terça-feira, janeiro 31, 2006

A “sesta” acabou …

À medida que a crise se tem agravado nos últimos anos em Portugal, e nos vamos afastando um pouco mais dos padrões europeus, vai-se ouvindo aqui e acolá os desabafos de cidadãos anónimos que, muito claramente, vão dando conta que gostariam mais de ser espanhóis do que portugueses. Há mesmo quem lamente termos ganho Aljubarrota. Segundo esses críticos, não fora essa vitória e hoje seríamos … espanhóis e viveríamos melhor.

Claro que estes lamentos têm a ver, essencialmente, com aspectos de natureza económica, mas não só. O salário espanhol é melhor do que o nosso, vive-se lá com maior qualidade de vida, lá há “tapas”, há queijo “manchego” e há “paella”. Lá há, também, a “siesta”. Portanto, tudo é melhor em Espanha.

O que é curioso, aliás, é que desde sempre nutrimos pelos nossos vizinhos, sentimentos tão contraditórios que vão da inveja do que eles têm ao temor do que eles possam representar. Se por um lado, eles têm todas as coisas boas que eu referi (e muitas outras), por outro, “de Espanha, nem bom vento nem bom casamento” como se costuma ouvir.

Pois agora, desde o início do ano, caiu um dos baluartes maiores da “invencível armada espanhola”. A “sesta”, um dos símbolos espanhóis mais cobiçados pela rapaziada cá do burgo, acabou.

Em nome da produtividade do país e em nome da uniformização dos horários com a Europa, o governo espanhol decidiu terminar com o “caos dos horários” e zás, entrou em vigor o novo horário para o almoço, que vai do meio-dia à uma, em vez daquele outro que decorria entre as duas e as quatro da tarde.

Acabou-se a “sesta” amigos. Mas, ainda assim, querem continuar a passar pelas brasas depois do almoço? Pois bem, façam-no na mesma, mas no serviço e às escondidas dos chefes. Vão até às casas de banho e aproveitam bem uma boa meia dúzia de minutos para dormitar um pouco.

No entanto, tenho a certeza que esta medida não vai fazer mudar de ideias aqueles portugueses que gostariam que Portugal fosse mais uma província de Espanha. Argumentarão que eles já não têm a “sesta” mas, mesmo assim, continuam a ter as “tapas” e a “paella”.
Bom, mas para isso, meus amigos, não é necessário sermos espanhóis. Basta ir até ao El Corte Inglês.

Contudo, não errarei ao dizer que existe pelo menos um português que quer continuar a ser português e que se estará nas tintas para que os espanhóis façam ou não a sua sesta. Sim, porque ele vai continuar a fazer a “sua sesta”.
Estou a referir-me, como perceberam, ao Dom Mário Soares.

segunda-feira, janeiro 30, 2006

A “Baixa médica?"

Sempre senti a maior admiração e simpatia por Manuel Alegre. Sempre o achei um homem íntegro, coerente e de carácter. Para além disso, corajoso. Para além disso, ainda, sempre gostei da sua voz quente e arrebatadora que dá muito mais sentido ao que diz. E, para além de tudo isso, sempre o admirei como poeta.

Pois Manuel Alegre com todos estes atributos e com todos os votos que lhe foram confiados por mais de um milhão e duzentos mil eleitores, e depois de quase ter conseguido passar à segunda volta das Presidenciais, esborratou a pintura.

Cansado de tanta canseira a percorrer o país de lés a lés, achou que tinha o direito a descansar. E tinha, de facto, tinha todo o direito a isso. A campanha foi muito violenta e era mais do que natural que ele quisesse recuperar. Se bem que ele não disse ainda se quer estar de novo operacional para voltar a assumir a vice-presidência da Assembleia da República e os cargos dirigentes no Partido Socialista, a que pertence, ou a fazer qualquer outra coisa, como por exemplo, criar um movimento cívico.

O que se sabe, o que ele disse, é que estava cansado e queria descansar. Mas, para isso, Manuel Alegre tinha que meter uma “baixa médica”? Não podia reservar uma semanita das suas férias e fazer como toda a gente, indo para qualquer lado descansar? Isso era o que eu esperaria dele.

A atitude não caiu lá muito bem. Ainda por cima numa época em que se anda desenfreadamente à caça (aqui em sentido figurado) dos prevaricadores com baixas médicas mas sem doenças, não é que se dá de caras com um alto funcionário chamado Manuel Alegre a meter “baixas médicas”, não por estar doente, mas porque quer descansar?

Se calhar, de tanto se falar sobre a moralização da vida pública o povo é capaz de começar a dizer que “ou há moral ou comem todos …”

“Baixa médica para caçar?” Não havia necessidade …

domingo, janeiro 29, 2006

Nevou em Lisboa


Eu sabia que alguma coisa de muito horrível estava para acontecer. Sentia, pressentia que algo de muito insólito ia perturbar o meu fim-de-semana. E não é que aconteceu? Não uma, mas duas coisas gelaram – literalmente – a minha “ialma”.
Primeiro foi aquela derrocada enorme, nada habitual, desastrosa, incompreensível e apocalíptica que aconteceu no sábado quando a equipa do “sportem” foi ganhar à Catedral àquela maravilhosa, bem estruturada e deslumbrante equipa do Benfica. A derrota foi sentida como se um balde de água gelada fosse derramada por cima dos milhões de adeptos presentes no estádio. A quem, no entanto, não esmoreceu a fé de ganhar este ano mais um campeonato.

