quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Gabriel Garcia Márquez

Podem nunca ter lido uma obra de Gabriel Garcia Márquez (o que é imperdoável) mas, decerto, todos ouviram já falar inúmeras vezes deste escritor colombiano, Prémio Nobel da Literatura em 1982, e da sua (talvez) mais célebre obra “Cem anos de Solidão”, onde consegue sintetizar e conjugar magistralmente a história, a natureza, os problemas sociais e políticos, a vida quotidiana, a morte, o amor, as forças sobrenaturais, o humor e o lirismo. Um grande romance de um grande autor.

Mas não é sobre a sua obra que me proponho, hoje, divagar.
Queria, antes, falar-vos de um texto que circulou pela Internet, supostamente a pretexto de uma hipotética “carta de despedida aos seus amigos” escrita por Márquez, que estaria a contas com um problema de saúde gravíssimo.

E o texto da carta é o seguinte:

“Se por um instante Deus se esquecesse de que sou uma marioneta de trapo e me oferecesse mais um pouco de vida, não diria tudo o que penso, mas pensaria tudo o que digo. Daria valor às coisas, não pelo que valem, mas pelo que significam. Dormiria pouco, sonharia mais, entendo que por cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz. Andaria quando os outros param, acordaria quando os outros dormem. Ouviria quando os outros falam, e como desfrutaria de um bom gelado de chocolate! Se Deus me oferecesse um pouco de vida, vestir-me-ia de forma simples, deixando a descoberto, não apenas o meu corpo, mas também a minha alma. Meu Deus, se eu tivesse um coração, escreveria o meu ódio sobre o gelo e esperava que nascesse o sol. Pintaria um sonho de Van Gogh sobre as estrelas e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria à lua. Regaria as rosas com as minhas lágrimas para sentir a dor dos seus espinhos e o beijo encarnado das suas pétalas... Meu Deus, se eu tivesse um pouco de vida... Não deixaria passar um só dia sem dizer às pessoas de quem gosto, que gosto delas. Convenceria cada mulher ou homem que é o meu favorito e viveria apaixonado pelo amor. Aos homens provar-lhes-ia como estão equivocados ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saberem que envelhecem quando deixam de se apaixonar! A uma criança, dar-lhe-ia asas, mas teria que aprender a voar sozinha. Aos velhos, ensinar-lhes-ia que a morte não chega com a velhice, mas sim com o esquecimento. Tantas coisas aprendi com vocês, os homens... Aprendi que todo o mundo quer viver em cima da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a encosta. Aprendi que quando um recém-nascido aperta com a sua pequena mão, pela primeira vez, o dedo do seu pai, o tem agarrado para sempre. Aprendi que um homem só tem direito a olhar outro de cima para baixo quando vai ajudá-lo a levantar-se. São tantas as coisas que pude aprender com vocês, mas não me hão-de servir realmente de muito, porque quando me guardarem dentro dessa maleta, infelizmente estarei a morrer...”

Amigos do escritor lamentam a repercussão desta “carta” e afirmam que Garcia Márquez não está em estado terminal e duvidam que a sua autoria seja do romancista. E justificam a sua posição, dizendo que “o primeiro motivo para negar que o texto fosse escrito por Márquez é a insistência na citação de Deus. Pelo que se sabe Garcia Márquez é um escritor de esquerda, simpatizante do marxismo, amigo de Fidel Castro, militante de causas sociais. Enfim, um humanista engajado, mas nem de longe o seu perfil lembra o de um religioso".

Sendo ou não verdade que a “carta” foi escrita por Gabriel Garcia Marquez, o facto é que, mesmo considerando alguma pieguice à mistura, há ali conceitos que me são muito caros. A começar por

“Não deixaria passar um só dia sem dizer às pessoas de quem gosto, que gosto delas”.

4 comentários:

Anónimo disse...

Em primeiro lugar, não vou deixar passar a oportunidade de colocar por escrito o carinho que tenho pelo dono deste blog: Sr demascarenhas, gosto de si!
Tendo dito isto, deixe-me dizer-lhe que é inqualificável nunca ter lido nada do GGM. Para suprir essa falha (grave), e por falar de sentimentos, leia as Memórias das Minhas Putas Tristes, onde ele define o amor da forma mais doce que eu alguma vez li.
Finalmente, concordo que, independentemente do autor, faríamos bem em, de vez em quando, reler esta carta para nos recordarmos do que realmente é essencial para a nossa vida.
Um grande beijinho.

demascarenhas disse...

A manifestação pública do seu carinho por mim emocionou-me. E a Maria sabe que o sentimento é recíproco. Bem, mas afectos à parte, parece ter havido um pequeno mal entendido. O texto diz” Podem nunca ter lido uma obra de Gabriel Garcia Márquez (o que é imperdoável) mas, decerto, todos ouviram já falar…”.
Na verdade já tive o gosto de ler GGM mas, confesso, que estou em falta com a leitura das “Memórias das Minhas Putas Tristes”, que passaram a constar na minha lista de prioridades com o grau de urgência máximo.
Amiga, um grande beijinho.

Anónimo disse...

Eu li, eu li, eu li! E é lindo! E tenho a certeza que o autor deste blog vai adorar.

Beijo, beijo, beijo.

demascarenhas disse...

Minhas amigas Maria e Silvestre eu disse-lhes que o livro que me recomendaram estava na minha lista de prioridades com o grau de urgência máximo. Pronto, posso dizer-lhes agora que já não estou em falta, já li as “Memórias das Minhas Putas Tristes”, que adorei. E concordo consigo, Maria, GGM consegue definir o amor de uma forma tão sublime e doce que nos toca profundamente.
Um beijo para as duas