quinta-feira, março 30, 2006

Uma “receita” para enriquecer

Há já uns quantos anos que ando a pensar qual será a melhor forma de enriquecer, se possível rapidamente, e sem ser à custa da venda de drogas e de armas.

Consultei imensos sítios na Internet, falei com amigos, tentei aliciar futuros sócios para eventuais negócios, mas as oportunidades nunca se mostraram suficientemente aliciantes. E um dos motivos que mais dificultava o arranque do “tal negócio” esbarrava inevitavelmente na burocracia excessiva de que, afinal, todos se queixam. Nomeadamente na criação e legalização de uma empresa. Sim, porque a criação de uma empresa parecia-me ser o primeiro passo a dar.

Os esforços, no entanto, foram compensados. Descobri que há um país onde constituir uma empresa demora, em média, uma hora e treze minutos, onde são criadas, por via informática, 20 empresas por dia, onde cerca de 15% das empresas já nascem desta maneira e onde o custo de todo o processo é de, apenas, 360 euros.

Aposto que já estão a imaginar que o país onde tudo isto acontece é nos Estados Unidos, ou na Suécia ou no Japão.

Mas enganaram-se, meus amigos, esse país milagroso é o nosso, isso é possível fazer-se aqui em Portugal. E o projecto (Empresas na Hora) que permitiu este sucesso está em vigor desde 14 de Julho do ano passado e guindou Portugal ao primeiro lugar da tabela europeia dos países onde a constituição de empresas é mais rápida.

Descobri que podia criar uma pequena ou média empresa em tão pouco tempo e com um só formulário.
O primeiro passo estava dado, mas não era ainda o suficiente para poder enriquecer. E depressa, como referi.

E porque não consta que se consiga enriquecer rapidamente sem ser com recurso a meios “pouco ortodoxos”, pensei que o que seria bom era se, depois de ter uma empresa devidamente legalizada, depois de ter conseguido reunir o crédito necessário junto da Banca e dos fornecedores, conseguisse, em pouco tempo, provocar a falência da minha empresa.

Claro que já perceberam que isto é, apenas, fruto da minha fértil imaginação, ou, quando muito, o resultado de ver tantos filmes, porque o que acabo de dizer nunca seria possível acontecer aqui em Portugal, onde toda a gente sabe que todos os empresários são sérios e que bla-bla-bla,, bla-bla-bla,.

Bem, no nosso país, é capaz de ter havido um ou outro caso desse tipo. Aliás, lembro-me de ter visto uma entrevista que a televisão fez a um empresário que fechou a fábrica têxtil e ficou a dever aos empregados, aos fornecedores, ao Fisco e à Segurança Social. O homem encerrou a fábrica e uma semana depois abriu uma outra na mesma localidade, contratou uns operários (alguns dos quais que vieram da outra fábrica) e começou imediatamente a laborar.
Quando a jornalista lhe colocou a questão de ele ter ficado a dever a tanta gente, ele, com a maior desfaçatez, respondeu que ela estava enganada, quem devia esse dinheiro era a empresa que estava falida e não ele, portanto, ele nada tinha nada a ver com o assunto …

Recuperando o fio à meada (fruto apenas da minha imaginação, como já disse), tinha a empresa legalizada, tinha o crédito, começara a trabalhar e, de repente, zás … ia tudo para a falência.

Ora, sabe-se que no nosso país, as falências demoram, em média, uma década e durante o processo desaparece quase um terço dos activos do que se está a liquidar. Como a Lei das Falências dá primazia aos pagamentos ao Fisco, à Segurança Social e aos trabalhadores, a maioria dos parceiros do negócio, os credores, conseguem na melhor das hipóteses recuperar menos de 10% das dívidas a que tinham direito, quando não, arcam com o prejuízo na totalidade.

Ou seja, pouco mais de uma hora para constituir uma empresa e dez anos para sepultá-la e com as vantagens (para os prevaricadores, já se vê) que descrevi. É ou não é uma grande ideia?

Claro que isto nunca daria certo, nunca poderia acontecer. Só estava mesmo a pensar, a pensar nada mais…

quarta-feira, março 29, 2006

No mundo do fantástico


Se calhar para a maioria das pessoas, o nome de Tim Burton não dirá grande coisa. Confesso que para mim também não me dizia rigorosamente nada até há bem pouco tempo. E foi por influência do meu filho que fui levado a conhecer um pouco da sua obra.

Tim Burton nasceu em 1958 e é um produtor e realizador de cinema e escritor. Mas, para além disso, atrever-me-ia mesmo a dizer que Tim Burton é um excêntrico e um criador de um universo que engloba estranhas criaturas, onde alia o sonho ao macabro.

Da sua cinematografia vi apenas “O Estranho Mundo de Jack”, que considero um extraordinário filme, onde a magia e a fantasia são acompanhadas por uma fabulosa banda sonora e, dos seus livros, só li “A Morte melancólica do Rapaz Ostra e Outras Histórias”.

É precisamente deste livro que escolhi um poema de sinistra comicidade, intitulado “A rapariga com muitos olhos”, que gostaria de partilhar convosco.


Um dia no jardim
Fiquei muito espantado:
Encontrei uma miúda
Com os olhos por todo o lado.


Era de facto encantadora
(e também assustadora!);
E, porque tinha boca para falar,
Pusemo-nos a conversar.

Falámos sobre flores
E das suas aulas de poesia,
E dos problemas que teria
Se tivesse miopia.

É óptimo namorar
Alguém que tanto nos olha,
Mas se desata a chorar
Apanhamos uma molha

terça-feira, março 28, 2006

Para que não haja dúvidas

“O meu capitão dá licença?
O que é?
Fiz um prisioneiro
E onde é que ele está?
Não quis vir…

Na guerra há prisioneiros teimosos, a gente puxa, puxa e eles não vêm. Feitios, não é?”