Mas ainda não recuperado da frieza daquele gelo, não é que neste domingo assisti à queda de neve aqui em Lisboa, uma coisa que já não acontecia há 52 anos? Ainda que os leves flocos de neve não chegassem para cobrir de branco toda a cidade, como aconteceu no dia 2 de Fevereiro do longínquo ano de 1954, mesmo assim, a temperatura desceu bem baixo (meio grau às três da tarde) e gelou-nos o corpo (e novamente a “ialma”) pela segunda vez.

Foi apenas uma derrota. Foram uns minúsculos flocos de neve. Mas, convenhamos, para um só fim-de-semana foi gelo a mais…


sexta-feira, janeiro 27, 2006

Estou de ressaca

Hoje acordei mal disposto. Dormi mal. Mal e pouco. O sono tive-o povoado de inquietações, de muitas interrogações. O sono repousado foi substituído por aquela velha mania de pensar e de fazer balanços à vida nas horas mais impróprias. O que fiz? Valeu a pena? O que falhou? E porquê? E porquê? E porquê? E porquêêêêêê …?

A minha geração – a célebre e tão questionada “geração de 60” – é uma geração dividida entre a felicidade do que fez bem e a angústia do que não resultou tão bem como gostaríamos, ou mesmo dos sonhos que não conseguimos pôr em prática. Afinal, uma geração “espartilhada”.

Mas a “geração de 60” legou às que se seguiram coisas tão importantes que mudaram o rumo do mundo e que, provavelmente, os mais novos nem se dão conta.
Fomos nós que “inventámos” a ecologia e a defesa do ambiente. Fomos nós que demos à mulher um estatuto de igualdade e de dignidade, mas onde, ainda há um grande caminho a percorrer. Recordo que há 30 anos atrás a mulher não se podia ausentar do país sem a autorização do marido, ainda que fosse só a Badajoz comprar caramelos.
Foi a nossa geração que “estabeleceu” para homens e mulheres um novo modelo de relações amorosas baseadas no amor, e que aprendemos a alegria e a responsabilidade de sermos pais e de passarmos muito mais tempo com os nossos filhos e a criarmos com eles padrões de diálogo, até então desconhecidos.

A “geração de 60” foi culta, interveniente, inconformada. Condenámos as guerras (make piece not war, lembram-se?), as ditaduras, o colonialismo, o imperialismo, o racismo e a violação dos direitos humanos. Tínhamos valores.

Mas fizemos, ajudámos a fazer um mundo melhor? Sim, certamente melhor do que aquele que herdámos.

É verdade que não acabámos com a miséria e com as injustiças do mundo, mas hoje, apesar de tudo, o mundo é muito melhor.

Desculpem-me o desabafo, mas hoje não estou muito bem. Acordei mal disposto. Estou de ressaca …

quinta-feira, janeiro 26, 2006

Aumentaram as fraudes nas empresas

Quando comecei a escrever este texto, lembrei-me daquela velha questão - nunca convenientemente explicada - de saber se, afinal, o copo está meio cheio ou meio vazio. É que não sei se fiquei triste ou contente ao ler uma notícia onde se dava conta de que há cada vez mais fraudes nas empresas.
De acordo com um trabalho recente da PricewaterhouseCoopers, efectuado junto de 3634 empresas de 34 países, o número de fraudes em grandes empresas aumentou nos últimos dois anos. Cerca de 45% dessas empresas foram alvo de fraudes, quando há dois anos atrás a percentagem se situava nos 37%. E, a consequência deste desmando, foi que as empresas perderam 1,7 milhões de dólares.

E a dúvida que há pouco manifestei deve-se a quê?

É claro que me preocupa (entristece-me) o facto de terem aumentado o número de fraudes, e de forma significativa, em tão curto espaço de tempo. Mas, sabia-se que esta situação era quase inevitável perante o agravamento de crise económica generalizada e as consequentes dificuldades que afectam os trabalhadores em todo o mundo. Adivinhava-se que iria acontecer.

Mas, ao mesmo tempo, sinto-me contente (sobretudo porque a minha área de actividade é justamente o controlo e a segurança das operações) porque também aumentou a detecção do número de casos de fraude, devido, sobretudo, a uma regulamentação mais exigente e ao reforço dos mecanismos de controlo das operações e do risco.

Fico, no entanto, com uma dúvida para a qual não encontro resposta cabal no relatório da PricewaterhouseCoopers. A de saber, o que é que, de facto, aumentou:
a) Se o número de fraudes e, ao mesmo tempo, a quantidade das situações detectadas?
b) Apenas o número de fraudes? ou
c) Sobretudo o número de situações fraudulentas detectadas pelos órgãos internos e/ou externos, que têm por missão assegurar o controlo das empresas e, assim, porque se detectaram mais situações, o número de fraudes foi também maior?

Seja como for, para nosso descanso, ou talvez não, Portugal não foi considerado na amostra que serviu de base a este estudo.

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Novas passadeiras para peões

Na última reunião do Conselho de Ministros, foi deliberado que as tradicionais passadeiras para peões que, como se sabe, estão posicionadas perpendicularmente em relação aos passeios, sejam substituídas por outras passadeiras desenhadas na diagonal.
Esta medida foi aprovada depois de um parecer de uma comissão independente constituída por peritos de diversas universidades nacionais e estrangeiras, ter concluído que a maioria dos portugueses atravessa as passadeiras até cerca de metade das ditas e, depois, para encurtar caminho, desvia-se para a direita ou para a esquerda conforme o percurso que pretende seguir.
Os peritos concluíram, ainda, que a situação é muito mais preocupante no caso de pessoas que vão a falar ao telemóvel, sobretudo as senhoras, uma vez que essas pessoas raramente terminam a travessia dentro da passadeira e quando saem dela (quase sempre a meio da rua), nunca se certificam se algum automóvel se aproxima, pondo em risco a sua vida.
O processo de redesenho das passadeiras deverá ser iniciado em breve.

