segunda-feira, outubro 30, 2006

Mário de Sá-Carneiro


De
Mário de Sá-Carneiro

(1890 - 1916)

Escritor e Poeta Português,
talvez um dos nossos maiores poetas do modernisno


Quase


Um pouco mais de sol - eu era brasa.

Um pouco mais de azul - eu era além.

Para atingir, faltou-me um golpe de asa...

Se ao menos eu permanecesse aquém...

domingo, outubro 29, 2006

Alberto, Alberto, desta vez tramaram-te ...

Fico completamente estragado sempre que dou de caras com tipos que se julgam os mais espertos, os mais inteligentes de todos, os que acham que podem enganar toda a gente, os que, vulgarmente, são conhecidos por "chico-espertos". E se, ainda por cima, juntando a toda essa "chiqueespertisse", essa gente fala grosso, de forma prepotente e grosseira, mesmo mal educada, então não os consigo suportar, dá-me uma fúria e apetece-me dar-lhes uns valentes murros, já que eu sou pacífico por natureza.


E é por isso que não percebo como é que eu, que não sou completamente idiota, consegui achar piada, durante algum tempo, ao Alberto João Jardim.


Assim como não percebo como é que, nestes últimos anos, ele vem sendo progressivamente mais ofensivo para com os governantes da Nação e os habitantes do continente, e ninguém - ouviram bem - NINGUÉM, o consegue pôr na ordem e dizer-lhe que ele é, apenas, o responsável pela Região Autónoma da Madeira e não o Imperador de uma qualquer república das bananas, que, neste caso, é República mas não é das bananas e se chama Portugal, e de que ele e a sua ilha também fazem parte.

E quando digo que ninguém o consegue calar, quero dizer exactamente isso. Adversários políticos e correligionários de partido são impotentes para conter a verborreia incontinente que chega mesmo a achincalhar tudo e todos, como aconteceu, ainda não há muito, ao actual Presidente da República, quando o tratou por Sr. Silva.

Até um dos maiores jornais espanhois, o “EL Mundo”, falou dos excessos verbais e do ataque sistemático à metrópole de Alberto João Jardim e considerou o Presidente do Governo Regional da Madeira como “o professor português do insulto”.


É uma figura intratável, detestável, desbocada e que não respeita nada nem ninguém.


E porque nada respeita e porque se armou uma vez mais em chico-esperto, tratou de contrair um endividamento de cerca de 150 milhões de euros, apesar de, por duas vezes este ano, o ter solicitado ao Ministério das Finanças e, este, o ter informado, também por duas vezes, que não autorizavam o empréstimo, pela simples razão que desde 2005, e de acordo com a Lei das Finanças Regionais, há limites máximos para endividamentos das autarquias e das regiões, e esses limites são para cumprir.

Pois o Banco de Portugal denunciou que, na prática, o empréstimo havia sido realizado e o Ministro de Finanças, Teixeira dos Santos (o Sr. Santos como certamente passará a ser chamado por Alberto João) fez, apenas, aquilo que devia, ou seja, avisou o Governo Regional da Madeira de que iriam deixar de ser processadas as costumadas transferências, já a partir deste ano e até o Governo Regional pagar o que deve.


O secretário-geral do PS, José Sócrates, declarou domingo, no Funchal, que "é tempo de dizer basta. O rigor e o cumprimento da lei são para todas as instituições e ninguém está acima da lei".

Ninguém, Alberto? Nem mesmo o todo poderoso Jardim, senhor incontestado da Madeira e a quem, há anos e anos ninguém se atrevia a dizer que não, por puro medo ou para não perder votos nas eleições?

Olha que se deixam de recear as tuas atoardas e os ataques obscenos que desferes, nesse teu estilo tão próprio mas já insuportável de ouvir, não tarda que te vejam como um mero dirigente patusco, a quem a retirada de cena é a única alternativa.

Independentemente do progresso que todos reconhecem que a Madeira tem vindo a registar ao longo destes últimos vinte anos, tendo no comando o próprio Alberto João Jardim (com as ajudas das enormes transferências de dinheiros saídas do Orçamento Geral do Estado e da União Europeia, melhor fora que a ilha não se transformasse e modernizasse), apesar disso, é bom que se diga que o "Basta" proclamado por José Sócrates representa o sentimento generalizado dos portugueses, pelo menos daqueles que o Dr. Jardim apelida de "cubanos" e que vivem no minúsculo "rectângulo" que, agora, o afronta pela voz desses malditos socialistas, a quem o Dr. Jardim responsabiliza pelo caos em que transformaram o país.

