domingo, fevereiro 18, 2007

"Nada muda se eu não mudar"


Há duas semanas convidaram-me para assistir a uma palestra sobre auto-motivação, ou motivacional, como queiram designar, proferida por alguém de quem eu, confesso a minha ignorância, nunca tinha ouvido falar, Leila Navarro.

Vim a saber depois que Leila Navarro é uma das mais conceituadas oradoras do Brasil, eleita por três vezes para o prémio “Top of Mind” pelos profissionais de recursos humanos do seu país.

Quando entrei para o auditório do Centro de Congressos de Lisboa, onde estavam largas centenas de pessoas, pensava ir assistir a “mais um daqueles monólogos chatos” conduzidos, normalmente, por especialistas que mais não fazem do que debitar toda uma série de conceitos que se prolongam durante horas e horas e fazem com que a assistência - mais ou menos sonolenta - não necessite sequer de, à noite, ter que tomar mais um comprimido para dormir.

Enganei-me completamente. Leila é brasileira, tem aquele jeito alegre e descontraído de que nós tanto gostamos nos brasileiros e é a oradora menos formal, menos “low profile” que imaginar se possa.

Leila é exuberante, frenética, esfuziante e assistir a uma das suas palestras é, no mínimo, uma experiência estonteante que nos deixa a pensar durante umas horas. Num ritmo acelerado, consegue ir intercalando histórias pessoais com assuntos que apelam ao melhor que temos em nós e que, por alguma razão, mantemos adormecido. E para isso, vai repetindo, recorrentemente, que “nada acontece por acaso” e que "nada muda se eu não mudar".

Pelo meio, cria uma interacção viva com a plateia, através de jogos que nos “empurram” para temas como a inclusão e a solidariedade, vai contando divertidíssimas histórias que põem toda a assistência a rir, mas histórias que vão, mais adiante, fazer realçar novos apelos para a nossa motivação, para a nossa entrega e para a necessidade de querermos mesmo ser felizes na profissão e, sobretudo na vida.


No tecto do seu quarto, Leila diz ter escrito em letras garrafais a frase: “Hoje tomei uma decisão, vou ser feliz assim mesmo”. “É a primeira coisa que vejo quando abro os olhos”, confessa. “E, no espelho do meu banheiro, escrevi outra frase que é: “Olá poderosa, você é a mulher que eu quero ser”, conta, divertida, durante a palestra.

“Nós nascemos para ser felizes. Mas para isso é preciso ter objectivos, sonhos, metas e participar na vida”, acrescenta.


Claro que estas mensagens são muito importantes, nomeadamente para os mais jovens. Mas mesmo para os que já têm alguns anos, e já conhecem os conceitos e as teorias avançadas por Leila daquela forma tão engraçada, mesmo para esses, essas fórmulas podem ser o tal empurrão que muitas vezes falta aos mais desmotivados que necessitam que haja uma reviravolta na sua vida...

Uma frase que se ouviu algumas vezes naquele auditório foi

É urgente retirar de vez das nossas cabeças aquilo que há séculos nos vêem ensinando "errar é humano" quando, o que deveríamos interiorizar, é "acertar é humano".


Quando se faz uma primeira avaliação à palestra e à postura em palco de Leila Navarro, poder-se-á ter a tentação de considerar que tivemos a assistir a um espectáculo de uma comediante muito engraçada e de múltiplos talentos. Contudo, só talvez à primeira avaliação.

Mas, quando reflectimos um pouco mais no que vimos e ouvimos durante quase duas horas, não podemos deixar de reconhecer que de uma forma leve, simpática e alegre, foram ali ditas coisas muito importantes que nos poderão ajudar, e muito, na nossa vida profissional e pessoal. E daí que Leila seja convidada frequentemente para fazer palestras em muitas empresas, dentro e fora do Brasil.


Penso que para nós portugueses, que continuamos a ser um povo meio acinzentado e triste, que sentimos demasiadas vezes que “andamos mais ou menos”, ou que, no máximo “vamos andando”, é necessário que, de vez em quando, apareça alguém a recordar que estamos vivos e que nos puxe pela nossa auto-estima, pelo nosso brio, que, tantas e tantas vezes, anda muito lá por baixo.




3 comentários:

Anónimo disse...

E tu, oh demascarenhas, terias coragem, como fez a tua palestrante, para escrever no tecto do teu quarto uma frase do tipo "Hoje tomei uma decisão, vou ser feliz assim mesmo".

Não achas que a tua mulher se ia virar do avesso ao ver que o tecto que estava tão bem pintadinho tinha ficado todo esborratado?

Anónimo disse...

O que está no meu espelho é "lava-te bem atrás da orelhas. E despacha-te lá com isso."



A Leila pode ter muito interesse, mas acredito que as teorias sejam as mesmas de sempre. Essa de ter frases motivacionais escritas para as lermos todos os dias é das coisas mais deprimentes que o Ser Humano se lembrou de inventar.

Anónimo disse...

Pois no meu espelho, escrevi em letras garrafais com um baton muito vermelho

"Despacha-te, senão chegas atrasada"