quarta-feira, maio 31, 2006

Sonecas ...

Ao longo dos anos assisti muitas vezes à luta feroz e quase desumana entre a sonolência irresistível e avassaladora e o “não posso dormir”. Uma luta estupidamente desigual, que fez com que, na maioria dos casos, a vitória tivesse pendido claramente para o fechar dos olhos e resvalado, quase de seguida, para o sono profundo.

Sobretudo em acções de formação e em reuniões, vi pessoas, vencidas pelo cansaço, pelo calor ou pela “chatice” da situação, não conseguirem superar o sono e acabarem por dormir, muitas vezes a sono solto.

Lembro-me de uma vez, numa importante reunião em que estavam presentes alguns dos administradores de uma certa empresa, um dos presentes ter adormecido e, a determinada altura, ter largado um valentíssimo ronco que fez parar os trabalhos por um momento.

Numa outra ocasião, viajava de comboio para o Porto e um distinto colega que me acompanhava, pediu-me para o não deixar dormir porque a mulher o proibira de o fazer. Perguntei-lhe porquê e ele respondeu-me que o seu ressonar era demasiado forte.
Mas, numa viagem de três horas, nem sempre se consegue resistir às investidas do sono. Provavelmente o suave balançar da carruagem acabou por o fazer sucumbir e mal fechou os olhos, logo se ouviu um tremendo e profundo ronco que sobressaltou todos os passageiros.
A esposa do meu colega estava certíssima.

Mas de todos os casos a que assisti ou de que me chegaram relatos, só uma pessoa nunca teve qualquer relutância em admitir que fazia umas valentes sonecas, nas mais variadas situações e lugares do mundo e sem qualquer problema. Naturalmente que me estou a referir ao Dr. Mário Soares.

Com ou sem problemas em admiti-lo, o sono foi, também, o vencedor incontestado quando, num dos últimos sábados, o conhecido economista Miguel Beleza, se deixou enlear nos braços de Morfeu e um suave ronco ecoou pela sala do Teatro Experimental de Cascais, onde era representada a peça “Inês de Portugal”.
Mas, porque Miguel Beleza estava cansado, ou porque a peça tinha três longos actos de quase três horas de duração, a cena do ronco repetiu-se pela noite fora, o que lhe valeu, à saída, alguns piropos e comentários jocosos.

Na noite a seguir, sem que tivesse havido o necessário sono reparador, Miguel Beleza acompanhado pela namorada, a jornalista Alberta Marques Fernandes, compareceu na Gala dos Globos de Ouro, onde, ao que parece, passou novamente pelas brasas mas, desta vez, sem barulhos de fundo, pelo menos que se notassem …

terça-feira, maio 30, 2006

Heróis


De certeza que esta irritação toda tem a ver com o meu mau feitio, não vejo outra explicação para estar deste jeito.

Mas a verdade é que fico irritado, e até mesmo indignado, quando vejo as grandes manchetes dos jornais chamar HEROIS aos jogadores convocados pelo Sr. Scolari para fazerem parte da selecção que vai ao mundial de futebol da Alemanha. Heróis? Mas de quê? Se ainda nem sequer disputaram qualquer jogo e já são proclamados HEROIS. O que quer dizer que se por acaso, chegarem a conquistar o título, eles vão passar de HEROIS a DEUSES. Será assim?

Vejo todos os dias na televisão a romaria que se instalou de norte a sul do país, em apoio à nossa selecção. As bandeiras nacionais começam a enfeitar as janelas e até já deparei com ruas onde as bandeiras presas a cordas, ligavam os dois lados da rua, em toda a sua extensão. Aliás, a chamada “epidemia da bandeira” só agora começou e promete espalhar-se rapidamente, podendo atingir níveis superiores aos do Euro 2004. Não se fala de outra coisa na comunicação social, aliás, não se fala mesmo de outra coisa e o país prepara-se para fechar. Sucedem-se as entrevistas e os debates sobre as capacidades dos nossos jogadores e sobre as possibilidades da equipa portuguesa no Mundial.

As expectativas começam a ficar altas, provavelmente demasiado altas. E se bem que eu seja adepto do “pensar positivo” e detestar os “coitadinhos” e os “perdedores natos” que por aí pululam, chamo a atenção dos que garantem que o título já está no papo, para o que aconteceu na última semana com os Sub 21. Também eles eram já campeões da Europa mesmo antes de começarem e, afinal, nem sequer passaram da primeira fase. E, note-se, a fase final do Europeu da categoria está a disputar-se no nosso país, e a equipa teve todas as condições de trabalho e o apoio de um público extraordinário.

É necessário que haja prudência e bom senso. É certo que temos bons jogadores, temos um treinador vencedor mas necessitamos de mais, de muito mais. De uma equipa que jogue efectivamente dentro do campo e de muita, muita humildade. Se tudo isso existir, então, temos hipóteses de vir a fazer uma boa campanha e, quem sabe, de chegarmos a campeões. Até lá, será melhor não deitarmos foguetes antes da festa…

Mas, francamente, ganhando ou não o troféu máximo, chamar heróis aos jogadores da selecção, àqueles mesmos jogadores a quem são dadas as melhores condições de trabalho e que ainda por cima ganham vencimentos exorbitantes, completamente desajustados da realidade de um país de tão baixos salários, não, eu não alinho nessa onda. Apesar de gostar muito de futebol e de ter a certeza de que ficaria muito orgulhoso se a equipa de todos nós conquistasse o Mundial, mesmo assim, os jogadores não são definitivamente os meus heróis.

Heróis, para mim, são aquelas crianças que foram apanhadas lá no Norte, a coser sapatos para a Zara, a 20 cêntimos a peça. Crianças que não se podem dar ao luxo de serem, apenas, crianças e que, depois de chegarem da escola, têm que ajudar a família a aumentar o magro rendimento mensal, agarrando-se a um trabalho que lhes deixa as mãos gretadas e com cicatrizes, apesar das grossas dedeiras que nem sempre os protegem do cortante fio de nylon. Crianças que não podem gozar, como deveriam, o “Dia Mundial da Criança”, que se celebra na próxima quinta-feira.

Essas sim, são essas crianças que são os meus HEROIS!

segunda-feira, maio 29, 2006

Verdade ou ficção?

Tem circulado ultimamente na Internet a história que vos conto hoje. Muito embora ela seja encantadora, existem dúvidas sobre se não será apenas mais uma história de ficção que juntou dois nomes célebres, ambos laureados com o Prémio Nobel.

E, como todas as histórias de encantar, começa por “Era uma vez…”

“Era uma vez um lavrador escocês muito pobre, que se chamava Fleming. Certo dia, o filho do lavrador, quando estava a trabalhar na lavoura, ouviu gritos que vinham de um pântano ali perto.

Largou tudo e correu para o pântano. Encontrou um rapaz enterrado num charco, lutando desesperadamente para não se afundar. O jovem Fleming, com esforço, conseguiu pegar na mão do rapaz e salvou-o do que poderia ter sido uma morte lenta e dolorosa.

No dia seguinte, parou na porta da pequena e humilde casa do lavrador, uma carruagem de onde saiu um homem, elegantemente vestido, que se apresentou como o pai do rapaz que havia sido salvo.

“Quero recompensá-lo”, disse o nobre. “O seu filho salvou a vida do meu”.

“Não, não posso aceitar”, respondeu o lavrador.

Nesse momento, o filho do lavrador veio até à porta da casa e o nobre perguntou “É o seu filho”?. O lavrador confirmou.

“Então, faço-lhe uma proposta. Deixe-me proporcionar ao seu filho a mesma educação que eu dou ao meu próprio filho. Tenho a certeza que o seu rapaz se tornará um homem de que nos orgulharemos muito”

O lavrador aceitou.

E assim, Fleming frequentou as melhores escolas e graduou-se na Saint Mary’s Hospital Medical School, em Londres. Em 1928, no decurso das suas pesquisas, Fleming descobriu a penicilina. Foi professor da própria escola, onde estudou de 1928 a 1948, sendo reconhecido como professor emérito da instituição.

Anos depois, o filho do mesmo nobre apanhou uma pneumonia e foi salvo pela penicilina (inventada por Fleming).

O nome do nobre era Lord Randolph Churchill e o seu filho, salvo pelo jovem Fleming, chamava-se Lord Winston Churchill, que foi primeiro ministro do Reino Unido, o maior líder britânico do século vinte e Prémio Nobel da Literatura em 1953.

Quanto ao filho do lavrador escocês, era Sir Alexander Fleming, um brilhante bacteriologista e Prémio Nobel de Fisiologia e Medicina em 1945”.


Verdade ou ficção? Sem dúvida uma bonita história que nos recorda dois grandes homens do século passado.

domingo, maio 28, 2006

Expressões…


Ao reler a minha última crónica, vieram-me à memória algumas das frases que, de tempos a tempos, são "inventadas" geralmente por um qualquer programa de televisão, que se propagam como epidemia e faz com que toda a minha gente as empregue, sempre que abrem a boca.

Ainda não há muito tempo ouvia-se a quase toda a hora o “Tás a ber?”, dita e redita por aquele moço trigueiro, o Mário, do primeiro Big Brother, lembram-se? ou aquela outra, mais recente, “vai lá vai…até a barraca abana”, de uma das cenas dos Malucos do Riso.

A propósito do que quer que seja, o povão nem pensa duas vezes e encaixa às mil maravilhas estas preciosidades linguísticas que quase sempre significam nada, e nada acrescentam nem ao que querem dizer, se é que querem dizer alguma coisa, nem à qualidade da linguagem.

Mas se a maioria delas tem o condão de me irritar, esta moda de começar as frases por “Então é assim…” dá-me uma brotoeja dos diabos.

À simples pergunta “então Joana, como vai ser o teu dia amanhã?” seguramente que a Joana vai responder “Então é assim…”, seguido de uma série de generalidades que não irão responder minimamente ao que foi perguntado. Por acaso não lhe bastaria dizer que estava a pensar ir às compras, ou que gostaria mais de ficar em casa a descansar? O que é que ela acrescentou realmente com aquela introdução? Nada, absolutamente nada.

Eu penso que ao dizer-se “Então é assim…” está-se, sobretudo, a tentar esconder uma enorme hesitação sobre o que realmente se pretende fazer ou dizer. Que, no caso da Joana, se poderia traduzir num “sei lá, tinha pensado ir almoçar fora mas, não sei, a vida está p’ra hora da morte, portanto, talvez vá sair com a Sofia ou comer pasteis a Belém”.

E esta mania de empregar o “Então é assim…” generalizou-se de uma tal maneira que há pessoas que, num conjunto de três ou quatro frases, repetem-na mais do que uma vez.

Outra expressão que agora se usa muito, e que também me dá muita comichão, é o “isto está complicado”.
Não se consegue sair a horas dos empregos porque “isto está complicado”. É melhor não se combinar nada para o próximo fim-de-semana porque “isto está complicado, temos que ir com o Pedrinho à …”. Então, aí em casa como estão? “Olha, isto está complicado, a avó …”.

Ao fim de tantos anos, só agora descobri como tudo isto anda complicado. Dantes, havia alguns problemas, algumas dificuldades, alguns contratempos mas, complicado, complicado, nós não dávamos por isso.