O actual Governo da Nação ao aprovar uma Lei das Finanças Regionais (que até teve pareceres muito favoráveis de distintos economistas do PSD, incluindo a insuspeita - por competente - Drª. Manuela Ferreira Leite), procuraram fazer uma lei mais justa e solidária, mais moderna e actual. Uma lei mais responsabilizante, mas que continue a afirmar os princípios da autonomia, isto é, o princípio da solidariedade e da inter-ajuda entre o todo nacional, entre o Continente e as Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores.

Alberto João, parece que desta vez é que perderam o medo de te enfrentar. Já não era sem tempo!

quinta-feira, outubro 26, 2006

A moda para a nova estação


Quem, há poucas semanas, foi um dos felizardos que encheu o Museu da Elecricidade, juntamente com outras figuras mais ou menos conhecidas (como sabem, são sempre os mesmos a aparecem nestes eventos), teve a oportunidade de apreciar o que melhor se faz em Portugal em termos de moda.

E quem já anda a pensar na chegada da nova colecção e equaciona as diversas combinações de modelos e de cores que vai ter que comprar para vestir e, sobretudo, para dar nas vistas, terá, a partir de agora, que pensar, também, em comprar uma outra peça de roupa, esta não para embelezar, mas para garantir o seu bem estar, relativamente à saúde.


Vital Jacket é o nome desta peça de roupa que foi desenvolvida na unidade de investigação de engenharia electrónica e telemática da Universidade de Aveiro e agrega tecnologia têxtil com microelectrónica de forma a possibilitar a monitorização, à distância, das variáveis vitais do seu utilizador, onde quer que este se encontre.


O desenho e a confecção têxtil deste casaco, que se espera tenha um design moderno e atraente, ficaram a cargo do Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e Vestuário e foi já apresentado na Modtissimo, que decorreu no Edifício da Âlfandega do Porto.


Sinais cardíacos, de temperatura, de saturação de oxigénio no sangue e de actividade física terão a possibilidade de ser transmitidos através de sistemas electrónicos e informáticos ligados à roupa por comunicação sem fios.Este casaco vai ser complementado, ainda, com diferentes sistemas de monitorização em casa, ligados em rede, como uma unidade de medição de pressão arterial, uma balança e um dispensador automático de medicamentos, entre outros.

É o que se chama, juntar o útil ao agradável.

quarta-feira, outubro 25, 2006

De Espanha, nem bom vento ...

O mau é quando alguém se começa a lembrar de certas coisas. Passado um tempo elas acabam por acontecer. Aliás, é por essa razão que, normalmente, quando alguém sugere que ainda não pagamos um imposto por determinada coisa, se levanta imediatamente um bando de amigos que cai sobre o infeliz e grita SCHIUUUUUU, não váo eles, os do governo, lembrar-se do que ainda estava esquecido.

Vá lá saber-se porquê, o semanário Sol, acabado de nascer mas já cheio de ideias, lembrou-se de fazer uma sondagem que indicava que 28 por cento dos portugueses são a favor de uma integração de Portugal com Espanha num único Estado.


Dá a impressão que esses 28% já se esqueceram do orgulho de ser português, e da forma como até há pouco se falava da Padeira de Aljubarrota e de como corremos com os Filipes da nossa corte.


Eu sei que os tempos agora são outros, que pensamos e agimos de forma globalizada, que não temos fronteiras entre os Estados, mas os Estados continuam a existir. Podemos até nascer em Badajoz, mas aqui é Portugal e só uns quilómetros mais à frente é que fica Espanha.


Tenho quase a certeza que esses 28% estarão a pensar sobretudo em que em Espanha se ganha melhor, que a gasolina e os produtos de uma forma geral são mais baratos lá do que cá, que o IVA é muito mais elevado cá. Provavelmente por isso gostariam que Portugal e Espanha estivessem juntos num único Estado.


Mas o que leva os espanhois a quererem também essa união? Se tudo é favorável a eles porque é que gostariam que o nosso pequeno país fosse integrado no deles?. Sinceramente não percebo, a não ser que seja uma questão de poder, já que como país maior ficaria ainda maior e com um poder acrescido sobre mais uns dez milhões que moram deste lado. O que, no fundo, sempre foi o seu desejo.


E o facto é que são mais os espanhóis do que os portugueses que veriam com bons olhos uma eventual união entre os dois países vizinhos. Quase metade dos espanhóis contra pouco mais de um quarto dos portugueses.

Uma sondagem publicada pela revista espanhola “Tiempo” revela que 45,6 por cento dos espanhóis são favoráveis à fusão. Destes, a maioria (43,4 por cento) defende que o novo país deve ter um velho nome - Espanha – (claro, estão a perceber, não estão), ao passo que 39,4 por cento chamar-lhe-iam Ibéria; e a esmagadora maioria (80 por cento) defende que a capital deve manter-se em Madrid (continuam a ver a coisa?), contra apenas 3,3 por cento que favorecem Lisboa.
Cerca de metade dos inquiridos defende a manutenção do actual regime monárquico espanhol contra 30,2 por cento favorável a uma República. A sondagem revela que o apoio à união entre os dois países é particularmente elevada entre a população mais jovem, dos 18 aos 24 anos, com mais de metade (50,8 por cento) a mostrar-se favorável a essa opção. Como se vê a vontade de unir os dois países teve mais eco do outro lado da fronteira do que por cá, suscitando artigos de opinião na imprensa espanhola e até uma reportagem no telejornal da TVE sobre como as tabuletas comerciais (em português) teriam de ser alteradas (para castelhano), se tal fusão se concretizasse...
Pode ser que um dia os dois países se fundam. Pode ser que sim, mas que seja daqui a muitos, muitos anos. É que tive que aprender a falar e a escrever a língua portuguesa, aprendi o hino nacional, a conhecer a nossa bandeira e a sentir um arrepiozinho na pele quando a via hasteada nos mastros de outros países, senti um orgulho danado quando o Carlos Lopes e a Rosa Mota foram campeões olímpicos, senti um prazer dos diabos em ver que a nossa Expo era muito superior à de Sevilha.

Sempre me senti genuiamente português e republicano e nunca a vontade me puxou para o outro lado da fronteira, a não ser para fazer turismo. Porque é que eu, agora, iria mudar? Por alma de quem?

quinta-feira, outubro 19, 2006

Mais um pequeno aumento

Como ia a conduzir, admito que não tenha ouvido lá muito bem aquela parte da entrevista na TSF, em que o senhor secretário de Estado Adjunto da Indústria e da Inovação declarou que a electricidade para os consumidores domésticos vai aumentar, em 2007, nada mais nada menos que 15,7%. Mas porque tenho quase a certeza que ouvi mesmo falar no aumento de 15,7%, o meu espanto foi tão grande que me levou a fazer uma travagem demasiado brusca e a quase levar em cima com todos os outros automóveis que vinham atrás.

E como se o aumento não fosse, já por si, um autêntico ataque ao consumidor, aquele membro do governo teve o desplante de dizer que a “culpa” do aumento é do consumidor, porque esse malandro esteve vários anos a pagar menos do que devia.

Aliás, na mesma entrevista, o sr. secretário acabou por dizer que, realmente, o aumento é grande mas, como até este ano, a lei impedia uma actualização de preços acima da inflação e isso criou um défice tarifário, a culpa «só pode ser imputado aos consumidores.

O que eu não sabia (dado que a lei não foi alterada e que, por causa disso, a culpa é imputada aos consumidores) é que cabe aos próprios consumidores fazerem aprovar as leis, quer aquelas que impedem a subida dos preços para além da inflação, quer quaisquer outras. Ingenuamente pensava que a elaboração, discussão e aprovação das leis eram da competência do governo ou dos senhores deputados.

Apesar da notícia ter vindo a público pela voz do secretário de Estado Adjunto da Indústria e da Inovação, a mesma notícia causou alguma surpresa dentro do Governo (do mesmo Governo de que o senhor secretário faz parte), que esperava uma subida menor. O próprio ministro da Economia, Manuel Pinho, foi cauteloso e disse apenas que o Governo está a analisar a situação.

E tem que analisá-la muito bem porque, ao que se sabe, este ano, o Ministério da Economia alterou a legislação das tarifas para conter fortes aumentos para as indústrias, em nome da competitividade da economia nacional, mudança essa que, claro está, contribui para a penalização das tarifas domésticas para 2007.

A subida é exagerada por demais e não reflecte o poder de compra das pessoas, sobretudo num momento em que os portugueses atravessam graves dificuldades. E é bom que se saiba que muitos de nós, se nada for alterado, iremos ter que pagar gordas facturas que, em muitos casos, poderão ter um valor superior a 500,00 euros por ano.

quarta-feira, outubro 18, 2006

“Marca Portugal”




Mesmo sabendo que é normal, e até frequente, mudarem-se os nomes às coisas só para que se fique com a sensação de que alguma coisa realmente mudou, tenho que confessar que fiquei com alguma esperança que, desta vez, a alteração do “Made in Portugal” para a “Marca Portugal” viesse a produzir o desejado efeito, algo que se visse de facto.
Afinal, a expressão “Made in ...” é universal, aplica-se a tudo e em todo o lado, enquanto que a “Marca Portugal” é nossa, só nossa e só às coisas que são produzidas – e bem – na nossa terra diz respeito. É como um certificado de garantia, é como uma certificação dos nossos produtos perante os potenciais compradores, quer nacionais, quer, sobretudo, estrangeiros.
Acreditava que a alteração da designação pudesse impor com mais facilidade os nossos produtos, muito embora sabendo que marcas portuguesas tão conhecidas pelo mundo fora como o nosso vinho do Porto, são comercializados despudoradamente por outros países, a começar pelos nossos vizinhos espanhois, com a mesmo nome como se do original se tratasse. Mas, adiante...

Acreditei e acredito que a “Marca Portugal”, ajudada por um logótipo felizmente bem idealizado, possa afirmar no estrangeiro e aos estrangeiros que por cá se produzem coisas com qualidade e em vários domínios.

E por cá, neste rectângulo, como diz em tom depreciativo o desbocado do Alberto João Jardim, neste pequeno rectângulo, digo eu agora, abençoado por um sol magnífico, de areais finíssimos, de peixe fresco e saboroso e povoado de gente acolhedora, como é que os nossos produtos são anunciados nos nossos estabelecimentos aos eventuais compradores, que na sua maioria até são portugueses?

Desde logo, colocando o nome dos produtos que vendem em inglês, e apenas em inglês, e esquecendo completamente que estamos em Portugal, falamos o português e há pessoas portuguesas que poderão estar interessadas em comprar naquelas casas.

Não, os nossos “pequenos empresários” apenas pensaram que aqui em Portugal os pelintras dos nacionais não têm direito a comprar e, por isso, viraram-se para os ingleses.

Isto devia ser proibido. Deveria haver, se é que não há, legislação que obrigasse ao anúncio do que quer que fosse, primeiro na nossa língua e depois em todas as outras línguas que os comerciantes achassem mais conveniente. Mas em primeiríssimo lugar na nossa língua.

Mas admitindo que existe um vazio legislativo nesta matéria, porventura sinal de que os nossos políticos andam muito distraídos, o que gostaria é que os portugueses evitassem a todo o custo este tipo de lojas. Lojas que por não terem respeito por nós, deviam ir à falência. Isso, deixem-nos falir, deixem que a estupidez dos seus proprietários dite o seu próprio fim. Comigo não contam nem que eles estejam a vender os artigos ao preço da uva mijona.

terça-feira, outubro 17, 2006

“Compro o que é nosso”


Sempre detestei os arautos da desgraça, aqueles que nunca vislumbram uma coisa que seja de que nos orgulhemos e que, para além de dizerem que tudo está mal neste país, ainda juram a pés juntos que qualquer tentativa para melhorar esses males, de que tanto mal dizem, está, desde logo, condenada ao mais terrível dos fracassos. Esses profetas do miserabilismo dizem acreditar que em Portugal nada é bem feito, nada presta, nada tem qualidade. Ao contrário do que acontece lá fora, onde a excelência é o dia-a-dia desses países.

Talvez por isso, fiquei muito satisfeito ao saber do entusiasmo do presidente da AEP, Engenheiro Ludgero Marques, ao anunciar uma acção que vai promover durante 2007, campanha que apela ao orgulho de consumir português e cujo desígnio é a valorização da oferta nacional.

Ludgero Marques não se cansa de repetir que as nossas marcas terão que se impor no mercado sem quaisquer favorecimentos mas sim por conseguirem aliar qualidade, serviço e preço.

E esta iniciativa tem tudo – tem quase tudo – para ser um sucesso, tanto mais que, de acordo com vários estudos de mercado já publicados, os consumidores são sensíveis à origem dos produtos e, no caso português, sobretudo sensíveis no caso das frutas e dos legumes.