Como perceberam, esta “notícia” não é verdadeira. Mas até poderia ser … e, se fosse, muita coisa poderia mudar. Quem sabe se seria possível ver passadeiras desenhadas em vê. Isto é, passadeiras que partiriam de um ponto de um passeio, onde faria um vértice, para dois pontos diferentes do passeio do outro lado da rua, um à esquerda e outro à direita. Estão a ver? Afinal se já existem passadeiras com mensagens escritas, porque não as “zebras” com traçado diferente? E, vistas do ar, e em conjunto com o desenho das calçadas portuguesas, já imaginaram como as ruas ficariam bonitas?

Quem sabe se com estas novas passadeiras em diagonal, não se evitariam muitos dos acidentes que por aí acontecem.

segunda-feira, janeiro 23, 2006

A praga das ... reuniões

Quando no último texto que aqui publiquei, escrevi que um dos reflexos directos nos níveis de produtividade são as múltiplas reuniões de trabalho que se realizam sem qualquer necessidade, fiquei à espera que alguém ficasse muitíssimo indignado e saltasse a terreiro a dizer de sua justiça e a defender que eu não tinha razão. Mas não, todos estiveram de acordo. Pelo que, ao que parece, eu tinha, de facto, razão. Ou, então, poucos foram os que se deram ao trabalho de o ler.

Mas a verdade é que a maioria dos quadros das empresas e das organizações encontram-se sempre num de dois estados - ou ao telefone ou em reunião.
Não passa pela cabeça de um quadro que se preze atender rapidamente quem se atreve a procurá-lo ou quem o ameace perturbar a sequência duma agenda diária sempre tão sobrecarregada. Mas, quando isso acontece, a resposta que esses indivíduos obtêm é sempre a mesma: o senhor doutor está em reunião.

Mesmo que o nosso quadro esteja na casa de banho a ler a "Bola" ou tenha dado uma escapadela a um centro comercial para fazer uma compra, a técnica da reunião funciona sempre, dando a quem os procura a ideia que aquele tipo é um desgraçado de um mouro de trabalho.

Quando, finalmente, os "pobres coitados" são encontrados, ao fim de uma meia dúzia de tentativas frustradas, é certo e sabido que se pedem mil desculpas pela ousadia de os interromper, que não lhes vamos tomar mais que um par de minutos, blá-blá-blá, blá-blá-blá, colocando quem os procura imediatamente numa situação de desvantagem. Nunca falha!

É claro que, entre os tais períodos de reflexão estratégica em que, para não serem interrompidos, dizem estar reunidos, os quadros também se dedicam a uma outra actividade: a ter reuniões.

Antigamente, no tempo em que os chefes mandavam, era tudo muito mais fácil. Quando era preciso decidir qualquer coisa, faziam-se umas contas por alto, ouvia-se a opinião da "patroa" e pronto. A solução aparecia.
Agora não. Tem que se gastar uma data de tempo e saliva a conversar com técnicos e colaboradores das mais diversas áreas (que, na maioria dos casos, nada sabem do assunto para que foram convocados) para, ao fim de algumas horas, não se chegar a conclusão alguma. Aliás, a verdadeira regra de ouro nesta matéria é nunca deixar tudo completamente resolvido.

Outro pormenor importante a salientar é que todas as reuniões devem inevitavelmente terminar com a marcação da próxima reunião. O que leva a que, para se tentar chegar a uma solução, se tenham que realizar diversas reuniões.

Perante a imensidade de reuniões em que os quadros têm que participar, os outros ficam com a ideia que a vida deles é um inferno e que, por estarem tão assoberbados com tantos compromissos, acabam por mal ter tempo para trabalhar.

Outro aspecto lateral de toda esta azáfama é a de, independentemente dos assuntos agendados, as pessoas que participam na sua discussão serem sempre as mesmas. Saltitam de reunião em reunião, de local em local, de tema em tema, mas, na verdade, as pessoas acabam por ser sempre as mesmas. Coitadas!... que estafa!... Chegou-se mesmo ao ponto de ter sido criada uma nova categoria de executivos: a dos "profissionais das reuniões".

Eles chegam, cumprimentam-se com sorrisos cansados, bebem um café, falam sobre assuntos que trazem pendentes de outras reuniões, dão meia dúzia de pancadinhas nas costas de outros colegas de infortúnio e lamentam-se profundamente das montanhas de projectos em que estão envolvidos, concluindo quase sempre com um: "Bem, vamos lá a isto, a ver se nos despachamos rapidamente porque ainda tenho outra reunião marcada para as sete da tarde". Uma frase que é muito frequente, sobretudo quando a televisão transmite um jogo de futebol, sensivelmente a essa hora.

É assim que alimentam as agendas, é assim que eles criam a ilusão do dever cumprido. Ao fim e ao cabo, estes executivos acabam por se sentir extremamente úteis às organizações que servem, ao mesmo tempo que eliminam o risco de concluir que até poderiam resolver efectivamente os assuntos.

Não há, portanto, forma de escapar a esta praga das reuniões. Apesar de tudo, sempre é melhor andar de reunião em reunião do que terem mesmo que trabalhar a sério...
Estou certo ou estou errado?

