quinta-feira, junho 29, 2006

“Doutores da mula russa”

É sabido que os portugueses adoram títulos. Antes de sermos Mários, ou Antónios ou Martas os portugueses gostam de ser tratados por doutores, engenheiros, arquitectos, embaixadores, coronéis, inspectores, barões, ou qualquer outro título mais ou menos sonante que esteja disponível.

Já vi responder ufana e orgulhosamente à chamada de “Sr. Presidente”, pessoas que são simples presidentes de pequenas Juntas de Freguesia. Aliás, Portugal deve ser um dos países que mais Presidentes tem por metro quadrado.

Quem esteja à frente de uma colectividade de recreio, de um grupo de futebol, ainda que com meia dúzia de sócios, tem direito e exige esse tratamento que lhes confere o devido prestígio.

Mas mesmo quando não existe um grau académico que possa justificar tamanha distinção, há sempre a possibilidade de virem a ser agraciados pelo Senhor Presidente da República com um grau de comendador de uma ordem mais ou menos conhecida.

Há uns três ou quatro anos, estava em serviço em Valladolid, com o meu colega Carlos. No último dia da nossa estadia fomos convidados para jantar pelo Director da Agência. Neste tipo de jantares de fim de trabalho, normalmente aproveita-se para falar de assuntos que não houve a oportunidade de abordar durante o dia-a-dia. São, normalmente, conversas longas, animadas por vezes, em que se procura, fundamentalmente, dissipar toda a tensão acumulada de uma semana e, também, porque não, procura-se, também, um pouco de convívio.

Foi um jantar simpático, num ambiente muito acolhedor e tipicamente espanhol. Para além de nós dois, os portugueses, estavam presentes os três principais responsáveis da Agência.

A determinada altura, o Director confessou a sua admiração pelo facto de ter reparado que eu e o meu colega nunca nos tivéssemos tratado por tu, como, aliás, é um hábito entre os espanhóis. Expliquei-lhes que em Portugal esse tratamento só se verificava entre pessoas que tinham um relacionamento mais próximo, mais íntimo até. Quanto aos outros, não havia esse costume. Eu, por exemplo, que lá em Espanha, até tratava o meu companheiro por Carlos (talvez para não destoar dos nossos vizinhos, que tratam todo o mundo pelo primeiro nome – eu era, para todos, o Mário), se fosse em Portugal, provavelmente, tratá-lo-ia por Dr. Carlos XXXX.
A risada surgiu sonora e espontânea. Eles nem queriam acreditar no que estavam a ouvir. É que, como disse, todos eles se tratavam por tu e todos eles eram obviamente licenciados. Nunca (jamais) tinham pensado em relacionar-se de qualquer outra forma que não fosse a que sempre usaram – a de um tratamento pessoal.

Claro está que, tanto quanto conheço, este fenómeno (que é um péssimo sintoma e nos mostra como a sociedade está doente), o do tratamento pelo título, está demasiado enraizado cá no burgo, mas eu sei que o mesmo se passa em muitos países subdesenvolvidos, nomeadamente na América Latina. Sim porque em França, na Alemanha, no Reino Unido, mesmo em Espanha, doutores são os médicos e apenas esses.

terça-feira, junho 27, 2006

Em cada janela uma bandeira


É verdade que temos todas as razões para continuamos a viver uma certa euforia com esta história do Mundial de Futebol e é verdade, também, que continuamos a aderir em massa à solicitação do seleccionador nacional em colocar uma bandeira nas nossas janelas e nos nossos carros. Como diz o hino da selecção, “em cada janela uma bandeira, no campo uma nação inteira”
Mas, aqui é que está o busílis, será que os nossos problemas, os nacionais e os individuais, começam e acabam só porque estamos a fazer a vontade ao Sr. Scolari, colocando uma ou várias bandeiras nas janelas?
Sabendo, embora, que uma coisa nada tem a ver com a outra e Independentemente da fé que eu possa ter relativamente ao comportamento da nossa equipa, eu já tomei a minha decisão. Comprometo-me publicamente a pôr uma bandeira nacional na janela do meu quarto … mas só quando:

- Portugal deixar de ser o país da Europa com maior indice de abandono escolar, analfabetismo e corrupção;
- Em Portugal, ninguém que trabalhe ou queira trabalhar ou tenha trabalhado toda a vida, ou que não possa trabalhar, passe fome;
- O desemprego não for um desígnio nacional;
- A classe política deixar de ser maioritariamente composta por incompetentes;
- Acabar a pouca vergonha do Estado em gastar (o nosso dinheiro) 3.500.000€ em transportes com os deputados e milhares de cidadãos não terem dinheiro nem para comprar o passe;
- As crianças e os velhos forem tratados com dignidade, pelos pais, filhos, professores, educadores, instituições e políticos;
- Os papás ensinarem as crianças que os professores devem ser respeitados;
- Todos os professores forem competentes;
- A polícia deixar de fingir que não vê as lutas de pit-bull nas diversas Trafarias do país, bem como as corridas a 250 Km/h em várias Pontes Vasco da Gama do país, às 6ªs feiras à noite;
- A violência doméstica, a pedofilia, a violação e todos os crimes cometidos contra crianças, forem punidos com 50 anos de cadeia;
- O dinheiro destinado aos submarinos que vão ser comprados for destinado a equipamento para apetrechar condignamente todos os hospitais e escolas do país, e com o que sobrar, se poder comprar tractores e traineiras;
- Os jornais e revistas, e os programas desportivos de rádio e de televisão, souberem que, além do futebol, se praticam mais 347 outros desportos e que mesmo no futebol, há outros Clubes além do Sporting, do Benfica e do Porto;
- Não houver nenhum 1º Ministro que tenha a lata de de abandonar o País à má fila, em plena crise, para ir sôfregamente atrás de um qualquer tacho mais aliciante;
- A gripe das aves não tiver direito a mais do que 1 minuto de tempo de antena, por mês, incluindo a informação de que morreram 1 indonésio e 2 chineses, quando nos 5 segundos que demorou a noticia, moreram mais de 700.000 pessoas com outras 250 doenças e 300.000 crianças morreram de fome, de malária e de cólera em África;
- Nenhum governante tiver o desplante de dizer que "abriu a época oficial de incêndios";
- O número de óbitos motivados por incompetência ou negligência médica for zero;
- A maioria dos Jornalistas souber falar e escrever português, e deixar de fazer constantemente perguntas idiotas aos entrevistados;
- Houver, no estrangeiro, tantas pessoas que conheçam tão bem o Eusébio, o Figo.o Cristiano Ronaldo e o Mourinho, como conhecem o Camões, o Prof. Agostinho da Silva, O Maestro Vitorino de Almeida, O Prof. Vitorino Nemésio, o Fernando Pessoa e muitos, muitos outros que nunca deram um pontapé numa bola;
- Houver tantos Portugueses que sabem quem são, a Maria João Pires e a Helena Vieira da Silva ou José Cardoso Pires como os que sabem quem são o Pinto da Costa, o Valentim Loureiro, o Luis Filipe Vieira, o Manuel Goucha, a Cátia Vanessa, o Abrunhosa, a Júlia Pinheiro, a Quicas Vanzeler, e o Mantorras;
- O peixe não chegar às mesas de quem o pode comprar, 10 vezes mais caro do que foi vendido nas lotas, para que mais pessoas o possam comer e menos intermediários se possam encher;
- Os autores dos programas infantis de televisão, perceberem que uma criança não é um atrasado mental;
- Os pequenos e médios Empresários Portugueses não comprarem o 2º Mercedes e a casinha no Algarve, antes de pagarem os ordenados que devem aos Trabalhadores, as facturas que devem aos fornecedores, e as contribuições que devem à Segurança Social e ao Fisco;
- O Estado e as Câmaras Municipais pagarem os milhões que devem aos Fornecedores e outras Entidades credoras;
