segunda-feira, julho 09, 2007

O futuro aeroporto de Lisboa


O folhetim já vai longo e todos nós, embora continuemos na expectativa de sempre, vamos ficando cansados com esta história da localização do novo aeroporto de Lisboa e com os debates e considerações sobre as alegadas vantagens e desvantagens que cada grupo considera ser determinantes para o aeroporto ser naquele local e não no outro.

Prolongamento da Portela? Construção de um novo, de raíz, na Ota ou em Alcochete, porventura no Poceirão? E Alverca, pode ou não entrar na corrida como hipótese complementar da Portela? Sim, porque continua a falar-se da possibilidade da Portela + 1 e até da Portela + 2. Isto, por enquanto ...

Depois de anos e anos de estudos que nos custaram os olhos da cara, depois de sucessivos governos terem aprovado em definitivo que o local ideal seria a Ota, e depois de esta mesma proposta ter sido viabilizada por Bruxelas, quando finalmente um governo tem a coragem de passar da fase dos estudos e ponderações para o início da execução da obra propriamente dita, alto e pára o baile, que não foram consideradas uma série de outras localizações onde a obra seria, sem dúvida, muito mais barata e não iria provocar danos ambientais e bla-bla-bla, bla-bla-bla. Isto, para não referir os alegados interesses de uns quantos que muito iriam ganhar se o aeroporto fosse mesmo para a Ota ou, agora, para Alcochete.

Mas, e isto é sempre assim, quando, finalmente, se tomam decisões (ainda por cima de obras que já tinham sido aprovadas) e se propõe “arrancar” com essa mesma obra, aparece sempre alguém que não concorda com o que se vai fazer, que sugere alternativas que nunca antes tinham sido sugeridas e que chama teimoso, obstinado e autista ao executivo que quer fazer o projecto andar.

Já passámos por situações semelhantes ao longo dos anos.

Só que, afinal, de tanto chamarem teimoso, obstinado e autista ao homem, ele resolveu conceder mais seis meses para ver se se gastavam mais uns milhões de euros em estudos, desta vez para decidir entre a Ota e Alcochete.

Continuou, no entanto, ainda teimoso, obstinado e autista quanto às possibilidades da Portela + 1, mais dois ou mais não sei quantos. Pode ser, no entanto, que alguém o consiga convencer. Isto porque acredito que depois deste estudo, haverá pressões para mais. Desconfio até (se calhar sem razões para isso) que alguém se anda a encher com a quantidade de estudos que vão proliferando à volta da necessidade de termos um novo aeroporto.



Mas agora, para complicar as coisas, dois acontecimentos recentes “vieram pôr mais areia na engrenagem”.

O primeiro, o da nova Ponte da Lezíria, sobre o Rio Tejo, que liga o Carregado a Benavente e que já alguns andam a dizer que ela foi projectada a pensar numa localização específica do aeroporto ... da Ota.

O outro acontecimento tem a ver com três conjuntos arquitectónicos – Óbidos, Batalha e Alcobaça – que foram considerados como fazendo parte das sete maravilhas de Portugal e, todos eles, pertencem a uma região vizinha da Ota.

Perante isto, quem me pode afiançar que não foi o próprio governo em peso, e todas as suas famílias e amigos, que não votaram nestas três candidaturas só porque um aeroporto na Ota levaria os turistas a conhecer mais rapidamente as três maravilhas?



Pese embora as afirmações da maioria dos candidatos à futura Câmara Municipal de Lisboa, que defendem que a Portela deve continuar, eu penso exactamente o contrário. A Portela tem que ser abandonada, não só porque a breve trecho a sua capacidade estará esgotada, mas porque é um erro tremendo agarrarem-se à ideia de que acabada a Portela, os turistas deixarão de visitar Lisboa.

Existem bastos exemplos de aeroportos de países mais avançados e ricos do que o nosso, que ficam bem longe das cidades e, ao que saiba, ninguém deixa de visitar essas cidades. Os turistas, de uma forma geral, preferem um aeroporto moderno, sem constrangimentos, seguro, ecológico, funcional e que tenha acessos rápidos e baratos aos centros das cidades.

A terminar, mas não menos importante, há que considerar aspectos que muitas vezes ficam esquecidos por detrás de argumentos de ordem económica e política.

Aspectos como a segurança. Recorde-se que em Lisboa os aviões invadem zonas habitacionais vastas, passam pela segunda circular quase a “pisar” os carros que nela circulam e as bombas de gasolina que estão na sua rota, com a real perigosidade que todos reconhecem.

Quanto aos aspectos de saúde, são conhecidos os efeitos nocivos dos aviões, cujo ruído provoca aos moradores daquelas zonas, perdas de audição, distúrbios do sono, dificuldades de concentração, doenças cardiovasculares, afectação de gravidezes, efeitos ao nível do rendimento dos trabalhadores e muitas mais mazelas que me abstenho aqui de mencionar. A ciência assim concluiu e publicitou.


Sabendo que a questão não é pacífica e que existem enormes pressões dos mais diversos interesses, o que nos interessa é que os estudos e as indecisões não se eternizem e que a solução que vier a ser encontrada nos garanta mais segurança, mais saúde, mais bem-estar para as populações e um aeroporto que seja capaz de gerar prestígio internacional acrescido.

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