domingo, setembro 30, 2007

De onde é que surgiu este cantor?



Quase que apostaria que esperavam que eu hoje escrevesse qualquer coisa sobre as “directas” do PSD e sobre o seu vencedor, ou sobre a saída em grande estilo da entrevista que Santana Lopes estava a conceder à SIC Notícias ou, ainda, sobre a magnífica e esmagadora vitória do Benfica sobre o Sporting por 0-0 no passado sábado.


Nada disso, meus amigos. Embora tivesse muito que dizer sobre qualquer dessas coisas, houve um facto que me impressionou muito mais do que tudo o resto, e de tal forma, que não podia deixar de vos falar nele.

Como se sabe, um pouco por toda a parte existem concursos de descoberta de talentos artísticos, nomeadamente de novos cantores. Portugal não é excepção e já se realizaram várias edições de “Operações Triunfo”, de “Ídolos” e outros que tais, e alguns dos vencedores desses concursos têm conseguido ter algum êxito no mundo das cantorias.

Pois na Grã-Bretanha que, obviamente, também tem esse tipo de concursos, em formatos mais ou menos idênticos aos de cá e aos dos outros países todos, revelou-se agora um candidato a estrela que me deixou a mim, ao júri do concurso e a toda a plateia que assistia, completamente espantados. A mim, em particular, deixou-me arrepiado, tal a qualidade apresentada.

Reparem como um tal Paul Potts, um modesto vendedor de uma loja de telemóveis se apresentou perante o júri e disse, simplesmente, que ia cantar ópera.
O entreolhar dos três elementos do júri deixou perceber que dali não viria nada de especial, tanto mais que o candidato nem sequer tinha formação nessa área. Paul Potts só tinha um enorme gosto de cantar trechos de ópera.

Vejam o que se passou na primeira audição em:


http://www.youtube.com/watch?v=sxOytYLlhiQ&mode=related&search=



E, depois de já ter sido o vencedor do concurso, em:


http://www.youtube.com/watch?v=O-Pv-0vpxSc&mode=related&search=


É espantoso, não é? Onde é que ele esteve escondido este tempo todo?




sexta-feira, setembro 28, 2007

Mais uma de Miguel Beleza


Para além de economista de reconhecidos méritos, Miguel Beleza é conhecido pelo seu senso de humor e ironia fina.

A última dele veio noticiada no Semanário Expresso:


“no final de mais uma edição do Jornal das Nove, na SIC Notícias, o jornalista Mário Crespo despedia-se dos telespectadores e do seu comentador-convidado, Miguel Beleza: Boa Noite, esta foi a opinião de Miguel Beleza, economista, professor catedrático, antigo governador do Banco de Portugal, ex-Ministro das Finanças ...”

Ao que Beleza comenta: “Isso não é currículo, é cadastro!”

quarta-feira, setembro 26, 2007

Oh vento danado ...


Foi um alívio quando, finalmente, conseguimos entrar no restaurante. Apesar do sol de Setembro que ainda se fazia sentir quente, o vento soprava forte, tão forte que nos retardava o passo e desalinhava os penteados.


Já abrigados e sentados, ao consultar a carta vimos que o vento sentido lá fora tinha produzido efeitos colaterais nos nomes dos próprios pratos que constavam na lista. Não nos nomes propriamente ditos mas na ortografia com que estavam escritos.

Assim, verificámos que a maioria deles por serem “à qualquer coisa”, por exemplo, “bacalhau à lagareiro”, tinham-se transformado “á qualquer coisa”.

Desta forma, a lista imensa apresentava para o dia:

“bacalhau á lagareiro”
“carne de porco á alentejana”
“bifes de peru á Ti Deolinda”

e por aí a fora, pratos de peixe e de carne, todos “á”, o que lhes conferiam um sabor especial e certamente diferente.

Mas um, era mais especial que os restantes, e percebe-se porquê. Era o “bife há casa”, que por ser "à casa", tinha-se distanciado claramente do “á” dos outros pratos, para assumir um orgulhoso e personalizado “há casa”.



Mas o que me preocupa mesmo não tem a ver propriamente com a restauração em especial, ou com os cardápios que os restaurantes têm prontos para apresentar aos seus clientes.

O caso é mais grave e prende-se com o facto das alterações climatéricas poderem provocar fenómenos tão diversos e tão inesperados como aconteceu com este vento forte que, de tão forte, foi capaz de abanar com os acentos dos menus, mudando-os de graves para agudos e vice-versa ou, pior ainda, capaz de, num momento de vento mais forte ainda, fazer cair um “h” onde ele menos se esperava e onde era, apenas, desnecessário.



Isto dos ventos tem muito que se lhe diga ...

terça-feira, setembro 25, 2007

Cruel


Ainda que justificadas pelas melhores intenções, continuo a ficar perplexo perante certas campanhas publicitárias que utilizam imagens reais de uma enorme crueldade.

Perplexo talvez nem seja a melhor palavra, talvez chocado. Tal como há uns anos a Bennetton utilizou fotografias de doentes a morrer de Sida, agora o fotógrafo dessa campanha – Oliviero Toscani - voltou a causar polémica ao fotografar uma mulher anoréctica nua, para publicitar uma determinada marca, mas que, segundo diz, serve para chamar a atenção para a terrível doença.

Ainda que saibamos que a existência da anorexia afecta sobretudo as jovens adolescentes “apanhadas” por certo tipo de estereótipos, nomeadamente o da obrigação de terem que ser magríssimas porque a moda assim o exige – cuja responsabilidade é, em grande parte, atribuída aos ditames da própria moda e aos meios de comunicação - ainda assim, a exposição nua e crua do corpo despido desta jovem francesa de 23 anos e 31 quilos, é verdadeiramente chocante.

“Anorexia Não” é o grito de alerta, é a mensagem com que o Ministério da Saúde italiano pretende sensibilizar as jovens para os perigos provocados por este distúrbio alimentar grave, de modo a que nunca passem por uma situação idêntica ao do corpo exposto na foto.

Mesmo assim, divido-me entre as intenções e a crueldade da exposição de um corpo nu e doente.





Cinema e pipocas




Noutros tempos, quando se ia ao cinema, isso significava algo mais do que ir ver apenas um filme. Era, também um acto social, uma oportunidade para encontrar os amigos, para passear pelos foyers, para beber um café no bar, ao mesmo tempo que se iam observando e comentando os pares à nossa volta, enquanto não soava o sinal a indicar que a projecção do filme ia começar.