-Se o Estado for condenado a pagar indemnizações, devidas a erros cometidos pelos Governantes individualmente, elas sejam pagas do bolso desses governantes responsáveis e não pelo Estado, pois o dinheiro do Estado é de nós todos e não fomos nós que fizemos a asneira;
- Nenhum ministro, nenhum professor, nenhum jornalista disser tênhamos ou póssamos ou confunda a fim com afim;
- Não for possível ouvir no noticiário de uma rádio ou de uma televisão, um "jornalista" dizer frases como esta: "A Câmara de Lisboa tem um projecto para a construção de um viaduto para facilitar o tráfico no local", ou outros 500 dizerem que "Um batalhão da GNR vai para Timor, sobre o comando do Major Lopes da Silva;
- Não for possível assistir ao espectáculo degradante, porque hipócrita, de ver candidatos a eleições, nos Mercados a dar beijinhos às peixeiras, (obviamente, na maioria dos casos, completamente enojados);
- As obras públicas, que são pagas com o nosso dinheiro, deixarem de custar sistemáticamente mais do dobro do que foi orçamentado e adjudicado e que a palavra "derrapagem" seja substituída pela palavra "roubo";
- Os Trabalhadores e os Médicos que validam baixas fraudulentas, forem presos;
- As Empresas deixarem de adulterar as Contas, para fugir ao Fisco;
- As áreas de serviço das auto-estradas deixarem de ter clientes, por as pessoas não gostarem de ser escandalosamente exploradas;
- Os médicos deixarem de se pavonear nos corredores e nos bares dos hospitais, com o estetoscópio pendurado ao pescoço, pelo mesmo motivo porque os informáticos não andam com o rato, os boxeurs não andam com as luvas de boxe, os jogadores de snooker não andam com os tacos e os bombeiros não andam com as mangueiras;
- Nenhum médico operar o pé esquerdo, são, de um doente que tinha um problema grave no pé direito e, no fim, justificar-se com: "até foi bom, porque assim, já não vai ter o problema no pé esquerdo" sem ser imediatamente expulso da Ordem dos Médicos e preso com a pena máxima;
- A Publicidade enganosa levar os anunciantes, à prisão;
- Os projectos de construção forem efectuados por Arquitectos e Engenheiros, e os construtores civis só tratarem da construção;
- Se souber o resultado de UM SÓ dos inquéritos que se diz terem sido levantados a diversas figuras públicas e Entidades oficiais, pela presunção de diversos crimes;
- Nas clínicas privadas a grande maioria dos partos deixar de ser feita por sezariana com data marcada, porque uma cezariana factura muito mais e dá muito mais honorários ao médico, do que um parto natural;
- As jóias, os Rolls, os Ferrari, os Maserati, os Porshe, os Veleiros, os Rolex, os telemóveis topo de gama, as lagostas, o caviar, os visons, etc, forem taxados a 500% de IVA , os automóveis de 1000cc, a 5% e as batatas, o arroz, o azeite, o leite, o açúcar, a fruta, as couves, o pão, os ovos, os frangos, e os transportes públicos, a zero;
- Os nossos deficientes que vão aos Jogos Paralímpicos, não precisem de andar previamente a fazer peditórios públicos para arranjarem dinheiro para as despesas de deslocação e que tenham direito a ser falados em caixa alta, nos jornais, nas rádios e nas televisões, quando estão a competir e quando regressam, carregados de medalhas (ou não);
- Nas escolas de condução se ensinar as pessoas a conduzir, em vez de só ensinar a fazer inversão de marcha, a arrumar o carro e a não deixar o motor ir a baixo;
- Os meus filhos e os de todos os outros Portugueses da sua geração, puderem planear a vida a mais de 3 meses e os meus netos e os dos outros Portugueses, tiverem alguma perspectiva de viver um futuro com dignidade


