domingo, dezembro 03, 2006

Novamente à volta da gramática

Já em Setembro tinha aqui feito algumas considerações sobre o TLEBS, a “Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário”. Referi-me então, nomeadamente, às grandes alterações que estavam a ser introduzidas já no ano lectivo em curso ao nível da gramática, e às enormíssimas confusões e falta de preparação para essas alterações, por parte de professores, pais e da população em geral.

E o reflexo disso tem-se vindo a sentir um pouco por toda a parte. E com aspectos psico-somáticos e depressivos que urge atacar quanto antes.

Miguel Sousa Tavares, por exemplo, reflectia há dias sobre o futuro do seu cão. Dizia ele que, até há pouco tempo, pelo menos do ponto de vista gramatical, o seu cão era um substantivo. Ora, neste momento, MST só tem a certeza que o cão continua a ser cão, mas substantivo é que ele tem a certeza que ele já não é. Passou a ser um “nome comum, contável, animado e não humano”, o que nos leva a pensar que ou o cão não é o mesmo ou alguém lhe deu qualquer coisa estragada para comer, ou que, se calhar, estamos perante um caso de polícia. Não por causa do cão, mas pelos génios que se lembraram de complicar aquilo que sempre foi fácil e acessível.

Mas o que me deixou mais abazurdido, foi conhecer a razão que levou este grupo de linguístas a mexer tão profundamente na nossa gramática:
é que a gramática (esta mesma gramática que nos acompanha há tantos anos) já não era alterada desde 1976, calculem.
Acho que é uma razão plenamente justificável. De facto, não se compreende como, durante tantos anos, ninguém se lembrasse de lhe fazer uma alteração, pequena que fosse, permitindo, deste modo, que um cão continuasse a ser – indevidamente - durante todos estes anos, um substantivo, e não um nome comum, etc., etc., etc.
São coisas como estas que fazem com que nos atrasemos relativamente a todos os outros países da comunidade... é injustificável!

Mas a cereja em cima do bolo surgiu na posição pública assumida por Vasco Graça Moura, José Saramago e Eduardo Prado Coelho, entre outros intelectuais e professores, que entregaram um abaixo-assinado à Ministra da Educação. O documento pede a suspensão “imediata” da TLEBS. Consideram-na “incorrecta e abstrusa” e a sua aplicação “terá gravíssimas consequências para o país”.

Abstrusa, nem mais.

Sendo assim, resta-me a esperança que o cão do MST, quero dizer, que o cão que pertence ao Miguel Sousa Tavares, para além de cão, volte a ser um substantivo. Ele (o cão) bem o merece!

3 comentários:

Anónimo disse...

Gostei da forma como pessoas da craveira intelectual daquelas que tu mencionaste no texto, se posicionaram face à revolução gramática que está em curso. Modestamente coloco-me ao seu lado e também considero que a aplicação deste TLEBS terá gravíssimas consequências para o país. Mas a forma como concluíram o seu abaixo-assinado, chamando “incorrecta e abstrusa” à reforma, foi simplesmente genial.

Mas, para aqueles que estejam menos familiarizados com a dita reforma, e julguem que a mesma se destina a atingir o cão do Miguel Sousa Tavares, fiquem a saber que muitas outras alterações de relevo constam do pacote.

Por exemplo, aqui, era até aqui, um advérbio de lugar. Pois agora, provavelmente devido aos cortes orçamentais, foi despromovido e passou a ser um advérbio adjunto de lugar.

E o que me dizem do artigo definido o, ter sido promovido a determinante artigo?

É por isso que, perante tão significativas e inadiáveis alterações, eu pense que isto não vai acabar bem.

Anónimo disse...

Gostei da forma como pessoas da craveira intelectual daquelas que tu mencionaste no texto, se posicionaram face à revolução gramática que está em curso. Modestamente coloco-me ao seu lado e também considero que a aplicação deste TLEBS terá gravíssimas consequências para o país. Mas a forma como concluíram o seu abaixo-assinado, chamando “incorrecta e abstrusa” à reforma, foi simplesmente genial.

Mas, para aqueles que estejam menos familiarizados com a dita reforma, e julguem que a mesma se destina a atingir o cão do Miguel Sousa Tavares, fiquem a saber que muitas outras alterações de relevo constam do pacote.

Por exemplo, aqui, era até aqui, um advérbio de lugar. Pois agora, provavelmente devido aos cortes orçamentais, foi despromovido e passou a ser um advérbio adjunto de lugar.

E o que me dizem do artigo definido o, ter sido promovido a determinante artigo?

É por isso que, perante tão significativas e inadiáveis alterações, eu pense que isto não vai acabar bem.

Anónimo disse...

Foram dois posts, não foram? Podiam não ter percebido à primeira ...