E porque os tempos eram outros e os costumes também, havia o hábito dos homens comprarem nesses mesmos bares dos cinemas, rebuçados ou bombons que ofereciam às acompanhantes. Era um gesto de carinho, de cortesia, um mimo, se quiserem, que agradava muito às amigas, às namoradas e às esposas.

Essa era a parte romântica da questão. A outra era mais vulgar e muito mais incómoda para quem pretendia assistir sossegado à projecção do filme. Era o barulho característico do desembrulhar desses rebuçados ou bombons. Logo após as salas escurecerem, começava o restolhar irritante do “descascar” das guloseimas.



Muitos anos depois, os costumes são outros. Rebuçados, bombons e gentilezas passaram de moda e foram substituídos implacavelmente pelas pipocas – pelas pipocas vendidas e mastigadas dentro dos cinemas - que, ao que tudo indica, deve ser mais uma das fantásticas invenções nascidas nos states. Tudo é demasiado comercial, o consumo manifesta-se desenfreado e até alarve e mata, obviamente, qualquer gesto mais delicado.

E se dantes o barulho do desembrulhar dos caramelos era insuportável, agora o mexer e remexer naqueles enormes baldes de pipocas, acompanhado pela deglutição constante das mesmas durante a sessão inteira, é simplesmente intolerável.

Que me desculpem os apreciadores daquele “manjar”, mas apanhar com umas quantas pessoas ao nosso redor a triturar insistentemente pipocas, a mexerem-se nas cadeiras o tempo todo para ir buscar mais um punhado de milho e, para cúmulo, ter que ficar com aquele cheiro intenso pregado às narinas, é dose!

Não sei se não deveria haver uma lei anti-pipocas nas salas de cinema. Querem comer pipocas? Muito bem, comprem-nas e levem-nas para casa, comam-nas à vontade mas no remanso das vossas casas, diante da televisão e, de preferência, sem incomodarem os outros.

Eu sei que há cinemas onde ainda não se vendem pipocas, para grande desespero dos pipoqueiros mais fanáticos, mas tenho receio que já não seja por muito tempo.

Enfim, perdoem-me o desabafo e até algum exagero. Afinal, talvez pudesse haver uma situação de compromisso.

Concordo em absoluto com a opinião do Nicolau Santos, quando diz que em filmes como o “Shrek”, o “Ratatui” ou “Academia de Polícia” poder-se-ia permitir comer pipocas. Mas, em filmes como “Os Fantasmas de Goya”, por exemplo, isso seria completamente proibido.

É que, quando se pretende ver um filme de qualidade, em que o nosso nível de concentração tem que ser maior e a nossa sensibilidade está mais apurada, é completamente impossível acompanhar a acção do filme, ao mesmo tempo que somos obrigados a ouvir o som do mastigar das pipocas. Não é compatível e chega a ser criminoso.



domingo, setembro 23, 2007

Um violinista no Metro de Washington...



O jornal "Washington Post", com a ideia de lançar um debate sobre arte, beleza e contextos, convidou Joshua Bell, um dos mais famosos violinistas do Mundo, a tocar incógnito durante 45 minutos numa estação de metro de Washington.

Apesar da beleza que emergia daquele canto da estação de metro, ninguém reparou nem no concertista nem no violino em que ele tocava, que era, nem mais nem menos, um Stradivarius de 1713, que vale qualquer coisa como 3,5 milhões de dólares.

Enquanto que três dias antes, Bell tinha tocado no Symphony Hall de Boston, completamente cheio e onde os melhores lugares custavam 100 dólares, ali na estação de metro, foi ostensivamente ignorado pela maioria das pessoas que por ali passavam, à excepção de uma jovem que parou, deliciada, para ouvir a magia interpretativa do artista.

Bell que vestia umas calças de ganga, uma t-shirt e um boné de basebol, apesar de ter interpretado “Chaconne” de Bach, "Ave Maria", de Schubert, e "Estrellita", de Manuel Ponce, não conseguiu despertar a atenção das pessoas. Foi uma indiferença praticamente total.

Uma experiência semelhante já foi feita também em Portugal - aqui o artista era o Tim, dos Xutos - e o resultado foi em tudo semelhante ao que aconteceu com Bell em Washington. O Tim foi completamente ignorado.


Segundo o Director da National Gallery, nada há de estranho nesta falta de interesse, porque "A arte tem de estar em contexto". E dá um exemplo: "Se tirarmos uma pintura famosa de um museu e a colocarmos num restaurante, ninguém a notará".

Nunca tinha pensado nisto, mas concordo agora que, de facto, "A arte tem de estar em contexto".


Podem assistir ao que aconteceu, acedendo a:

http://www.youtube.com/watch?v=hnOPu0_YWhw

(o vídeo tem 2,36 m de duração)




Não podia, no entanto, acabar este post sem vos deixar um outro momento de rara beleza, Joshua Bell tocando uma peça de Beethoven, num vídeo que tem cerca de 6,51 m e a que podem aceder em:

http://www.youtube.com/watch?v=T7mlCf1b1X0&mode=related&search=



Mesmo sem o contexto apropriado, espero que tenham notado e apreciado devidamente a virtuosidade e a arte de Joshua Bell.


quinta-feira, setembro 20, 2007

Copinho de leite


Desde sempre que oiço dizer que beber leite faz muito bem à saúde, sobretudo por ser uma importante fonte de cálcio. Uma bebida, portanto, altamente recomendada a todos e, em especial, às mulheres por causa da osteoporose.

Mas, porque parece que ainda não bebemos o leite suficiente (embora eu ache que anda muita gente a mamar por aí), está em curso uma insistente campanha publicitária que visa estimular o consumo de leite.

Ao que dizem, a comparticipação comunitária anda à volta dos 2,5 milhões de euros a que se juntaram 700 mil euros de apoios nacionais.


Como em tudo, no entanto, sempre aparecem os detractores do consumo de leite que advertem que beber leite pode potenciar flatulência e diarreias nos adultos.

Que fazer então? Deve ou não beber-se leite, mais leite?

A escolha é sua ... mas não venham depois dizer que eu não os alertei!

Ah, as claques!


Nunca tive qualquer simpatia pelas claques dos clubes de futebol, nomeadamente as consideradas “profissionais”, aquelas que são suportadas pelo Benfica, Sporting e Porto.

Com as devidas excepções, sempre achei que a maioria dos elementos que compõem esses grupos, longe de cumprirem a missão para que supostamente foram criados – apoiar e incentivar as suas equipas – são, na verdade, uns autênticos arruaceiros e marginais que estão sempre prontos a destruir tudo por onde passam e, se possível, com uns arraiais de pancadaria à mistura.

