quarta-feira, setembro 20, 2006

Uma leitura possível ...


A fotografia foi-me enviada com a seguinte legenda “Nazaré no seu melhor”.
Não, não pode ser, pensei, a Nazaré tem coisas bem melhores e mais interessantes para mostrar do que isto.

Vendo bem as coisas, esta imagem poderia ter sido recolhida em qualquer ponto do nosso país, porque, de facto, nada referencia a cena como sendo genuína daquela localidade.
Primeiro, porque nem à lupa se conseguem ver as sete saias típicas das mulheres da Nazaré na vendedeira que se se vê à esquerda da fotografia.

Depois, porque nas miríades de coisas que estão expostas no mostruário não se vê uma única peça genuinamente nazarena. Nem os barcos em miniatura, nem os objectos feitos com base em conchas e redes de pesca nem, sequer, os célebres carapaus secos que, como sabem, são carapaus frescos que ficam não sei quantos dias a secar ao sol em cima de armações de rede e cujo sabor acaba por resultar não do do próprio carapau mas da presença das moscas e das varejeiras que constantemente poisam nos ditos.

A terceira razão vem do facto de se saber que todas as nazarenas “oferecem” quartos, rooms, chambres e zimmers para alugar e todas elas calçam chinelas, que é, de facto, o seu calçado característico. Ora como se prova na fotografia anexa, nem a vendedeira está a tentar arrendar um quarto a um turista de última hora, nem os seus delicados pés estão enfiados em chinelas. Pelo contrário, os pés estão “desenfiados” ao abandono, quem sabe se a descansar de tantos cansaços e o que se vê ao lado são umas sandálias já gastas e, por acaso, muito masculinas.

Os tremoços, amendoins, cajús, figos secos, pinhoadas (ai, como eu gosto de pinhoadas) e a tralha “a monte” que está por baixo da bancada que nem a toalha de plástico barata tapa, os guarda-sóis do “café Torrié” e da “CocaCola”, nada disso é esclarecedor do lugar onde está instalada a venda.

Admito, porém, que a fotografia possa ter sido tirada na Nazaré, o que põe em causa tudo o que eu disse antes. Isto, se esta mesma fotografia não nos esteja a mostrar apenas, com todo a crueza, um repentino ataque de sono da vendedeira que não conseguiu aguentar mais o corpo e se atirou para trás entregando-se nos braços de Morfeu, sono a que o cão não foi insensível e procurou responder com um expressivo bocejo.

Mas poderá não ser nada disso e ter acontecido que a vendedeira poderá estar mesmo à espera de ver chegar alguém. A ser na Nazaré, o enquadramento da fotografia faz-nos admitir que aquele lugar é no “Sítio” e, se assim for, a vendedeira de certeza que estaria com toda a atenção à possível aparição, repentina por certo, e nunca observada, de D. Fuas Roupinho.

Com um pouco de atenção ao detalhe, perceberemos que a vendedeira confiou plenamente a venda dos seus produtos ao cão (nota-se claramente que o bicho acabou de fazer um pregão há pouco) mas a falta dos compradores deixou-o cabisbaixo e abatido como se vê.

Quanto à sua dona, apesar da posição incómoda em que se encontra e apesar da manhã levemente enevoada que se vê por detrás dela, igual àquela outra em que 1182 o fidalgo foi salvo pela Virgem, ela espera pacientemente pelo seu D. Fuas que, quem sabe, não tardará a chegar.

4 comentários:

Anónimo disse...

Não estás a perceber.

É a Nazaré no seu melhor - A Sra D. Nazaré, que tem um pequeno negócio de tremoços e é narcoléptica.

A foto até pode ter sido tirada na Costa da Caparica.

Anónimo disse...

A D. Nazaré é narcoquê?

Anónimo disse...

Narcoléptica, sofre de narcolepsia.

Mais informações aqui -> http://pt.wikipedia.org/wiki/Narcolepsia

Anónimo disse...

Ah, já percebi, mas eu àquela "doença" chamo-lhe apenas uma soneira do caneco...