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Portugueses pouco produtivos


Os pilares que servem de suporte à tão badalada crise económica estão já sobejamente identificados. E todos, economistas, (alguns) empresários, analistas e até candidatos a Presidentes da República, são unânimes em afirmar que a culpa da crise é da inadequada organização das empresas e da sua pouca competitividade, da insuficiente taxa de exportações e da deficiente formação dos trabalhadores e do seu baixo nível de produtividade.

Conhecido o diagnóstico, não deixamos, no entanto, de nos surpreender quando olhamos para as conclusões dos trabalhos publicados por consultores independentes e, nomeadamente, quando esses trabalhos fazem comparações entre os números de Portugal e os de outros países.
Foi o que aconteceu recentemente quando foram publicados os dados do último relatório sobre produtividade, elaborado pela consultora Proudfoot.
De um conjunto de 9 países analisados, Portugal está no penúltimo lugar da tabela.
Mas, o que mais me choca e preocupa é que em cada hora de trabalho, nós portugueses, conseguimos ser 64% menos produtivos do que os franceses, que ocupam o 1º lugar, e 21% do que os espanhóis que estão imediatamente acima de nós.
Como se sabe, a baixa produtividade é o principal factor que influencia o “PIB Per Capita”. E, por isso se percebe que os nossos vizinhos espanhóis que têm, como se disse, uma produtividade 21% acima da nossa, tenham um “PIB Per Capita” 14% superior ao português.
Aliás, todo o tempo desperdiçado pelos trabalhadores portugueses – absentismo, baixas, pontes, feriados, greves, puro tempo perdido e pausas para café – traduziu-se em 2004 num saldo médio de 42 dias de trabalho perdidos que, à média de 8 horas diárias, dá qualquer coisa como 65 milhões de dias de trabalho perdidos. O que, a um custo médio de €5,17 por hora de trabalho, representará um total de 8143 milhões de euros, o equivalente a 5,8 do PIB nacional.
E a responsabilidade deste estado de coisas e de tanto dinheiro atirado à rua deve ser atribuído a quem? Aos trabalhadores portugueses, uma vez que, aparentemente, os motivos acima descritos apenas são de sua inteira responsabilidade?
Não. Em artigo publicado há uns tempos neste blogue manifestei a minha opinião sobre o assunto, opinião que, de resto, foi agora corroborada pela Proudfoot (de onde se prova que este blogue é consultado cada vez mais). O baixo nível de produtividade deve-se, sobretudo, ao fraco nível de planeamento e organização das empresas e à sua insuficiente gestão operacional. Mas deve-se, também, à falta de liderança e de supervisão e aos sistemas de controlo que, muitas das vezes, são desadequados.
Outro dado curioso apontado como reflexo directo nos níveis de produtividade são as múltiplas reuniões de trabalho que muitas vezes se realizam sem qualquer necessidade.

Temos aqui um bom motivo para reflexão. De todos, dos gestores e dos empregados. Poderemos, certamente, melhorar muito, esforçarmo-nos mais. No que me diz respeito, estou pronto para esse esforço mas, acabar com as pausas para o café, isso não, por favor!

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Adeus aos galheteiros

Como sabem, desde o início do mês está proibida a utilização dos tradicionais galheteiros em unidades hoteleiras e de restauração, já que passou a ser obrigatório servir o azeite em embalagens invioláveis e munidas de um sistema de abertura que perca a sua integridade após a primeira utilização e que não sejam passíveis de reutilização.

Dizem os responsáveis que esta medida visa acabar com uma prática de muitíssimos anos que se considera inadequada em termos de higiene e segurança alimentar e protecção da saúde dos consumidores. Mais, com esta medida, passará a haver a possibilidade de identificar a origem do azeite.

Fico agradecido com o cuidado das autoridades alimentares. Se é para o nosso bem, tudo bem. Somos até capazes de deixar de ter galheteiros com azeite marado. Se calhar o azeite até começa a ter alguma qualidade, num país que tão bom azeite produz. Eu sei tudo isso, mas, mesmo assim, não me conformo.

É que há tantos anos que eu me habituei a ter um utensílio daqueles à mesa. O galheteiro e a azeitoneira fazem parte da mesa tradicional.
E, depois, nos restaurantes, já era tradição pedir-se ao empregado “por favor, pode trazer-me um galheteiro que tenha azeite?” ou, aquele outro pedido também muito frequente “não se importa de me trazer outro galheteiro que este está todo besuntado?”

Não, não me conformo!

Todavia tenho alguma esperança. Quando se fala em galheteiros, está a pensar-se numa embalagem que tenha o conjunto do azeite, do vinagre, do sal e da pimenta. Ora, esta medida imposta por Bruxelas (sempre os eurocratas a quererem acabar com as nossas tradições, com a nossa cultura), embora determine a proibição dos galheteiros, o que na verdade proíbe é a utilização do galheteiro do azeite, não o do vinagre, ou o do sal ou o da pimenta.

Não estou é bem a ver como é que os nossos restaurantes vão resolver a situação. Será que continuam a apresentar os galheteiros tradicionais mas … coxos? De um lado o vinagre e do outro … nada? Também pode ser que se lembrem de mandar fazer novos galheteiros, adequados aos novos tempos. Aliás, no Rio de Janeiro, os restaurantes têm nas suas mesas, galheteiros com latinhas de azeite … português. Ora toma!