Bom, “isto é assim”, o que vos quero dizer é que, vocês sabem, isto está complicado mas, apesar disso, com um pouco de boa vontade, talvez volte a escrever qualquer coisinha amanhã… claramente que sim (claramente, que é outra expressão que, agora, está muito em voga).

quinta-feira, maio 25, 2006

Contributo


Um grupo de cidadãos, cansados de tanto ouvir dizer que a nossa economia está a crescer devagar, devagarinho, cansados das projecções pouco animadoras da OCDE, do FMI, da UE e do Banco de Portugal, cansados da opinião mais ou menos unânime de políticos e economistas, nacionais e estrangeiros, que consideram que o Governo está a tomar medidas certas mas insuficientes, desesperados, enfim, acharam que tinha chegado a altura de tomarem uma decisão. E tomaram-na…

Depois de uma avaliação profunda, exaustiva e rigorosa à situação económica do Estado, ou seja, ao estado a que isto chegou, estes cidadãos, decidiram propor ao Governo um pacote de medidas que poderão constituir um contributo valioso que venha ajudar a ultrapassar a situação difícil em que Portugal se encontra, por forma a que nos aproximemos um pouco mais de países muito mais ricos do que nós, como a Lituânia, a Eslovénia, a Croácia e outros que mais.
Medidas essas, que venham, no fundo, complementar outras já tomadas pelo Governo, como a penalização do chamado mergulho de chapão com bandeira amarela, ou mesmo uma simples entrada na água quando a bandeira hasteada for vermelha, ou mesmo encarnada. Nestas duas situações a coima a aplicar vai de 55 a 1000 euros.

O grupo de cidadãos decidiu, então, propor ao Governo que sejam aplicadas multas, coimas ou sanções pecuniárias que sejam severas, mas severas mesmo, nas seguintes situações:

- Uso de meia branca com sapatinho escuro (cem mil euros)
- Bigode à futebolista dos anos oitenta (duzentos a dois mil euros)
- Coçar os genitais em público (cento e cinquenta a mil e quinhentos euros)
- Utilização do colete reflector nas costas do banco do condutor (cento e vinte a mil e duzentos euros)
- CD pendurado no retrovisor (cento e vinte a mil e duzentos euros)
- Passear de fato de treino nos centros comerciais ao fim de semana (quatrocentos a quatro mil euros)
- Mulheres com excesso de peso envergando roupa muito apertada e com a barriga à mostra por onde saem quilos de banha (cento e trinta a mil e trezentos euros)
- Uso de óculos de sol em discotecas, cinemas, ginásios e restaurantes (quinhentos a cinco mil euros)
- Uso de sandálias com peúgas (trezentos a três mil euros)
- Cuspir para o chão na via pública (trezentos a cinco mil euros)
- Dar arrotos, sobretudo em restaurantes, pastelarias e outros lugares públicos (cento e quarenta a três mil euros)
- Utilização de expressões como “prontos”, “portantos”, “stander de automóveis” e outras quejandas, não esquecendo o começo de frases por “Isto é assim” (cento e quarenta a mil e quatrocentos euros)

“Prontos”, deixada a sugestão deste grupo de cidadãos preocupados, não só com estado da economia mas, também, com o “pirosismo”, com a falta de educação e de bom gosto que se instalou na nossa sociedade, agora, o Governo só tem que começar a facturar e a encher os cofres. Não vão faltar “cromos” para pagar as coimas. É só estar com atenção…

segunda-feira, maio 22, 2006

Por favor, expliquem-me como se eu fosse muito burro…


Por favor, há alguém que me explique porque carga de água é que um importante grupo empresarial que tem 180 administradores em diversas empresas, que, de um momento para o outro, manda embora 60 desses administradores e ninguém dá pela falta deles, nem as empresas que eles administravam vão à falência?

Obviamente que eu estou a falar de administradores que estavam em funções, não de cargos meramente fictícios. Estou a falar de administradores que recebiam remunerações muito generosas e todas aquelas mordomias que, normalmente, são dadas aos administradores.

Como já devem ter percebido, estou a referir-me à Portugal Telecom, cujo presidente recentemente nomeado – Henrique Granadeiro – resolveu, para além de mandar embora os tais 60 administradores, congelar os vencimentos de 800 quadros do grupo, porque, digo eu, os deve ter considerado excessivamente altos.

Mas a minha estupefacção e o meu espanto perante a saída de tantos administradores é tamanha, que me questiono como é possível que um grupo desta importância seja espoliado de 60 dos seus administradores sem que tivesse havido a mais pequena rotura ou convulsão nessas empresas. O que é que eles lá estavam a fazer? Quem os nomeou? Em que circunstâncias? Porque é que os deixaram lá estar durante tanto tempo, quando, afinal, se viu, agora, que nem eram necessários?

Outra coisa que me deixou igualmente abazurdido foi a de saber que 9.000 empregados da PT estão em casa a receber o seu salário, 6.000 numa situação de pré-reforma e os restantes 3.000 estão "apenas" em casa, a receber o seu salário por inteiro.

Querem fazer-me o favor de me ajudar a perceber?

domingo, maio 21, 2006

Essas vacas…

O título da crónica de hoje é dedicado, obviamente, à imensa manada de bovinos que invadiu Lisboa no início deste mês. São vacas artísticas, em tamanho natural e pintadas e transformadas excentricamente por vários artistas, um pouco à medida dos respectivos patrocinadores.

A CowParade, nascida em Zurique em 1998, é a maior exposição internacional de arte contemporânea, que esteve já presente em mais de 25 países, em cidades como São Paulo, Nova Iorque, Londres, Manchester, Dublin, Sydney, Tóquio, Cape Town e Barcelona.