Alguns recordarão este trecho da deliciosa “História da ida à guerra de 1908”, contada há muitos anos pelo actor Raul Solnado. Na época foi uma novidade e, de certo modo, ele e as suas histórias, foram os percursores em Portugal do “non sence” e das, agora em voga, representações de “stand up”.


Pois bem, e voltando à historia que vos quero contar, reconhecendo que há feitios mais difíceis, mais teimosos, mais tortos, se quiserem, o vereador do trânsito da autarquia da minha cidade, para que não restassem quaisquer dúvidas sobre a direcção que os automobilistas deveriam seguir em determinada artéria, não teve com mais quês e vá de colocar, num mesmo poste, dois sinais de trânsito.
Por um lado, uma seta a indicar a obrigatoriedade de ter que se voltar à direita. Por outro, um sinal que proíbe que se volte à esquerda.

Sinais contraditórios ou sinais complementares? Pelo menos, desta forma, seguramente todos devem ter virado para o mesmo lado.

segunda-feira, março 27, 2006

Pelo menos foi o que me disseram…

Se calhar nem devia estar a falar neste assunto. Acho que é demasiado escandaloso para ser verdade. Para mais, tenho a certeza de que ninguém de boa fé era capaz de “alinhar” numa jogada destas, que se porventura acontecesse, seria uma manifestação clara de gozo para com os cidadãos contribuintes, se é que não queria fazer deles uns completos anormais.

Eu vou escrever devagarinho para que vocês compreendam a situação, se é que ela é verdadeira, muito embora a mim me custe a acreditar. Isto só pode ser brincadeira…

Pois disseram-me que um senhor, de que eu não vou dizer o nome, porque até nem acredito que o homem (um político) se fosse meter numa embrulhada daquelas, que apesar de ter apenas 50 anos de idade e de gozar de boa saúde está já reformado.
Estão a ver porque é que eu não acredito em nada disto? Pois se até o Governo quer que a idade da reforma vá pelo menos para os 65 anos, como é possível que o Vasco…ai, que lá ia dizendo o nome…

Seja como for, este senhor (chamemos-lhe simplesmente Vasco) é socialista, foi o número dois na Câmara Municipal de Lisboa durante as presidências de Jorge Sampaio e de João Soares e, ao que me dizem, está já reformado.

Se Isto para mim já era difícil de aceitar, porque o homem tem só 50 anos e tem uma boa saúde, mais difícil se tornou quando me disseram que a pensão que lhe foi atribuída foi de 3.035 euros (608 contos), que era um montante bastante acima do seu vencimento como vereador.

Mesmo assim, eu só tive a certeza que estavam a mangar comigo quando soube que o Vasco, apesar de ter apenas o equivalente ao actual 9º. Ano de escolaridade, foi reformado como “técnico superior de 1ª classe”, categoria a que, só os licenciados normalmente ascendem.
Então, e para lá chegar, quanto tempo é que trabalhou o sr. Técnico superior de 1ª. Classe? Sete anos no Ministério da Administração Interna, três no Serviço Militar e vinte na vereação da Câmara Municipal de Lisboa, doze dos quais a tempo inteiro, ou seja, um total 30 anos. Mas como parece que há uma lei que diz que dez desses doze anos contam a dobrar, o Sr. Vasco, em vez de 30, ficou com 40 anos de serviço e, tendo uma saúde de ferro, já se poude reformar.

Se me permitem, gostaria de perguntar em nome de muitos dos trabalhadores portugueses que raio de lei é esta que permite que um trabalhador que exerça a sua função numa Câmara durante 10 anos conte, para efeito de reforma, exactamente o dobro desse tempo. Aqui parece que o gozo já não é apenas comigo…

Mas o rol não ainda não acabou. Depois de já ter entregue o pedido de reforma o Vasco Franco (bolas, eu não queria que se soubesse de quem estava a falar, embora eu tivesse a certeza de que vocês já sabiam quem era o indivíduo) foi convidado para Administrador da Sanest, uma empresa de capitais públicos comparticipada por diversas câmaras dos arredores da capital, com um ordenado líquido de 4000 euros mensais. E sabem quem lhe fez esse convite? Vocês não vão acreditar, o convite foi feito pelo Presidente da Câmara Municipal da Amadora, o socialista Joaquim Raposo, cuja mulher é secretária de Vasco Franco na Câmara de Lisboa. Ele há coincidências que não lembram a ninguém…

Vão-me desculpar mas a minha azia já é tão grande que, por isso, vou parar por aqui. Sim, porque há muito mais para contar.

Não resisto, contudo, a dar-vos conta que o homem com todos estes convites conseguiu apenas triplicar o que ganhava no activo - onde deveria continuar por mais uns anos, uma vez que só tem 50 anos e uma boa saúde – ganhando, agora, qualquer coisa como 1200 contos limpos, além de carro, motorista, secretária, assessores e telemóvel.

Se tudo isto for verdade (e é claro que é verdade), isto é imoral e, como dizia o outro, isto é obsceno.

domingo, março 26, 2006

“Dura Lex Sed Lex”

Considerei que os comentários efectuados pelos nossos companheiros ao último texto aqui publicado, justificavam que eu dissesse mais alguma coisa.

Obviamente que “Porcos no Espaço” tem toda a razão no seu desabafo. No entanto, chamo a vossa atenção de que tudo se resume a uma questão de interpretação. Afinal, em bom português “O Dever acima de tudo” quer dizer o exactamente o quê?

