domingo, janeiro 07, 2007

Portugal vale a pena


Nada melhor para começar um novo ano do que dar lugar – e com um certo destaque - a uma boa dose de optimismo (pelo menos ao optimismo possível) e esquecer, por uns momentos que seja, as enormes dificuldades que todos nós vamos sentindo. Sabemos que o dia-a-dia não é nada fácil e que o garrote fiscal e o aumento das taxas de juro apertam cada vez mais, deixando sufocadas a maioria das famílias portuguesas.

Contudo, e apesar de tudo, peço-vos que tentemos esquecer a montanha de problemas que se abatem sobre os nossos ombros e vamos pensar positivo nem que seja só pelo dia de hoje.

Aliás, e se repararem bem, nem tudo é mau neste nosso país e ainda há muita coisa capaz de nos deixar orgulhosos. Em suma, continuamos a acreditar nas potencialidades do país e dos portugueses e de que Portugal vale a pena.

Desde há muito que se discute a questão da falta de produtividade das nossas empresas e, consequentemente, de quem é a culpa, se do modelo de organização das empresas se da falta de empenho e de preparação dos trabalhadores.
Nós próprios, já abordámos este assunto por diversas vezes neste espaço e opinei, então, que o baixo nível de produtividade deve-se, sobretudo, ao fraco nível de planeamento e organização das empresas e à sua insuficiente gestão operacional. Mas deve-se, também, à falta de liderança e de supervisão e aos sistemas de controlo que, muitas vezes, são desadequados. Haverá também, certamente, alguma falta de motivação dos nossos trabalhadores mas a realidade é que os conhecidos casos de sucesso de pequenas e médias empresas vão-se alastrando e a nossa conhecida postura de cepticismo vai-se dissipando, a pouco e pouco e acreditando que o nosso país tem condições para produzir mais e melhor e tornar-se credível por esse mundo fora.
Aliás, em artigos publicados em vários jornais e revistas, o conhecido economista Nicolau Santos lembrava alguns desses sucessos que nos deviam deixar orgulhosos. Vejam só:
- Portugal tem uma das mais baixas taxas de mortalidade de recém-nascidos do mundo, melhor que a média da União Europeia.
- Quando necessitam de “software” de gestão ferroviário, o metro de Londres e os caminhos-de-ferro da Holanda, Noruega, Finlândia e Dinamarca, procuram empresas portuguesas;
- Em situações críticas dos respectivos sistemas, a Nasa e a Agência Espacial recorrem frequentamente à tecnologia portuguesa;
- Empresas como a Sansonite, a Nokia, a Mercedes Benz e a Porches procuram o “design” e a engenharia da indústria portuguesa de moldes;
- Há 26 milhóes de americanos que dormem em lençois portugueses;
- Portugal lidera as exportações europeias de têxteis-lar e é o terceiro maior exportador do mundo;
- Criamos e exportamos para vários países, fatos inteligentes para bombeiros, que retardam a acção do fogo ou que são anti-bactérias, ou que desenvolvem propriedades terapêuticas e hidratantes;
- Portugal lidera a tecnologia do calçado e é o terceiro exportador europeu. Noventa milhões de pessoas em todo o mundo calçam sapatos portugueses;
- Foram técnicos portugueses que inventaram e desenvolveram os cartões pré-pagos para telemóveis;
- O nosso país lidera a oferta de tecnologia para “call centers”;
- Somos o país onde tem sede uma empresa que é líder mundial de tecnologia de transformadores;
- Somos também o país que é líder mundial na produção de feltros para chapéus. Robert De Niro, por exemplo, usa chapéus portugueses;
- Na criação e gestão de centros comerciais também somos o líder europeu.

A lista de sucessos é tão exaustiva que temo maçar-vos com tantas áreas em que as nossas empresas são realmente boas a nível europeu e mundial. Mas porque estamos habituados a sermos um povo demasiado deprimido, porque estatisticamente temos sempre os piores indicadores da Europa em todas as áreas, porque nos queixamos que vivemos num país que não acompanha o progresso e que em cada ano se atrasa mais em relação à Europa, ainda lhes quero dar conta de mais umas quantas actividades em que somos igualmente bons.