Em todos os locais por onde passou, a iniciativa teve um sucesso explosivo, trazendo a arte para as ruas, em formato divertido, megalómano e contagiante quer para participantes quer para espectadores.

Para além da arte em si mesma, a cowparade tem uma outra vertente. Depois de terminadas as exposições, as vacas são leiloadas e os fundos obtidos destinados a associações e obras de carácter social.

Chegou, agora, a vez de Lisboa ter a sua cowparade, onde poderemos admirar, até ao final de Agosto, a criatividade, a beleza e a arte, espalhadas pelos pontos principais da capital.

Mas, não há bela sem senão. Poucos dias depois do início desta original exposição que, todos esperavam que fosse como que uma musa inspiradora, capaz de dar um pouco mais de cor aos dias pardacentos dos portugueses, verificou-se que a falta de civismo de alguns, foi superior ao gosto pela própria arte. Até agora, desapareceu uma das 101 vacas expostas pela cidade, a azul, aquela que estava em frente ao Campo Pequeno. E, ao contrário do que alguns chegaram a sugerir, a vaca não foi levada para junto das suas colegas vivas que “actuaram” na corrida do Novo Campo Pequeno. Não, ela foi mesmo roubada.

Algumas outras vacas foram também vandalizadas, apenas e só, por pura maldade, sem proveito. Mas houve uma situação que me chamou a especial atenção. No Rossio, entre as outras vacas em exposição, pode-se admirar a que foi patrocinada pela SIC, que a baptizou com o nome de “Portucow”, uma vaca bem portuguesa, pintada com as cores nacionais e com o escudo de Portugal, que pretende homenagear os portugueses e o amor que eles têm pelo futebol. Pois um “artista” (um vândalo, digo eu), colocou no chão, mesmo por debaixo do rabo da dita, uma verdadeira “bosta de vaca”. Já seca, quando a vi, mas absolutamente verdadeira, como se ela tivesse saído da “Portucow”.

Só não percebi se o engraçadinho autor do acrescento, quis dizer que, também ele, é um verdadeiro artista, e daí o toque de genialidade, ou se, simplesmente, aquele é um gesto de quem já perdeu a esperança no nosso país e achou que Portugal, os portugueses e a sua selecção principal de futebol, representados na vaca, são e estão "uma grandessíssima bosta…"

quinta-feira, maio 18, 2006

A falta de experiência

Quando se anda à procura de emprego ou quando, muito simplesmente “se dá uma volta” pelos cadernos de anúncios de emprego dos diversos jornais, o que mais encontramos é o pedido de candidatos a qualquer coisa, desde que tenham uma ou mais licenciaturas e a experiência de uns quantos anos da actividade.
Em termos empresariais percebem-se os porquês, mas o que mais arrelia o comum dos mortais que está aflitíssimo para arranjar qualquer coisa que lhe pague as despesas, é que, na maioria das vezes ou ele não é licenciado, ou é licenciado mas não na especialidade que a empresa pretende, ou ele (licenciado ou não) nunca trabalhou naquela área, ou ele nunca trabalhou mesmo.
E relativamente à falta de experiência, entra-se num círculo vicioso. Como o aspirante ao emprego nunca trabalhou, não tem experiência e, por não ter experiência não pode ter acesso ao lugar.
A crueldade torna-se, ainda, mais dolorosa quando os entrevistadores são jovens burocratas que, ou “lêem” as instruções recebidas como um dogma, ou não conseguem perceber as reais potencialidades de quem se candidata ou, porque, em muitos casos, esses entrevistadores receiam perder o seu próprio posto de trabalho a favor daquele candidato que têm diante de si.
Parece-me óbvio que é necessário dar uma oportunidade a que um candidato se possa mostrar, para que se chegue à conclusão que ele serve, ou não, para determinado lugar. Porque, a experiência, se ele for bom, virá com o tempo.
Foi por causa deste enorme imbróglio, demasiado presente na nossa sociedade, que bati as mãos de contente, quando li o currículo enviado para a Secção de Pessoal da Volkswagen por um aspirante a trabalhador. Leiam só:

"Já fiz cócegas à minha irmã só para que deixasse de chorar, já me queimei a brincar com uma vela, já fiz um balão com a pastilha que se me colou na cara toda, já falei com o espelho, já fingi ser bruxo.
Já quis ser astronauta, violinista, mago, caçador e trapezista; já me escondi atrás da cortina e deixei esquecidos os pés de fora; já estive sob o chuveiro até fazer chichi.
Já roubei um beijo, confundi os sentimentos, tomei um caminho errado e ainda sigo caminhando pelo desconhecido.
Já raspei o fundo da panela onde se cozinhou o creme, já me cortei ao barbear muito apressado e chorei ao escutar determinada música no autocarro.
Já tentei esquecer algumas pessoas e descobri que são as mais difíceis de esquecer.
Já subi às escondidas até ao terraço para agarrar estrelas, já subi a uma árvore para roubar fruta, já caí por uma escada.
Já fiz juramentos eternos, escrevi no muro da escola e chorei sozinho na casa de banho por algo que me aconteceu; já fugi de minha casa para sempre e voltei no instante seguinte.
Já corri para não deixar alguém a chorar, já fiquei só no meio de mil pessoas sentindo a falta de uma única.
Já vi o pôr-do-sol mudar do rosado ao alaranjado, já mergulhei na piscina e não quis sair mais, já tomei whisky até sentir meus lábios dormentes, já olhei a cidade de cima e nem mesmo assim encontrei o meu lugar.
Já senti medo da escuridão, já tremi de nervos, já quase morri de amor e renasci novamente para ver o sorriso de alguém especial, já acordei no meio da noite e senti medo de me levantar.
Já apostei a correr descalço pela rua, gritei de felicidade, roubei rosas num enorme jardim, já me apaixonei e pensei que era para sempre, mas era um"para sempre" pela metade.
Já me deitei na relva até de madrugada e vi o sol substituir a lua; já chorei por ver amigos partir e depois descobri que chegaram outros novos e que a vida é um ir e vir permanente.
Foram tantas as coisas que fiz, tantos os momentos fotografados pela lente da emoção e guardados nesse baú chamado coração...
E, agora, um questionário pergunta-me: "- Qual é a sua experiência? "Essa pergunta fez eco no meu cérebro. "Experiência.... "Experiência... "Será que cultivar sorrisos é experiência? Em contrapartida, agradar-me-ia perguntar a quem redigiu o questionário:"- Experiência?! Quem a tem, se a cada momento tudo se renova???"