Se entendermos o dever como o cumprimento da honra, então, louvem-se os cidadãos honrados, honestos e cumpridores, para quem as leis do Estado são mesmo para se cumprir e as leis da honra, dos valores e da ética são paradigmas de vida que só engrandecem quem os pratica.

Mas se, por outro lado, considerarmos que o dever, é, tão-somente, aquele dever de dever dinheiro ao Estado, ou aos vizinhos, ou ao Banco ou a todos aqueles anjinhos que nós conseguimos que caíssem na nossa lábia, porque, como diz a “Paula”, a malta tem que fazer p’la vida, então estamos a falar de um outro dever.

E, como alguém dizia, uma coisa é uma coisa e uma outra coisa é uma outra coisa.

Claro está que dever 50 euros é, de facto, uma dívida e, por isso, quem prevarica (quem deve) tem que ser punido ou com as tais penhoras ou mesmo com o ir parar com os costados numa prisão, que é para isso que elas se fizeram.

Agora, quem tem contas bastante mais crescidas para regularizar (como parece ser o caso do António Carrapatoso), isso, à partida, deixa de ser uma dívida para passar a ser um problema meramente financeiro, cuja resolução tem que ser encontrada ou ao abrigo de um qualquer “Plano Mateus” ou, como está em agora muito em voga, viabilizada por técnicos de áreas altamente especializadas de “finance” ou de engineering”.

Por isso é que, quando se evoca a expressão latina “Dura Lex Sed Lex” e as pessoas têm a tendência para a traduzir simplesmente por “a lei é dura, mas é a lei”, ou por outras palavras, a lei é igual para todos, qualquer um de nós vê de imediato que essas pessoas ou são muito ingénuas ou, simplesmente, não são de cá ou não conhecem o nosso sistema de justiça.

quinta-feira, março 23, 2006

O Dever Acima de Tudo

Desde muito pequeno que sempre ouvi a expressão “O Dever Acima de Tudo”, dita e redita pelo meu pai, vezes sem conta, até à exaustão. Os tempos eram outros e a honestidade era um dos valores que, de facto, a generalidade das pessoas praticava. Então, qual dogma, anos e anos a ouvi-la repetidamente, fez com que a interiorizasse de forma firme e inequívoca.

Mas a vida encarrega-se, por vezes, de nos mostrar as diversas facetas de que é feita e, de quando em quando, damos connosco a questionar se, realmente, seguimos o caminho certo, “o do dever”, quando era muito mais fácil seguir o outro, o da trafulhice, que nos está sempre tão próximo e que nos promete tanto.
No meu caso, ao optar pelo primeiro dos caminhos, não tenho dúvidas de que fiz a melhor escolha. Mas nem todos pensaram como eu.

Vem isto a propósito de mais uma burla que tivemos conhecimento, mais uma burla com os nossos dinheiros, e que me deu uma vontade dos diabos em começar a dar uns quantos socos a certa gente que por aí anda.

Então não é que o Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil (SNBPC) andava a pedir às Associações de Bombeiros que comprassem jipes, ainda por cima na sua maioria de topo de gama, para, pretensamente, ajudarem os bombeiros a combater os incêndios?
Acontece que, pelo facto dos jipes serem adquiridos pelas Associações de Bombeiros, e como estas são consideradas Associações de Utilidade Pública, estas Associações beneficiavam da isenção do imposto automóvel e pagavam o IVA à taxa reduzida de 5%. O que fazia com que o preço dos jipes fosse bastante mais em conta.

Até aqui, tudo bem. Mas os jipes eram mesmo para ajudar os bombeiros a apagar os fogos?

Ora aí é que está o busílis da questão. Não, não eram. O Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil pedia às Associações para comprarem os carros (para poderem usufruir dos tais benefícios fiscais), “dava-lhes” como contrapartidas uns subsídios para os calar e depois ficava com o direito de uso das viaturas.

Portanto, os jipes nunca estiveram ao serviço dos Bombeiros. Com esta “artimanha”, melhor dizendo, com esta “fraude fiscal”, estes luxuosos meios de transporte (de topo de gama, repito), eram utilizados não pelos bombeiros mas pelos dirigentes do SNBPC e por ministros, secretários de estado e outros elementos do nosso governo. Entre eles, do secretário de Estado da Administração Interna, Pais de Sousa e do seu Chefe de Gabinete, Ponce Dentinho e até por Fernando Gomes, então ministro da Administração Interna, que utilizou um veiculo pertencente (apenas de nome, já se vê) aos Bombeiros Voluntários da Lixa.

Claro está que todos estes senhores nunca ouviram falar no “Dever Acima de Tudo”, que é como quem diz, nunca ouviram falar em Honestidade. Se não, como poderiam andar em tão bons carros que só foram comprados porque contornaram – fraudulentamente – as regras em vigor na Administração Pública?

E a este tipo de “habilidades” eu não consigo chamar outra coisa do que crime público que, como tal, deveria punir exemplarmente quem os cometeu.

quarta-feira, março 22, 2006

Descubra as diferenças...

Com a “Gripe das Aves” a preocupar toda a gente, bem se pode dizer que o feitiço se está a virar contra o feiticeiro.

terça-feira, março 21, 2006

Falando do Poeta Aleixo

Já conhecem a minha posição quanto aos dias internacionais do que quer que seja. Hoje, porém, faço uma excepção, para evocar no Dia Internacional da Poesia, um dos maiores poetas portugueses do século XX – António Aleixo.


