, tudo vai aumentando. Aumentam o desemprego, o petróleo, o dólar, a concorrência dos países do Leste e, em especial da China, o IVA e, atrás dele, quase tudo por arrasto.
Os aumentos anuais (quando os há) raramente cobrem a inflação e o poder de compra é cada vez mais baixo.
E as queixas por este estado de coisas vêm de todos os lados, desde o sector da saúde aos professores, dos empregados do comércio e serviços aos militares e aos polícias e até aos próprios políticos. E vêm, sobretudo, daqueles cujos vencimentos e pensões são tão pequeninos que já não dão sequer para viver.

Mas apesar de todos os problemas das contas públicas e apesar de todos os enormes sacrifícios que o Zé povinho vai sendo obrigado a fazer, continuamos a olhar para as nossas empresas públicas, cujo accionista é maioritária ou totalmente o Estado (nós, portanto) e a observar a quantidade de desmandos que continuam a verificar-se. E não digo isto apenas por dizer, senão vejamos:

Na mesma edição do Expresso, e curiosamente logo acima da douta opinião do Presidente do BPI, vinha publicada uma notícia intitulada “Gastos Milionários na GALP” (como se sabe, uma empresa com capitais públicos), e nela se davam a conhecer enormidades tais (e tantas) que não pude evitar um arrepio de revolta. Por exemplo, casos como a contratação:
- de um cunhado de Morais Sarmento (que foi ministro do PSD de Durão Barroso), que entrou na empresa, negociando uma antiguidade de 17 anos;
- do filho de Miguel Horta e Costa (presidente da PT), que entrou na empresa com 28 anos e um ordenado de 6.600 euros (mais de 1.300 contos);
- de jovens quadros de apelidos sonantes, quase todos ligados, directa ou indirectamente, à política;
- de um engenheiro agrónomo que foi trabalhar para a área financeira por 10.000 euros;
- de um especialista em finanças que foi para o Departamento de Marketing por 9.800 euros;
- de um administrador para uma empresa do grupo, com um único trabalhador efectivo;
- da contratação de um quadro superior muito próximo de António Mexia (ex-ministro das Obras Públicas e Transportes de Santana Lopes), com um ordenado de 8.700 euros, num contrato de vários anos de antiguidade que lhe renderam, dois anos depois quando saiu da Galp, uma indemnização de quase 300 mil euros. De salientar que este quadro entrou para a Galp quando António Mexia assumiu a presidência da empresa e saiu para o sector imobiliário da Refer quando Mexia foi para o governo para a pasta que tutelava (por coincidência) a mesma Refer.

Parece evidente que as sempre invocadas “regras de mercado” não justificam por si só as contratações milionárias acima descritas, como nos querem fazer crer. Trata-se, isso sim, de situações de compadrio e de protecção que, infelizmente, se vão banalizando.

Aliás, virou moda a contratação nas empresas públicas de quadros que negoceiam, à cabeça, anos de antiguidade.
É, também, o que se passa nos CTT (em que o Estado é o accionista único) que tem contratado quadros que, ao entrar, ficam com muitos anos de antiguidade. O que quer dizer que, quando for nomeada uma nova Administração (e sempre que o governo muda de cor, a Administração muda também), esses quadros poderão ser despedidos com direito a chorudas indemnizações.

Aliás, os CTT constituem um exemplar paradigma da má gestão dos dinheiros públicos e da protecção de amigos pessoais e da política. É um escândalo.
Como entender que:
- directores de primeira linha tenham tido um aumento de 2.000 euros (quatrocentos contos)? Repito, um aumento de 2.000 euros.
- a alguns desses mesmos directores tenham sido atribuídos carros novos quando os que estavam ao seu serviço tinham apenas um ano?
- que administradores em fim de mandato tivessem auto-requisitado novos carros, continuando a andar com os que já estavam ao seu serviço para, depois de cessarem as suas funções, levarem com eles os carrinhos (de topo de gama, claro) novinhos e a brilhar?

Mas, voltando ainda ao Expresso de 16 de Julho, destaco uma outra notícia que exemplifica bem os desmandos das nossas empresas públicas, neste caso a “Parques de Sintra Monte da Lua”. Aqui a situação é tão calamitosa que até já houve investigação da Polícia Judiciária. Entre as ilegalidades já detectadas contam-se, por exemplo:
- a fuga aos impostos para cobrir despesas de representação como complemento de salários;
- o compadrio com situações de fraude em concursos públicos e o levantamento de cheques dirigidos a fornecedores por funcionários da empresa, nomeadamente pelo director financeiro;
- a atribuição para si próprio (do mesmo director financeiro), de quatro subsídios de férias, sem a aprovação do conselho de administração;
- o aumento de 20% dos salários do presidente, da esposa deste (também funcionária da empresa) e do (tal) director financeiro, decididos por este último.


Perante estes exemplos que demonstram bem a desonestidade, a má gestão e a falta de controlo das empresas públicas e dos nossos dinheiros, dá vontade de perguntar se os nossos governos acham justo que só os trabalhadores tenham que suportar tantos sacrifícios? Se assim for, é imoral e é obsceno.
Façamos a nossa parte mas dêem-nos, pelo menos, um sinal que não somos só nós a fazer os sacrifícios. Para não desesperarmos e para que o nosso desespero não se torne numa revolta ainda maior.


PS: Já depois de ter acabado de descrever a minha irritação, li na Revista Única do Expresso de 30 de Julho uma pequena notícia, intitulada “Secretária Diligente” que dizia textualmente o seguinte:

“Os CTT têm novos administradores. E, com eles, novas secretárias. Uma das quais não perdeu tempo. Mal se instalou, tratou de pegar no telefone e ligar para todas as colegas da tutela – o das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, de Mário Lino – convidando-as para um repasto no Solar dos Presuntos. Onde, diligentemente, reservou mesa a preceito. Tudo normal, não fosse a conta do dito jantar aparecer na secretária propriamente dita da tesouraria dos CTT”.

Que me dizem a isto?...

Depois de mais esta preciosidade, por favor agarrem-me que “estou a passar-me” …

Resposta a um leitor anónimo ou … porque é que não falamos mais vezes em português?


Noutras circunstâncias, teria dito ao anónimo que fez um comentário à introdução do blogue que não responderia a provocações mas, neste caso, até fui eu que incitei os meus amigos a serem provocadores. Por isso, não posso deixar de responder à sua “provocação inofensiva” para lhe dizer o seguinte:

Eu sei que você sabe que eu sei a quem me estou a dirigir. Digamos que, por um momento, hesitei em identificá-lo mas o texto traiu-o, meu caro. A velha questão entre o imprimir e o “printar” foi sempre um tema que fomos discutindo ao longo do tempo que trabalhámos juntos. Por isso …

De resto, quem me conhece, sabe bem que eu, longe de me considerar um (fanático) purista da nossa língua, que não sou, tento – sempre que possível – utilizar no discurso escrito e falado, não os termos estrangeiros que entraram no nosso dia-a-dia, mas as palavras em português que querem dizer rigorosamente o mesmo. O que não significa que, de quando em quando, eu não caia nessa tentação. E você sabe disso.

Reconheço, no entanto, que em certas áreas, existe uma probabilidade acrescida de se utilizarem os tais estrangeirismos. Como na informática, por exemplo. Termos como o “upgrade” ou o “delete” (e quinhentas mil outras expressões que tais) entraram de tal forma no léxico dos informáticos que é delicioso (e irritante, ao mesmo tempo) ouvir uma conversa entre eles.

A propósito, recordo uma reunião que tive há uns anos com um analista informático. Durante mais de uma hora, tentámos discutir um assunto técnico que deveria ser suportado por uma aplicação. Pois o homem, esquecendo-se que eu não era da sua área de especialização, tratou de arranjar uma argumentação cheia de termos em inglês (termos técnicos banais para quem trabalha naquela área, claro), que atirou em velocidade estonteante e que apenas era sustida por uns recorrentes e interrogativos Ok?. Quando a reunião acabou e saí para a rua, valeu-me a brisa fresca de fim de Outono que me refrescou a cara e as ideias. Devo confessar que em toda a minha vida profissional, nunca me aconteceu coisa semelhante. Saíra daquela reunião e não conseguira entender minimamente as razões apresentadas pelo meu colega informático. Pior, eu nem sequer tinha percebido o que ele dissera. Mas, admito, que o problema foi todo meu. Ok?

