quarta-feira, julho 05, 2006

Anunciar é preciso


Supostamente todos deveríamos saber que a Santa Casa da Misericórdia é uma instituição que, há muitos anos, presta apoio a pessoas carenciadas, em diversas áreas, nomeadamente na acção social e na saúde.

Mas para quem não soubesse mesmo ou para quem andasse demasiado distraído, a própria Santa Casa lembrou-se agora, quero dizer, fez questão de recordar a todos, a sua acção benemérita. E assim, vá de invadir com publicidade tudo quanto fosse jornal, revista, canal de televisão, outdoor e mupis. Publicidade, claro está, que custou ao erário público, mesmo beneficiando de descontos especiais, muito, muito dinheiro.

E o anúncio veio dizer-nos o quê? Nada, pelo menos nada de importante que justificasse o dispêndio de tão grossa maquia. A Santa Casa da Misericórdia com o lançamento desta campanha institucional apenas pretende assinalar os 508 anos de vida e, para isso, fez um investimento de 2 milhões de euros.

Investimento, foi o que eu disse? Perdão, eu rectifico, a Santa Casa teve o descaramento de gastar 2 milhões de euros com a campanha. Assim é que está correcto.

Ainda se fosse para anunciar novos e mais atractivos jogos que pudessem entusiasmar os apostadores a jogar com mais dinheiro, que seria canalizado posteriormente para consolidar as acções em curso ou promover outras acções de âmbito social, até se compreenderia. Mas não, nada de extraordinário ou de incomum aconteceu. A não ser a comemoração dos 508 anos da instituição e a demonstração mais do que provável, da vaidade pessoal do seu provedor, o socialista Dr. Rui Cunha.

Por este andar, espera-se que para o ano a Santa Casa faça outra campanha para comemorar nessa altura os 509 aninhos da instituição e novamente à custa dos dinheiros públicos.

Resumindo, se é dinheiro da malta, então, é gastar vilanagem!

8 comentários:

Anónimo disse...

Pondo um pouco de parte o lado ético da questão, há que ver uma coisa: a Santa Casa é uma empresa.

Tem um mercardo, tem uma estrutura, tem uma função, tem objectivos e tem uma imagem a defender.

É precisamente essa imagem que a Santa Casa não pode esquecer. Por um lado fazem campanhas que focam os milhões que o apostador pode ganhar, por outro, e para que "lucro/jogo" não seja o rótulo que fique na cabeça de todos, a Santa Casa sente-se na obrigação de fazer um lembrete, dizendo que acima de tudo estão cá para ajudar, numa tentativa de motivação extra para levar as pessoas a aderir aos seus jogos.



Tudo muito bonito, mas na minha opinião, foram 2 milhões ao ar. A campanha é má, inoportuna e inútil.

Anónimo disse...

A grande questão é que a Santa Casa pode parecer uma empresa, mas, de facto, é uma instituição de solidariedade social. A gestão pode até ser profissionalizada, aliás na minha opinião tem mesmo que sê-lo, mas não pode esquecer o seu objectivo principal que é o de ajudar quem mais necessita. E isso diferencia e distingue o papel das empresas e das instituições de carácter social. E é por isso mesmo que a Santa Casa nem sequer precisa de fazer campanhas a anunciar as coisas que faz, pois ela existe exactamente para isso.
Estou de acordo com o Demascarenhas. O que aconteceu foi, para além de uma acção promocional do seu provedor, a vontade de delapidar do erário público 2 milhões de euros que, penso eu, deveriam fazer alguma falta numa área em que todo o dinheiro é sempre insuficiente.
Má gestão dos dinheiros públicos, publicidade desnecessária de uma instituição que todos acarinham e apoiam e sabem para o que serve e evidente visão egocêntrica do seu provedor.

Anónimo disse...

É a velha questão de, ou se é preso por ter cão ou se é preso por não o ter. Como a vida é ingrata! Se os homens não fizessem publicidade ao que fazem, se calhar toda a gente diria que eles não fazem nada. Mas, como eles pensaram em dar visibilidade à sua obra, aqui D’El Rei que os gajos andam a gastar uma pipa de massa. E, afinal, 2 milhões de euros que percentagem do PIB é que representa? Bolas ... não sejam mais papistas que o Papa!

Anónimo disse...

Quem faz o bem não precisa de o publicitar.

Anónimo disse...

Ai precisa, precisa. Quem pensa o contrário está a ser ingénuo.

Não digo que deva andar por aí a vangloriar-se dos seus feitos, mas que os deva enaltecer - até como forma de cativar novos públicos - deve.

A ideia romântica de que uma instiuição como a Santa Casa não precisa de comunicar o que faz, é meio caminho andado para que seja relegada para segundo ou terceiro planos. Como acontece, por exemplo, com dezenas, centenas de outras instituições "que fazem" o bem, e que pura e simplesmente ninguém confia ou ninguém conhece a obra.

Anónimo disse...

Sinceramente, se alguma vez me pedirem um contributo para a Santa Casa, o facto de saber que eles vão gastar parte do dinheiro que eu lhes der em publicidade a si próprios não me parece que me vá motivar. Logo não me parece eficaz essa estratatégia. Se a Santa Casa faz o "bem" é porque tem praticamente o monopólio do jogo em Portugal. Por isso o que eu preciso de saber não é se eles dão umas sopas ao pobres, é se a gestão dessa imensa verba que resulta do jogo é bem feita, ou se uma parte serve para enriquecer administradores e amigos.

Anónimo disse...

"se alguma vez me pedirem um contributo para a Santa Casa, o facto de saber que eles vão gastar parte do dinheiro que eu lhes der em publicidade a si próprios não me parece que me vá motivar."


Não é esse o argumento que eles utilizam para motivar, como é óbvio. É mais "podes ganhar uma pipa de massa nos nossos jogos, e nem ficas com problemas de consciência porque o dinheiro das tuas apostas vai para os desfavorecidos".

Claro que a boa gestão de dinheiros é uma questão importante, mas passa exactamente por uma boa gestão saber comunicar com o mercado, e isso a Santa Casa faz.

Se eles gastam 2 milhões de euros ou 50 cêntimos numa campanha, é outra conversa.

Anónimo disse...

Por mim não me rala nada que a Santa Casa faça um peditório para usarem a massaroca em publicidade. Como sou do partido do Rui Cunha, dou 50 cêntimos para o peditório, depois lá mais para a noite, arranjo um pretexto para me encontrar com ele, digo-lhe que "entrei" com uma nota das grandes e, mais dia menos dia, sou convidado para a Direcção. Só faço uma exigência, um dia, quero ter um busto meu no alto da escadaria.