Quando há uns tempos publiquei um poema (por sinal delicioso) do Tosam, esse grande poeta, desenhador e contador de histórias, chamado “Ode ao Futebol”, que aliás se deve reler de vez em quando, por puro deleite, já tinha em mente falar num outro grande poeta algarvio, António Aleixo, de resto amigo de Tosam e a quem lhe dedicou os seguintes versos que quase passaram despercebidos:

Para ti, Tosam amigo
Que há muito me conheces
É pouco, o muito que digo,
de ti, que tanto mereces

A obra de Aleixo quase não é conhecida do grande público e ele é considerado por muitos como um poeta menor. De facto, António Aleixo foi guardador de cabras, cantor popular de feira em feira, soldado, polícia, tecelão, servente de pedreiro em França e “poeta cauteleiro”.

E apesar de semi-analfabeto e de ter deixado espalhados inéditos um pouco por todo o lado, o seu amigo, Dr. Joaquim Magalhães, ainda conseguiu reunir em livro: «O Auto do Curandeiro», «O Auto da Vida e da Morte», o incompleto «O Auto do Ti Jaquim» e o mais famoso livro «Este livro que vos deixo».

Mas, eu que gosto de poesia, embora isso não faça de mim um perito na matéria, tenho uma opinião um pouco diferente. Penso que, longe de ser o tal poeta menor, Aleixo foi sobretudo um poeta popular, no bom sentido do termo, um homem preocupado com o seu tempo e um repentista brilhante.

Como o demonstra nestes versos

Quem trabalha e mata a fome
Não come o pão de ninguém
Mas quem não trabalha e come
Come sempre o pão de alguém

A fartura ao pé da fome
Raramente se dá bem
Quase sempre quem tem, come
À custa de quem não tem

António Aleixo foi também acutilante e mordaz nas críticas sociais e políticas. E, por vezes, até um pouco atrevido, quando fazia ouvir determinadas quadras que, ostensivamente, pretendiam provocar o regime de Salazar

O Salazar é capaz
De nos fazer mil promessas
Mas faz-nos tudo às avessas
Das promessas que nos faz

Com uma gravata vermelha?
Tem cuidado, não te esqueça
Que Salazar aconselha
Muitas cores, menos essa

Termino com uma quadra, esta bem conhecida, cuja ironia e acutilância se mantêm actuais.

Sei que pareço um ladrão…
Mas há muitos que eu conheço
Que, sem parecer o que são,
São aquilo que eu pareço.

António Aleixo é um poeta merecedor de um pouco mais da nossa atenção e a leitura de “Este livro que vos deixo” é absolutamente obrigatória.

segunda-feira, março 20, 2006

Coisas em que eu não reparei e coisas em que eu reparei, mas que não sei o que são…

A propósito do artigo que escrevi ontem, recebi hoje, logo pela manhã, um e-mail de um amigo (só poderia ter sido de um grande amigo, claro está) a lembrar-me que, provavelmente, por causa das minhas férias da semana passada, ter-me-ia passado despercebido que o meu Benfica tinha sido eliminado da Taça de Portugal de futebol, pelo Vitória de Guimarães.

É curioso que, nesse preciso dia, eu estive na cidade berço mas, juro, que nem sequer me lembrei que o Benfica e o Vitória jogavam naquela hora o futuro de Portugal, perdão, a eliminatória da Taça de Portugal.

Não me lembrei do jogo, por acaso, mas não me esqueci de ir ver uma vez mais, a frase bem em destaque na muralha do castelo de Guimarães: “Aqui Nasceu Portugal”. Quem sabe se aquela frase, nesse dia em particular, não teria sido também, um pouco premonitória do resultado do jogo. Seja como for, e perante a vitória do Vitória, não me resta outra coisa do que “vitoriar” desportivamente “BIBÓ BITÓRIA”.


O que também me escapou durante a semana e, por isso, só agora tomei conhecimento, foi a mudança de estilo das reuniões habituais entre o Presidente da República e o Primeiro-ministro. Ou antes, talvez fosse melhor dizer a mudança não de estilo mas do lugar onde, agora, se efectuam as audiências, que passaram do sofá para uma mesa redonda.

Acho bem a mudança. Pelo menos para quem vê as fotografias desses encontros, dá a sensação que agora há, de facto, uma verdadeira reunião de trabalho e não um encontro de amigos, sentados confortavelmente no sofá, a falar sobre, sabe-se lá o quê.
A não ser que, e esta é também uma hipótese, por questões de saúde, Cavaco Silva tenha decidido que as cadeiras onde agora se sentam, sejam bem mais adequadas à saúde das colunas dos dois políticos, e daí…


Já de regresso a casa, vi pela televisão algumas imagens do Conselho Nacional de CDS, que se realizou no último domingo em Leiria. E o que percebi daquela grande embrulhada (se é que percebi bem) é que tudo aquilo gira à volta da liderança do partido. De facto, Ribeiro e Castro é cada vez mais contestado no interior do CDS, quer pelos chamados críticos (onde se encontra, adivinhem quem, Paulo Portas) quer pela sua própria bancada parlamentar e, naturalmente, não se vislumbra como é que ele conseguirá arranjar tempo para pacificar o que quer que seja, uma vez que anda num constante vaivém entre Lisboa e Bruxelas, onde continua a ser deputado europeu.

Bom, mas eles lá se entenderão. Afinal, o que mais chamou a minha atenção foram os comentários de Nuno Melo, de Telmo Correia e de Pires de Lima, (este último a quem muitos apontam como o futuro líder do CDS) e, sobretudo, ao apelo feito exactamente por Pires de Lima “nós queremos que o CDS seja um partido sedutor, um partido sexy”.