Neste caso, e felizmente, o decisor considerou que, no mínimo, quem se apresentava ao lugar tinha manifestado imaginação e sensibilidade e, ao que consta, o candidato foi mesmo aceite.
Só não cheguei a saber se era licenciado e se tinha a experiência requerida para o lugar…

terça-feira, maio 16, 2006

Está bem, ele ia bêbado … e depois?

A história é simples e conta-se em poucas palavras:

“A Polícia apanhou um automobilista a conduzir com mais quatro gramas por litro de álcool no sangue do que o máximo permitido por lei, que é, como se sabe, de 0,5 gramas.
E o que é que aconteceu ao cidadão? NADA, rigorosamente nada. Nem a polícia que o detectou foi capaz de o autuar e de lhe apreender a carta, nem o Tribunal que o julgou, teve a coragem de o condenar e de o inibir de voltar a conduzir”.

Calcula-se que no nosso país, 40% dos desastres resultam do excesso de álcool ao volante. No nosso país existem leis sobre a matéria e estão devidamente regulamentadas. No nosso país há agentes de autoridade que exercem a fiscalização nas estradas, e a quem incumbe, nomeadamente, o controlo da alcoolemia. No nosso país existem tribunais a quem compete julgar e condenar quem viola a lei.

Então, porque aconteceu uma situação destas que, aliás, parece não ter sido a única? Porque é que ao “cidadão criminoso”, que pôs em risco vidas de terceiros, não foram aplicadas as sanções previstas na lei?

A impunidade e a violação sistemática da lei, faz com que o cidadão comum não entenda esta “justiça” que, ela própria, condena o Estado e se condena a si própria.
Daí que é frequente ouvirem-se frases como “as leis fizeram-se para não se cumprir” ou “isto só acontece em Portugal”.

Para além do mais, um tal branqueamento, põe a ridículo todos os discursos contra a sinistralidade nas estradas, destrói meses, talvez anos, de pedagogia e de campanhas rodoviárias, desautoriza os que, empenhada e convictamente, querem fiscalizar e julgar e, por último, mas não menos importante, encoraja os que se estão a borrifar para a lei e para os outros.

Aconteceu, vai acontecendo e é profundamente lamentável!

segunda-feira, maio 15, 2006

“Espera Galego”

Há uns dias tive que ir a uma Repartição de Finanças. Eu sabia concretamente o que me levava lá, mas, o que querem, ir às Finanças, ou à Polícia ou ao Tribunal, ainda hoje tem muito de intimidatório. Dá-nos a impressão que, independentemente do que nos faz lá ir, logo à partida, já somos culpados de qualquer coisa, e que, na maioria das vezes, sabemos que não vamos conseguir arranjar uma boa desculpa que justifique a nossa falta.

Bem, de qualquer forma, ia tranquilo e entrei decididamente. Reparei que eram exactamente dez e meia da manhã.

A sala estava “à pinha”, cheia de tão cheia. A custo cheguei-me à zona onde estavam três maquinetas com senhas de vez. A que tinha o número 1 indicava que quem tirasse uma daquelas senhas poderia tratar de:

Contribuição Autárquica, Imposto de Selo, Avaliações, Sisa, Imposto sobre Sucessões e Doações e imposto Rodoviário.

A máquina que tinha o número 2 indicava:

Execuções Fiscais, Contra-Ordenações, Recursos, Reclamações Graciosas e Impugnações.

Finalmente, a máquina 3, mostrava a indicação:

Cadastro, IVA, IRS e IRC.

Já era alguma coisa. Havia organização e havia senhas de vez, o que facilitava a vida às pessoas.

Logo que pude fugir a uma espécie de abraço a que tinha ficado preso pela multidão, quando tirei a minha senha, comecei a fazer o reconhecimento da população que me cercava.

Muitas eram pessoas idosas, muitos eram africanos, e havia muita gente que, embora pudesse estar incluída na chamada população activa (dita trabalhadora), eu juraria que deveria ter a maior das dificuldades em saber fazer as perguntas necessárias e muito menos argumentar o que quer que fosse com os funcionários, caso houvesse necessidade. Parecia ser gente muito simples que, em última análise, nunca fariam qualquer pergunta. Por timidez ou, simplesmente, por vergonha.

Imaginei que muitos dos meus companheiros de circunstância, devem ter sofrido alguns calafrios quando pousaram os olhos na placa que indicava “Execuções Fiscais”, ou naquela outra que rezava “Impugnações”. Será que algum deles pensou perguntar a algum funcionário o que é que aquilo queria dizer? Ganhariam alguma coisa com isso? Ou teriam já a certeza de que receberiam uma resposta torta ou uma expressão de desdém, da parte de algum funcionário mais arrogante, para quem aquelas expressões técnicas eram tão óbvias, que fazia daquela gente que tinha tido a ousadia de lhes colocar tais perguntas, uns seres absolutamente desprezíveis?