Mas se esta medida, em termos de saúde pública é bem-vinda, ela já não é tão saudada pelos industriais do azeite nem pelas associações de defesa do ambiente. Os primeiros, dizem não ter capacidade para desenvolver a curto prazo um novo tipo de embalagens para cumprir a lei. Os segundos, afirmam que as embalagens, por não serem bio degradáveis, vão constituir um grave problema ambiental .

Bem, já nos tiraram as colheres de pau, os barros e, agora os galheteiros. O que é que se seguirá?

terça-feira, janeiro 17, 2006

Proibido Morrer

Se, aquando da minha última visita ao Brasil, eu já tinha sentido uma grande vontade de ir viver para lá, pelo menos uma boa parte do ano, agora reforcei essa vontade ao ter conhecimento de uma notícia que veio a público nos últimos dias.

É que em Biritiva Mirim, uma cidadezinha do Estado de São Paulo, o Prefeito, o senhor Roberto Pereira da Silva, decidiu aprovar uma lei que proíbe os seus concidadãos de morrer. Isso mesmo, os habitantes de Biritiva Mirim estão expressamente proibidos de morrer, sob pena de serem severamente punidos.

Ainda não se sabe quais as sanções a aplicar aos que se atreverem a desrespeitar a lei, mas o prefeito está decidido a fazê-la cumprir, pelo menos até as autoridades estaduais arranjarem uma solução para resolver o problema do cemitério superlotado. Na verdade, não há qualquer lugar vago para albergar mais mortos. Daí …

Só que, cansado de tanto esperar e farto de se sujeitar a tal lei, o senhor Romeu Maria, de 86 anos, decidiu falecer. Decidiu e cumpriu.

Agora a sua família espera com ansiedade as sanções inerentes que, como se disse, ainda não foram determinadas.

Pelo menos parte da história tem um final feliz. É que uma outra família, condoída com a possibilidade do morto ficar eternamente em câmara ardente, por falta de uma outra morada, ofereceu um espaço da própria família para o senhor Romeu descansar, enfim, em paz.

Mas, leis são leis e são para respeitar. Escrupulosamente, digo eu. Por isso, como a Prefeitura de Biritiva Mirim proíbe os seus habitantes de morrerem, meus amigos, vou transferir-me de “armas e bagagens” para aquela cidade. E é já!

domingo, janeiro 15, 2006

Portugal vai ser campeão

Não sei qual vai ser o comportamento da selecção nacional de futebol no próximo mundial que se realiza este ano na Alemanha. Tenho esperança, no entanto, que possamos fazer uma boa campanha. Quanto a resultados, bem … prognósticos só no fim do campeonato.
Pressente-se, no entanto, que o Zé-povinho, depois do excelente 2º lugar do Europeu de 2004, está com um grande optimismo quanto à classificação e já se fala por aí em vitória.
Talvez a culpa até nem seja do “povão”, mas sim dos sinais que alguns agentes vão transmitindo, por exemplo, os manifestados por dois dos principais candidatos à Presidência da República.

Mário Soares diz que
ACREDITA em Portugal” e
o professor Aníbal afirma, com confiança,
Sei que Portugal pode vencer

Perante isto, o que dizer? Eu também começo a acreditar que Portugal pode ser o próximo campeão do mundo de futebol.

quinta-feira, janeiro 12, 2006

A Noite de Passagem de Ano


Justificações para tamanha ausência – parte VII

A última razão que me levou a afastar do vosso convívio durante estes dias, tem a ver com a noite de fim de ano. É uma noite que, devo confessá-lo, sempre me deu alguma nostalgia e que, raramente, me entusiasmou.

Tal como nunca me encantou por aí além, a “obrigação” de, nessa noite em especial, ter que estar alegre, barulhento e sempre aos pulos. Se querem saber, acho mesmo que, na generalidade dos casos, se faz muito mais de conta do que, na verdade, se sente essa alegria.

Talvez tenha ver com a característica das pessoas, não sei. O que é verdade é que, ao longo dos anos, tenho observado que, durante a noite, todo o mundo se mantem numa calmaria incrível, comendo e bebendo até perto da meia-noite. Nessa altura, e de repente, dá uma agitação danada ao pessoal, que dura no máximo sete ou oito minutos (tal como no lusco fusco) e depois, tudo acaba de novo. Toda a gente regressa à pacatez da ceia, enfia mais uns copos e arrasta-se até às tantas.

Volto a dizer que talvez tenha a ver com a maneira de ser das pessoas, dos povos. Os espanhóis, por exemplo, não são como nós. Há uns anos fiz uma passagem de ano num hotel de Madrid e, essa sim, foi muito divertida. Desde que as pessoas chegaram para o jantar até ao romper da manhã foi uma animação enorme e constante. Nessa altura, senti que havia alegria verdadeira. Lá está, deve ser da maneira de ser deles. Temos que reconhecer que os “nossos hermanos” são muito mais alegres do que nós.

As passas e os correspondentes desejos para o ano que vai nascer são outra coisa que eu sinto que se faz mais por tradição do que propriamente por convicção. Tretas! Quando se chega à terceira ou quarta passa, já não se sabe muito bem o que pedir e volta tudo à estaca zero, mais saúde, mais dinheiro, mais saúde, mais saúde, mais dinheiro, e por aí fora. Penso até que, nesses momentos, a criatividade das pessoas se evapora de todo, talvez em consequência do álcool ingerido. Ou, quem sabe, por causa do fogo de artifício que é lançado precisamente à mesma hora em estamos justamente a pensar naquilo que gostaríamos que o ano novo nos trouxesse.