No dia em que tudo isto, ou quase tudo isto, acontecer, prometo que ponho Bandeiras de Portugal bem grandes em todas as janelas da minha casa e pelo menos duas de ambos os lados do carro. Isto, se ainda tiver carro e casa, se a casa ainda tiver janelas e se Portugal ainda existir.

segunda-feira, junho 26, 2006

O Mistério do Marquês


Há coisas que parecem muito difíceis de explicar. Mas não são. Complexas na aparência mas, na verdade, são tão simples, qual ovo de colombo, que até faz impressão nós não conseguirmos enxergar o que está mesmo ali diante dos nossos olhos.

Foi o que aconteceu com aquilo a que chamo o Mistério do Marquês, do Marquês de Pombal, entenda-se. Para mim, como para muitos outros, certamente, o Marquês de Pombal foi sempre aquela lindíssima praça do centro de Lisboa para onde todos os olhares convergem. Vista de cima, do Parque Eduardo VII, a praça tem uma vista maravilhosa sobre a Avenida da Liberdade e sobre o Tejo que abraça a cidade. Vista do lado da Avenida, ficamos extasiados com a praça em cujas costas se espraia todo o verdejante Parque Eduardo VII (que já teve melhores dias) e a esvoaçante bandeira do Santana Lopes.

Mas, independentemente da Praça, o Marquês de Pombal, sobretudo para aqueles que já têm mais alguns aninhos, era aquele nome pomposo que nós, na escola, aprendíamos a dizer em tom de cantoria: Sebastião José de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras e, mais tarde, Marquês de Pombal.

Para além da praça, da sua beleza e do nome que lhe deu nome, havia em mim, no entanto, qualquer coisa que eu não conseguia entender: Porque é que os títulos nacionais de futebol, conquistados pelas equipas de Lisboa eram comemorados precisamente no Marquês? Porque é que as grandes vitórias da selecção nacional de futebol eram festejadas com pompa e circustância no Marquês e com tanto entusiasmo, que os respectivos adeptos sempre fazem questão de galgar estátua acima, para colocar lá no topo um bocado de pano com as cores dos seus clubes ou da selecção? Mistério! Pelo menos, até ontem.

Quando em minha casa, glorificávamos a magnífica vitória sobe a Holanda e a passagem às meias-finais do Mundial, entre amendoins, tostas com patê de atum e um camembert delicioso, bem regados, já se vê, com algumas bejecas estupidamente geladas, veio-me à ideia como um raio fulminante, porque é que o ponto de encontro de todos os adeptos ganhadores era precisamente ali no Marquês.

Estava-se mesmo a ver. Não sei mesmo porque é que nunca me ocorreu isso antes, mas é tão simples como isto: o Marquês de Pombal era o primeiro ministro do Rei D. José e foi ele, com a sua grande perspicácia e inteligência que imaginou o futebol, tal como hoje se conhece. E descobriu-o, calculem, um século antes dos ingleses jurarem a pés juntos que inventaram o futebol. Mentira pura desses ingleses. O verdadeiro génio, o verdadeiro “inventor” do proclamado desporto-rei foi, nada mais nada menos, que o nosso Sebastião José de Carvalho e Melo. Daí que todas aquelas manifestações desportivas (de futebol, claro, porque ainda não se sabe se as outras modalidades são desportivas ou não) vão desembocar no Marquês de Pombal, não apenas pelos grandes feitos alcançados pelas respectivas equipas, mas por pura e sentida homenagem àquele que verdadeiramente teve a visão para inventar um jogo que, dali a uns séculos, e por todo o mundo, haveria de dar cabo da cabeça e dos corações de muitos milhares de pessoas.

quarta-feira, junho 21, 2006

Renovação


Li, há tempos, num blogue da concorrência, um texto que criticava a falta de renovação das personalidades na nossa vida pública. Ao fim e ao cabo, o autor censurava asperamente a eternização das pessoas em certas posições, de tal forma, que não há quem lhes consiga tirar o lugar.

