segunda-feira, janeiro 23, 2006

A praga das ... reuniões

Quando no último texto que aqui publiquei, escrevi que um dos reflexos directos nos níveis de produtividade são as múltiplas reuniões de trabalho que se realizam sem qualquer necessidade, fiquei à espera que alguém ficasse muitíssimo indignado e saltasse a terreiro a dizer de sua justiça e a defender que eu não tinha razão. Mas não, todos estiveram de acordo. Pelo que, ao que parece, eu tinha, de facto, razão. Ou, então, poucos foram os que se deram ao trabalho de o ler.

Mas a verdade é que a maioria dos quadros das empresas e das organizações encontram-se sempre num de dois estados - ou ao telefone ou em reunião.
Não passa pela cabeça de um quadro que se preze atender rapidamente quem se atreve a procurá-lo ou quem o ameace perturbar a sequência duma agenda diária sempre tão sobrecarregada. Mas, quando isso acontece, a resposta que esses indivíduos obtêm é sempre a mesma: o senhor doutor está em reunião.

Mesmo que o nosso quadro esteja na casa de banho a ler a "Bola" ou tenha dado uma escapadela a um centro comercial para fazer uma compra, a técnica da reunião funciona sempre, dando a quem os procura a ideia que aquele tipo é um desgraçado de um mouro de trabalho.

Quando, finalmente, os "pobres coitados" são encontrados, ao fim de uma meia dúzia de tentativas frustradas, é certo e sabido que se pedem mil desculpas pela ousadia de os interromper, que não lhes vamos tomar mais que um par de minutos, blá-blá-blá, blá-blá-blá, colocando quem os procura imediatamente numa situação de desvantagem. Nunca falha!

É claro que, entre os tais períodos de reflexão estratégica em que, para não serem interrompidos, dizem estar reunidos, os quadros também se dedicam a uma outra actividade: a ter reuniões.

Antigamente, no tempo em que os chefes mandavam, era tudo muito mais fácil. Quando era preciso decidir qualquer coisa, faziam-se umas contas por alto, ouvia-se a opinião da "patroa" e pronto. A solução aparecia.
Agora não. Tem que se gastar uma data de tempo e saliva a conversar com técnicos e colaboradores das mais diversas áreas (que, na maioria dos casos, nada sabem do assunto para que foram convocados) para, ao fim de algumas horas, não se chegar a conclusão alguma. Aliás, a verdadeira regra de ouro nesta matéria é nunca deixar tudo completamente resolvido.

Outro pormenor importante a salientar é que todas as reuniões devem inevitavelmente terminar com a marcação da próxima reunião. O que leva a que, para se tentar chegar a uma solução, se tenham que realizar diversas reuniões.

Perante a imensidade de reuniões em que os quadros têm que participar, os outros ficam com a ideia que a vida deles é um inferno e que, por estarem tão assoberbados com tantos compromissos, acabam por mal ter tempo para trabalhar.

Outro aspecto lateral de toda esta azáfama é a de, independentemente dos assuntos agendados, as pessoas que participam na sua discussão serem sempre as mesmas. Saltitam de reunião em reunião, de local em local, de tema em tema, mas, na verdade, as pessoas acabam por ser sempre as mesmas. Coitadas!... que estafa!... Chegou-se mesmo ao ponto de ter sido criada uma nova categoria de executivos: a dos "profissionais das reuniões".

Eles chegam, cumprimentam-se com sorrisos cansados, bebem um café, falam sobre assuntos que trazem pendentes de outras reuniões, dão meia dúzia de pancadinhas nas costas de outros colegas de infortúnio e lamentam-se profundamente das montanhas de projectos em que estão envolvidos, concluindo quase sempre com um: "Bem, vamos lá a isto, a ver se nos despachamos rapidamente porque ainda tenho outra reunião marcada para as sete da tarde". Uma frase que é muito frequente, sobretudo quando a televisão transmite um jogo de futebol, sensivelmente a essa hora.

É assim que alimentam as agendas, é assim que eles criam a ilusão do dever cumprido. Ao fim e ao cabo, estes executivos acabam por se sentir extremamente úteis às organizações que servem, ao mesmo tempo que eliminam o risco de concluir que até poderiam resolver efectivamente os assuntos.

Não há, portanto, forma de escapar a esta praga das reuniões. Apesar de tudo, sempre é melhor andar de reunião em reunião do que terem mesmo que trabalhar a sério...
Estou certo ou estou errado?

4 comentários:

Anónimo disse...

Consegui fazer um pequeno "break" numa reunião de "steering", em que estamos a agendar a reunião onde se decidirá acerca do "go live" da aplicação, o que certamente irá levar a mais uma série de reuniões de acompanhamento, para fazer esta nota: CONCORDO INTEIRAMENTE!!!! Como dizia o outro: deixem-nos trabalhar!!!!!

Anónimo disse...

Há regras para reuniões bem sucedidas, tais como:
- comunicar previamente os pontos a debater na reunião, hora de inicio e hora de fim.
- convidar todas as pessoas cuja opinião é importante sobre o assunto a tratar e apenas essas.
- começar à hora pré-estabelecida e terminar à hora pré-estabelecida.

As reuniões, tal como quase tudo, se forem bem usadas são utéis.

Anónimo disse...

A última expressão que a Maria utilizou é capaz de não ser a mais adequada, sobretudo depois da vitória do professor, no passado fim-de-semana. Não sei, digo eu. De qualquer forma, eu estava nessa reunião mas, como era um dos que desconhecia completamente o que lá se estava a tratar, concluo que o próximo “briefing” talvez venha a decidir alguma coisa, pelo menos a data do novo encontro. Isto, se o “steering” deixar …

Anónimo disse...

Concordo com conteúdo do post e concordo com o comentário do MR.
Obviamente que as reuniões podem ser muito produtivas. Infelizmente creio que a maioria delas não o são. Pelo menos é esta a experiência que tenho na empresa onde trabalho, e não me parece que esta empresa seja excepção.

A maior parte das vezes, numa reunião de 3 horas, aproveita-se uns 30 minutos e o resto poderia ter sido dispensado. E muitas reuniões seriam evitadas com uns simples telefonemas, ou com as modernas "Conference Call". Em vez disso, diversas pessoas perdem horas infindáveis e aborrecidas enfiadas em salas, quando poderiam estar a ser bem mais produtivas no seu local de trabalho. Para além do tempo que passam em transito quando as diversas reuniões são geograficamente distantes.