E isto aplica-se da mesma forma às três claques, embora me pareça que a do Futebol Clube do Porto é a campeã na organização e execução de desacatos.

Por isso não me espantou que o líder dos Super Dragões, em resposta à acusação de Carolina Salgado de que teria sido ele a espancar Ricardo Bexiga, o autarca socialista de Gondomar, tenha apresentado como alibi:

“Nessa tarde eu estava na área de serviço da Mealhada, na A-1, de onde trouxe oito peluches, 22 porta-chaves, sete chocolates Toffe Crisp e duas sandes de leitão. Mas não roubei nada. Fiquei de passar por lá mais tarde para acertar contas. Eles já nos conhecem”.


Sim, é verdade, eles já os conhecem. Tanto a área de serviço da Mealhada como a maioria das outras, já conhecem de ginjeira estes bandos que roubam e vandalizam tudo à sua passagem.

E porque as histórias que tem para contar são muitas, Fernando Madureira que se ufana que na sua adolescência “ser raro o fim-de-semana em que não andasse à porrada”, publicou um livro intitulado “O Líder” em que dá a conhecer alguns dos seus feitos mais emblemáticos, mas não sei se os mais violentos e reprováveis.

Conta, por exemplo, que o baptismo de fogo nos Super Dragões foi em 1987, em Aveiro. “Chegámos, arrombámos o portão, entrámos de graça e o respeito pela claque começou a nascer aqui”.

Conta, também, que em meados da década de 90, “batiam e roubavam tudo o que lhes aparecesse pela frente, incluindo os próprios elementos da claque”.

Mas a claque que Madureira brilhantemente chefia, celebrizou-se pelos “roubos nas áreas de serviço por onde passavam durante as deslocações, mas também pelos saques, arrombamentos e passagens de notas falsas”.

Perante todas estas tropelias, como podemos ficar indiferentes a estes bandos de malfeitores sem escrúpulos que põem em perigo as famílias, muitas delas com filhos ainda pequenos, cujo o único pecado é gostar de assistir ao vivo aos jogos de futebol?


É um problema que se arrasta há anos e parece não ter solução. O que nos faz questionar:

. o que é que ganham os clubes com este tipo de claques e porque é que continuam a dar-lhes apoio?

. Porque é que as autoridades não actuam de forma firme e eficaz em vez de se limitarem a assistir ao contínuo relato de desacatos através da comunicação social?

quarta-feira, setembro 19, 2007

Sobe, sobe, inflação, sobe ...


Ao que tudo indica, irá mesmo realizar-se em Lisboa no próximo mês de Dezembro, por iniciativa da presidência portuguesa da união europeia, a cimeira UE/África.

E parece já estar assegurada, também, a presença do presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe, depois de grandes pressões por parte dos britânicos para que isso não acontecesse.


O governo daquele dirigente africano, considerado um ditador pela comunidade internacional e que pode vir a enfrentar um julgamento por crimes contra a humanidade, está a gerar o colapso político e económico do seu país


Para tentar evitar a crise económica galopante, há cerca de um ano Mugabe fez uma forte revalorização do dólar zimbabwiano. Mesmo assim, e porque qualquer transacção envolve grande quantidade de notas, as de maior valor até agora, as de 100 mil dólares, já não dão resposta à situação.

E porque para grandes males, grandes remédios, o Banco Central do Zimbabwe teve necessidade de imprimir notas de valor mais alto e assim foram postas a circular recentemente notas de 200 mil dólares.

Mas a bola de neve começou e engrossar há muito e sabe-se já que esta decisão não vai ter qualquer resultado positivo, uma vez que a actual taxa de inflação homóloga no país é de 5.000% e que, de acordo com o FMI para África, os preços poderão subir este ano até ...100.000%.

Pior do que isto é impossível. Dado que todas as medidas se têm mostrado incapazes de suster esta enorme crise, o Zimbabwe é considerado, neste momento, o país do mundo com maiores dificuldades económicas.

terça-feira, setembro 18, 2007

Depressa e bem, não há quem (??!!)


Com todo o respeito que tenho pelos adágios populares, onde encontro, em muitos deles, uma profunda sabedoria, penso, no entanto, que por terem sido criados há muito, alguns desses provérbios já não se ajustam aos dias de hoje.


Por exemplo, “Primeiro de Agosto, primeiro de Inverno”. Admito que durante décadas e décadas esta máxima tivesse toda a justificação. Mas, agora, com todas as alterações climáticas que se conhecem, provocadas, ou não, pelo aumento dos gases de estufa, em que os calores excessivos e as chuvas torrenciais teimam em não conhecer calendários, parece que o provérbio não faz mais qualquer sentido.


“Depressa e bem, não há quem” é um outro exemplo de um ditado que está claramente desajustado nos dias de hoje. Na era da globalização, as empresas regem-se por padrões completamente diferentes dos que as norteavam há umas décadas atrás.

A procura incessante da produtividade obriga, cada vez mais, a que empresas e trabalhadores produzam mais e melhor. Daí que os ritmos de trabalho sejam forçosamente mais elevados, o que leva a que o velho adágio popular deixe de ter sentido e se tenha que passar a dizer simplesmente “Depressa e bem”.


E quem não queira perceber que os tempos mudaram e que hoje se exige de todos - com tecnologia actualizada, com formação adequada e sistemática, com o empenho de empregados e empregadores e com gestões altamente preparadas - que se faça mais e melhor, então, é porque a sua capacidade não lhe permite entender que o mundo de hoje é completamente diferente.

Se essa mudança não for interiorizada por todos os agentes, então, continuaremos a ser um país adiado e que justifica que num conjunto de 29 países (27 europeus mais os Estados Unidos e o Japão), Portugal esteja em 21º. lugar em termos de produtividade por trabalhador.

“Primeiro de Agosto, primeiro de Inverno” e “Depressa e bem, não há quem” dois exemplos, apenas, de provérbios que talvez devessem ser actualizados.


Mas, que sei eu? Talvez um dia isso venha a acontecer ... porque, “Saber esperar é uma grande virtude”.

domingo, setembro 16, 2007

Sirvam-se, não façam cerimónia ...

Embora a notícia não me tivesse surpreendido, não pude deixar de sorrir e de pensar no Professor Saldanha Sanches que, há séculos, anda a pregar em tudo o que é sítio que em muitas Câmaras Municipais existe corrupção. E não é que o Professor é capaz de ter razão?