O articulista referia concretamente os casos de Carvalho da Silva e de João Proença nas centrais sindicais, o de Arménio Santos como Secretário Geral dos Trabalhadores Social-Democratas, o de Paulo Sucena como representante dos professores, os de Jorge Miranda, Vital Moreira e Gomes Canotilho como especialistas em direito constitucional, os de Fernando Seara, Dias Ferreira e Guilherme de Aguiar como comentadores de futebol e muitos dos actuais apresentadores e analistas das nossas televisões. Chegava até ao ponto de referir, depreciativamente, o Luís Figo como “o eterno Figo”.
Por isso, e na opinião do colega bloguista, professores de economia, cientistas políticos, analistas sociais, jornalistas e comentadores do que quer que seja, deveriam dar lugar de imediato aos mais novos, para que houvesse lugar à desejável renovação.

Com o devido respeito, penso que a pretendida revolução, a realizar-se, seria um pouco drástica. Mais uma vez afirmo que é perigoso generalizar-se e não é pela presença constante na vida do país de determinadas pessoas, ao longo de anos e anos, que devemos afastá-las. Quanto a mim, seria, de facto, muito bom para o país e para os portugueses, que se apeassem imediatamente algumas das figuras que representam certas associações ou actividades. Mas, por estarem lá há muitos anos e por terem uma certa idade? Claramente que não. Deveríamos afastá-las, sim, porque não são competentes, porque nunca criaram qualquer empatia com os cidadãos, porque não têm carisma e porque não representam a mais valia que Portugal tanto necessita.

Jorge Miranda continua a ser um especialista (talvez o melhor) em direito constitucional, Luís Figo, apesar dos anos, continua a ser um óptimo jogador e estratega, Mário Crespo e Judite de Sousa continuam a ser uns belíssimos e credíveis jornalistas, Miguel Cadilhe continua a pertencer à nata dos economistas.

Então em que é que ficamos, é ou não necessária a renovação? Claro que é necessária e de forma continuada. O país necessita urgentemente de novos valores que se imponham pela sua competência. Mas isso não significa que “deitemos fora” outros competentes, só porque eles continuam a ser competentes há muitos anos. É, quanto a mim, apenas e só, uma questão de inteligência e bom senso.

segunda-feira, junho 19, 2006

Gelados para todos os gostos


A loucura de verão chegou a um restaurante de Tóquio, o Museu dos Gelados, que decidiu experimentar e oferecer sensações fortes e frescas, vendendo gelados com sabor a cactos, língua de vaca e mesmo a serpente. Por sete euros, o cliente também pode escolher entre o creme de gelado de wasabi (mostarda japonesa), tofu, arroz ou batata.
Um corajoso cidadão, depois de ter experimentado comer um gelado com sabor a sanna, um peixe muito popular no Japão, e que é consumido grelhado, afirmou “É francamente nojento, mas vale a pena experimentar…”


Se pensa que tem estômago suficiente para se aventurar no mundo dos sabores não-comuns dos gelados, e acha que sai um pouco caro deslocar-se ao Japão só para comer um gelado, pode, então, dar uma escapadinha até Portimão, que é bem mais perto e também termina em "ão", onde desde há dias, está a funcionar uma geladaria que, para além dos tradicionais sabores a chocolate, morango, baunilha ou café tem um cardápio fabuloso de 60 sabores diferentes e excêntricos, fabricados artesanalmente, com base em iguarias pouco ou nada comuns no mundo dos gelados.

