segunda-feira, fevereiro 12, 2007

A abstenção


Devo confessar que as altas taxas de abstenção que se têm verificado em todas as votações e referendos me preocupam seriamente. E se, porventura, não vão aumentando, também não se sente que vão diminuindo significativamente, o que, convenhamos, não é nada animador.


É claro que depois de em 1998, no primeiro “referendo ao aborto”, como ficou a ser conhecido, a abstenção ter atingido o elevado número de 68,11 %, esperava eu que nove anos depois, com mais elevação nos argumentos utilizados nas campanhas pelos diversos movimentos, com maiores e mais actualizados conhecimentos médicos e com uma expectável subida da maturidade de quem defende o sim e o não, esperava eu, dizia, que as pessoas corressem a manifestar a sua opinião e, desta forma, dessem um sinal de que esta coisa da democracia tem muito a ver com a nossa participação e com o nosso empenho naquilo que a todos interessa, e que não ficassem tão somente, pela menor, embora importante, participação nas votações de quem nos vai governar.

Esperava, mas enganei-me. Em 2007, mais de 30 anos depois de nos terem devolvido a liberdade, não sabemos o que fazer com ela e continuamos a esquecer que a liberdade pressupõe responsabilidade e que o voto, embora não obrigatório, constitui uma das expressões em que podemos manifestar a nossa vontade, independentemente do que estiver em causa. E vai daí, em 2007, neste 2º. Referendo contra a interrupção voluntária da gravidez, realizado quase nove anos depois de primeiro, ainda por cima em matéria tão importante como a que estava em causa, continuamos a pautar a nossa participação com uma elevadíssima abstenção que, desta vez, se situou em 56,39%. Ainda assim menor que em 1998 mas, de qualquer forma, uma abstenção demasiada alta.



Mas, meus amigos, se julgam que era da abstenção de ontem que eu vos queria falar, estão redondamente enganados. Hoje, tinha vontade de vos falar de um outro tipo de abstenção, da renúncia em participarem no encontro quase diário que fazemos aqui neste nosso blogue.

Eu sei que são muitos os que lêem estes meus desabafos, estas minhas “revoltas” e estas minhas histórias, mas seria óptimo que todos participássemos um pouco mais para que, desta interacção, pudessem resultar momentos mais agradáveis e, eventualmente, susceptíveis de criarem espaços de discussão criativa.

Não chega apenas ler o blogue, como não chega apenas na política, votar nas legislativas ou nas presidenciais. É necessário um pouco mais de interesse, muito mais participação e um enorme empenhamento.

E, deixem-me divagar, como seria bom que, aqui no “Por Linhas Tortas”, vocês pudessem aparecer de vez em quando, a comentar os textos que vão sendo publicados. Sem qualquer tipo de obrigação e sem esforço, mas tão-somente porque todos queremos participar e comunicar.

Abaixo a abstenção!

6 comentários:

Anónimo disse...

Tens toda a razão no que respeita à nossa pouca participação. No meu caso, mea culpa, sou tão distraída que quando vou fazer um comentário qualquer, às vezes já passaram um ou dois dias e já me lembro do que ia dizer.

Ainda ontem, quando fui votar nas eleições, com a minha distracção e as minhas hesitações, acabei por votar nos dois partidos ...

Anónimo disse...

Oh paízinho mais miserável, não merece a liberdade que tem. As pessoas preferem encolher os ombros e olhar para o próprio umbigo em vez de se interessarem e envolverem na realidade social da qual fazem parte. E, desaproveitando a oportunidade de manifestarem as suas vontades, optam por passar o resto do tempo a reclamar para o ar.

Decididamente, ainda estamos uns bons furos atrás de uma sociedade democrática minimamente aceitável.



Quanto à participação no teu blog, da minha parte tenho feito os possíveis. Nem sempre temos coisas suficientemente pertinentes a dizer, outras vezes trata-se, pura e simplesmente, da boa velha preguiça.

Considera esta recente abstenção de comentários um descanso após um post com 20 e tal respostas. Não é todos os dias, e não é para toda a gente. A maioria dos blogueiros (pelo menos os comuns mortais) queixa-se da mesma falta de participação. Talvez parte da natureza da blogosfera: é para ser lido e pouco mais. O ritmo que levamos hoje dita que o compromisso com os blogs se centre no principal, que é ler.


Mas podes sempre ter um blog com vídeos estúpidos e fotos de gajas em bikini.

Anónimo disse...

E porque não, começares a mostrar gajas nuas?

Anónimo disse...

A preguiça não justifica tudo.

Admito que possa haver alguma desculpa por não participarmos activamente num blog, mas é perfeitamente inadmissível quando se trata de coisas que se situam num outro patamar, com situações que têm a ver com a decisão dos problemas que nos afectam a todos.

E, como agora se costuma dizer, a Sociedade Civil, nós portanto, não devemos assobiar para o alto e fingir que, afinal, nada daquilo nos diz respeito.

Como diz o demascarenhas, temos que nos empenhar mais em ajudar (ao nosso nível, já se vê), a construir uma sociedade mais justa e mais igualitária.

Mas também não devemos ter preguiça em participar e em animar determinados temas que nos são propostos pelo blog, que nos podem ajudar a reflectir e, porventura, que nos alertam para situações para as quais não estávamos suficientemente despertos.

Anónimo disse...

Sou um dos que (anonimamente embora) por aqui passam diariamente a procurar uma semelhança (ou diferença) com os meus próprios conceitos sobre os assuntos do dia a dia que tão bem comenta.
Como as mais das vezes são as primeiras e raras as segundas, quedo-me calado. Este egoísmo é, reconheço-o, muito típico do português que só sabe chorar sobre o leite derramado mas nada faz para ajudar a limpar os estragos.
Para que a vontade não falte e o tenhamos aí fresco e motivado todos os dias, aqui fica esta mensagem de incentivo e de palmadinha nas costas.

Anónimo disse...

Ora bem... temos então dois temas num.
Relativamente ao primeiro, concordo com o que aqui foi escrito e comentado. De cada vez que há eleições chego à triste conclusão que grande parte das pessoas não merece a liberdade que hoje temos para expressar a nossa opinião e ter o nosso papel nos destinos do país. Já que não podemos intervir em muito mais, pelo menos que o façamos quando nos perguntam. Mas não. Muita gente insiste em reclamar, mas na hora de votar há coisas mais interessantes para fazer. Ainda mais num tema como este. Mas consolou-me o resultado apurado pelos que votaram.

Quanto ao segundo tema, não posso atirar pedras pois sou uma das pessoas que acompanha este blog quase diariamente, mas que pouco participa. O autor não merece... prometo, ao autor, que vou tentar aumentar a minha participação.