As horas iam passando, os números de vez, nem tanto. Sentia-se a impaciência a crescer. A impaciência dos contribuintes, claro está. Havia donas de casa que, provavelmente, estavam preocupadas com o almoço que ainda tinham que preparar para os maridos, para os filhos e, quem sabe, se para os netos. Havia pessoas que tinham pedido para faltar ao serviço da parte da manhã mas que já sabiam que os patrões não iriam compreender quando elas só aparecessem ao fim da tarde. Havia diabéticos que necessitavam urgentemente de comer. Havia pessoas com problemas físicos, que não tinham sequer cadeiras para se sentar. Havia criancinhas que já tinham superado, em muito, as impaciências dos próprios pais e gritavam e choravam cada vez mais alto, tornando o ambiente ainda mais insuportável.

Tinha chegado por volta das dez e meia. Quando saí, cerca das três da tarde, estava completamente exausto.

E voltei a pensar nos meus companheiros de infortúnio que, muitos deles, poderiam ter evitado toda aquela incomodidade se a resolução dos seus problemas pudesse ser efectuada pela Internet. Sim, sem dúvida, se eles tivessem acesso à net, se os modelos fossem facilmente compreensíveis e se, principalmente, eles soubessem trabalhar minimamente com um computador.

Por isso, e para a próxima, só lhes resta uma coisa, voltar novamente às Finanças, e esperar, esperar e esperar, fiel àquele velho dito popular “Espera Galego”.

quinta-feira, maio 11, 2006

Afinal, o mesmo é o mesmo que mesmo?

A questão surgiu durante um almoço de amigos, colocada não na forma de uma pergunta, mas como sugestão para uma discussão puramente académica. Afinal, “O mesmo é o mesmo que mesmo?”

A formulação da pergunta, para além de estranha, sugere que quem discute este tipo de coisas não deve ter muita mais em que pensar. Não passará mesmo de "filosofisses", como diria um amigo meu.

Mas, como aceitei entrar neste desafio e como tinha que começar por qualquer lado, procurei no dicionário e lá só encontrei a palavra mesmo uma única vez. Por isso, se existe uma só palavra, acabou-se a discussão, não há a possibilidade de a compararmos com outra palavra (que seria mesmo) porque ela, a segunda palavra, nem sequer existe.

Pelo que, nesta perspectiva, não haverá mais nada a dizer. Isto é, não sei se não haverá mesmo, porque o dicionário diz que mesmo pode ser um pronome demonstrativo, ou um substantivo masculino ou, ainda, um advérbio. O que, no fundo, vem repor e relançar a questão inicial da existência de vários mesmos.

Ainda que numa só palavra, a existência da mesma (palavra, que é o que estávamos a falar), pode, afinal, significar coisas diversas. O que não me espanta nada, porque vindo a palavra do latim metipsimu, que mais parece um termo grego, podemos perfeitamente conjecturar que a língua dos romanos não era lá muito de fiar. Daí, ser hoje, uma língua morta.

Portanto, minha querida Débora, a discussão não chega mesmo a ter discussão. Quando muito, poderemos interrogar-nos se o empregado que nos serviu no Martinho da Arcada era mesmo competente, ou era simplesmente antipático, ou melhor ainda, se ele era mesmo antipático!

Ao fim e ao cabo, e de um ponto de vista puramente académico, como se pretendia aliás, e pondo-se de parte, naturalmente, o lado semântico da questão, acabo por concluir que “O mesmo não é, de facto, o mesmo que mesmo”. É que entre o primeiro e o segundo mesmo a diferença está na entoação, com que se pronunciam as palavras. A diferença entre as duas, reside mesmo na intenção, na provocação, na censura, na chamada de atenção. No limite, se quiserem, na demonstração de profunda irritação. Mas irritação mesmo!

quarta-feira, maio 10, 2006

Casamentos em crise?

Muita coisa mudou nestes últimos cinquenta anos e, uma das coisas que mudou, e muito, foi a forma como as pessoas vêm, sentem e vivem os casamentos. Dantes, um casamento era para toda a vida, agora, é enquanto durar, muito embora eu pense que as pessoas ao casar, estejam realmente convencidas que o fazem para toda a vida. Pelo menos, naquele momento.

Então, porque fracassam os casamentos duradouros? Para além da independência económica das mulheres, outrora inexistente, e que, de alguma forma, “aguentavam” muitos desses casamentos, hoje, a impaciência perante as dificuldades da vida, o egoísmo, os problemas resultantes de uma vida a dois, cuja gestão nem sempre é fácil, a falta de maturidade dos noivos e a indisponibilidade para fazer concessões e sacrifícios, poderão ser apontadas como algumas das razões que põem em risco a durabilidade de um casamento. E daí, as separações cada vez mais frequentes. Tão frequentes que, em cada 33 segundos, um casamento é desfeito na União Europeia.

Portugal que tantas vezes aparece no topo das tabelas, quase sempre e infelizmente, pelos piores motivos, também neste item consegue a pontuação máxima, sendo o país da União Europeia com maior número de divórcios.

Segundo um estudo do Instituto de Política Familiar, Portugal registou de 1995 a 2004 o maior aumento na taxa de divórcios (89%), claramente à frente da Itália (62%) e da Espanha (59%).

Mas esta onda de divórcios é, de facto, alarmante em todo o mundo. Só na EU (ainda dos 15) registaram-se em apenas 15 anos mais de 10 milhões de divórcios, verificando-se que em cada dois casamentos, um termina em divórcio.

