terça-feira, março 06, 2007

Era rico mas queria ser muito mais rico


É frequente falar-se sobre a falta de ambição dos portugueses e da inexplicável ausência de auto-estima que nos atinge, de uma forma geral. Quando surge, porém, um indivíduo que, provavelmente, insatisfeito pela vidinha que não lhe corre de feição, que decide "dar o salto" e, ainda por cima, consegue fazer fortuna, aí todo o mundo lhe cai em cima, quase sempre para gritar que o homem é um ladrão e que tudo o que conseguiu foi, certamente, à custa de algum negócio sujo.

Foi o aconteceu a um médico, de nome João Aurélio Duarte. O homem já vivia bem, era um médico próspero e conhecido em Santarém e, ele e a mulher, eram donos ou geriam sete clínicas em Lisboa, no Cartaxo e no Pinhal Novo. Tinha, portanto, uma boa vida, mas queria mais.

Como disse, o homem já era bem sucedido mas como ainda não estava satisfeito com o muito que já tinha, pôs-se a pensar, fartou-se mesmo de pensar como poderia melhorar de vida, até que encontrou uma forma de ganhar muito mais dinheiro do que até então. E à conta de quem, perguntarão? Da ADSE, ou seja, dos contribuintes, como é evidente.

Como ele descobriu que o Estado não controlava convenientemente as despesas de saúde dos funcionários no activo, familiares e aposentados, e que se limitava, apenas, a verificar se os papéis estavam correctamente preenchidos, pôs-se a inventar expedientes atrás de expedientes, iniciativas que o fizeram ganhar uma pipa de massa.

Então, fazia-se cobrar de consultas, tratamentos e sessões de fisioterapia que nunca foram feitos, receitas e prescrições falsas com assinaturas falsificadas de médicos e pacientes, prescrição de exames ginecológicos a homens e consultas de pediatria a reformados da função pública.

Burlas atrás de burlas que lhe renderam quase quatro milhões de euros.

Quando, finalmente a ADSE descobre que algo ia mal no Reino da Dinamarca, João Duarte mudou de vida. Foi de viagem até ao Brasil onde arranjou uma nova mulher e fundou uma rede de clínicas com mais de cinquenta mil clientes e seis mil funcionários, e onde, provavelmente, esperava adoptar o método que tão bons resultados deram cá no burgo. Entretanto, e porque às vezes, a vida tem destas coisas, foi detido no Brasil e extraditado para Portugal, onde está em prisão preventiva.

Pergunta-se pois, qual a moral da história? Um médico que burlou o Estado, ou um Estado que não estava preparado para exercer o necessário controlo numa área tão sensível e complexa como a da saúde?

O que não se pode dizer, isso não, é que o homem não tinha ambição e que não era empreendedor. Pena foi que tais “virtudes” não fossem aproveitadas da forma mais correcta.


Mas que diabo, doutor, prescrever exames ginecológicos a homens e consultas de pediatria a reformados, foi mesmo gozar com o pessoal, não foi?

3 comentários:

Anónimo disse...

Foi, foi!
E ainda dizem que os portugueses não têm iniciativa!

Anónimo disse...

A mim até nem me admirava nada que o mê home tivesse ido ao tal médico. À que tempos que lhe ando a dizer que de ano para ano eu acho que ele tá mais miúdo, tá mais parvo.

Anónimo disse...

Por muita ambição e criatividade que o fulano tivesse, o certo é que se a ADSE tivesse o controlo adequado nos seus serviços, fizesse os cruzamentos necessários (com ou sem informática a ajudar) e não se limitasse a ver se os formulários estavam preenchidos na íntegra, não seria assim tão fácil deixar-se burlar. Como somos ricos, lá foram mais quatro milhões ... coisa sem importância.