O que é isto de um partido sexy, Pires de Lima? Partidos de esquerda, de direita, neo-liberais, mas sexy? Não, nunca ouvi falar em tal, mas se o senhor afirma que quer um CDS sexy, para mim as dúvidas terminaram, até mesmo aquelas mais recorrentes. Por favor Pires de Lima envie-me já uma ficha de inscrição para o seu partido sexy.

domingo, março 19, 2006

Avanços e Recuos

Está uma pessoa a passar uns dias de férias, a tentar descontrair-se das tensões acumuladas e a fazer uma força dos diabos para se esquecer que o mundo continua a girar e que as coisas não param de acontecer. Dá-se até ao luxo de quase não querer saber que existem notícias, mas chega-se a um ponto que não dá mais, não se consegue resistir à tentação e vá de comprar um jornal.

Mas, afinal, nesta semana, parece não ter acontecido nada de especial, isto, claro, para além das diversas OPAS, de quem as lançou, quem as combate, quem as financia, se são ou não hostis. Numa semana, o nosso país deu para ficar opado de todo, seja isso bom para nós ou para a economia.

Mas a notícia que me deixou mais consternado (lá se foi uma parte do efeito benéfico das férias), foi o de saber que Santana Lopes depois de, em nome da Câmara Municipal de Lisboa, ter comprado um luxuoso carro (como foi aqui comentado na segunda-feira, 6 de Março) e sabendo que ninguém esteve interessado nos dois leilões que a CML efectuou para tentar desembaraçar-se desse carro, Santana Lopes depois de um grandessíssimo rebate de consciência, teve a dignidade de anunciar que ele próprio iria ficar com o carro e, para isso, iria contrair um empréstimo bancário.

Foi um gesto que caiu muito bem no seio da população em geral e que surpreendeu toda a gente.

Pois bem, aliviado o rebate de consciência, esta semana voltou a surpreender e, sem mais, rasgou a carta em que se comprometera com a dita compra.

sexta-feira, março 10, 2006

Ainda mais umas palavras sobre o Dia Internacional da Mulher

Não ficaria bem comigo mesmo se não acrescentasse mais umas palavras ao que disse ontem a propósito do Dia Internacional da Mulher. De que, aliás, esperava, com toda a franqueza, receber mais comentários, fossem eles a favor, ou contra ou nem uma coisa nem outra, por assim dizer.

Isto leva-me a pensar que, as alternativas não parecem ser muitas. Ou os leitores que ainda iam lendo estas linhas já se fartaram, ou eles estão perfeitamente rendidos às minhas teorias e opiniões. Que mais posso pensar?

Pois bem, sem retirar uma linha ao meu comentário de ontem, devo confessar que há muitos, mas mesmo muitos anos que sou defensor das tarefas partilhadas de uma casa. Nunca gostei de ouvir aquela história, normalmente dita pelas mulheres “o meu marido até ajuda lá em casa”. Ajuda? Que raio de história é essa da ajuda? Depois não têm que se queixar… Nas casas há trabalhos, muitas vezes há filhos e todas as tarefas têm que ser realmente partilhadas pelo casal. A não ser que haja possibilidades de pagar a alguém para as fazer.

Há uns anos, uma colega que me conhecia mal, julgou que eu estava no gozo, quando disse que na véspera tinha feito já não sei o quê na minha casa. Provavelmente, ela não estaria habituada a ter a colaboração do marido e, se calhar, para ela, os homens eram todos iguais. Mas não são. Na verdade, também nesta matéria não se pode generalizar.

E dou-lhes o meu próprio exemplo (que, provavelmente, servirá para que mais algumas pessoas se ponham contra mim).

Na última sexta-feira, cheguei a casa demasiado exausto. O dia tinha sido complicado em termos profissionais (o que não interessa nada para o caso).
Depois, à sexta-feira, é o dia em que fazemos as compras da semana (ou as do mês) no supermercado. Era, pois, tarde quando chegámos a casa. Tinha alguma fome, e, devido ao adiantado da hora, fomos às iscas que, por acaso, eram febras e já estavam feitas de véspera. Naquela noite apenas fiz o que não poderia deixar para o dia seguinte - arrumar as compras - já que não podia seguir aquela máxima que serve de lema a muito boa gente: "não deixes para amanhã o que podes fazer depois de amanhã".

Veio o sábado. Este é o dia que mais gosto (sobretudo quando saio e quando vou para fora). Não, a verdade é que é um dia tremendo. De trabalho, naturalmente.
De manhã, antes de sair para a voltinha dos tristes, que inclui a ida ao café, a coscuvilhice às montras da baixa da cidade e a visita ao supermercado (mais uma visita ao super) preparei o peixe e as saladas para o almoço e guisei as lulas que ficaram já prontas para se comerem durante a semana.

Saímos, voltámos e almoçámos. Depois, bem … depois foi o início da maratona, foi a corrida que não teve certamente os quarenta e dois quilómetros tradicionais mas que, pela variedade e morosidade das tarefas, me deixou (como sempre me deixa) completamente derreado.

Sopas foram feitas duas, de espinafres e caldo verde. O lombo de porco foi preparado a seguir e ficou com um belíssimo aspecto. Tirei roupas da máquina e do estendal. Passei a ferro roupas de cama e atoalhados. Arranjei o interruptor de um candeeiro de mesa-de-cabeceira. Preparei qualquer coisinha para petiscar à noite e, como sobremesa, lavei tachos e panelas. Arrumei a loiça na máquina e arrumei a cozinha. Voltei a tirar roupa da máquina.

No Domingo foi a vez do carro. Também ele teve direito a ser lavado e aspirado.

Para que pudesse descansar (pelo menos para que não tivesse mais essa preocupação) a minha querida mulher decidiu que iríamos almoçar fora. Ainda bem, tive uma pausa mas, em contrapartida, paguei a conta.