Mas se eu pensava que em muitas das autarquias essa corrupção se traduzia em pequenos favores, “esquecimentos” burocráticos, negligências várias, “ignorância” generalizada da legislação, enfim, formas de conseguir alguns proveitos pessoais, mas no fundo, coisas mais ou menos menores, a Câmara Municipal do Funchal, agora auditada pela primeira vez em tantos anos, revelou-se como uma autêntica campeã de abusos, de excessos e de desrespeito pela legislação em vigor.

Quanto às ilegalidades detectadas, é só escolher, pois elas existem para todos os gostos.

Na referida auditoria, que abrangeu apenas os anos de 2003 e 2004, as aldrabices envolvem vários departamentos, vereadores do PSD, directores, funcionários e a própria presidência da autarquia.

Mas o que fizeram, então, de errado estes senhores?

Para não ser muito exaustivo, apenas mencionarei algumas dessas anomalias:

- Pagamento de senhas de presença em reuniões camarárias que não chegaram a realizar-se ou a que os autarcas não compareceram;

- Atribuição de “abonos para falhas” a alguns “amigos” que, por acaso, até nem mexiam em dinheiro, porque tinham outro tipo de actividades que iam desde motoristas de pesados, ao encarregado de limpezas e até uma vigilante de jardins (isto só no reino do Jardim);

- Inexistência desde 1998 de um tesoureiro. O que quer dizer que havia por lá uns quantos funcionários que despachavam e autorizavam ilegalmente todo o tipo de pagamentos (nem quero imaginar a quem e se esses pagamentos eram ou não legítimos). Por isso não admira que o vice-presidente autorizasse 371 mil euros de pagamentos a empresas do filho, o que a lei proíbe determinantemente;

- Nomeação sem concurso, para cargos vários, como aconteceu com o comandante dos bombeiros municipais que, por ser um dos amigalhaços, deixou a sua anterior actividade de encarregado do parque de máquinas, quando para aquele cargo a lei estabelece que ele seja ocupado por um licenciado com um mínimo de quatro anos de experiência nas áreas de socorro e protecção e com treino de comando;

- Verbas não orçamentadas e divergências graves entre balancetes e orçamentos;

- Loteamentos e licenciamentos aprovados ilegalmente e em violação clara dos Planos Municipais de Ordenamento.



E se todo este rol de ilegalidades não me consegue espantar, porque tudo isto acontece numa terra em que os poderes da Câmara, do Parlamento e do Governo passam invariavelmente por Alberto João Jardim e seus acólitos, que mandam e desmandam a seu belo prazer como e quando eles querem, o que me admira, isso sim, é que esta seja a primeira vez que uma auditoria, ainda por cima uma “auditoria dita normal”, seja efectuada numa autarquia altamente suspeita.

E, como referi, apenas foram analisados os anos de 2003 e 2004. Se houver coragem para prosseguir, quantas coisas mais, e mais gravosas, sairão da cartola?


Ah Professor Saldanha, pode ser que a partir de agora lhe dêem mais atenção.

sexta-feira, setembro 14, 2007

Uma noite infeliz


Não quero comentar (nem serei a pessoa mais indicada para isso) o jogo de futebol entre as selecções de Portugal e da Sérvia.


Não porque o resultado tivesse terminado num empate que pode comprometer as nossas aspirações à qualificação para o Euro 2008. Muito menos porque a nossa equipa jogou demasiadamente mal, face aos objectivos que determinou e à qualidade dos jogadores, de quem se diz serem dos melhores do mundo e arredores.


O que me interessa comentar é a atitude irreflectida e a todos os títulos censurável que foi protagonizada pelo seleccionador nacional Luis Felipe Scolari.


Em tese, um treinador, é por natureza um condutor de homens e neste caso de homens jovens para quem, seguramente, as acções e atitudes do seu líder são tomadas como exemplo. Exige-se por isso, que para além das suas aptidões técnicas ele tenha igualmente uma forte componente de formador do carácter dos seus pupilos. Daí que tenha que ter cuidados acrescidos nas suas atitudes, por forma a que possa ser um modelo a seguir pelos seus jogadores.


Foi exactamente o contrário aquilo a que assistimos no final do jogo, quando Scolari agrediu o lateral sérvio Dragutinovic.


Nada justifica uma agressão (ou tentativa de), como alguns ainda tentam argumentar. Nem a grande tensão existente por causa dos resultados e exibições menos conseguidas (e até decepcionantes), nem as provocações supostamente feitas ao seleccionador, nem o aludido estatuto de Scolari que muitos continuam a recordar, pelos vários êxitos conseguidos, entre os quais o de campeão do mundo pelo Brasil e os segundo e quartos lugares alcançados por Portugal no Euro 2004 e no último mundial, respectivamente.


Como seres humanos, todos estamos sujeitos na vida a ter as reacções mais inesperadas ou censuráveis. Mas o nosso seleccionador nacional, pela idade que tem, pela longa experiência que possui, tinha a obrigação de conseguir controlar essas emoções. Mas não o conseguiu. Scolari excedeu todos os limites.


A UEFA e a FIFA vão analisar o caso e, tendo em conta a figura e o estatuto do senhor Scolari (e todos nós sabemos que o "peso" dos nomes altera muitas coisas), talvez venham a considerar uma série de atenuantes e a decisão acabe por ficar por uma pena leve. A Federação Portuguesa de Futebol certamente também irá proceder a um inquérito. E o Governo, o que é que fará, para além da censura pública do Secretário de Estado do Desporto, Laurentino Dias?


Scolari é um líder e, como tal, não poderia ter actuado daquela maneira. As desculpas que apresentou ontem, vieram tardias. Desculpas ao povo português, à selecção, aos seus jogadores e à UEFA. Mostrou-se arrependido pelo gesto mas, no fundo, procurou-o justificar com o pensamento na defesa dos seus atletas.


Francamente não gostei do que vi. Mas não alinho com os que exigem o afastamento imediato de Scolari, daquele que até há bem pouco tempo foi considerado como um herói (quando os resultados nos eram favoráveis) e agora se pretende crucificar por ter tido uma noite infeliz.


De qualquer forma, o futuro do seleccionador nacional vai decidir-se em vários tabuleiros. Pela análise e decisão dos processos abertos pela FPF (seu empregador), pela UEFA (que gere as competições europeias) e, eventualmente, pela FIFA (que dirige o futebol a nível mundial) e, ainda, pelo Governo por se tratar de uma representação nacional. E tudo pode acontecer.


Foi uma noite infeliz, já o disse. Mas, como português, gostaria que tudo isto não venha, porventura, e face a episódios infelizes já anteriormente ocorridos, dar a ideia que as selecções portuguesas de futebol, nos vários escalões, não passam de bandos de rapazotes indisciplinados e desordeiros, o que dá uma péssima imagem do país e dos portugueses.


quarta-feira, setembro 12, 2007

Dois romances muito interessantes!



