quinta-feira, janeiro 05, 2006

Justificações para tamanha ausência – parte II - o Bolo-Rei


Falar sobre Bolo-Rei precisamente no dia de Reis vem mesmo a calhar.

Pois a segunda razão para a pausa, tem a ver, entre outras coisas, com o facto de ter tido necessidade de ter algum tempo para visitar as minhas recordações.

Ao que parece, o Bolo-Rei terá surgido em França, no tempo de Luís XIV, o Rei Sol. Em Portugal, o Bolo que tinha sido introduzido no final do século XIX, viu a sua existência ameaçada aquando da implantação da República, em 5 de Outubro de 1910, não por ser bolo mas, como é óbvio, por ser Rei em plena República. Contudo, os pasteleiros portugueses deram azo à sua imaginação e passaram a chamar ao Bolo, o “Bolo-Presidente” e o “Bolo Arriaga”, em homenagem (em bajulação, diria) ao primeiro Presidente da República, Manuel de Arriaga).

Sem querer entrar nos pormenores das receitas e dos seus ingredientes, gostaria, no entanto, de recordar que antigamente o Bolo-Rei trazia dentro da massa um brinde (que mais recentemente foi proibido por questões de segurança) e uma fava.

E é exactamente a fava escondida no Bolo que eu hoje quero recordar. Conta a lenda que os Reis Magos, seguindo a estrela que indicava o caminho para o Salvador, não conseguiam decidir quem seria o primeiro a entregar o ouro, o incenso e a mirra a Jesus.
Resolveram então mandar fazer um bolo e esconder no seu interior uma fava. O Rei Mago que tirasse a fatia com a fava seria o primeiro a entregar a prenda ao recém-nascido.

Isto é o que diz a lenda, mas lembro-me que sempre ouvi dizer que o próximo bolo-rei teria que ser comprado pela pessoa que tivesse tido a "sorte" de lhe ter saído a fava.

O meu avô paterno, a quem era atribuída alguma avareza, foi muitas vezes acusado de comer a fava do bolo para não ter que comprar o próximo. Nunca cheguei a saber se ele tinha a sorte de nunca lhe calhar a fava mas, dizia-se, que lhe tinham visto cometer tal “façanha” e, de facto, nunca o vi comprar um Bolo-Rei que fosse.

Contudo, o não querer ser o próximo “voluntário/à força” não era um atributo exclusivo do meu avô Mário. Há uns anos atrás, um responsável de um serviço onde eu trabalhava na altura, mandou confeccionar um enorme Bolo-Rei para oferecer à rapaziada. E foi com alguma surpresa que chegámos à conclusão que, apesar do tamanho, aquele Bolo não tinha uma só fava. Tínhamos, no entanto, concluído mal. O que se passou é que o Bolo tinha, não uma, mas 30 favas, tantas quantas as pessoas que participavam na festança. Só que, a maioria dessas pessoas tinha aprendido a “receita” do meu avô e, não fosse o diabo tecê-las, trataram de engolir as favas que iam aparecendo ou, em alguns casos, esconderam-nas cuidadosamente nas mãos e depois nos bolsos.

Foi, também, para eu ter tempo para reflectir sobre o que fazer com uma fava que me calhou no último Bolo-Rei que decidi fazer esta pausa.

Na próxima semana falaremos sobre a terceira razão.

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