quinta-feira, junho 08, 2006

Afinal, é a nossa selecção que vai jogar…

Pode até parecer que ando numa cruzada sem fim contra a nossa selecção e que me move alguma má vontade contra ela, mas não é verdade. Já o disse e repito, espero que a nossa equipa consiga fazer uma boa campanha e, se possível, que ganhe o título. Ficaria muito orgulhoso.

Mas, como cidadão, não posso concordar com uma medida que foi aprovada recentemente no Parlamento. É que os senhores deputados da Nação, decidiram alterar a hora do plenário da Assembleia da República para poderem assistir em directo ao jogo Portugal – México, que se realiza nesse mesmo dia e à mesma hora a que estava inicialmente marcado o plenário.

Uma vez que a maioria dos deputados gosta de futebol, até compreendo que tivessem alterado os trabalhos para uma outra hora. Não é por aí que vem grande mal ao mundo.

A minha discordância tem a ver com o facto de se tratar de uma medida unilateral, uma medida de privilégio portanto, uma vez que ela só se aplica na AR e não é extensiva aos restantes trabalhadores do Estado.

É desta forma que querem melhorar a imagem dos deputados e da instituição Parlamento?

6 comentários:

Anónimo disse...

Se ele se aplicasse a todos os funcionários do estado não seria uma discriminação ainda maior? Mais um privilégio só para a função pública?
Já agora, os deputados também recebem mais que a maioria da função pública. Isso também não é um privilégio que devia ser igual para todos?

Anónimo disse...

Caro azulbolorento

Relativamente à primeira parte da questão, não se podem comparar coisas não comparáveis, não é? Como comparar os direitos e os deveres dos funcionários da função pública com os das actividades privadas? Não é possível. O facto dos senhores deputados terem dado uma autorização a eles próprios não obriga, obviamente, os privados a fazerem exactamente o mesmo, não é? Nos públicos “manda” o Estado, nos privados mandam os accionistas ou mandam os patrões e as mulheres deles. Por isso a comparação só faz sentido entre os diversos sectores da função pública, não é? Até porque os privados podem mesmo, se assim o entenderem, encerrar o estaminé pelo tempo que lhes der na gana, sem darem satisfações nem ao Estado nem aos outros privados.

Já no que respeita aos diversos serviços do Estado, aí alto e paira o baile, ó há moralidade ou comem todos, que é como quem diz, se houver um pingo de vergonha na cara da parte de quem decide,então podem todos ir ver o futebol, não é?

Quanto à segunda parte da questão, claro que na generalidade dos casos, os deputados ganham bastante mais do que a maioria dos outros empregados da função pública. Só que não sei se isso é um privilégio ou não. Provavelmente existem deputados que o não deveriam ser e, portanto, estão a ganhar demasiado, estão, de facto, numa situação de privilégio, mas haverá alguns que justificarão cabalmente o que ganham. Em relação a esses, é justo que ganhem mais.

Mas isto levar-nos-ia muito longe e o nosso papel neste espaço é o de simples comentadores, não é?

Anónimo disse...

Noémia, boa! Amei a tua opinião. Realmente há lá na Assembleia deputados que nunca deveriam ter sido eleitos, que são a terceira ou quarta escolha. A qualidade escasseia e sabemos que as melhores cabeças preferem estar a ganhar dinheiro nos escritórios de advogados, como consultores ou à frente das grandes empresas públicas ou privadas. Mas, claro está, que se não podemos criticar os que andam a fazer pela vida (a vidinha deles, naturalmente) e que até conseguiram fazer-se eleger, podemos, contudo, indignarmo-nos pelos elevados salários e mordomias que auferem sem que nada dêem ao país como contrapartidas.

Anónimo disse...

Mas... as notas de hoje eram sobre futebolices ou sobre deputados idiotas ? ... que não se irritem os comentadores, ... mas eu quero fazer pouca distinção entre público e privado, os deveres e direitos entre cidadãos são eminentemente iguais, e todos devemos zelar por isso. Incluindo o dever de denúncia dos prevaricadores, ou o já conhecido direito à indignação.