Mas poder-se-á afirmar que, de facto, existe uma crise no casamento? Parece que não. Os números indicam que a maior parte das pessoas que se divorciam, voltam a casar. O que nos faz pensar que, na verdade, não é o casamento, enquanto instituição, que está em crise.

terça-feira, maio 09, 2006

Retratos ou Provocações?

Poderão achar que não estarei (de todo) bem da cabeça (e se calhar têm toda a razão para pensar assim), mas garanto-vos que já por diversas vezes, quando estou a ouvir um alto responsável do Estado ou de um qualquer grande grupo económico, estou sempre à espera de que ele diga qualquer coisa espirituosa, uma piada que seja, daquelas que, já se vê, seriam politicamente incorrectas e que, obviamente, eles não caiem na asneira de as dizer. No entanto, eu continuo sempre de olho neles …

É suposto, claro, que uma pessoa que é tão importante, seja o mais formal que se possa imaginar, que não cometa deslizes e, sobretudo, estando a falar em assuntos tão transcendentes e em público, não comece com piadas gagas que possam pôr em risco a compostura do acto e a sua própria posição.
Contudo às vezes, os tais deslizes acontecem. Recordo-mo que, há uns anos, um ministro tentou ser engraçado e contou uma anedota sobre alentejanos que faziam hemodiálise, justamente numa altura em que morreram pessoas (por acaso alentejanas) em transfusões com sangue que não estava em condições.
O senhor ministro não só não teve graça, como demonstrou uma imensa falta de bom senso. É que o assunto era demasiado grave, mexia com a saúde (e a morte) dos portugueses, e o resultado não se fez esperar. Foi demitido imediatamente. E bem, digo eu.

Mas mesmo sem estarmos a pensar em pessoas colocadas no topo da pirâmide, lembro que em tempos ainda não muito recuados, não era de bom tom um empregado, qualquer que fosse a sua empresa, ter graça ou contar alguma história que, supostamente, fosse engraçada. Quem tivesse a ousadia de ter alguma piada natural, não era, certamente, o indivíduo indicado para “determinado lugar”. Vi colegas meus serem afastados de postos de responsabilidade só porque, uma vez ou outra, contavam uma laracha.

Felizmente, também nesse aspecto, os tempos mudaram e hoje nada impede que um responsável possa ser um tipo charmoso, engraçado e, ao mesmo tempo, competente.

Apesar de tudo continuam a existir algumas reservas que, lentamente, vão sendo ultrapassadas e, algumas dessas pessoas, reconhecidamente competentes e com classe, vão dizendo o seu dichote, provando que as duas coisas não são, de todo, incompatíveis.

Todo este arrazoado para falar na postura e na formalidade patenteada nos retratos de todos os Presidentes da República, expostos na Galeria dos Presidentes, no Museu da Presidência. Todos eles, com excepção dos dois últimos, Mário Soares e Jorge Sampaio, que aparecem pintados de forma quase surrealista, vivos nas suas expressões, como que a dizer que estes Presidentes também eram gente, e a quebrar com a tradição de décadas, daqueles que os antecederam, com o ar austero, formal e de “Estado”.

Mário Soares escolheu Júlio Pomar para o retratar e Jorge Sampaio elegeu Paula Rego, dois pintores ímpares, nomes grandes da nossa pintura mas de quem, já se sabia, porque se conheciam as respectivas obras, iriam proporcionar-nos uma visão muito pessoal e completamente diferente do que estávamos habituados até então.

E vejam se tenho, ou não, razão. Dos 5 Presidentes que Portugal teve depois da Revolução de Abril de 1974, vejam só a diferença entre a postura dos três primeiros retratados e dos dois últimos.

O que nos faz questionar: Retratos ou Provocações?

segunda-feira, maio 08, 2006

Nada de misturas...


Achei algo bizarra aquela ideia do Daniel de Oliveira (aquele simpático do Bloco de Esquerda que costumamos ver no programa “O Eixo do Mal” na SIC Notícias) que sugeria que com o barril de petróleo a custar à volta dos 75 dólares, o melhor era abastecer os carros com champanhe.
Com toda a simpatia, digo ao Daniel que as suas contas não estão correctas.
Embora o preço se altere todas as semanas e às vezes várias vezes na mesma semana, um litro de gasolina com 95 octanas, custa à volta de 1,30 euros. Uma garrafa de champanhe português, de qualidade razoável, poderá custar cerca de 12,50 euros. O que quer dizer que se eu meter 20 litros de gasolina sair-me-á do bolso um pouco mais de 26 euros, enquanto que se eu tivesse a coragem de meter 20 litros de champanhe no depósito, eu teria que desembolsar 250 euros. Bastante mais como se vê.
Mas, ainda que do ponto de vista financeiro isso fosse vantajoso, eu não enveredaria por uma solução dessas, por duas razões:
- a primeira, porque não sei se o motor trabalharia aos soluços provocados, eventualmente, pelas bolhinhas gasosas do champanhe ;
- a segunda razão, porque não sei até que ponto é que os agentes da GNR e da PSP iriam "fechar os olhos" aos carros que circulassem aos esses, já que eles (os carros, já se vê) não teriam como provar o seu estado de alcoolemia. Ou será que iam arranjar balões específicos para os carros poderem soprar?

Bem, eu penso que o Daniel de Oliveira o que quis mesmo foi gracejar com a situação, como que a dizer, que o melhor que temos a fazer é comprarmos umas quantas garrafas de champanhe e bebermos uns valentes copos para tentar esquecer a subida vertiginosa e insuportável do preço do petróleo.