Dominamos 75% do mercado mundial de identificação pessoal; temos empresas que estão classificadas entre dos dez maiores grupos mundiais de louças de porcelana; estamos na primeira linha dos países que trabalham no campo da saúde, quer na luta contra doenças para as quais não se conhece ainda a cura, quer na preservação de células estaminais para a medicina regenerativa; temos dos melhores vinhos mundiais; temos uma máquina de emissão de passaportes electrónicos única no mundo, que lê nove pontos da pessoa em 90 segundos, tira a foto em positivo e até acerta pormenores como o desvio do olhar; personalidades mundiais vestem-se e calçam-se com produtos feitos em Portugal; inventamos jogos para telemóveis e vendemo-los para mais de meia centena de mercados; inventámos um sistema biométrico de pagamentos nas bombas de gasolina e uma bilha de gás muito leve que já ganhou vários prémios internacionais; temos um dos melhores sistemas de Multibanco a nível mundial, onde se fazem operações que não é possível fazer na Alemanha ou na Inglaterra; estamos avançadíssimos na investigação da produção de energia através das ondas do mar; temos uma empresa que analisa o ADN de plantas e animais e envia os resultados para os clientes de toda a Europa por via informática.
Para terminar, recordar-lhes, ainda, que inventámos e desenvolvemos um sistema muito cómodo de passar nas portagens das auto-estradas, que vamos lançar um medicamento anti-epiléptico no mercado mundial, que somos líder mundial na produção de rolhas de cortiça e que se está a construir ou já construiu um conjunto de projectos hoteleiros de excelente qualidade um pouco por todo o mundo.

Então, o que me dizem? Para um país, onde nós portugueses, andamos a queixarmo-no de tudo e de todos, que temos medo dos chineses e dos espanhois, que tememos que possamos desaparecer do mapa, o panorama não parece ser tão mau como isso.
Tanto mais que, tudo o que leu acima, foi feito por empresas fundadas por portugueses, desenvolvidas por portugueses, dirigidas por portugueses, com sede em Portugal, que funcionam com técnicos e trabalhadores portugueses.
Já para não falar nas grandes empresas multinacionais instaladas no País, mas dirigidas por portugueses, trabalhando com técnicos portugueses, que há anos e anos obtêm grande sucesso junto das casas mãe, nos países de origem.

Está na altura de olharmos para o que de muito bom temos feito, e não só no que diz respeito à actividade futebolística, de nos orgulharmos com isso e de nos sentirmos motivados para novas iniciativas de sucesso. De, enfim, mostrar ao mundo que somos um país moderno, líderes de uma série de actividades vencedoras, de bons trabalhadores e não, como é hábito, de exibir o que não corre bem, acompanhado, invariavelmente, por fotografias de um povo envelhecido, triste e incapaz.

Para os portugueses, 2006 foi um ano duro e 2007 não o será menos. Vamos continuar a sentir imensas dificuldades por mais alguns anos, seguramente. Mas acredito que com exemplos de sucesso como aqueles que referimos, e outros que se seguirão, Portugal e os portugueses poderão ter um porvir mais risonho num futuro não muito distante.
Esta a mensagem de optimismo que vos quiz expressar, neste começo do novo ano de 2007. E se, mesmo assim, não conseguirem ter uma atitude optimista, então, pelo menos, e como disse, nem que seja só pelo dia de hoje, vejam se conseguem ser, ao menos “optimistas cépticos”, como diz a canção.

6 comentários:

demascarenhas disse...

Como perceberam, eu não quis escrever "quiz", mas ele há coisas que acontecem que nem sempre se conseguem evitar. As minhas desculpas!

Anónimo disse...

Que nem de propósito...
No Expresso de sábado, Nicolau Santos voltava ao ataque e escrevia sob o título Arregaçar as mangas e vamos a isto!



Há quatro anos era praticamente inexistente em Portugal um Registo Nacional de Dadores de Medula Óssea, Estaminais ou de Sangue do Cordão, indispensável no combate às doenças leucémicas, já que uma parte importante do processo de cura passa pelo transplante da medula óssea e é a única forma de poder garantir a doação da medula a quem não tem um irmão compatível.

Há quatro anos havia em Portugal menos de 2.000 dadores inscritos nos Centros de Histocompatibilidade e um registo considerado relevante para uma pesquisa eficaz de dador não relacionado familiarmente deveria ser da ordem dos 50.000.