Eu ficaria mais assumidamente aconchegado se me quedasse pela tal pacatez da noite, beijasse e desejasse aos meus amigos e familiares mais à mão, muita saúde, sorte e dinheiro para gastos, porque isso já contem praticamente tudo aquilo que nós queremos, e, depois, me atirasse à minha champanheca e aos petiscos que estivessem à minha beira.

Mas, se todo aquele folclore, já faz parte da tradição, não sei porque não poderemos voltar a ter as outras tradições que há uns anos atrás, quando éramos um povo mais boçal e mais genuíno, faziam furor na noite da passagem de ano, que era atirar pelas janelas tudo o que de velho havia em casa. Tudo menos as sogras, naturalmente…

Mas para que não julguem que eu me furtei à tradição das passas, este ano preparei meticulosamente a lista dos meus desejos. Não vou revelá-los, como é óbvio, porque daria azar, mas direi apenas que consegui arranjar doze grandes desejos que começam pela saúde e pelo dinheiro e passam – eis uma ideia inovadora - pela vontade de mantermos este convívio através do blogue.
Dadas as justificações, desejo-vos

Bom Ano Novo!

quarta-feira, janeiro 11, 2006

O Meu Aniversário


Justificações para tamanha ausência – parte VI

A comemoração do meu dia de anos é, de facto, uma razão de peso para fazer uma paragem, não acham? Como, quantos anos fiz? Não, isso não digo, aliás, não se perguntam os anos a um senhor. Nem isso interessa. O que interessa é que em 28 de Dezembro foi o dia do meu aniversário e eu sempre gostei de comemorar esse dia.

Ao longo dos anos, comemorei-o sempre em casa dos meus pais, com festinhas que eles sempre fizeram questão de me proporcionar, desde pequenino até ao momento de sair de casa para casar. Depois as festas acabaram mas não acabou o meu gosto por festejar o aniversário. Sabendo embora, que todos os anos vou envelhecendo um pouco mais, mesmo assim, continuo a gostar muito de fazer anos, continuo a gostar muito que me dêem os parabéns (logo de manhã de preferência) e continuo, também, a gostar muito de receber prendas, se possível, no próprio dia do aniversário.

Há pessoas que não ligam muito ao seu dia de anos, mas não é o meu caso. Como perceberam, eu gosto mesmo. Talvez fosse natural que, com o tempo, pudesse, hoje, ter pena por já não ter as festas animadas e as mesas repletas de acepipes de outros tempos. Talvez pudesse estar um tanto ou quanto desinteressado porque já partiram muitos dos que me apaparicaram nesses dias. Talvez eu pudesse sentir-me, agora, um sobrevivente de mim mesmo. Mas não, com outras pessoas e noutro tempo, continuo hoje a gostar tanto de fazer anos como outrora e a não dispensar os presentes, o bolo do aniversário, o champanhe e as saúdes à minha saúde e aos que me estão mais próximos.

“Hoje já não faço anos. Duro” ... dizia um belíssimo poema de Álvaro de Campos.

Embora sem a beleza poética do Pessoa, eu comporia o texto de uma outra maneira:

“Hoje continuo a fazer anos. Porque continuo a viver ... e porque gosto”

Amanhã falaremos sobre a sétima razão.

terça-feira, janeiro 10, 2006

O Presépio e a Árvore de Natal

Justificações para tamanha ausência – parte V

A quinta razão para este intervalo teve a ver com o facto de eu necessitar de um pouco mais de tempo para tratar dos retoques finais do Presépio e da Árvore de Natal.
Devo confessar que, na minha infância, raramente se construía o Presépio a tempo e horas. Por vezes, o meu pai chegou a fazê-lo apenas no dia 5 de Janeiro, ou seja, um dia antes de terminarem as festas natalícias.
E isso afectou-me de tal maneira que, ao longo dos anos, tenho feito um esforço grande para tentar construir o conjunto Presépio/Árvore durante a primeira semana de Dezembro. Ainda hoje, com os filhos já adultos, procuro fazê-lo com a mesma veneração e carinho de sempre, a tempo de recebermos o Natal.

A palavra Presépio vem do hebraico e significa manjedoura, estábulo. Fazer o Presépio de Natal é uma tradição muito antiga e, ainda hoje, na maior parte dos países latinos, ele é mais importante do que a Árvore de Natal. Aliás, o presépio é talvez a mais antiga forma de caracterização do Natal.

Sobre o Presépio conta-nos uma lenda que à meia-noite da véspera de Natal, todas as abelhas que estavam a hibernar acordaram nos seus cortiços e começaram a zumbir em uníssono o Salmo 100. Ao mesmo tempo, as portas do Paraíso abriram-se durante alguns instantes e deixaram passar abençoados e pecadores para que pudessem entrar directamente no Céu.

A Árvore de Natal, apesar de ser hoje muito popular, não tem o mesmo significado que o presépio. Mas, na verdade, a árvore é também um símbolo que nos cativa e tem um lugar especial nos nossos corações.

Sobre a árvore de Natal existe, igualmente, uma lenda. Conta-se que um pobre lenhador encontrou uma criança perdida e esfomeada na véspera de Natal. Apesar de também ser muito pobre, o lenhador ofereceu-lhe comida e abrigo para essa noite. Ao acordar pela manhã, o homem deparou com uma magnífica árvore enfeitada de estrelas brilhantes à sua porta. A criança era, na realidade, o Menino Jesus, que erguera a árvore como forma de agradecimento pela generosidade do pobre lenhador.