Nestes dias de férias agora acabados, li quase num fôlego, dois romances escritos pelos mesmos autores. Trata-se de dois livros muito interessantes que “sete escritores em roda livre inventaram dois romances alucinantes”, como refere a capa de um deles.

Mas o que mais me encantou nestas histórias foi, para além dos enredos que elas próprias foram criando, a descoberta de aventuras tão abstrusas e tão misteriosas cujo o seguimento, de capítulo para capítulo, poderia (e viria a) ser totalmente imprivisível.

Isto porque os autores – sete autores, sete – resolveram que os factos, as espectativas, as suspeições com que ficávamos ao acabar de ler um certo capítulo, tudo isso poderia ser invertido no capítulo seguinte, levando o leitor a enveredar por caminhos que até então não tinha congeminado. O mistério, ou o que quer que fosse, ia-se engendrando a si próprio, sucessivamente ao sabor da imaginação de cada um dos escritores que, ao sabor do prazer da escrita, iam inventando e iam-nos levando.

Um exercício de escrita a catorze mãos, misteriosa e divertida que em boa hora levaram a cabo.

“Os Novos Mistérios de Sintra”, e

“O Código D’Avintes”

Da autoria de Alice Vieira, João Aguiar, José Fanha, José Jorge Letria, Luisa Beltrão, Mário Zambujal e Rosa Lobato de Faria.


Dois romances muito interessantes que eu aconselho vivamente.





terça-feira, setembro 11, 2007

Poder-se-á dizer que "uma mão lava a outra"?


Quando uma empresa que durante anos apresentou défices sucessivos, de repente, nos dois últimos exercícios, começa a ter resultados demasiadamente positivos, das duas uma:

Ou as administrações que a lideraram durante décadas, eram claramente incompetentes, ou a equipa que nestes dois últimos anos está à frente dos seus destinos é fantástica e soube aplicar devidamente uma gestão muito rigorosa e competente que conseguiu dar a volta à coisa, de forma a fazer corar de inveja os bancos que, tradicionalmente, são as empresas que conseguem gerar maiores (e mais escandalosos) lucros.

A empresa a que me estou a referir é os CTT que, a exemplo dos bons resultados obtidos no ano passado, registou este ano 27,5 milhões de euros só no primeiro semestre e, mais do que isso, conseguiu que os seus lucros aumentassem nada menos que 224%, permitindo, assim, pelo segundo ano consecutivo, distribuir dividendos ao accionista único, o Estado.


Mas, perdoem-me a incredulidade. Como é que se consegue passar tão rapidamente de resultados tão abaixo da linha de água para uns outros verdadeiramente excelentes?

- Com uma gestão de facto rigorosa e um planeamento bem pensado e bem executado?
- Com redução de efectivos e com recurso a contratações feitas com critérios duvidosos, que nada têm a ver com a história e a cultura da empresa?
- Poupando nos custos (???) com a formação adequada, necessária e sistemática?
- Recorrendo a uma engenharia financeira apropriada, com objectivos bem definidos e que passam, por um lado, pela entrega de dividendos ao accionista Estado e, por outro, pela projecção da imagem do seu presidente, Luís Nazaré, porventura na calha para mais altos voos, como, de resto, já se começaram a ouvir uns rumores por aí?


Qualquer dúvida é legítima e é natural que se pense que, em tudo isto, não joga lá muito bem a “bota com a perdigota”.

É que, ao mesmo tempo que se fazem soar as trombetas, anunciando os magníficos resultados conseguidos pela empresa, chegam-nos ecos da quantidade de carteiros contratados no Minho (e em outras regiões do país, por certo) que vão desde – e isto são notícias veiculadas pela comunicação social – reformados, toxicodependentes, marginais, etc..

Tudo isto é muito estranho de aceitar, sobretudo para as pessoas, como nós, que ainda temos uma certa visão romântica, e quiçá ultrapassada, do “velho” carteiro que nos conhece pelo nome, que nos trás as notícias (as boas e as más), que nos cumprimenta e que é capaz de nos confortar com uma palavra amiga.

Outras notícias que também parecem contrariar o bom desempenho dos correios, e também difundidas pela comunicação social, garantem que os CTT vão compensar os clientes pelas greves de 2006 (81 paralisações que, somadas, dá qualquer coisa como 10 mil dias/homem de interrupção na actividade normal da empresa).

E, aqui, surge mais uma dúvida, como vai processar-se essa compensação e quem vão ser os beneficiários? Para já, quem mais vai lucrar com a tal compensação devido à má qualidade dos serviços, são, obviamente, os clientes que têm contratos com os CTT, em princípio, os grandes clientes.

Depois, e para que não se diga que para o “povão” sobrou nada, a administração dos correios instituiu – ainda como compensação dos maus serviços - uma coisa a que chamou “happy hour” (que bela imaginação, onde é que foram buscar um nome destes, que nunca antes tínhamos ouvido?).

Assim, quem quiser aproveitar os benefícios da “happy hour”, terá que se apresentar às terças-feiras nas estações dos CTT, entre 10h00 e as 12h00, para receber “de borla” um envelope de correio azul pré-franquiado desde que ... desde que procedam, pelo menos, a um envio de correspondência (por acaso não estavam a pensar que lhes iam dar os envelopes de correio azul completamente de mão beijada, ou estavam?).


Bem, mas para além das compensações, por causa das tais greves, aos grandes clientes e a todos aqueles que quiserem usufruir da “happy hour” (que os correios estimam andem à volta de quase um milhão de clientes ocasionais, isto é, de reformados), o que gostaria que a administração dos CTT me esclarecesse é quando é que eu e mais uns milhões de utentes vamos ser compensados pelos maus serviços permanentes, que nada têm a ver com as greves, e que passam, nomeadamente, pelo atraso sistemático da entrega das correspondências ou pelas correspondências registadas que os carteiros se limitam a deixar um aviso nas caixas de correio, em vez de se deslocarem às residências onde os objectos registados deveriam ser entregues.


Então, e perante tantos lucros e compensações pelos inconvenientes provocados pelas grevezinhas, e não esquecendo, claro, a ”feliz ideia” da “happy hour”, resta-nos a nós, os demais prejudicados, questionar se poderemos acalentar uma ténue esperança que seja, não de uma eventual compensação para apaziguar os nossos queixumes, mas de podermos ter um dia à disposição um serviço eficaz e diligente, como já aconteceu em outros tempos?