Quando regressámos a casa, a tarde já ia a meio e ainda havia tanto para fazer. A roupa para dobrar, a sala para limpar. Ah!, a sala tinha que ser muito bem limpa, como me recomenda sempre a minha mulher, e havia, ainda, o quarto e o hall para aspirar.

Quando, depois de lavar a loiça do jantar, cansado de tanta canseira, me sentei (enfim) no sofá da sala (muito bem limpa conforme me tinha sido recomendado), fiz um balanço do fim-de-semana que estava a terminar, e pensei que, depois de tanto esforço, a segunda-feira, felizmente, estava prestes a chegar. É que, mesmo acreditando sinceramente que a “lida da casa” também é uma das minhas obrigações, que diabo, nós (donos de casa) não somos de ferro, não é?

quarta-feira, março 08, 2006

O Dia Internacional da Mulher

Se querem mesmo que lhes diga, acho esta comemoração um bocado patética, se não mesmo machista. Comemorar o dia internacional da mulher nos dias de hoje não tem, na minha perspectiva, qualquer cabimento. Aliás, a maioria dos dias comemorativos de qualquer coisa não fazem o menor sentido. Talvez, e como excepção, o do Dia do Pai, que é já no próximo dia 19 (atenção filhos, compreenderam a mensagem?).

Eu sei, e já o disse aqui por diversas vezes, que, nesta matéria, a sociedade ainda tem muito que evoluir. Reconheço que as oportunidades ainda não são iguais para homens e mulheres, que a percentagem de mulheres desempregadas é maior, que para trabalho igual muitas vezes elas são pior remuneradas. Eu sei dessa discriminação toda e eu sou o primeiro a censurar a situação vigente e a dizer que temos ainda um longo caminho de luta a percorrer juntos, homens e mulheres, para conseguir alcançar o tal equilíbrio. Mas, um dia internacional para chamar a atenção dessas desigualdades? Acham mesmo necessário?

Ainda por cima, e nem que de propósito, recebi ontem à noite um e-mail que tinha o seguinte título: De uma mulher para todas.
E das muitas frases provocatórias dirigidas aos homens, retive as seguintes:

- Somos o sexo lindo;
- Se resolvermos exercer profissões masculinas somos pioneiras mas, se eles quiserem exercer profissões predominantemente femininas, eles são gays.
- A nossa inteligência é comparável à de qualquer homem mas a nossa aparência é melhor.
- O nosso cérebro tem a mesma capacidade que o dos homens, ainda que tenhamos 6 biliões de neurónios a menos. Ou seja, os nossos neurónios são mais eficientes.
- Somos capazes de prestar atenção a várias coisas ao mesmo tempo.
- Definitivamente somos nós que decidimos quantos filhos vamos ter.
- Somos nós que sentimos o bébé mover-se dentro de nós.
- O exame de ginecologia é mais agradável que o exame da próstata.
- Estamos sempre presentes no nascimento dos nossos filhos.
- Alguém, alguma vez, ouviu falar no “muso inspirador”?
- Somos mais resistentes à dor.
- Temos menos problemas cardíacos.
- Temos prioridades nos barcos salva-vidas.
- Somos mais sensíveis.
- Temos um dia internacional.
- Realmente somos maravilhosas.

Perante isto, digam-me o que querem mais? Com tantos e tão qualificados e apreciados atributos, o que é que lhes falta? Até o exame ginecológico é mais agradável do que o da próstata…

E nós, homens, não temos direito sequer a um dia internacional que nos seja dedicado, nem que fosse por atenção ao sofrimento que o exame à próstata nos provoca.

Bem, apesar de tudo, e não porque hoje é o tal dia internacional da mulher, mas porque sou um cavalheiro e porque sou gentil, e porque gosto das mulheres, aqui lhes deixo, a todas, as minhas homenagens.

terça-feira, março 07, 2006

A tendência é logo pensar-se o pior

Eu sempre achei que aquela coisa das bolas de futebol a serem constantemente jogadas pelas cabeças dos jogadores, não lhes dava lá muita saúde. Refiro-me aos jogadores, naturalmente.

A bola vai com uma força dos diabos, o jogador salta e, para além de, normalmente, levar uma cotovelada do adversário que salta com ele, ainda dá na bola (quando não na cabeça do outro jogador que vai com ele à bola) uma traulitada que até arrepia. Digam-me lá se aquilo não é capaz de danificar algum circuito funcional do cérebro do jogador. Pelo menos, alguns dos neurónios poderão ficar afectados, com certeza.

Claro que, como em tudo, não podemos generalizar. Deverá haver por aí milhares e milhares de jogadores que se fartam de dar cabeçadas (na bola, digo eu) e nada lhes acontece, pelo menos aparentemente.

Por isso quando me contaram que o famosíssimo e riquíssimo capitão da selecção inglesa David Beckham, que joga no Real Madrid, em Espanha, e que também se farta de dar cabeçadas na bola, confessou que não era capaz de ajudar o filho Brooklyn, de seis anos, a fazer os trabalhos de casa, isso até nem me causou um espanto por aí além.

Dizem as más-línguas que, ao que parece, Brooklyn não conseguiu resolver o seguinte problema “a Joana foi à loja às 11h45 e regressou meia hora depois, a que horas chegou ela? Quando pediu ajuda ao pai para resolver a questão, o pai também não soube responder.

David é um homem inteligente, talentoso como futebolista, casado com uma mulher lindíssima e ainda por cima rico como o caraças. Não saber responder a uma questão como aquela faz dele o quê, um “grunho”?