Pode, então, optar, por gelados a saber a sardinha, courato, camarão, batatas com bacalhau, caril, arroz com coco, queijo com presunto, atum, cogumelos e até alhos e cebolas. Se for um apreciador de bebidas pode ainda deliciar-se com sabores como Baileys, Blue Curaçao e Pisang Ambom. Se quiser ter uns momentos mais ... digamos ... relaxantes, pode pedir “sexo na areia” e “viagra”

“Tudo o que é comida e bebida pode ser transformado em gelado”, diz convicto o proprietário. E como o menu dos sabores varia consoante a época do ano, e agora é o tempo da bela sardinha, está-me cá a parecer que muito em breve vou experimentar um grandessíssimo gelado de sardinha assada. Pois então!

domingo, junho 18, 2006

O Patriota

Como não sou perfeito, cá estou eu, outra vez, a falar de futebol e da fase final do Mundial que se está a realizar na Alemanha. Todo o país está ao rubro no apoio à nossa selecção e os emigrantes, não só os da Alemanha como os da Europa central como, de resto, os de todo o mundo, vivem uma verdadeira festa em redor da equipa de todos nós. E com todas as razões para isso, diga-se, uma vez que as vitórias nos têm sorrido e já estamos apurados para os oitavos de final.

Foi talvez por pensar nos emigrantes que me lembrei do António, um homem emigrado desde a década de setenta nos arredores de Paris. O António, como tantos outros nossos compatriotas emigrados, apesar de viverem há tantos anos no estrangeiro, continuam a manter toda a alma e os costumes lusitanos que, com o passar dos anos, vai fortalecendo cada vez mais, como se isso fosse possível.

Em casa, a Felismina (a Quina, como é conhecida) continua a cozinhar à portuguesa. Os pastéis de bacalhau, o cozido e a sardinha assada marcam presença assídua à mesa, onde não falta também o bom vinho português, alentejano claro, da região de onde o António partiu, a salto, um dia e onde um dia tem esperança de voltar para sempre.

E, por sentir no António tão vivas as suas raízes, não estranhei que ele, numa das últimas conversas que tivemos, desabafasse, com alguma mágoa, que gostaria de ter e de usar mais produtos da nossa terra.

Dizia-me ele com graça que, depois de dormir numa almofada de algodão (feita no Egipto), começou o dia bem cedo, acordado pelo despertador (feito no Japão) às 7 da manhã. Depois de um banho com sabonete (feito em França) e enquanto o café (importado da Colômbia) estava a fazer na máquina (feita na República Checa), barbeou-se com a máquina eléctrica (feita na China). Vestiu uma camisa (feita no Siri Lanka) e jeans de marca (feitos em Singapura) e colocou um relógio de bolso (feito na Suiça). Depois de preparar as torradas de trigo (produzido nos Estados Unidos) na torradeira (feita na Alemanha) e enquanto tomava o café numa chávena (feita em Espanha), pegou na máquina de calcular (feita na Coreia) para ver quanto é que poderia gastar nesse dia e consultou a Internet no seu computador (feito na Tailândia) para ver as previsões meteorológicas. Depois de ouvir as notícias pela rádio (fabricado na Índia), ainda bebeu um sumo de laranja (produzido em Israel), entrou no carro (fabricado na Suécia) e continuou à procura de emprego para o filho, se possível, em Portugal. Ao fim de mais um dia frustrante, com muitos contactos feitos através do seu telemóvel (feito na Finlândia) e, após comer uma piza (fabricada em Itália), o António decidiu relaxar por uns instantes. Calçou as sandálias (feitas no Brasil), sentou-se num sofá (feito na Dinamarca), ligou a TV (feita na Indonésia) e pôs-se a pensar porque é que não conseguia encontrar um emprego para o filho lá em PORTUGAL...

Convenhamos que para um patriota, a coisa não está fácil…

quinta-feira, junho 08, 2006

Afinal, é a nossa selecção que vai jogar…

Pode até parecer que ando numa cruzada sem fim contra a nossa selecção e que me move alguma má vontade contra ela, mas não é verdade. Já o disse e repito, espero que a nossa equipa consiga fazer uma boa campanha e, se possível, que ganhe o título. Ficaria muito orgulhoso.