Ou ficaremos pelas compensações onde “uma mão lava a outra”?

Perseverança, Resistência e Paixão





Quase custa a acreditar que Manoel de Oliveira, à beira de completar um século de vida, continue a fazer filmes e a suscitar o interesse dos cineastas e da crítica mundiais.

Recentemente, na 64ª edição do Festival de Cinema de Veneza, o mais galardoado dos realizadores portugueses foi novamente premiado. A película “Cristóvão Colombo – O Enigma”, foi considerado “o filme mais significativo da mostra” e a crítica independente homenageou-o com o “Bisato D’Oro”.

Amado por uns e menos apreciado por outros, sobretudo pelos espectadores portugueses, Manuel de Oliveira continua a resistir firmemente, movido pela paixão do cinema.

Parabéns Mestre!

domingo, setembro 09, 2007

O escudo espezinhado

Os portugueses, de uma forma geral, são muito acomodados. A iniciativa não é uma das suas qualidades mais em evidência. Estou a falar da generalidade dos portugueses, é claro.

Por isso quando vejo que particulares ou empresas contrariam esta inépcia, fico muito orgulhoso de assistir à demonstração de criatividade, de competência, de dinamismo e de inovação dos meus compatriotas.

É o caso do estilista Luís Onofre que decidiu gravar o escudo nacional na sola dos sapatos das suas colecções, como forma de valorizar a sua marca.
E como a empresa tem clientes em todo o mundo, porque a qualidade dos sapatos é de facto excelente, a partir de agora, toda a gente fica a saber que o calçado é fabricado em Portugal e, a prová-lo, lá está o escudo nacional gravado nas solas dos ditos sapatos.

Mas, pensando melhor, será que a inovação em causa não vem questionar a preservação de um símbolo nacional?
Cada país tem os seus Símbolos Nacionais, que podem ser pessoas, instituições, músicas, estandartes, bandeiras, hinos, objectos, plantas, animais, monumentos, eu sei lá que mais ...

Em Portugal, para já não falarmos do SLB, que constitui mais do que um símbolo nacional, um símbolo mundial, existem dois grandes símbolos nacionais, O Hino e a Bandeira.

Centremos a nossa atenção na Bandeira Nacional. Como se sabe, ela tem, verticalmente, duas cores fundamentais, verde escuro e escarlate (vermelho), ficando o verde do lado da tralha (atenção, neste caso a tralha significa cabo). Ao centro, e sobreposto à união das cores, tem o escudo das armas nacionais, orlado de branco e assentado sobre a esfera armilar manuelina, em amarelo e avivada de negro.

Ou seja, o escudo nacional constitui parte integrante da nossa Bandeira, que é um dos nossos símbolos.

Assim sendo, pergunto. Será legítimo, será mesmo constitucional deixarmos que uma parte de um dos símbolos do país seja espezinhado vezes sem conta por esse mundo fora? Provavelmente nunca ninguém tinha pensado nisto. Ou estarei a ver mal a coisa?

quinta-feira, setembro 06, 2007

Teste


Respondam, se souberem ...

1 – Quem são os autores das frases antológicas que se transcrevem a seguir?

2 – Qual a região que gerou tão brilhantes personagens?



- “Ele (Jardim Gonçalves) já não tem uma boa memória, pois diz que não me conhece. Deve estar a sofrer seriamente da doença de Alzheimer, ou de outra coisa qualquer”

(frase proferida aquando da falhada AG do BCP)


- “Onde está esse sacana? É tão pequenino que ninguém o vê!”

(“arroto” de um certo indivíduo, aquando da Festa do PSD no Chão
da Lagoa, na Madeira)





PS: Mais fácil do que isto é ... difícil. Dois “discursos” que têm em comum a má educação, a falta de respeito por terceiros, e o baixo nível das pessoas que os proferiram.

São ou não são pistas mais do que suficientes para poderem acertar nas respostas?

Gestos que ainda nos fazem acreditar

Talvez porque a hipocrisia e o egoísmo invadem de forma desenfreada a sociedade actual, fiquei deveras sensibilizado com o gesto altruísta e humanitário demonstrado pelos elementos que compõem a Administração do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos.

Na verdade, não é nada frequente acontecer que altos quadros dirigentes abdiquem do seu direito, que a lei lhes confere, de comprar carros de serviço para que fosse possível adquirir novos equipamentos para serem postos ao serviço da população.

Em vez dos cinco automóveis para os administradores, no valor de 35 mil euros cada um, o bloco operatório de neurocirurgia do Hospital Pedro Hispano, passa a ter um microscópio novo, um sistema de neuronavegação e uma broca cirúrgica de precisão, equipamentos fundamentais a um bloco operatório que faz 500 cirurgias por ano.

E a explicação destes administradores sobre a decisão de poupar nos carros para investir em equipamento, foi dada da forma mais simples e natural.


“Nós já trabalhávamos aqui e utilizávamos as nossas próprias viaturas para nos deslocarmos. É isso que vamos continuar a fazer”


Uma atitude tão invulgar, poderá, porém, levar algumas pessoas a pensar “Ah, mas eles são administradores, já ganham um balúrdio, aquilo para eles são trocos ...”

Discordo completamente.

Primeiro, porque quem trabalha, pretende naturalmente que o seu nível de rendimentos vá subindo, E isto aplica-se de igual forma a quem tenha vencimentos altos ou baixos.

Depois, porque estes administradores tinham mesmo direito a ter uma viatura de serviço, a exemplo do que acontece com os demais gestores hospitalares. Não se tratava, sequer, de nenhuma situação de favor.

Finalmente porque, a experiência assim nos mostra, a maioria dos gestos de solidariedade – sem contrapartidas – são mais frequentes entre os que menos têm.


Será bom ainda referir que a candidatura para a aquisição do novo material, num valor próximo dos 700 mil euros, já tinha sido recusada numa fase anterior. Mas a atitude destes gestores e a poupança dos 175 mil euros que estavam destinados à compra dos carros, fez com que todo o processo fosse reanalisado, tendo sido o montante em falta garantido por financiamento comunitário, a fundo perdido.


São, afinal, gestos como estes que ainda nos fazem acreditar ...

quarta-feira, setembro 05, 2007

Mais dois portugueses campeões do mundo

A provar que nem só de futebois vive o nosso panorama desportivo, futebol que, de resto, nem nos tem dado tantos títulos internacionais como isso, aí vão aparecendo cada vez com mais frequência atletas de outras modalidades que, com os seus feitos, têm levado a nossa bandeira a flutuar nos mastros dos vencedores.