Para mim, o que se passou foi perfeitamente compreensível. David anda constantemente por esse mundo fora em jogos, em torneios e em demonstrações e os fusos horários devem-lhe fazer uma confusão tremenda naquela cabeça. E já pensaram, por acaso, que quando ele ia responder ao filho, aquele “não sei”, que alguém disse ter ouvido, poderia pretender dizer apenas “espera aí, mas, afinal, em que loja é que estava a Joana, foi aqui em Madrid ou foi em Nova York? É que, como sabem, há uma data de horas de diferença!

segunda-feira, março 06, 2006

Para alguma coisa serve um blogue...

Um destes dias ao almoço, dizia-me uma amiga:
“é bom que escrevas no blog sobre certos assuntos, nomeadamente sobre aqueles que têm a ver com os abusos e as injustiças que acontecem na nossa sociedade. Sabes, nós andamos um bocado distraídos e muitas vezes não prestamos atenção às notícias. Assim, estás a dar um contributo importante para nos manteres acordados”.

Ora bem, fiquei então a saber que este espaço, se outro mérito não tiver, pelo menos, ele serve para ajudar os meus amigos a estarem mais despertos (é assim como um café duplo que se bebe pelas quatro da manhã), porque sempre se vai aproveitando para denunciar certas injustiças (como dizia a minha amiga) e, naturalmente, para ajudar a criar ou a manter uma consciência cívica e política que nós, enquanto povo, temos a obrigação de preservar.

E já que falamos nisso, aproveito justamente para exprimir a minha revolta perante algumas desigualdades gritantes.

Finalmente vai arrancar este mês o chamado “complemento solidário” que foi uma das bandeiras eleitorais do Partido Socialista. O PS comprometeu-se até ao fim da legislatura, que não haveria um só idoso a viver com menos de 300 euros por mês.
A atribuição desta ajuda – muito aguardada por quem quase nada tem, mas insignificante para um país onde a distribuição da riqueza é um escândalo – será faseada, mas acredita-se que um terço dos 900 mil idosos visados, começará já este ano a receber o tal “complemento”.

Perceberam bem, meus amigos, em Portugal estima-se que 900 mil idosos têm menos de 300 euros por mês, mas, em compensação, soube-se também esta semana, que 9 gestores do Banco Comercial Português (BCP) ganham, cada um deles, 250 mil euros por mês, isto para além dos seguros e dos planos de reforma que o Banco lhes assegura e que os vão ajudar a viver um pouco mais dignamente.

Eu repito, agora em escudos, para que se perceba ainda melhor. 900 mil portugueses idosos têm por mês para sobreviver menos de 60 contos e apenas 9 gestores de um Banco conseguem viver com uns modestos 50 mil contos por mês, fora as outras mordomias.

Desigualdade? Injustiça? Eu chamar-lhe-ia vergonha nacional, de um país que permite uma discriminação tão escandalosa, chocante e obscena entre os seus cidadãos.

Mas, meus amigos, se conseguiram resistir a esta “pequena injustiça”, então tomem lá outra que também veio a público esta semana.

A Câmara Municipal de Lisboa comprou em 2003 para o seu garboso presidente de então, Santana Lopes (quem mais havia de ser, pois então?), um carrinho para as suas deslocações, um modesto Audi topo de gama, que custou à autarquia 115 mil euros (mais de 23 mil contos). Três anos depois, ninguém o quer utilizar, seja pelo medo da ostentação ou, simplesmente, porque o “bicho” bebe 18 litros aos cem. Vai daí a CML teve que leiloar o carro. No primeiro leilão, a CML pediu 62.500 euros e ninguém o quis. Agora, o Audi de alta cilindrada, com um potente motor V8 e caixa automática de seis velocidades vai novamente à praça por uns bem mais modestos 56.250 euros a ver se alguém lhe pega.

Perante isto, o que dizer? Injustiça? Acho que será pouco…

Sem dúvida que a minha amiga tem razão. De quando em vez é preciso agitar as pessoas e acordá-las da letargia em que o nosso dia a dia nos transformou. É necessário gritar, gritar, gritar de revolta!

domingo, março 05, 2006

No país dos “espertalhões”

Temos que reconhecer que cá no nosso cantinho, e no que toca a burlas, não temos tido lá grandes crânios que realmente se tenham salientado pela sua mente brilhante. Que me recorde, apenas um demonstrou uma classe e inteligência invulgares – Alves dos Reis – de tal forma que fez mexer um país inteiro e foi até reconhecido internacionalmente.
Mas o normal é termos muitos aspirantes a burlõezinhos, que pouco mais são do que aprendizes de feiticeiro.

E a provar o que afirmo, que os nossos aspirantes a burlões, não são outra coisa que “chicos espertos” convencidos que possuem uma inteligência que, de facto, não têm, recordo dois casos que demonstram bem essa “esperteza saloia”.

O primeiro aconteceu à meia dúzia de anos quando um estudante se apresentou a um exame com um ouvido completamente entrapado e com aspecto sofredor. O ar compungido do aluno deve ter provocado um sentimento de pena generalizado mas o coitado lá foi, mesmo assim, fazer o exame.
Vá-se lá saber porquê, e contrariando os demais, os examinadores não alinharam na manifestação espontânea de solidariedade em redor do doentinho e desconfiaram que o estado em que ele se encontrava não podia corresponder ao nível de conhecimentos que ele mesmo demonstrou na prova de exame.
Não era possível, acharam os professores, o rapaz estar tão combalido e ter, ao mesmo tempo, o discernimento e o conhecimento necessários que lhe permitiram responder correctamente a todas as perguntas do teste.

Não conheço os detalhes que se seguiram, mas sei que ao “doentinho” foi descoberto que o ouvido entrapado escondia “apenas” um transmissor e um auscultador que lhe permitiam fazer perguntas e receber as respostas.

