quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Por favor, tragam-me o livro de reclamações


Eu sei que as constantes críticas à restauração algarvia não caiem lá muito bem aos algarvios em geral, e em particular aos responsáveis da Região de Turismo do Algarve. É natural que não gostem do que se diz, mas a verdade é que não podem fechar os olhos às situações concretas que se apontam, nem desculpar os maus profissionais que também existem nesta actividade, e não são tão poucos como isso, infelizmente.

Há umas semanas, Clara Ferreira Alves disse na Revista Única do Expresso, e acredito que com mágoa: “Não fui bem servida em determinado restaurante”.

Na semana seguinte, o Expresso fez eco das respostas que não se fizeram esperar. O Presidente da Região de Turismo do Algarve lembrou que aquela região é o principal destino turístico nacional, registando em cada ano, cerca de 15 milhões de dormidas de mais de 2,5 milhões de turistas entre portugueses, britânicos, alemães, holandeses, espanhóis, irlandeses e de outras nacionalidades, uma procura que gera riqueza económica e social. Disse mais o senhor presidente, que o Algarve foi eleito o melhor destino de golfe do mundo em 2006, pela Golf Tours Operators. Disse ainda mais, que o Algarve tem alguns dos hotéis mais prestigiados internacionalmente e detém, ano após ano, o maior número de bandeiras azuis nas suas praias. E termina dizendo que a oferta hoteleira algarvia é muito diversificada e profissionalizada.

Não temos razão para duvidar das afirmações do senhor presidente Helder Martins. Provavelmente tudo isso é verdade, como é verdade que depois de cinco anos em queda livre, o turismo algarvio está a crescer muito acima das previsões iniciais. O balanço de 2006 é francamente positivo e o crescimento foi muito acima do esperado, o que, para o líder da RTA, este crescimento pode ser explicado pela cada vez maior afirmação do Algarve como destino de férias.

Mas sem querer entrar em demasiados detalhes, parece que a explicação do Senhor Martins é um pouco simplista, uma vez que não entra em linha de conta com factores que poderão ter influenciado o aumento dos turistas que nos visitam, como por exemplo, a guerra do Médio Oriente que poderá ter prejudicado zonas turísticas como Israel, Egipto e todas as zonas balneares da bacia mediterrânea.

Voltando ao que estávamos a tratar, o senhor presidente do RTA nunca refutou em concreto o que aconteceu à jornalista Clara Ferreira Alves. Nem sequer reconheceu que existem situações que não se encaixam nos casos de sucesso apontados por ele. Na restauração como em qualquer outra actividade existem maus profissionais e má gestão dos recursos ao serviço dos estabelecimentos que estão abertos ao público.

Não sou cronista profissional e muito menos um “opinion maker” que gosta de desancar o Algarve durante as horas vagas. Pelo contrário, rumo regularmente ao sul do país, gosto de lá passar temporadas e costumo frequentar a restauração e a hotelaria algarvias.

Mas o facto de ser bem servido em muitos locais, de encontrar vezes sem conta profissionais de mão cheia, isso não me faz esconder a cabeça na areia, quando deparo com situações que devem ser denunciadas para não se repetirem.

Foi o que me aconteceu recentemente num restaurante da zona ribeirinha de Portimão. Nesse restaurante fomos encontrar um serviço muito mal organizado nas mesas e na gestão dos pedidos e uma cozinha que não foi, no mínimo, nada satisfatória. Razões mais do que suficientes para pedir a conta do que já tínhamos consumido e o livro das reclamações, o qual, diga-se de passagem, só nos foi entregue depois de algumas insistências.

O direito à indignação e a não satisfação dos nossos direitos enquanto clientes devem ser expressos de forma clara e inequívoca no Livro de Reclamações. Por isso ele é obrigatório.

Ao manifestar o nosso desagrado, fundamentadamente como é óbvio, estamos a prestar um serviço público colaborando na melhoria dum serviço mais profissional e mais satisfatório para todos.

Se as reclamações vão, ou não, produzir efeitos, é coisa que não faço a mínima ideia. No entanto, há muito que me deixo guiar por uma frase que ouvi algures:

“Todos deviam ser resignados ou revoltados. Espero que fossem revoltados, é menos triste. Um homem revoltado nunca está completamente vencido”.

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