Desta vez a proeza coube a dois jovens:


Um foi Nelson Évora que, em Osaka, se sagrou campeão de mundo do triplo salto, e que conseguiu, pela primeira vez, trazer para Portugal uma medalha de ouro nesta especialidade do atletismo. Com um salto de 17,74 metros, Nelson bateu toda a concorrência e deixou o segundo classificado a mais de15 centímetros de distância.


A outra jovem, cujo valor já tive o prazer de sublinhar neste espaço, é Vanessa Fernandes que, em Hamburgo, conquistou o título de campeã do mundo de triatlo. Vanessa, a A tetracampeã europeia da modalidade, conseguiu mais uma brilhante vitória depois de, já este ano, se ter sagrado campeã mundial de duatlo.


Parabéns, pois, a estes jovens valorosos, Nelson Évora, novo campeão do mundo do triplo salto e Vanessa Fernandes, campeã do mundo de triatlo.



Uma resposta que não poderia deixar de dar


Na tentativa de acalmar o meu caro az, mas igualmente, porque “a defesa da honra” se justificava, decidi vir a terreiro para responder à acusação que me fez de ser um perigoso plagiador.

Apesar de não passar de um modesto escrevinhador de coisas, que publico neste blogue, isso não me desculpa de poder cair na tentação de, uma vez por outra, ser levado a copiar uma palavra ou uma frase que vi escritas algures, sem ter o cuidado de mencionar o verdadeiro autor que as escreveu.

Mas, como compreenderão, a simples cópia de uma palavra ou frase não é suficiente para classificar este “crime” como uma acção de plágio.

Aliás, e de acordo com o dicionário, “plágio é uma cópia fraudulenta do trabalho de outrém, que um autor apresenta como sua”, o que, manifestamente, parece não ser o caso. A tanto não cheguei, caro az.

No mundo globalizado em que vivemos, e onde temos à disposição a consulta dos jornais e das revistas que se publicam em todo o mundo, em que temos acesso à maioria das televisões de referência, em que temos a possibilidade de lermos os livros, em papel ou em formato digital, em que somos inundados pelos mais diferentes tipos de música, todo este manancial de informação e de conhecimento tem forçosamente que nos influenciar. E isso acontece a todos os níveis. No que à escrita diz respeito, essa influência vai desde a forma e do ritmo que se reflecte nos textos à eventual utilização de termos, palavras, frases e ideias, que já algum dia lemos algures.

No caso que aponta, az, parece-me injusta a acusação de que eu estaria a aproveitar-me de frases das crónicas escritas por Miguel Sousa Tavares (de quem, aliás, sou admirador há muito) e de outras não especificadas, postadas em blogues também não identificados, sem nunca indicar as respectivas origens.

Se se der ao trabalho de percorrer os textos publicados no “Por Linhas Tortas”, ao longo dos dois últimos anos, verificará que sempre que utilizo uma citação ou transcrevo uma parte de um texto ou o próprio texto integral, procuro ter o cuidado de indicar a fonte quer ela seja o MST ou outro escritor ou blogue,.

Por certo terei falhado nos meus cuidados em assuntos que são publicados na comunicação social, nomeadamente quando menciono estatísticas ou uma qualquer referência que considero interessantes para enriquecer uma crónica que pretendo escrever.

E se é verdade que a forte influência atrás referida é tão intensa que quase impossibilita que sejamos inteiramente criativos, é também verdade que uma simples frase “copiada” aqui ou acolá, pode servir de inspiração à elaboração de um texto em que o autor – qualquer autor – pode expor e desenvolver todas as suas ideias, convicções, críticas ou humores, sem que, por isso, esse texto possa vir a ser considerado um plágio.

Mesmo procurando ter todos os cuidados, ainda assim, admito a possibilidade de alguma vez ter cometido tal pecado. No entanto, e para ter uma noção mais exacta sobre as eventuais faltas de que sou acusado, recolhi uma breve amostra de textos e verifico que a situação não é tão grave como, à partida, se poderia supor.

Assim,

- Em 26.07.06, em “A guerra no Médio Oriente”, transcrevi um texto do Professor Boaventura Sousa Santos;
- Em 09.08.06, em “O que vale uma vida”, transcrevi 2 parágrafos de Daniel de Oliveira;
- Em 27.09.06, em “A reforma”, publiquei na íntegra um texto do Professor Carlos Pereira da Silva;
- Em 03.11.06, em “Convite à reflexão” transcrevi um texto também ele transcrito pelo Professor Tavares Moreira no blogue em que participa;
- Em 27.11.06, em “Velocidades” referi-me a um texto de Miguel Sousa Tavares, de que transcrevi 2 parágrafos;
- Em 01.02.07 em “Por favor, tragam-me o livro de reclamações”, citei uma frase de Clara Ferreira Alves;
- Em 07.02.07, em “Mordomias”, citei um pensamento de Freud;
- Em 25.04.07, em “Alguém se lembra como era dantes?”, transcrevi partes do texto publicado no Expresso, da autoria da jornalista Ana Cristina Leonardo;
- Em 29.05.07, em “o deserto da margem sul”, transcrevi uma frase do ministro Mário Lino;
- Em 19.06.07, em “Elogio ao amor”, transcrevi um delicioso artigo de Miguel Esteves Cardoso;
- Em 02.09.07, em “A última crónica de Eduardo Prado Coelho” transcrevi a última crónica que publicou.


Resta dizer que em todos estes exemplos, bem como em todas as poesias que publiquei, referenciei sempre os respectivos autores, o que atesta, sem sombra de dúvida, a boa fé que sempre pautou o meu percurso.

Ainda assim, continuarei a estar atento.

segunda-feira, setembro 03, 2007

Calma, calma, ainda não há motivos para alarme ...

Já não é a primeira vez que ficamos boquiabertos (e escandalizados) ao termos conhecimento que certas personagens, por manifesta falta de inspiração ou porque é muito mais fácil copiar o que a outros tanto trabalho deu a criar, deram à luz textos que foram publicados em jornais, revistas e blogues como tendo sido, eles próprios, os verdadeiros autores.

Mas não foram. Limitaram-se a copiar, a plagiar os textos que foram descobrir algures e zás, apropriaram-se deles e a eles deram a sua assinatura. Assim sempre é mais fácil e não chegam a dar cabo dos seus neurónios, isto, claro está, partindo do princípio que os têm e que eles ainda estão a funcionar em boas condições.