E para que a justiça fosse completamente justa, os examinadores (que eu sinto que eram maus como as cobras, senão nem tinham dito nada ao pobre rapazito) acharam por bem desembaraçarem o ouvido do seu examinando de toda aquela trapagem (e maquinaria) e fizeram-lhe um novo exame que ele, natural e obviamente, chumbou.

Um outro exemplo de um espertalhão à maneira, passou-se recentemente com o deputado do PSD António Preto, que, de resto, está a ser investigado pelo Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), que o acusa de fraude fiscal e falsificação.

Ora, o António Preto foi chamado pelo DCIAP para uma importante diligência, a de verificar a sua caligrafia. Isto é, pretendia-se que o deputado escrevesse com as suas próprias mãos para que assim se pudessem comparar a sua caligrafia com a que constava nos documentos em análise, para que desta forma, se pudesse confirmar se houvera, ou não falsificação.

O senhor deputado apresentou-se efectivamente mas … com o braço ao peito e engessado até ao ombro, o que impossibilitou a recolha da prova pretendida.

António Preto alegou ter sofrido um acidente no Hospital de Santa Marta, tendo até apresentado documento passado pelo médico que o assistiu e que lhe diagnosticou uma possível flebite no braço (inflamação nas veias). O mesmo médico, ter-lhe-ia recomendado que ele tomasse um anti-inflamatório e procedesse à imobilização do braço (nunca falou em gesso).

Só que, azares dos azares, o Hospital de Santa Marta não tem nem serviço de ortopedia nem sequer sala de gessos. E o cúmulo chegou, para má sorte do deputado, quando o Presidente do Colégio de Especialidade de Cirurgia Vascular da Ordem dos Médicos veio a terreiro afirmar que nestes casos de flebites, normalmente se procede à imobilização do membro, mas nunca com gesso.

Então Sr. Deputado, deixe-me perguntar, o senhor tem mesmo uma flebite que se trata, como se viu, com um anti-inflamatório e às vezes até com uma simples aspirina (mas nunca com gesso) ou o senhor não tem nem nunca teve qualquer doença e procurou enganar a justiça com uma artimanha para escapar à tal prova da caligrafia que, possivelmente, o ia incriminar de forma definitiva?

Que grandes espertalhões estes dois. E se um ainda era estudante (ainda andava a praticar para aldrabão) o que dizer do outro, um deputado da Nação que tentou por vários meios enganar a justiça? Um aldrabão encartado, era mesmo isso o que nos estava a faltar agora …

quarta-feira, março 01, 2006

Um homem de princípios

Embora não o conheça pessoalmente, tenho pelo Dr. José Sá Fernandes o mais profundo respeito. E tenho-o porque são públicas as posições que ele tem tomado ao longo dos anos em prol da cidade de Lisboa e dos seus cidadãos. Por isso o considero um homem de princípios, honesto e íntegro, que deveria constituir uma referência de comportamento para os demais cidadãos.

Afirmei que ele é sério e íntegro mas, como repararam, só não disse que ele era incorruptível, muito embora, uma pessoa que seja séria e íntegra tenha que ser, obviamente, incorruptível. E o Sá Fernandes, em minha opinião, é evidentemente um homem que não se deixa corromper.

Apesar de tudo, há sempre aquela velha frase que recorda que “Todos os homens têm o seu preço” e que tem sido dita à saciedade ao longo de décadas e décadas, quer pela generalidade do povo, que sente realmente que essa é uma verdade indesmentível, quer pelas pessoas e pelos grupos que detêm o poder económico, que estão mais perto do poder no seu todo, ou são, eles próprios, o poder, aqueles que verdadeiramente influenciam e mandam nas pessoas, nos países e no mundo.

E, como sabemos, as frases, de tanto serem repetidas, acabam quase sempre por se tornarem realidade e, assim, sendo, se “Todos os homens têm o seu preço”, o que estamos a dizer é que “toda a gente come”, só é necessário saber até onde é que chega a voragem do seu apetite.

Mas neste caso, e para além da desonestidade da tentativa, demonstrou-se claramente que a estupidez dos corruptores foi francamente desmesurada. Não era uma qualquer pessoa que estava em causa, era José Sá Fernandes. A não ser que eles pensassem que o vereador iria ficar muito entusiasmado com os 200 mil euros que eles lhe iam oferecer.

Mais ainda, para além de desonestos e estúpidos foram mesquinhos na avaliação e ficaram convencidos que o homem se venderia por “um prato de lentilhas” num negócio que envolvia vários milhões. Enganaram-se no número da porta. Sá Fernandes não só não aceitou, como ainda convidou de imediato a Polícia Judiciária a participar na festa e a conseguir as provas provadas da tentativa de corrupção.

Aqui, e se me permitem a intromissão, e sem tirar o mérito ao modo como o Sá Fernandes desmontou a tramóia que lhe armaram, eu teria agido de outra maneira. Se eu fosse o Sá Fernandes, teria recusado os 200 mil (que já é uma pipa de massa que daria muito jeito a qualquer pessoa), e teria exigido 500 mil ou mesmo um milhão que, eu não tenho dúvidas, que eles acabariam por aceitar. Depois, recusaria na mesma convocar a tal conferência de imprensa onde se comunicaria que, afinal, os negócios estavam todos legais e chamaria a PJ para os caçar. Sá Fernandes continuaria impoluto e com os 500 mil, ou com o milhão nas mãos, poderia oferecê-los a uma Instituição de Solidariedade Social e a rapaziada seria na mesma acusada e presa.

Como disse no início, José Sá Fernandes é um homem de princípios. Porque se o não fosse, bem poderia dizer como um dos famosos irmãos Mark:

“Como sabem, eu sou um homem de princípios mas, se os senhores não concordarem com esses princípios, eu mudo-os…”