Estas são as más notícias, de tão habituais que já cansam. As boas é que, em quatro anos, este número não só foi atingido como está em vias de ser ultrapassado; e Portugal, que era o país da União Europeia com menor Registo de Dadores, passou para a terceira posição, apenas atrás da Grã-Bretanha e Alemanha e poderá ser, no final de 2007, o primeiro.

Como foi possível? Pela conjugação de esforços da Associação Portuguesa contra a Leucemia, o CEDACE e algumas associações de dadores de sangue, mas sobretudo pela vontade impulsionadora de Duarte Lima, tendo a ideia nascido precisamente quando esteve doente no IPO.

Serve mais este exemplo (a par de sermos um dos três países da União Europeia com mais baixa taxa de mortalidade de recém-nascidos) para mostrar que 1) a vontade move montanhas; 2) a sociedade civil pode fazer pelo país muito do que o Estado se mostra incapaz de fazer; 3) que, quando queremos, somos tão bons como os melhores.

Daqui se retira que não estamos condenados a ser o último e mais desgraçado país da UE, ultrapassado por tudo quanto seja novo membro. Nos últimos seis anos, as empresas portuguesas mudaram o perfil das exportações (as máquinas e aparelhos eléctricos passaram para o primeiro lugar, com quase o dobro dos têxteis que travaram em 2006 as quebras nas vendas ao exterior); reforçaram as quotas no mercado espanhol, "redescobriram" os Estados Unidos e Angola e entraram no mercado chinês. Nasceram novas empresas nas tecnologias de informação, nas telecomunicações, nos serviços financeiros. Mudou a segurança social, está a mudar a administração pública. E a economia cresceu o dobro do previsto.

Fazer de 2007 um grande ano depende de nós. Há que arregaçar as mangas — e vamos a isto!

BOAS PRÁTICAS

Uma empresa portuguesa ganhou um concurso para o fornecimento de contadores monofásicos de energia para a EDP. Por que é isto relevante? Primeiro: trata-se de uma pequena empresa, que concorria com multinacionais. Segundo: o contador foi desenvolvido por técnicos portugueses e já tinha sido certificado por um período de vida de 20 anos pelo regulador inglês para aquele mercado. Terceiro: era um concurso decisivo para a sobrevivência da Janz. Quarto: ao vencê-lo, a Janz torna-se o maior fornecedor ibérico de contadores de energia.

Bom, por uma vez, a história acabou bem. A EDP acabou por escolher como fornecedor uma PME nacional, porque esta tem um excelente produto, boa assistência e um preço competitivo.

Nem sempre acontece...

É este modelo que tem de ser interiorizado pelos empresários e gestores. Em condições semelhantes, faz todo o sentido dar preferência aos produtos e serviços de empresas nacionais, porque não é só isso que se contrata, mas também emprego e bem estar para o país. É algo que em Espanha não é preciso ensinar...

E por falar em boas práticas, assinale-se o caso da ES Venture, capital de risco do GES. Agora tomou uma participação na Chipidea, o que permitirá a esta consolidar a liderança mundial no mercado de circuitos analógicos e sinal misto. Já o tinha feito em relação à YDreams e a outras empresas das novas tecnologias. É uma aposta no futuro. E é o papel do capital de risco.

Porcos no Espaço disse...

...Ah, e temos a maior árvore de Natal de toda a Via Láctea!

Porcos no Espaço disse...

E destronámos o Manchester United na lista de clubes com mais adeptos no mundo.

Porcos no Espaço disse...

Agora a sério, Portugal tem um problema de confiança com contornos algo semelhantes à anorexia: a jovem anorética olha-se ao espelho e vê gordura, que não existe a não ser na sua cabeça. O povo vê um país fraco, quando na realidade não é exactamente assim.

Isto cria um descrédito difícil de combater.

Toda a gente sabe que não é a falta de saber, nem de vontade, que nos atrasa. É a nossa mentalidade pequena e rasteira, sempre com aquele medo permanente de olhar para a frente com garra e optimismo.

Sentimo-nos bem na nossa melancolia. Mas também isso está a mudar.

Espero.

Anónimo disse...

Com tanta coisa boa que temos e nos acontece, é natural que tenhas esquecido dois grandes nomes portugueses, ambos Nobel de Literatura. Um, o José Saramago, que já o ganhou, outro, a Carolina Salgado que já deve estar nomeada para ganhar o galardão máximo. Pois se essa grande escritora já é top de vendas no nosso país.