Ainda que o plágio seja altamente condenável e até mesmo crime, continua por resolver aquela velha questão já tantas vezes recordada (por isso é que ela é velha), de que se uma pessoa copia um determinado texto, isso é inequivocamente um plágio, e não há volta a dar-lhe. Mas se essa pessoa copia sistematicamente tudo aquilo que lhe apetece (e agora com o copy e paste é um vê se te avias) aí, poderá tratar-se não de plágio mas de mera investigação. Enfim, é uma maneira de ver a coisa.


Agora foi a vez de Luís Filipe Menezes, o autarca de Vila Nova de Gaia e candidato à presidência do PSD, que tem um blogue pessoal (como vêm, todas as pessoas importantes têm hoje um blogue) ter sido “apanhado” a copiar, sem referir as fontes, artigos da Wikipédia sobre Michelangelo Antonioni, Bergman, sobre Hiroshima e sobre Miguel Torga.

Claro que por se tratar de uma figura pública, ainda por cima em evidência neste momento, logo saiu a terreiro uma das mais conhecidas firmas de advogados a defender que, na blogosfera, o termo autor, não se refere à autoria do conteúdo mas sim à autoria da postagem ou publicação".

Tá bem, então! Se se tratasse de um ilustre desconhecido, talvez a interpretação dos advogados não fosse exactamente a mesma!

Apesar de tudo, ainda existe uma esperança. É que, segundo o Jornal “Expresso”, à hora de fecho da edição do passado sábado, ainda havia 2.786.895 sites que não tinham sido plagiados por Luís Filipe Menezes.

domingo, setembro 02, 2007

A última crónica de Eduardo Prado Coelho



Nesta minha “rentré bloguística”, tinha pensado escrever hoje sobre alguns factos ocorridos enquanto eu andava a banhos. É possível que isso ainda venha a acontecer, mesmo sabendo que corro o risco de que a sua publicação seja um bocado a destempo e esses factos possam estar já um pouco desactualizados. De qualquer forma, nos próximos tempos, tentarei que aqui fiquem registados.


Mas um acontecimento veio alterar este meu propósito. A morte de Eduardo Prado Coelho. Professor universitário, crítico literário, jornalista, escritor, ensaísta e homem da cultura, Prado Coelho era sobretudo um Pensador, um homem que conseguia ser simultaneamente o intelectual brilhante e o cronista que falava, escrevia e sentia os problemas do dia a dia e que sabia transmiti-los magistralmente.

Por isso, neste regresso, não tive qualquer dúvida em escolher para tema do dia a figura de Eduardo Prado Coelho. E, querendo prestar-lhe uma homenagem singela, passo a transcrever a última crónica que escreveu no Jornal Público, no passado Domingo 26 de Agosto, exactamente o dia em que se realizou o seu funeral.

Vou sentir a falta dos seus textos.





“Ai simplex!

Há momentos em que nos damos conta de que o Simplex, essa excelente e meritória iniciativa concebida por Maria Manuel Leitão Marques, está a funcionar, mas há outras em que choramos pela sua ausência, na expectativa de que um dia, não demasiado longínquo para a nossa esperança de vida, chegue. Dei-me conta disso ao acompanhar e mesmo participar no processo de legalização em Portugal de alguém que trabalha em minha casa há já algum tempo, e que, pelas suas capacidades profissionais, e sobretudo pelas suas qualidades humanas (como pude comprovar em período recente da minha existência) é pessoa de quem é fácil gostarmos: a brasileira Maria Nágila Bezerra, pessoa de permanente bom humor, que ri mesmo quando conta as mais terríveis tropelias a que possa ter sido sujeita.
Sucede que há algumas semanas atrás começou a não aparecer ou a chegar mais tarde. Não se tratava, como vim a saber, de deambulações existenciais por montes e vales, nem mesmo de acessos místicos, mas antes de razões infelizmente mais prosaicas: ia ao SEF. Rapidamente descobri que se tratava do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. E pude compreender que o modo de funcionamento desta instituição nem sempre teria aquela perfeição que nós desejaríamos para um serviço público em área tão sensível como esta. Comprova-se que, se por vezes encontramos funcionários amáveis e colaborantes, desejosos de nos facilitar a vida, outras há em que nos confrontamos com pessoas stressadas e amarguradas pelo amarelo das paredes e os dramas conjugais para os quais quase nunca contribuímos mas de que pagamos as implacáveis consequências. Para ir ao SEF, a Nágila levantava-se antes de o Sol nascer para se deslocar de Alverca até Lisboa, onde, às portas do SEF, se organizava uma fila imensa de pessoas que esperavam cinco e seis horas para serem atendidas. E quem as atendia? Gente zangada com a vida que parecia ter uma especial volúpia em criar dificuldades: incapazes de explicarem tudo o que as pessoas precisavam de levar, incapazes de perceberem que as pessoas que atendiam tinham certas limitações na compreensão dos mecanismos burocráticos portugueses, descobriam sempre mais papéis que faltavam, o que obrigava a recomeçar tão exaltante peregrinação.
Tenho à minha frente o papel que acabou, ao cabo de porfiados esforços, por lhe ser dado e que, num português em que "há menos" se escreve "à menos", se intitula "Renovação de Autorização de Permanência Temporária para Trabalho subordinado", esclarecendo-se, para consolo das nossas almas, que é ao abrigo do art. 217, n.º 1, da Lei 23/207 de 04 de Julho. Que é preciso? Um passaporte válido, um comprovativo das condições de alojamento (contrato ou atestado da Junta de Freguesia), declaração do IRS e cópia da nota de liquidação relativa ao ano fiscal anterior, contrato de trabalho e declaração actualizada da entidade patronal a atestar o vínculo laboral, declaração da Segurança Social regularizada a confirmar os descontos efectuados, requerimento em impresso de modelo próprio (www.sef.pt) e duas fotografias. Com todas estas tarefas, por sucessivos dias, a Nágila deixou de aparecer. Andava por Alverca e Lisboa à procura de papéis - belo ideal de vida. Única vantagem: aprimorei a minha capacidade de fazer camas. E vou melhorando noutras tarefas domésticas.”


PS: Relativamente a Nágila Bezerra, Eduardo Prado Coelho não se limitou a escrever a crónica acima nem, tão-pouco, a pagar os dias em que a sua empregada não trabalhou em sua casa por andar numa roda viva à procura dos papéis necessários para renovar o visto de residência. Prado Coelho foi um dos mais fiéis apoiantes desta difícil causa e, com esta última crónica, conseguiu sensibilizar a secretária de Estado da Reforma Administrativa, e de tal maneira, que Nágila recebeu na última quinta-feira o tão ansiado visto.