quarta-feira, outubro 25, 2006

De Espanha, nem bom vento ...

O mau é quando alguém se começa a lembrar de certas coisas. Passado um tempo elas acabam por acontecer. Aliás, é por essa razão que, normalmente, quando alguém sugere que ainda não pagamos um imposto por determinada coisa, se levanta imediatamente um bando de amigos que cai sobre o infeliz e grita SCHIUUUUUU, não váo eles, os do governo, lembrar-se do que ainda estava esquecido.

Vá lá saber-se porquê, o semanário Sol, acabado de nascer mas já cheio de ideias, lembrou-se de fazer uma sondagem que indicava que 28 por cento dos portugueses são a favor de uma integração de Portugal com Espanha num único Estado.


Dá a impressão que esses 28% já se esqueceram do orgulho de ser português, e da forma como até há pouco se falava da Padeira de Aljubarrota e de como corremos com os Filipes da nossa corte.


Eu sei que os tempos agora são outros, que pensamos e agimos de forma globalizada, que não temos fronteiras entre os Estados, mas os Estados continuam a existir. Podemos até nascer em Badajoz, mas aqui é Portugal e só uns quilómetros mais à frente é que fica Espanha.


Tenho quase a certeza que esses 28% estarão a pensar sobretudo em que em Espanha se ganha melhor, que a gasolina e os produtos de uma forma geral são mais baratos lá do que cá, que o IVA é muito mais elevado cá. Provavelmente por isso gostariam que Portugal e Espanha estivessem juntos num único Estado.


Mas o que leva os espanhois a quererem também essa união? Se tudo é favorável a eles porque é que gostariam que o nosso pequeno país fosse integrado no deles?. Sinceramente não percebo, a não ser que seja uma questão de poder, já que como país maior ficaria ainda maior e com um poder acrescido sobre mais uns dez milhões que moram deste lado. O que, no fundo, sempre foi o seu desejo.


E o facto é que são mais os espanhóis do que os portugueses que veriam com bons olhos uma eventual união entre os dois países vizinhos. Quase metade dos espanhóis contra pouco mais de um quarto dos portugueses.

Uma sondagem publicada pela revista espanhola “Tiempo” revela que 45,6 por cento dos espanhóis são favoráveis à fusão. Destes, a maioria (43,4 por cento) defende que o novo país deve ter um velho nome - Espanha – (claro, estão a perceber, não estão), ao passo que 39,4 por cento chamar-lhe-iam Ibéria; e a esmagadora maioria (80 por cento) defende que a capital deve manter-se em Madrid (continuam a ver a coisa?), contra apenas 3,3 por cento que favorecem Lisboa.
Cerca de metade dos inquiridos defende a manutenção do actual regime monárquico espanhol contra 30,2 por cento favorável a uma República. A sondagem revela que o apoio à união entre os dois países é particularmente elevada entre a população mais jovem, dos 18 aos 24 anos, com mais de metade (50,8 por cento) a mostrar-se favorável a essa opção. Como se vê a vontade de unir os dois países teve mais eco do outro lado da fronteira do que por cá, suscitando artigos de opinião na imprensa espanhola e até uma reportagem no telejornal da TVE sobre como as tabuletas comerciais (em português) teriam de ser alteradas (para castelhano), se tal fusão se concretizasse...
Pode ser que um dia os dois países se fundam. Pode ser que sim, mas que seja daqui a muitos, muitos anos. É que tive que aprender a falar e a escrever a língua portuguesa, aprendi o hino nacional, a conhecer a nossa bandeira e a sentir um arrepiozinho na pele quando a via hasteada nos mastros de outros países, senti um orgulho danado quando o Carlos Lopes e a Rosa Mota foram campeões olímpicos, senti um prazer dos diabos em ver que a nossa Expo era muito superior à de Sevilha.

Sempre me senti genuiamente português e republicano e nunca a vontade me puxou para o outro lado da fronteira, a não ser para fazer turismo. Porque é que eu, agora, iria mudar? Por alma de quem?

1 comentário:

Porcos no Espaço disse...

Mas os nossos 28% estão de acordo com esta "união" porquê?

Porque se fartam de ouvir dizer que em Espanha é que é, que lá tudo é perfeito e tudo brilha.

Coitaditos dos 28%. Se soubessem que, por exemplo, na Suécia tudo brilha mais do que em Espanha, se calhar também gostavam de ser nórdicos. Connosco é assim, acenam-nos com um maço de notas e ficamos logo com os olhos em espiral.
Devo lembrar que a Espanha está em alta agora, mas que nem sempre esteve assim. Isto de um dia para o outro há um crash da bolsa, um 11 de Setembro da vida e o caso muda logo de figura.

Com o país a atravessar as dificuldades que atravessa, é muito fácil ficarmos delumbrados com a riqueza do vizinho. Não é curioso que este tema tenha vindo a ser tão debatido ultimamente? Eu acho demasiado oportuno.

No entanto, devemos ter a capacidade de solucionar os nossos problemas pelos próprios meios. Isso é o que um país com uma grandeza verdadeira faria. O problema é que, se calhar, não somos grandes. Preferimos sempre o caminho mais pequeno, que neste caso é vendermos a nossa identidade aos espanhóis.

Porque é isso que na realidade se trata: um negócio, como na Bolsa. Esta "fusão" é uma espécie de invasão negociada. No fundo, como nuestros hermanos sempre sonharam ao longo da História.


Talvez se o novo país não se chamasse Espanha mas sim Ibéria, talvez se o sistema político não fosse uma monarquia mas sim uma república, talvez se não fosse um agregado de províncias dependentes da capital mas sim uma união de Estados com governos autónomos, talvez se a capital não fosse uma única mas sim várias ou uma rotativa, talvez se, se, se...

Talvez pudesse olhar para o assunto com outros olhos. Assim, como Espanha quer, ao estilo colonialista, não. Muchas gracias.