Mas bebendo ou não umas champanhecas, e ainda que o preço do “ouro líquido” atinja, ou ultrapasse, os 100 dólares, nós continuaremos a reclamar e a queixarmo-nos, mas continuaremos, também, a encher os depósitos, exactamente da mesma forma. Até um dia que não consigamos aguentar mais...

quinta-feira, maio 04, 2006

Não esquecer de...


No próximo fim-de-semana LEMBRE-SE QUE:

-
O BANCO ALIMENTAR CONTRA A FOME DE LISBOA recolhe alimentos
no sábado e domingo, dias 6 e 7 de Maio.
VAMOS AJUDAR AS PESSOAS QUE MAIS PRECISAM.


-
Domingo, dia 7, é o dia da MÃE.

De novo, Gabriel Garcia Marquez

Tinha-me comprometido publicamente a ler as “Memórias das Minhas Putas Tristes”. A promessa está cumprida, já li o livro e, ao contrário da Clara Ferreira Alves que o considera um texto menor, embora de um grande autor, e o classifica como um livro “triste, velho e impotente”, devo dizer que gostei.
E o facto de tanto gostar da maneira como GGM escreve, fez-me reler, logo de seguida, “Ninguém escreve ao Coronel”, de 1957.
É, de facto, um escritor obrigatório que, de tempos a tempos, temos necessidade de revisitar.
E, já que vos falei em Gabriel Garcia Marquez, deixo-vos com três belas frases que, segundo consta, são de sua autoria.

“Só porque alguém não te ama como tu queres, não significa que não te ame com toda a sua alma”.

“Nunca deixes de sorrir, nem sequer quando estás triste, porque nunca sabes quem se poderá apaixonar pelo teu sorriso”

“Não chores porque acabou, sorri porque aconteceu”

quarta-feira, maio 03, 2006

É fartar vilanagem…

Sempre atentos à criatividade e inovação, tal como o Engenheiro Sócrates tanto gosta de referir, descobrimos que aqui, em Lisboa, foi introduzido no campo da restauração, um novo conceito deveras inovador.

Abriu no Picoas Plaza, um restaurante onde o cliente pode comer até se fartar e só paga o tempo que demora a fazê-lo. Ou seja, trata-se de um restaurante-táximetro onde o cliente vai aumentando a factura a pagar à medida que for decorrendo o tempo que permaneça no estabelecimento. O que quer dizer que paga, para além da comida, também o espaço que utiliza. Isto, claro está, para além dos 20 minutos concedidos pelos proprietários por considerarem que é o tempo mínimo aceitável para qualquer almoço digno dessa designação.

O que quer dizer que por esses 20 minutos de refeição, e independentemente da quantidade de comida ingerida pelo cliente, ele paga 7 euros. Mas se esse cliente estiver distraído com o tempo e continuar a enfardar, vai pagando mais 1 euro por cada 5 minutos a mais.

O intuito, portanto, é comer até cair para o lado, até rebentar se for caso disso, mas, para pagar o mínimo vai ter que dar ao dente, que é como quem diz, come o que quiseres, mas despacha-te.

Resta dizer que a “refeição contra-relógio” neste restaurante de “comida a tempo” (por analogia com os de “comida a peso”) inclui sopa, dois pratos de carne e outros tantos de peixe e bebidas alcoólicas ou não. Só o café é que é pago à parte, isto, já se vê, para que não haja abusos…

O mínimo que me ocorre dizer é que, para além da originalidade da ideia, pelo menos cá no sítio, não sei bem se os portugueses vão aderir de alma e coração. Isto porque, se por um lado é sabido que gostam de comer, às vezes até a um ponto que roça a alarvidade, por outro, também têm o gosto do convívio à mesa durante longos períodos e, nesse aspecto, aquele não é o sítio mais apropriado.
De qualquer forma, achei piada à ideia. Mas porque ainda não fui até lá nem vi qualquer acção promocional ao restaurante, fiquei sem saber se é, ou não, permitido levar umas tuperwares, para o que desse e viesse…

terça-feira, maio 02, 2006

Arrobas & Arrobas, Lda.

Era capaz de jurar que, se de repente, começasse a perguntar à rapaziada mais nova qual é o significado de arroba, isto é, o que é que arroba quer dizer, todos responderiam sem pestanejar que arroba (@) é um símbolo que faz parte dos endereços utilizados na Internet.
Sendo certo que a resposta está parcialmente correcta, aposto que pouca gente seria capaz de dizer, no entanto, que arroba é, também, uma medida de peso, que hoje se considera ter 15 quilos mas que, em tempos idos, representava o equivalente à quarta parte do quintal, ou seja, 32 arráteis.

Bem, ponhamos de lado esta última arroba, porque receio que os 15 quilos nos pesem demasiado e falemos da outra arroba, a da informática, a corriqueira do dia a dia, que muitos julgarão pertencer à nova geração que a era digital banalizou.

Puro engano. Quem conheça um pouco de latim e tenha, porventura, alguma vez visto manuscritos do século XVII, saberá que este símbolo já era conhecido e usado nesse tempo.
Trata-se de uma contracção das letras “a” e “d” e refere-se, possivelmente, a “Anno Domini”, o ano do Senhor, mais conhecido entre nós pela abreviatura “d.C.” (depois de Cristo).

Portanto, meus amigos, quando derem um passeio pelo Alentejo, e se tiverem a possibilidade de visitar Estremoz, não se esqueçam de ir ver a majestosa Igreja de S. Francisco, onde poderão apreciar, no lado direito da nave central, o nosso conhecido “a” enrolado que, outrora, tinha um determinado sentido e hoje é (para além, repito, da uma medida de peso) a nossa familiar, imprescindível e sempre presente arroba informática.