quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Consultora precisa-se

Quando o caso começou a constar, os meus nervos agitaram-se e os meus dedos começaram a ter uma irritação tal que deslizaram pelo teclado doidinhos para contar a história.
A notícia foi publicada no “Independente” mas nos chamados “mentideros” já constava há algum tempo que ia estourar uma bronca.

Pois é, a Sr.ª. Eng.ª. Sofia Fava, que foi casada com o primeiro-ministro José Sócrates, foi contratada pelos CTT como consultora externa para participar num projecto denominado “Sistema de Informação Geográfica Postal”.

Ao que parece, e segundo fonte oficial dos CTT em declarações ao “Independente”, trata-se de um trabalho que visa racionalizar a distribuição de correspondências, cartografando as ruas das cidades e desenhando os roteiros dos carteiros de uma maneira lógica. Como se deduz, o objectivo principal é, naturalmente, prestar um melhor serviço aos clientes.

Até aqui tudo bem. Saudemos a medida e esperemos ansiosamente os resultados que, temos a certeza, irão beneficiar grandemente os utentes dos correios.

Mas, desculpem-me lá a desconfiança. A Administração dos CTT, que é presidida pelo socialista Luís Nazaré, foi contratar uma consultora que, por acaso, é a ex-mulher do actual primeiro-ministro, a mesmíssima pessoa que, também, por acaso, faz parte da comissão política do concelho de Lisboa do partido socialista, casualmente o partido que está no governo, e ainda por cima com maioria absoluta? Entenderam a coisa?

Eu explico melhor. O Dr. Luís Nazaré e o Eng. José Sócrates são amigos e também são amigos comuns e admiradores confessos do actual Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, o Engº. António Guterres. E se Sócrates é amigo de há décadas de Guterres, já Nazaré chegou ao clã através da sua participação nos Estados Gerais para a Nova Maioria. A completar o quadro, resta dizer que Luís Nazaré foi nomeado presidente do conselho de administração dos CTT, após a vitória de José Sócrates nas legislativas de 2005. Perceberam agora? Ainda não?

Bem, então é necessário dizer que não está em causa a qualidade e as capacidades técnicas da Sr.ª. Engenheira, e tão pouco achamos que a Sr.ª. Engenheira deveria ter sido prejudicada na sua escolha pelo facto de ter sido casada com o Eng. Sócrates ou por fazer parte de uma estrutura do partido do governo. Nada disso.

O que achamos estranho é que tivesse havido a necessidade imperiosa de contratar uma consultora para participar num projecto de racionalização da distribuição de correspondências, quando, dentro da empresa, já existe um sistema informático que permite racionalizar todo o esquema de distribuição da correspondência da capital. Ou seja, vai arrancar um projecto onde certamente se vão gastar pipas de massa para se chegar a um produto que, afinal, a empresa já tem.

Agora que toda a gente já viu onde eu queria chegar e antes que os meus belos e escorreitos dedinhos fiquem completamente doidos de comichão, só quero lembrar que temos estado a falar de uma empresa pública, de mais uma empresa pública que vive à custa do dinheiro dos contribuintes. E daí perguntar: como é que uma empresa pública ainda tem o descaramento de fazer contratações do tipo “jobs for the girls” e, como é que esta mesma empresa se arroga o direito de não divulgar os salários e as mordomias que vai pagar aos novos contratados? Se calhar, porque as pessoas já se habituaram a isto e já ninguém se surpreende com tamanhos desmandos.

2 comentários:

Anónimo disse...

Não vejo razão para tanto nervosismo, sobretudo porque estamos a falar de uma medida que vai permitir que os carteiros sejam mais expeditos a entregar aos os nossos reformados recebam as suas lautas (!!!!!!) reformas, não é? É certo que provavelmente sai caro ao país, mas ainda assim... Só falta dizer que eu também sou uma "girl" e gostava muito de um "job" destes!!!! Pena já ser casada e o meu marido não conhecer nenhum destes senhores...

Anónimo disse...

As remunerações e as mordomias até são conhecidas, mas vejo que optaste por poupar os teus dedinhos.

Irónico pensar que estas "oportunidades" nas empresas públicas não são para toda a gente.