Devo dizer, porém, que muito embora continue a ficar extasiado perante a árvore com todos os seus enfeites e luzes a brilhar, o que de facto me fascina é o conjunto Presépio/Árvore, que, no seu todo, constitui o verdadeiro símbolo do Natal.
Amanhã falaremos sobre a sexta razão.

O Pai Natal


Justificações para tamanha ausência – parte IV

É verdade, a quarta razão tem a ver com o Pai Natal, com essa figura mítica e pagã, criada a partir de São Nicolau, que nasceu por volta do ano 270 e a quem foram atribuídos milagres relacionados com as crianças.

Pois a aparição do velho senhor, que a lenda pôs a conduzir renas pelos céus e a descer pelas chaminés para deixar as prendas do Natal, veio a impor-se através dos anos, catapultado sobretudo por interesses comerciais (principalmente depois da Coca Cola o ter usado na publicidade) que foram tirando partido (e de que maneira) do seu aspecto simpático e bonacheirão.

Mas se é certo que hoje todos aceitam que o Pai Natal é o transportador das prendas natalícias por excelência, o facto é que, pelo menos para os mais velhos, com o protagonismo do Pai Natal foi-se muito do que considerávamos ser o “espírito do Natal”, aquele que era corporizado pelo Menino Jesus. Era o Jesus (e não o Pai Natal) que nos deixava as prendas nos sapatinhos que ficavam junto da chaminé ou na base da árvore de Natal.

Nesses tempos, sentia-se um misto de espiritualidade e de ingenuidade e a figura do Menino Jesus tinha um destaque único. Hoje a conversa é outra, perdeu-se a magia e reina a fúria do consumo sabiamente dirigida pela publicidade, que usa sem pudor e constantemente, a imagem do Pai Natal.

O tal espírito de Natal foi substituído por campanhas publicitárias vigorosas, divulgadas nas montras, em outdoors, nas televisões e na Internet.

Mas aquilo que, afinal, determinou a pausa no nosso encontro habitual foi, nem mais nem menos, o espanto que me levou a olhar, a olhar, a olhar, a olhaaaaaaaaaaaaaaaaar… para os muitos Pais Natal que se lembraram de escalar as paredes dos prédios deste país.

A loucura do “Pai-Natal Alpinista”, que contraria ideia feita do Pai Natal a descer pela chaminé, brotou com uma fúria tal que não haverá rua que se preze desse nome, que não tivesse pelo menos um Pai Natal pendurado na sua escada de corda. O que não consegui perceber é se a intenção dele era a de trepar pela escada e entrar pelas janelas ou, se pelo contrário, já tinha deixado as encomendas e já ia de saída. Bom, mas isso interessa pouco …

Amanhã falaremos sobre a quinta razão.

domingo, janeiro 08, 2006

As Prendas de Natal



Justificações para tamanha ausência – parte III

A terceira razão está associada à necessidade de ter tempo para pensar nas prendas que tínhamos que comprar para oferecer. Sim, porque é preciso ter disponibilidade mental e de tempo, para escolher aquilo que se vai dar a cada pessoa, tendo em conta, sobretudo, as características, os gostos e os hábitos de cada um, o que na generalidade dos casos, se torna numa missão ingrata e quase sempre impossível.

Também impossível é o cumprimento do orçamento previamente estabelecido. Não me lembro de, alguma vez, ter conseguido gastar apenas o que tinha programado. À semelhança das obras públicas em Portugal, os desvios orçamentais relativos ao previsto são sempre enormes, só que, neste caso, existe um rosto a quem se deve atribuir a culpa desse incumprimento e esse responsável sou eu, pelo que vou ter que arcar com esse prejuízo.

O que é facto é que nesta questão das compras, todos os anos se jura que no ano seguinte a coisa vai mudar, que vai haver mais racionalidade e que, por isso, se vai gastar muito menos dinheiro. A verdade é que todos admitem que esta onda consumista que nos envolve não pode continuar.

Fala-se da crise económica do país e das famílias mas parece que, afinal, todos conseguem sobreviver a ela.
Mas crise é crise e atinge toda a gente, pelo que, nesta fase de rescaldo das compras do Natal de 2005, já me estou a mentalizar que para o Natal de 2006 o que verdadeiramente vai contar é o estarmos todos juntos e em família. Quanto a lembranças … só simbólicas.

Aliás o professor Marcelo Rebelo de Sousa (de quem se pode dizer que não será tão afectado pela crise como à maioria da população) já começou a praticar essa racionalização e constitui um belíssimo exemplo do que acabo de referir. Segundo ele divulgou, neste Natal estabeleceu um limite máximo de 25 euros por prenda, à excepção das destinadas aos netos e à namorada.

Da mesma forma pensou Rafael Mora, o patrão da Heidrick & Struggles (a empresa de caça talentos) que considerou que as prendas que foram dadas ao seu filho Rafinha, de 18 meses, eram em número tão exagerado que decidiu oferecer esses brinquedos a crianças hospitalizadas na Maternidade Alfredo da Costa.

Dois bons exemplos que nos fazem reflectir.

Amanhã falaremos sobre a quarta razão.

quinta-feira, janeiro 05, 2006

Justificações para tamanha ausência – parte II - o Bolo-Rei


Falar sobre Bolo-Rei precisamente no dia de Reis vem mesmo a calhar.

Pois a segunda razão para a pausa, tem a ver, entre outras coisas, com o facto de ter tido necessidade de ter algum tempo para visitar as minhas recordações.