Claro que os deputados podem alterar a hora das sessões, desde que estejam lá a fazer algo de positivo ... de preferência a contribuir para melhoria do país, que também é deles, e cuja responsabilidade na mudança não pode ser enjeitada. Em democracia eles serão sempre responsabilizados pelas suas atitudes, no voto secreto. Claro que, quem os vai responsabilizar são os mesmos que votaram nos actuas dirigentes políticos, incluindo o PR, cuja responsabilidade pessoal pelo não desenvolvimento em 10 anos de governo também não pode ser enjeitada, mas foi votado pela maioria (!?). Enfim serão os males da “demokratia”.

Já agora como saber não ocupa lugar e relembrar ainda menos, recomendo leitura da página : http://pt.wikipedia.org/wiki/Democracia; (aviso que é extenso mas vale a pena), de onde se pode tirar, para além de conceitos, esta frase com que estou plenamente de acordo :
Uma das fraquezas apontadas à Democracia é o facto de não permitir que objectivos lançados por um governo a longo prazo, mesmo que sejam essenciais para o progresso/bem estar dos cidadãos, não possam ser postos de lado pelo governo seguinte, adiando assim decisões importantes, ou seja, não permite que haja um rumo para a nação em causa.

O segredo do sucesso está na excelência de visão, no planeamento rigoroso e no envolvimento de todos.

Para terminar limito-me a relembrar que haverá sempre coisas mais importantes do que os pontapés na bola ou noutra coisa, excepto se for o traseiro de um qualquer deputado idiota, mesmo que pareça ser motivo de unidade nacional, ... é que as manadas também são muito unidas ...

Res publicae (coisa pública)

Anónimo disse...

Da minha parte, esteja à vontade Vaxata, claro que não me irrito com as opiniões das outras pessoas, ainda que possa não concordar com elas. E é por isso que volto a terreiro (tanto mais que não temos novos textos há uns dias, provavelmente porque o titular do blog deve ter ido de férias) para argumentar o seguinte:
Se é bem verdade que os direitos dos cidadãos são rigorosamente iguais, de acordo com o que a Constituição determina, na prática as regras subjacentes às actividades públicas e privadas são substancialmente diferentes. Nos privados, e estou a falar apenas naqueles que estão bem organizados, com estruturas modernas e ágeis e com modelos de gestão adequados, o funcionamento é muito mais rigoroso do que acontece no serviço público, os rácios de qualidade e de produtividade são mais altos e a exigência é, também, muito maior. O que quero dizer é que, muito embora os direitos dos cidadãos sejam, de facto, iguais, aqueles que trabalham no sector privado são muitíssimo mais sujeitos a coisas tão banais como maiores cargas horárias, cumprimento de objectivos demasiadamente exigentes, avaliações de mérito constantes, tudo isto sem que haja uma correcta diferença ao nível dos salários. Como se sabe, aliás, e essa relação de salários entre público e privado já foi publicada, os funcionários públicos em matéria salarial até não se podem queixar.
Quanto à denúncia dos prevaricadores, penso que ela deve ser feita mas, sobretudo, em relação àqueles que estão ligados ao Estado, porque é o dinheiro de todos nós que está em causa. E, note-se, eu não estou a falar dos trabalhadores mas sim da deficiente organização de muitos dos serviços. E nesse aspecto, este blog e o seu autor, façamos-lhe justiça, tem denunciado ou comentado certas situações de má gestão e de má utilização da coisa pública. Quanto aos privados, desde que não violem a lei e a Constituição, eles só terão que prestar contas aos seus accionistas.
Relativamente à reflexão sobre Democracia, não a vou comentar porque sai um pouco do contexto da crónica em apreço, mas foi óptimo saber da existência deste endereço, cujo conteúdo é bastante útil.

Anónimo disse...

Se os "nossos" sindicatos não andassem distraidos, tinham exigido que toda a Função Publica pudesse ver o jogo. É que embora hajam assuntos muito mais importantes a graves a defender e pelos quais lutar, este é mais uma forma de discriminação. E não Azul, não era uma discriminação ainda maior!