Mas, como cidadão, não posso concordar com uma medida que foi aprovada recentemente no Parlamento. É que os senhores deputados da Nação, decidiram alterar a hora do plenário da Assembleia da República para poderem assistir em directo ao jogo Portugal – México, que se realiza nesse mesmo dia e à mesma hora a que estava inicialmente marcado o plenário.

Uma vez que a maioria dos deputados gosta de futebol, até compreendo que tivessem alterado os trabalhos para uma outra hora. Não é por aí que vem grande mal ao mundo.

A minha discordância tem a ver com o facto de se tratar de uma medida unilateral, uma medida de privilégio portanto, uma vez que ela só se aplica na AR e não é extensiva aos restantes trabalhadores do Estado.

É desta forma que querem melhorar a imagem dos deputados e da instituição Parlamento?

terça-feira, junho 06, 2006

Belos Negócios …


Em tempos, tive um colega de imaginação fértil e que andava permanentemente sem cheta. As dívidas sucediam-se e nos dias de pagamento de ordenado (que ainda não era creditado na conta), choviam os credores à porta do emprego, de tal forma que, na maioria dos meses, ele arranjava uma boa desculpa só para não aparecer no escritório nem nesse dia de pagamento nem no dia seguinte.
O Baptista concebia muitos esquemas para tentar “fintar” aqueles a quem devia e esquemas cada vez mais sofisticados.
Um dia descobrimos-lhe uma nova (na época) artimanha. Começou a comprar coisas diversas, nomeadamente, electrodomésticos, com cartão de crédito e a vender esses mesmos produtos, logo de seguida, em dinheiro vivo mas, já se vê, muito mais baratos do que lhe tinham custado. Deste modo conseguia o dinheiro para ir pagando aqui e ali. Quando chegava o extracto da sua conta de crédito que o obrigava a um pagamento, bem, aí ele já tinha arquitectado qualquer outra fórmula para liquidar esse compromisso mensal. E, com a rotação de dinheiros graças a estes bons negócios, lá ia vivendo.

Pois nesta última semana soube-se de uma história que me fez lembrar o meu colega Baptista.
E a história tem a ver com a compra, no tempo de António Guterres, de doze F-16. Estes aviões, na época, foram considerados essenciais para a Força Aérea porque eram aviões de combate muito sofisticados e faziam imensa falta para a guerra que travávamos … não sei bem onde.
Passados seis ou sete anos, só quatro dos aparelhos foram postos a voar, enquanto que os restantes (oito aviões, para quem tenha dificuldade em fazer contas) se mantêm encaixotados, tal como vieram.
Afinal, e porque parece que os aviões não eram assim tão essenciais como isso, o actual governo propõe-se, agora, vendê-los por metade, ou um terço, ou ainda menos do valor de compra.
Mais um exemplo de como se gastam mal os dinheiros públicos. Mas a dúvida subsiste, este bom negócio de milhões fez-se “apenas” porque houve incompetência ou será que o negócio se realizou porque alguém se “abotoou” com a “massa das comissões”?

domingo, junho 04, 2006

O Dia Mundial da Criança


Por dificuldades de agenda, não pude, como pretendia, estar presente aqui no blogue no "Dia Mundial da Criança". Mas, porque queria dizer alguma coisa sobre este dia, penso que ainda vou a tempo.

Como já tenho referido, não sou um grande adepto da existência dos dias mundiais do que quer que seja, talvez porque quase todos os dias, são “dias de qualquer coisa”. Concedo, porém, a minha atenção a duas excepções, que por o serem, merecem o meu carinho: o “dia da mãe” e o “dia da criança”. O primeiro, porque devemos uma atenção e um amor especialíssimo a quem nos trouxe ao mundo. O segundo, porque, e desculpem-me a frase feita, “o melhor do mundo são as crianças” e é nelas que devemos depositar a nossa esperança num mundo melhor.