Contudo, o que me preocupa mais é que essas mesmas pessoas que empregam esses termos nas suas áreas profissionais – e isto diz respeito a uma panóplia imensa de actividades e não só aos informáticos - acabam por utilizá-los também, na sua vida pessoal.

Digam-me, por exemplo, se há alguma necessidade de informar a agência de viagens, que gostariam de fazer um “upgrade” do hotel inicialmente reservado?

E se o Gerente/Chefe/Director/o que seja, convocar o seu “staff” para um "briefing" ao fim da tarde?

E se alguém nos propuser para irmos fazer compras ao “shopping”?

E quando nomeamos as vantagens ou inconvenientes das empresas de “outsourcing”?

Não haverá forma de dizer a mesmíssima coisa mas … em português?

Penso que deveremos valorizar mais a nossa língua, que é tão rica. De certeza que existirão palavras e expressões portuguesas que poderemos utilizar em substituição dos tais termos estrangeiros. Porém, há que ter cuidado. É que se falarmos (e escrevermos) em português, poderemos correr o risco que essas pessoas cheguem à conclusão de que nós, afinal, não dominamos lá muito bem o assunto que estamos a abordar. Por outro lado, pode acontecer que se falarmos ou escrevermos apenas em português, poderemos dar a ideia a certos “iluminados” de que não estamos muito familiarizados com os termos mais “in” utilizados com frequência por determinadas elites. Afinal, ninguém quer dar parte de fraco, não é verdade?

A terminar, meu caro Anónimo, a minha “printer” ainda não está em condições, muito embora eu tivesse feito um “restart”, seguido do “log off”, como sugeriu.

Disponha sempre.

quinta-feira, setembro 01, 2005

Uma introdução, para que nos entendamos ...

Nunca como agora se assistiu ao lançamento de tantos livros. Dá a impressão que a exemplo dos fogos que vieram para ficar, também as musas decidiram estabelecer-se por cá para iluminar os nossos candidatos a escritores, independentemente desses candidatos saberem, ou não, escrever. E vá de publicar livros e mais livros, sobre os mais diversos assuntos e de escrevinhar o que quer que seja na net. Acho mesmo, que não há “bicho careta” que se preze, que não tenha o seu próprio blogue. Alguns, de gosto muito duvidoso e muitos outros sem qualquer conteúdo aproveitável. Aliás, os blogues viraram blogomania e quase parece mal - sob pena de parecer não acompanhar as novas tecnologias - não entrar na onda, que é como quem diz, não participar na blogosfera.

Assim, e porque eu nunca gostei de ser menos do que os outros, daria a impressão que rapidamente criaria o meu próprio blogue. Por um lado, para estar na crista da tal onda, por outro, porque até gosto de escrever. Mas não, a verdade é que nunca tinha pensado nisso. Sempre escrevi, é verdade, mas (quase) sempre só para mim. Às vezes, em livros devidamente encadernados, que publiquei para serem lidos apenas por mim, o que, confesso, me dava um certo prazer porque o êxito era absoluto. Um único exemplar de cada livro colocado no “mercado”, era adquirido imediatamente por … mim. Autênticos “best-sellers”.

Até que, e “a pedido de várias famílias …”, como dantes se dizia, fui pressionado a partilhar alguns dos meus textos com algumas pessoas amigas. Devo dizer que, se isto não correr bem, e se o meu futuro como escritor ou jornalista estiver condenado ao fracasso, sei bem a quem me devo dirigir … vocês sabem de quem eu estou a falar (agora, até parecia o Octávio Machado …).

Acabei, então, por criar este blogue. Escreverei nele até que me apeteça e sempre que me der na gana, ou quando houver assuntos que, na minha perspectiva, o justifiquem. Neste arranque, não sei, ainda, que rumo vou seguir mas, penso que os meus textos poderão vir a ser, essencialmente, constituídos por opiniões pessoais, relatos, desabafos, estados de alma, quem sabe se por respostas a “provocações” que os meus amigos leitores me queiram fazer. Aproveito, pois, para convidá-los a participar nesta minha aventura, através dos vossos comentários. Leiam, comentem, imprimam e divulguem os textos, se assim o entenderem.

Sejam bem-vindos ao “Por Linhas Tortas