Ao que parece, o Bolo-Rei terá surgido em França, no tempo de Luís XIV, o Rei Sol. Em Portugal, o Bolo que tinha sido introduzido no final do século XIX, viu a sua existência ameaçada aquando da implantação da República, em 5 de Outubro de 1910, não por ser bolo mas, como é óbvio, por ser Rei em plena República. Contudo, os pasteleiros portugueses deram azo à sua imaginação e passaram a chamar ao Bolo, o “Bolo-Presidente” e o “Bolo Arriaga”, em homenagem (em bajulação, diria) ao primeiro Presidente da República, Manuel de Arriaga).

Sem querer entrar nos pormenores das receitas e dos seus ingredientes, gostaria, no entanto, de recordar que antigamente o Bolo-Rei trazia dentro da massa um brinde (que mais recentemente foi proibido por questões de segurança) e uma fava.

E é exactamente a fava escondida no Bolo que eu hoje quero recordar. Conta a lenda que os Reis Magos, seguindo a estrela que indicava o caminho para o Salvador, não conseguiam decidir quem seria o primeiro a entregar o ouro, o incenso e a mirra a Jesus.
Resolveram então mandar fazer um bolo e esconder no seu interior uma fava. O Rei Mago que tirasse a fatia com a fava seria o primeiro a entregar a prenda ao recém-nascido.

Isto é o que diz a lenda, mas lembro-me que sempre ouvi dizer que o próximo bolo-rei teria que ser comprado pela pessoa que tivesse tido a "sorte" de lhe ter saído a fava.

O meu avô paterno, a quem era atribuída alguma avareza, foi muitas vezes acusado de comer a fava do bolo para não ter que comprar o próximo. Nunca cheguei a saber se ele tinha a sorte de nunca lhe calhar a fava mas, dizia-se, que lhe tinham visto cometer tal “façanha” e, de facto, nunca o vi comprar um Bolo-Rei que fosse.

Contudo, o não querer ser o próximo “voluntário/à força” não era um atributo exclusivo do meu avô Mário. Há uns anos atrás, um responsável de um serviço onde eu trabalhava na altura, mandou confeccionar um enorme Bolo-Rei para oferecer à rapaziada. E foi com alguma surpresa que chegámos à conclusão que, apesar do tamanho, aquele Bolo não tinha uma só fava. Tínhamos, no entanto, concluído mal. O que se passou é que o Bolo tinha, não uma, mas 30 favas, tantas quantas as pessoas que participavam na festança. Só que, a maioria dessas pessoas tinha aprendido a “receita” do meu avô e, não fosse o diabo tecê-las, trataram de engolir as favas que iam aparecendo ou, em alguns casos, esconderam-nas cuidadosamente nas mãos e depois nos bolsos.

Foi, também, para eu ter tempo para reflectir sobre o que fazer com uma fava que me calhou no último Bolo-Rei que decidi fazer esta pausa.

Na próxima semana falaremos sobre a terceira razão.

quarta-feira, janeiro 04, 2006

Justificações para tamanha ausência – parte I – o Natal


Prometi voltar a 5 de Janeiro de 2006 e aqui estou. Neste início de ano, quero aproveitar para desejar um

FELIZ ANO NOVO!

Entretanto, algumas pessoas perguntaram que motivos de peso me levaram a estar ausente desde 22 de Dezembro do último ano até agora. Afinal, porque carga de água é que estive treze dias sem escrever, que razão ponderosa foi essa que justificou tal balda?
Os menos novos lembrar-se-ão de um cómico mexicano – Cantinflas (Mario Moreno), de seu nome – que fez muito sucesso na sua época e que é hoje um clássico do cinema. Pois ele, num dos seus filmes respondia a uma pergunta desta maneira: Eu vou fazer … por três razões. A primeira, a segunda e a terceira.
Respondo quase da mesma forma. Interrompi momentaneamente o nosso convívio por 7 razões. Só que eu, vou mesmo explicar quais foram essas razões.
E a primeira razão foi: o Natal

Com efeito, levei em consideração que as pessoas que habitualmente estão connosco, tinham muito mais coisas com que se preocupar nesta quadra de festas que atravessamos, do que propriamente andar com atenção ao que pudesse ser escrito neste espaço.
Por isso, decidi fazer um intervalo, exactamente para que todos nós pudéssemos andar tranquilos às compras (como se isso fosse possível) e, para que depois delas feitas (isto é, perto das dez da noite do dia 24 de Dezembro), tivéssemos então a disponibilidade necessária “àquela pausa” que o Natal requer.
Ao fim e ao cabo, muito embora a letra da canção do Paulo de Carvalho sugira que “Natal é sempre que um homem quiser”, a maioria das pessoas esquece-se disso no dia a dia, e só na época de Natal propriamente dita, nos sentimos mais disponíveis para os outros, mais solidários com o próximo, para com aqueles que estão mais carenciados do que nós, quer em termos económicos quer espirituais.

Na verdade, no Natal, e para além da fúria consumista que ataca em força (a uns mais do que a outros) e que nos leva a comprar desalmadamente o que queremos e o que não queremos, o que podemos e o que não podemos, sentimo-nos, de facto, com o espírito mais aberto e mais sensível.

Mas o Natal e a proximidade do fim de cada ano leva-nos, também, como que a fazer um balanço do que se passou nos últimos doze meses e a meditar um pouco mais sobre a vida e, mesmo, sobre a própria morte. Em regra, é quando dedicamos um pouco mais de tempo à recordação daqueles que já nos deixaram.

Dar, pois, a possibilidade de ter algum tempo para meditar e de estarmos mais próximos e solidários com os outros foi, fundamentalmente, a primeira razão para esta ausência.

Amanhã falaremos sobre a segunda razão.