terça-feira, setembro 26, 2006

À volta da gramática

Quando eu há dias afirmei que fico aborrecido sempre que dou conta que estou a aprender coisas que, estou mesmo a ver, mais tarde ou não vão interessar para nada, ou já nem sequer vão ser assim, não conhecia, ainda, a dita “terminologia linguística” que vai ser introduzida nos ensinos básico e secundário e já consta nos manuais escolares.

Segundo o que li na imprensa, apesar da inovação já fazer parte dos respectivos programas neste ano lectivo que agora começou, nem os livros foram devidamente avaliados nem os professores estão todos preparados para leccionar esta matéria. Como costumo dizer, “isto só neste país”.

Mas, afinal, o que é isto da “Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário (TLEBS)? Se bem percebi, por meia dúzia de exemplos que vi no jornal, trata-se de uma alteração das regras da gramática que vigoraram toda a vida e que vai fazer de nós, dentro de pouco tempo, uns completos ignorantes. Afinal, não é só o desconhecimento das novas tecnologias que nos vai deixar nas mais profundas trevas.

Se não, vejam:

- Antes, um substantivo era concreto ou abstracto e designava-se o número (singular ou plural) e o género (feminino ou masculino). Agora, para além destes aspectos, acrescentam-se as noções de contável e não contável, humano e não humano e animado e não animado. Deixem-me fazer um aparte para dizer que estou deveras curioso para saber o que vai ser um substantivo animado.

- Antes, “testemunha” era um substantivo feminino e “cônjuge” um subtantivo masculino. A partir de agora, desigam-se os dois por “substantivos epicenos”.

- Antes, a classe dos advérbios abrangia os de lugar, de modo, de tempo, de negação, de afirmação e de dúvida. Agora o advérbio pode designar-se “modificador” e divide-se em negação, adjunto (lugar, modo e tempo), disjunto (afirmação e dúvida) e conectivo.

- Antes, designava-se sujeito indeterminado ou nulo para os verbos impessoais, tais como, “anoitecer” e “haver”. Agora passa a designar-se por “sujeito nulo expletivo”.

- Antes designava-se por “aposto” o que, entre vírgulas, acrescentava algo ao sujeito (p.e., D.Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, tem no ...). Agora designa-se por “modificador do nome apositivo” e dentro deste conceito, diferencia-se o “nome apositivo de tipo nominal”, o de “tipo adjectival”, o de “tipo preposicional” e o de “tipo frásico”.

Chega de exemplos que não quero baralhar-vos mais. Tenho consciência que uma língua viva está em constante mutação, mas será que estas alterações têm assim tanto interesse para quem ainda está a frequentar os ensinos básico e secundário? A ser importante, não deveria ser coisa para quem frequentasse linguísticas, já na Faculdade?

De uma coisa eu estou certo, a partir de agora, pais e avós vão ter muito mais dificuldade em acompanhar os miúdos na sua vida escolar.

Viva a nova gramática!

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