terça-feira, janeiro 31, 2006

A “sesta” acabou …

À medida que a crise se tem agravado nos últimos anos em Portugal, e nos vamos afastando um pouco mais dos padrões europeus, vai-se ouvindo aqui e acolá os desabafos de cidadãos anónimos que, muito claramente, vão dando conta que gostariam mais de ser espanhóis do que portugueses. Há mesmo quem lamente termos ganho Aljubarrota. Segundo esses críticos, não fora essa vitória e hoje seríamos … espanhóis e viveríamos melhor.

Claro que estes lamentos têm a ver, essencialmente, com aspectos de natureza económica, mas não só. O salário espanhol é melhor do que o nosso, vive-se lá com maior qualidade de vida, lá há “tapas”, há queijo “manchego” e há “paella”. Lá há, também, a “siesta”. Portanto, tudo é melhor em Espanha.

O que é curioso, aliás, é que desde sempre nutrimos pelos nossos vizinhos, sentimentos tão contraditórios que vão da inveja do que eles têm ao temor do que eles possam representar. Se por um lado, eles têm todas as coisas boas que eu referi (e muitas outras), por outro, “de Espanha, nem bom vento nem bom casamento” como se costuma ouvir.

Pois agora, desde o início do ano, caiu um dos baluartes maiores da “invencível armada espanhola”. A “sesta”, um dos símbolos espanhóis mais cobiçados pela rapaziada cá do burgo, acabou.

Em nome da produtividade do país e em nome da uniformização dos horários com a Europa, o governo espanhol decidiu terminar com o “caos dos horários” e zás, entrou em vigor o novo horário para o almoço, que vai do meio-dia à uma, em vez daquele outro que decorria entre as duas e as quatro da tarde.

Acabou-se a “sesta” amigos. Mas, ainda assim, querem continuar a passar pelas brasas depois do almoço? Pois bem, façam-no na mesma, mas no serviço e às escondidas dos chefes. Vão até às casas de banho e aproveitam bem uma boa meia dúzia de minutos para dormitar um pouco.

No entanto, tenho a certeza que esta medida não vai fazer mudar de ideias aqueles portugueses que gostariam que Portugal fosse mais uma província de Espanha. Argumentarão que eles já não têm a “sesta” mas, mesmo assim, continuam a ter as “tapas” e a “paella”.
Bom, mas para isso, meus amigos, não é necessário sermos espanhóis. Basta ir até ao El Corte Inglês.

Contudo, não errarei ao dizer que existe pelo menos um português que quer continuar a ser português e que se estará nas tintas para que os espanhóis façam ou não a sua sesta. Sim, porque ele vai continuar a fazer a “sua sesta”.
Estou a referir-me, como perceberam, ao Dom Mário Soares.

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