Mas o dia da criança é festejado por todas as crianças do mundo? Não, não por todas.

Um relatório da Agência do Vaticano agora publicado, revela que há 860 milhões de crianças a sofrer em todo o mundo. Dessas, 400 milhões são afectadas pela desnutrição, das quais, 11 milhões morrem antes dos cinco anos de idade. Em cada minuto, uma criança nasce infectada pelo HIV e uma morre por essa mesma causa. Igualmente brutal é a situação de cerca de 211 milhões de crianças que são obrigadas a trabalhar, algumas em regime de escravatura.

Os números são assustadores. A sociedade que deveria proteger as suas crianças, está tão doente que não consegue cumprir com as suas obrigações para com elas, obrigações que, de resto, foram institucionalizadas pelas Nações Unidas ao aprovarem uma lei chamada “Convenção dos Direitos das Crianças” que, basicamente, estabelece a forma como os governos devem trabalhar para que todas as crianças gozem dos seus direitos. Explicando melhor, os governos devem trabalhar no sentido de garantir a todas as crianças os direitos a que elas têm direito.

E para que não restem quaisquer dúvidas, transcrevo apenas dois dos artigos da “Convenção dos Direitos das Crianças”:

Artº. 27º. Tens direito a um nível de vida digno. Quer dizer que os teus pais devem procurar que não te falte comida, roupa, casa, etc. Se os pais não tiverem meios suficientes para estas despesas, o governo deve ajudar.

Artº. 32º. Tens direito a protecção contra a exploração económica, ou seja, não deves trabalhar em condições ou locais que ponham em risco a tua saúde ou a tua educação. A lei portuguesa diz que nenhuma criança com menos de 16 anos deve estar empregada.

Pegando apenas nestes dois artigos da CDC e olhando para o relatório da Agência do Vaticano podemos ver como a lei é grosseiramente violada. “Duzentos e onze milhões de crianças que são obrigadas a trabalhar, algumas em regime de escravatura”, como aquelas duas crianças do norte do país, que foram mostradas por uma reportagem do Expresso.

A revelação, denunciada por essa reportagem, de que continua a haver trabalho infantil em Portugal abanou muitas consciências. Mas não, ao que parece, a do jornalista José Júdice que na crónica “Globalização Infantil”, publicada num jornal de Lisboa, escreveu:

“A exploração do trabalho infantil é um dos tabus da sociedade moderna e evoluída. Para os moralistas é repugnante a ideia de uma criança se ver forçada a trocar a inocência dos seus verdes anos pelo suor esquálido de um trabalho quase escravo. Por isso, todas as pessoas que não tenham nenhuma razão específica ou nenhuma causa particular a defender, se sentem ofendidas e chocadas”. E José Júdice prossegue dizendo que “considera que o rendimento obtido por cada criança não é nada mau para miúdos daquelas idades, cuja alternativa possível seria passar o dia na escola a não aprender nada ou, talvez, a agredir física e verbalmente as professoras, mas esse pormenor parece ter passado despercebido à nossa boa consciência que condena o trabalho infantil”.

Obviamente que não concordo com a opinião do José Júdice. Mais, choca-me a sua falta de sensibilidade para uma situação que fere claramente todos os princípios morais e éticos e que viola a lei.

Compreendendo, embora, que muitas famílias, por carência absoluta de meios, recorram à “ajuda” das suas crianças para assegurar a subsistência de todos, não posso aceitar, no entanto, que essas famílias dependam sistematicamente do trabalho dessas mesmas crianças. Como estabelece o artigo 27 da “Convenção dos Direitos das Crianças”, se os pais não tiverem meios suficientes, o governo deve ajudar. Era o que se poderia esperar de Portugal, um país que pertence à primeira divisão dos países europeus, há mais de vinte anos.

É por tudo isto que abro uma excepção para a comemoração do Dia Mundial da Criança, para que não haja esquecimento dos direitos das crianças.