quinta-feira, janeiro 19, 2006

Portugueses pouco produtivos


Os pilares que servem de suporte à tão badalada crise económica estão já sobejamente identificados. E todos, economistas, (alguns) empresários, analistas e até candidatos a Presidentes da República, são unânimes em afirmar que a culpa da crise é da inadequada organização das empresas e da sua pouca competitividade, da insuficiente taxa de exportações e da deficiente formação dos trabalhadores e do seu baixo nível de produtividade.

Conhecido o diagnóstico, não deixamos, no entanto, de nos surpreender quando olhamos para as conclusões dos trabalhos publicados por consultores independentes e, nomeadamente, quando esses trabalhos fazem comparações entre os números de Portugal e os de outros países.
Foi o que aconteceu recentemente quando foram publicados os dados do último relatório sobre produtividade, elaborado pela consultora Proudfoot.
De um conjunto de 9 países analisados, Portugal está no penúltimo lugar da tabela.
Mas, o que mais me choca e preocupa é que em cada hora de trabalho, nós portugueses, conseguimos ser 64% menos produtivos do que os franceses, que ocupam o 1º lugar, e 21% do que os espanhóis que estão imediatamente acima de nós.
Como se sabe, a baixa produtividade é o principal factor que influencia o “PIB Per Capita”. E, por isso se percebe que os nossos vizinhos espanhóis que têm, como se disse, uma produtividade 21% acima da nossa, tenham um “PIB Per Capita” 14% superior ao português.
Aliás, todo o tempo desperdiçado pelos trabalhadores portugueses – absentismo, baixas, pontes, feriados, greves, puro tempo perdido e pausas para café – traduziu-se em 2004 num saldo médio de 42 dias de trabalho perdidos que, à média de 8 horas diárias, dá qualquer coisa como 65 milhões de dias de trabalho perdidos. O que, a um custo médio de €5,17 por hora de trabalho, representará um total de 8143 milhões de euros, o equivalente a 5,8 do PIB nacional.
E a responsabilidade deste estado de coisas e de tanto dinheiro atirado à rua deve ser atribuído a quem? Aos trabalhadores portugueses, uma vez que, aparentemente, os motivos acima descritos apenas são de sua inteira responsabilidade?
Não. Em artigo publicado há uns tempos neste blogue manifestei a minha opinião sobre o assunto, opinião que, de resto, foi agora corroborada pela Proudfoot (de onde se prova que este blogue é consultado cada vez mais). O baixo nível de produtividade deve-se, sobretudo, ao fraco nível de planeamento e organização das empresas e à sua insuficiente gestão operacional. Mas deve-se, também, à falta de liderança e de supervisão e aos sistemas de controlo que, muitas das vezes, são desadequados.
Outro dado curioso apontado como reflexo directo nos níveis de produtividade são as múltiplas reuniões de trabalho que muitas vezes se realizam sem qualquer necessidade.

Temos aqui um bom motivo para reflexão. De todos, dos gestores e dos empregados. Poderemos, certamente, melhorar muito, esforçarmo-nos mais. No que me diz respeito, estou pronto para esse esforço mas, acabar com as pausas para o café, isso não, por favor!

6 comentários:

zeboma disse...

Realmente com essa das pausas para café não estou muito de acordo. Uma vez que eu não bebo café nem fumo, já me aconteceu trabalhar num sítio onde à conta disso trabalhava bastante mais que os outros, sem receber nenhum "extra" por não fazer essas pausas, já que não concordo com o princípio de penalizar quem as faça.
Mas eu acho que o problema fundamental da produtividade do país é uma questão de imaturidade dos portugueses, de confusão entre a vida pessoal e a profissional.
Um exemplo: somos o país com o maior número de telemóveis por habitante. Isso significa o quê? Que muitos portugueses estão no trabalho a mandar mensagens, a recebê-las, a fazer chamadas, a recebê-las, ou simplesmente "desconcentrados" do trabalho porque aguardam anciosamente uma chamada ou uma sms. Ou então passam o dia a ver o site d'"A Bola", do "Record", etc. Verifica-se que estes sites têm a sua principal afluência de manhã, em horário laboral!
Parecemos todos uns miúdos (e aqui falo sobretudo pela minha geração, (dos 25-35), a brincar com os pcs ou com os telemóveis.
Não há mal nenhum em ser miúdo a vida toda, só que depois não se pode querer ter o que um adulto poderia ter.

Anónimo disse...

há outros que estão a escrever em blogs ou a postar comentários nos mesmos, zeboma...

zeboma disse...

Sim mr, mas já pensaste que se calhar esses outros não estão em horário de trabalho?
;-)

Anónimo disse...

Uns hão-de estar, outros não.
Para mim o principal problema é avaliar o trabalho por tempo dispendido, em vez de avaliar por objectivos atingidos.
Alguém pode ir ao café, navegar da net, passar menos horas no local de trabalho e mesmo assim produzir muito mais de quem passa 12 horas sem tirar o rabo da cadeira e não envia um email que não seja de trabalho.

zeboma disse...

Concordo, de facto estar no local de trabalho não é sinónimo de trabalhar, de produzir.
E se o trabalho fôr mental, pode ser feito enquanto se faz a barba, se anda de autocarro, se está "naquele sítio" onde tantas brilhantes ideias devem já ter surgido. ;-)

Anónimo disse...

Por mim falo: há dias em que estou o local de trabalho o dia inteiro e chego ao fim do dia com a sensação de não ter feito nada. Em contrapartida noutros, estou apenas algumas horas (nos intervalos das reuniões, dos cafés, dos chás, do transito...) e farto-me de produzir!