“Tem quase tudo para dar certo”, disse eu. E porque não tudo?

Tomemos, apenas, como exemplo o caso das frutas. Regra geral, todos reconhecem que as nossas frutas são muito mais saborosas que as congéneres estrangeiras. Veja-se o caso da maçã reineta e da pera rocha. A maçã portuguesa é de longe muito mais saborosa de que a reineta francesa e a pera rocha nacional é considerada a melhor do mundo, a anos-luz de diferença das produzidas em outras partes do globo.

Então, sendo melhores os nossos frutos porque é que ainda há tanta gente a comprar as reinetas e as rochas que nos chegam lá de fora? Apenas, e só, porque embora os frutos venham de longe, paguem taxas aduaneiras e transportes e, naturalmente, ainda tenham que dar algum dinheiro a ganhar a produtores e a intermediários, são colocados no mercado nacional a um preço inferior aos produzidos em Portugal.

Uns cêntimos, um euro de diferença por quilo, dirão. Talvez sim, quando não mais. Mas é essa diferença que faz toda a diferença. As famílias têm dinheiro a menos e mês a mais. Oitenta cêntimos que sejam a mais em cada quilo de maçãs (que serão umas quatro ou cinco, quanto muito) é demasiado dinheiro para quem tem um parco orçamento e é exactamente isso que determina que as pessoas “esqueçam” o sabor delicioso das nossas reinetas para irem comprar as reinetas francesas, que são normalmente grandes e com bom aspecto mas que, não só não têm o mesmo sabor do que as nossas, como são, na maioria das vezes, pintalgadas e farinhentas.

É por este pequeno pormenor que a iniciativa da AEP, apesar de muito louvável, pode vir a ter algumas dificuldades.

Nem sequer podemos censurar as famílias que passam ao lado dos produtos nacionais. O dinheiro não dá para tudo e estou certo que se elas pudessem, bem quereriam, por todas as razões, “comprar o que é nosso”

Ainda que com as reservas apontadas, junto o meu entusiasmo ao do Engº. Ludgero Marques. Espero, no entanto, que para que os nossos entusiasmos perdurem e, porventura, possam vir a contagiar alguns outros, seria bom que se aproveitasse a oportunidade para se eliminar de vez com tantos dos intermediários que existem a mais no sistema, e que prejudicam gravemente produtores e consumidores. Para que não aconteça com as nossas frutas o mesmo que se passa com a sardinha que chega à nossa mesa 7 vezes mais cara do que pagaram ao pescador.

Assim, sim, se conseguirmos isso, poderemos dizer com orgulho que consumimos português e que “compramos o que é nosso”.

quinta-feira, outubro 12, 2006

Para que não restassem dúvidas




Embora, porventura, conhecessem a expressão popular “Palavras para quê?...” (empregada precisa-se já diz tudo, não é?), os proprietários de uma restaurante de Vila do Bispo, no Algarve, quiseram que o anúncio que colocaram numa das montras do estabelecimento, fosse claro, inequívoco, esclarecedor e que não deixasse qualquer dúvida a quem o lê-se.

E dá para perceber que o que eles queriam mesmo, era uma empregada, mas uma empregada para trabalhar ...

quarta-feira, outubro 11, 2006

Rotundas

Já que ontem vos falei de rotundas, ainda que a propósito dos piscas-piscas, não quis, hoje, deixar de lhes dar conta de uma rotunda muito especial. Acreditem que escrever em dois dias consecutivos sobre rotundas, não se trata de pura falta de imaginação, mas é capaz de ser pelo menos redundante.

Agora a sério, enquanto que ontem a rotunda foi abordada pelo lado mais prosaico da questão, ou seja, da circulação automóvel, hoje gostaria que observassem a rotunda pelo lado mais belo, o da arte.

É difícil estar-se continuamente a inventar. O génio e o poder criativo não caem dos céus a toda a hora e, por isso, seria uma tremenda parvoíce exigir-se que os criativos apareçam constantemente com novas ideias, cada uma mais surpreendente do que a anterior.

Relativamente ao Algarve, este ano também não foram descobertas novas praias, não se fizeram novas estradas, não houve progressos significativos no saneamento básico nem a capacidade de abastecimento de água. Mas, como todos os anos, apareceram novos aldeamentos, novas urbanizações e novas construções que, esgotadas as vistas de mar e de serra, se voltaram, agora, para as “vistas de rotundas”, para essas rotundas que não param de crescer um pouco por toda a parte.

Mas já que falamos de rotundas, não posso deixar de referir que a minha preferida é, sem dúvida, a que está “plantada” ali perto do aeroporto de Faro e que fugiu ao embelezamento standertizado das rotundas nacionais, aos pedregulhos a monte, aos ferros forjados e enferrujados, aos ajardinados, às estátuas alusivas a qualquer coisa e ao amontoado sem nexo de ervas daninhas que crescem livremente à espera de melhores dias ou de melhores autarcas.

Ali, na rotunda mesmo em frente ao aeroporto de Faro, pode-se admirar a arte de quem tão bem soube captar o gesto banal, o ritual comum de quem tem um aeroporto por perto. Com ironia, vêmo-nos retratados a olhar para os céus em busca de um avião que está a chegar ou que vai a partir. É um fantástico conjunto de estátuas que nos leva a sorrir e que nos faz pensar como uma rotunda pode ser tão atraente quando, para além da sua função específica, foi imaginada com arte, ainda por cima, simples, directa, sugestiva, com graça e ao ar livre.

terça-feira, outubro 10, 2006

Os “Piscas-piscas”

Aquilo que hoje me trouxe até vós, obviamente que nada tem a ver directamente convosco, a não ser que, vocês meus amigos, também façam parte do enormíssimo número de pessoas que se esquecem que, desde há uns anos, os carros estão equipados com umas peças que são conhecidas por “piscas”, ou por “piscas-piscas”, e que servem para indicar quando os carros vão mudar de direcção.

Talvez seja melhor explicar que os “piscas-piscas são instrumentos de navegação, melhor dizendo, são acessórios de sinalização que existem nos veículos motorizados e que, por meio de uma luz que acende e apaga intermitentemente, à frente, dos lados e na rectaguarda dos mesmos veículos, servem – pasmem-se vocês com esta novíssima tecnologia – para indicar aos outros condutores se e quando vamos mudar de direcção ou se e quando vamos seguir em determinado sentido.

A verdade é que em Portugal, embora se conheça o princípio, não é muito comum utilizarem-se os piscas quando se faz uma manobra de ultrapassagem ou quando, ela terminada, voltamos a ocupar a via da direita. Isto, quando não se ultrapassa pela própria direita, o que é ainda pior.

Mas se não temos o hábito de o utilizar nas estradas, ainda menos cuidado temos de o fazer nas rotundas que, como se sabe, nascem como cogumelos por esse país fora. Acho mesmo que os condutores ao contornarem uma rotunda, querem mostrar claramente aos outros condutores que eles não têm nada que saber se vão virar na próxima saída à direita, ou na segunda, ou na outra a seguir, ou se muito simplesmente querem andar umas quantas voltas à volta da rotunda até as respectivas sogras ficarem com uma valente dor de cabeça.

Penso que para certos condutores o pisca-pisca ainda constitui um mistério algo longíquo e que, muito provavelmente, a palavra “pisca” só lhes lembrará uma certa musiquinha pimba, intitulada precisamente “Pisca-Pisca” e que era cantada por uma tal Rute Marlene. Ou então, para esses condutores, o pisca-pisca não passa de um simples tique de olhos, daqueles que tantas vezes se utilizavam nos longíquos anos sessentas do século passado, de forma mais ou menos sedutora, em tentativas esforçadas e quantas vezes frustadas, de mais uma conquista.

segunda-feira, outubro 09, 2006

A propósito do fecho de algumas urgências hospitalares

O caso parece que não está ainda completamente decidido – é o que dizem - mas, ao que parece vão fechar em todo o país umas quantas urgências hospitalares. Oficialmente, pelo menos, o povo não sabe que a coisa já está cozinhada mas, porque não é tolo de todo, suspeita, no entanto, que tudo está já resolvido e, sabe ainda, que em muitos casos, quando alguém estiver mesmo aflito vai ter que percorrer uma quantidade enorme de quilómetros, isto se houver ambulâncias preparadas para tal, com médicos e pessoal de enfermagem devidamente habilitados e se a doença estiver na disposição de fazer uma viagem demorada e não decidir que o paciente vai ter mesmo que morrer antes de chegar ao “hospital a sério”.

Dizem, quem diz perceber disto, que o fim destes serviços hospitalares, à semelhança, aliás, do que também está a acontecer com as maternidades, é motivado pela demografia e acessibilidades da população. Pode ser que sim mas, para mim, tudo isso parecem-se ser umas tretas mal contadas e acredito que o que está na base de tudo isto são questões meramente economicistas e nada mais.

Estou a pensar naquela gente de idade já avançada, cheia de achaques e de doenças crónicas, cujo o alívio, físico e psíquico, é muitas vezes conseguido pela ida ao centro de saúde que têm ali mesmo à mão de semear, na sua própria terra. A obrigatoriedade de ser deslocados para um outro centro – mais longe, com médicos, enfermeiros e pessoal auxiliar com que não estão familiarizados - provoca-lhes, no mínimo, insegurança, porque não sabem sequer se vão ser tratados mais rapidamente e com melhores condições técnicas e humanas. Isto, claro está, para além da incomodidade da deslocação e da incerteza de conseguirem chegar, ainda com vida, ao novo centro.

Ainda se o governo explicasse o que motiva tão radical alteração, estou convencido que algumas pessoas talvez aceitassem essas razões. Poderia dizer, por exemplo, ainda que pudesse não corresponder à realidade, que o seu centro de saúde vai fechar porque os doentes vão ter ao seu dispor, embora um pouco mais longe, melhores meios de diagnóstico, médicos e enfermeiros mais preparados e instalações que permitem um internamento precário, se necessário. O governo devia explicar, por forma a que todos percebessemos e ficássemos convencidos, que tudo tinha sido pensado numa perspectiva de dar uma melhor qualidade de assistência à população.

Mas não, os motivos adiantados pelo governo não foram claros, pelo que paira sobre nós a terrível e cruel dúvida sobre o nosso destino. É que, por má sorte, pode acontecer, irmos cair nas mãos de “um mau médico” como aquele a quem Bocage dedicou estes versos:

Doutor, até do hospital
Te sacode enfermo bando.
Qual será disto a causal?
É porque, em tu receitando,
Qualquer doença é mortal.

quinta-feira, outubro 05, 2006

O exemplo que vem de cima

O próximo Orçamento Geral do Estado para 2007, prevê uma redução de 30 por cento do salário do primeiro-ministro, dos ministros, dos secretários e dos subsecretários de Estado, como medida para aumentar as receitas nos cofres públicos.

No próximo ano, o primeiro-ministro será um dos principais afectados pela política de cortes introduzida na lei do Orçamento, que deverá ser aprovada pelo Parlamento, com o objectivo de diminuir o défice do país.

Calma, calma, não se excitem, estas medidas são para aplicar sim, mas em Itália.

terça-feira, outubro 03, 2006

A Casa das ...

Porque se sabe que “a língua portuguesa é muito traiçoeira”, existem assuntos sobre os quais não é fácil escrever porque as palavras - porque são traiçoeiras - podem sugerir outras intenções que os autores não pretendem transmitir.

Hesitei, pois, em escrever este texto, tanto mais que nem podia chamar a atenção dos leitores com o círculo vermelho que normalmente se coloca no canto superior direito dos ecrãs de televisão, quando os filmes contêm palavras ou cenas que possam ferir a susceptibilidade dos espectadores.

Afastada, então, a hipótese de prevenir os leitores, restou-me avaliar se aquilo que eu queria contar-vos poderia, ou não, ser menos próprio. Decidi, no entanto, que ia mesmo escrever porque, ao fim e ao cabo, trata-se apenas, e só, de uma questão de cultura e nada mais.

No último fim-de-semana metemo-nos à estrada, melhor dizendo às estradas que passam por dentro das terras, aquelas que normalmente mal conhecemos ou só conhecemos de nome porque as auto-estradas lhes passam ao largo. Sem destino definido, como outrora gostávamos de fazer, o único objectivo era o de andar, andar sempre e metermo-nos por caminhos que nos mostrassem algo de novo.

Quando demos por nós, que é como quem diz, quando os estômagos começaram a dar sinal, estávamos em Almeirim, terra do bom melão e da famosa sopa da pedra, pelo que fomos ao encontro da dita e de outros petiscos da região.

Depois do almoço andámos um bocado a pé, à descoberta da terra. De repente, ao olhar para uma loja vimos que o seu nome era “A Casa das Caralhotas”. Assim mesmo, sem tirar nem pôr e com todas as letras. A Casa da quê?, perguntámo-nos, rindo que nem perdidos.
Pois a nossa curiosidade levou-nos a saber porque é que aquela era a “A Casa das Caralhotas”, e o que eram (o que são) as caralhotas.

Para quem não sabe, a caralhota de Almeirim, é um pão caseiro, idêntico à merendeira, muito guloso e saboroso e é sempre óptimo, quer comido com um pouco de manteiga ou quando acompanha a sopa de pedra ou uma bifana.

O nome desta iguaria, (feito(a) com farinha inteira, fermento, água e sal, amassado à mão e cozido em fornos de lenha) vem de tempos passados, “culpa” da tradição popular. Antigamente, em Almerim, os populares chamavam caralhotas aos borbotos da lã. Nessa altura, em quase todas as casas existia um forno e cozia-se o pão. Quando se tirava a massa, para depois ir para o forno, no fundo do alguidar ficavam bocadinhos de massa, idênticos a borbotos de lã. A essas pequenas bolas, os populares chamavam caralhotas. Daí vem o nome actual do pão que se pode saborear nos restaurantes de Almeirim. Eu asseguro-vos que é uma delícia, pelo que sugiro que os provem mesmo. De certeza que não vão arrepender-se.

Quanto a nós, forasteiros, retivemos o sabor de um pão delicioso mas também, e naturalmente, o nome engraçado e pitoresco, que chega a ser malicioso, sobretudo quando ouvimos mães de família fazerem - com toda a naturalidade - o pedido "guarde-me meia-dúzia de caralhotas para a tarde”...

domingo, outubro 01, 2006

Lombinhos


Eu sei que estou um pouco atrasado para responder ao comentário que a Maria fez em 20 de Setembro, ao meu texto sobre “Sardinhadas”. Mas, inadiáveis problemas de agenda (saí-me bem com esta, não foi?) determinaram este desfasamento temporal. Por isso, e com as devidas desculpas, aqui estou hoje a falar sobre lombos e lombinhos.

Aliás, eu não tinha qualquer ideia em abordar a problemática dos bifes do lombo, ainda que eles sejam, de facto, muito macios e saborosos. Mas quem manda é o cliente, como se costuma dizer, e se a Maria declarou que não gosta mesmo de sardinhas e dos seus lombinhos escamados, não me resta outra alternativa do que alombar, que é como quem diz numa linguagem mais pebleia, meter as mãos ao assunto. Dobremos então o lombo sob o peso imenso das palavras ...

Segundo o dicionário, “lombo” vem do latim “lumbu”, e é um substantivo masculino que significa costas, dorso, parte carnuda pegada aos lados da espinha dorsal, lombada e lomba.
Deixando de lado as costas e os dorsos, que nos poderiam levar bastante mais longe e, igualmente as lombadas (as dos livros) e as lombas (as das estradas), debrucemo-nos então sobre a parte carnuda pegada aos lados da espinha dorsal, que daria para falarmos novamente (se quisessemos e não queremos) nas sardinhas, nas cavalas e noutros animais de belos dorsos queimados pelo sol.

A Maria tem razão. Os lombinhos, os bifinhos do lombo, sejam eles de porco ou de novilho são excelentes. Para já, são muito mais tenros que qualquer outra parte da carne e, depois, são suculentos e saborosos, sobretudo se bem temperados com determinadas ervas aromáticas e acompanhadas de alguns molhos apropriados. Mas, por favor, não com aquelas molhangas que em certas cervejarias cobrem por completo o naco de carne, naco esse que só é localizado pelo ovo estrelado que por ali navega. Esses não, esses enjoam-me e, francamento, não sou lá grande apreciador. Quando muito as francesinhas (continuo a falar de bifes, é claro).

E porque estamos só a falar de gostos, deixamos para outro dia os aspectos relacionados com os valores nutricionais do bife, aquelas coisas que dão pelo nome de proteínas, gorduras, vitaminas, sais minerais, calorias e outras coisas mais, aquelas que, a maior parte das vezes, nos fazem dizer que “esquece-se o mal que fazem pelo bem que sabem”.

Ah, falta a cerveja e as batatas fritas para acompanhar, e, para quem queira ficar mais sobrecarregado do fígado e do colesterol, um ovinho bem a cavalo no bife é bem-vindo.

Bem vamos a isto, que são horas da ceia e o apetite já aperta. Adivinhem o que vou comer ... empadão de carne, mas de carne do lombo, naturalmente...