quarta-feira, agosto 09, 2006

O que vale uma vida?


Quando na Quarta-Feira, 26 de Julho, escrevi uma introdução para transcrever um texto do Professor Boaventura Sousa Santos, não pretendi tomar uma posição sobre o conflito que se está a desenrolar no Médio Oriente. Não porque queira manter uma certa imparcialidade, mas porque, como dizia na altura, trata-se de “uma guerra que dura há anos, cujos contornos temos alguma dificuldade em avaliar, não sabendo sequer o que se passa, de facto, no terreno e correndo até o risco de misturar religião com política e estados com grupos religiosos. Não temos sequer capacidade para interpretar as notícias que nos chegam a cada segundo. A situação é muito confusa”.

Naturalmente que existem observadores que não hesitam em tomar a defesa de cada uma das partes, por ideologia ou por terem conhecimentos, porventura mais aprofundados do que os meus, das razões que assistem aos diversos beligerantes. Prova disso foram os dois comentários que esse texto reuniu, os dois com sentimentos bem diferentes um do outro.

Mas a minha postura perante o que está a acontecer é a de manter uma expectativa preocupada, atenta e isenta porque a questão é muito mais vasta do que um mero conflito religioso e/ou de soberania. Parece-me ser, fundamentalmente, um conflito que tem por base o mais profundo desrespeito pela vida alheia.

No Expresso do último sábado, na coluna “Choque e Pavor”, Daniel de Oliveira veio ao encontro deste meu sentir, ao dizer:

“Acredito que foi o exército israelita a matar crianças libanesas, porque acha que o valor da vida de um árabe é igual a nada.
Acredito que foi Bin Laden a atirar dois aviões contra as Torres Gémeas, porque acha que o valor da vida de um americano é igual a nada.
Acredito que o Holocaustro existiu porque os nazis achavam que a vida de um judeu era igual a nada.
Sempre houve e haverá loucos na História. Sempre houve e haverá quem não veja a sua loucura”.

E enquanto os loucos não reconhecem a sua loucura e continua esta doidice sem sentido, o rasto de destruição vai-se alastrando e vão aumentando o número de mortos, feridos e desalojados. Por quanto tempo ainda?

Sem comentários: