quinta-feira, janeiro 12, 2006

A Noite de Passagem de Ano


Justificações para tamanha ausência – parte VII

A última razão que me levou a afastar do vosso convívio durante estes dias, tem a ver com a noite de fim de ano. É uma noite que, devo confessá-lo, sempre me deu alguma nostalgia e que, raramente, me entusiasmou.

Tal como nunca me encantou por aí além, a “obrigação” de, nessa noite em especial, ter que estar alegre, barulhento e sempre aos pulos. Se querem saber, acho mesmo que, na generalidade dos casos, se faz muito mais de conta do que, na verdade, se sente essa alegria.

Talvez tenha ver com a característica das pessoas, não sei. O que é verdade é que, ao longo dos anos, tenho observado que, durante a noite, todo o mundo se mantem numa calmaria incrível, comendo e bebendo até perto da meia-noite. Nessa altura, e de repente, dá uma agitação danada ao pessoal, que dura no máximo sete ou oito minutos (tal como no lusco fusco) e depois, tudo acaba de novo. Toda a gente regressa à pacatez da ceia, enfia mais uns copos e arrasta-se até às tantas.

Volto a dizer que talvez tenha a ver com a maneira de ser das pessoas, dos povos. Os espanhóis, por exemplo, não são como nós. Há uns anos fiz uma passagem de ano num hotel de Madrid e, essa sim, foi muito divertida. Desde que as pessoas chegaram para o jantar até ao romper da manhã foi uma animação enorme e constante. Nessa altura, senti que havia alegria verdadeira. Lá está, deve ser da maneira de ser deles. Temos que reconhecer que os “nossos hermanos” são muito mais alegres do que nós.

As passas e os correspondentes desejos para o ano que vai nascer são outra coisa que eu sinto que se faz mais por tradição do que propriamente por convicção. Tretas! Quando se chega à terceira ou quarta passa, já não se sabe muito bem o que pedir e volta tudo à estaca zero, mais saúde, mais dinheiro, mais saúde, mais saúde, mais dinheiro, e por aí fora. Penso até que, nesses momentos, a criatividade das pessoas se evapora de todo, talvez em consequência do álcool ingerido. Ou, quem sabe, por causa do fogo de artifício que é lançado precisamente à mesma hora em estamos justamente a pensar naquilo que gostaríamos que o ano novo nos trouxesse.

Eu ficaria mais assumidamente aconchegado se me quedasse pela tal pacatez da noite, beijasse e desejasse aos meus amigos e familiares mais à mão, muita saúde, sorte e dinheiro para gastos, porque isso já contem praticamente tudo aquilo que nós queremos, e, depois, me atirasse à minha champanheca e aos petiscos que estivessem à minha beira.

Mas, se todo aquele folclore, já faz parte da tradição, não sei porque não poderemos voltar a ter as outras tradições que há uns anos atrás, quando éramos um povo mais boçal e mais genuíno, faziam furor na noite da passagem de ano, que era atirar pelas janelas tudo o que de velho havia em casa. Tudo menos as sogras, naturalmente…

Mas para que não julguem que eu me furtei à tradição das passas, este ano preparei meticulosamente a lista dos meus desejos. Não vou revelá-los, como é óbvio, porque daria azar, mas direi apenas que consegui arranjar doze grandes desejos que começam pela saúde e pelo dinheiro e passam – eis uma ideia inovadora - pela vontade de mantermos este convívio através do blogue.
Dadas as justificações, desejo-vos

Bom Ano Novo!

2 comentários:

Anónimo disse...

Aqui discordo.

A passagem de ano deve ser encarada com natural entusiasmo. Afinal é um novo ano que começa, é uma folha em branco que vamos poder escrever.

É um novo ciclo, é uma altura propícia a resoluções que façam a diferença.

Bem sei que tudo isto é muito lindo mas só dura até meio da primeira semana de Janeiro, pois mal se volta à nossa vidinha, volta tudo de velho.

Em qualquer caso, esta é uma altura de festa, ideal para estar com os amigos, sem pensar no que é novo ou velho, no que está bem ou está mal. É uma data de pura boa disposição, com a vantagem de não ter qualquer conotação política ou religiosa.



Quanto às passas... meus senhores e minhas senhoras, usem a vossa imaginação, por Deus!

Passam a vida a desejar A, B e C, e chega a altura em que podem "formalizar" esses desejos e não sabem o que pedir? Não há desculpa.

Eu, sob risco de me esquecer de alguma coisa, faço uma lista do que pretendo. À meia-noite tenho as passas numa mão, a lista na outra, e o copo em cima da cabeça. Não me escapa nada.




Só mais uma nota em relação à alegria desta data: os espanhóis são genuinamente alegres? Não são os únicos. E falo mesmo dos nossos, cá pelo burgo. Eu custumo divertir-me nas passagens de ano, pessoas que conheço também, os madeirenses levam aquilo muito a sério, e aposto que um pouco por toda a parte isso vai acontecendo. Cabe a cada um encarar esta festa como um momento positivo e despreocupado.


Por isso, BOM ANO a todos!!!!

zeboma disse...

O lusco fusco não era antes 5-7 minutos?