terça-feira, setembro 25, 2007

Cinema e pipocas




Noutros tempos, quando se ia ao cinema, isso significava algo mais do que ir ver apenas um filme. Era, também um acto social, uma oportunidade para encontrar os amigos, para passear pelos foyers, para beber um café no bar, ao mesmo tempo que se iam observando e comentando os pares à nossa volta, enquanto não soava o sinal a indicar que a projecção do filme ia começar.

E porque os tempos eram outros e os costumes também, havia o hábito dos homens comprarem nesses mesmos bares dos cinemas, rebuçados ou bombons que ofereciam às acompanhantes. Era um gesto de carinho, de cortesia, um mimo, se quiserem, que agradava muito às amigas, às namoradas e às esposas.

Essa era a parte romântica da questão. A outra era mais vulgar e muito mais incómoda para quem pretendia assistir sossegado à projecção do filme. Era o barulho característico do desembrulhar desses rebuçados ou bombons. Logo após as salas escurecerem, começava o restolhar irritante do “descascar” das guloseimas.



Muitos anos depois, os costumes são outros. Rebuçados, bombons e gentilezas passaram de moda e foram substituídos implacavelmente pelas pipocas – pelas pipocas vendidas e mastigadas dentro dos cinemas - que, ao que tudo indica, deve ser mais uma das fantásticas invenções nascidas nos states. Tudo é demasiado comercial, o consumo manifesta-se desenfreado e até alarve e mata, obviamente, qualquer gesto mais delicado.

E se dantes o barulho do desembrulhar dos caramelos era insuportável, agora o mexer e remexer naqueles enormes baldes de pipocas, acompanhado pela deglutição constante das mesmas durante a sessão inteira, é simplesmente intolerável.

Que me desculpem os apreciadores daquele “manjar”, mas apanhar com umas quantas pessoas ao nosso redor a triturar insistentemente pipocas, a mexerem-se nas cadeiras o tempo todo para ir buscar mais um punhado de milho e, para cúmulo, ter que ficar com aquele cheiro intenso pregado às narinas, é dose!

Não sei se não deveria haver uma lei anti-pipocas nas salas de cinema. Querem comer pipocas? Muito bem, comprem-nas e levem-nas para casa, comam-nas à vontade mas no remanso das vossas casas, diante da televisão e, de preferência, sem incomodarem os outros.

Eu sei que há cinemas onde ainda não se vendem pipocas, para grande desespero dos pipoqueiros mais fanáticos, mas tenho receio que já não seja por muito tempo.

Enfim, perdoem-me o desabafo e até algum exagero. Afinal, talvez pudesse haver uma situação de compromisso.

Concordo em absoluto com a opinião do Nicolau Santos, quando diz que em filmes como o “Shrek”, o “Ratatui” ou “Academia de Polícia” poder-se-ia permitir comer pipocas. Mas, em filmes como “Os Fantasmas de Goya”, por exemplo, isso seria completamente proibido.

É que, quando se pretende ver um filme de qualidade, em que o nosso nível de concentração tem que ser maior e a nossa sensibilidade está mais apurada, é completamente impossível acompanhar a acção do filme, ao mesmo tempo que somos obrigados a ouvir o som do mastigar das pipocas. Não é compatível e chega a ser criminoso.



2 comentários:

Anónimo disse...

Realmente é impressionante como esta moda pegou.

A massificação de comportamentos preocupa-me.

Antes do filme é a ânsia de comprá-las, durante é a sofreguidão com que mergulham naqueles verdadeiros contentores de calorias a ruminar, e depois é ver o estado de porqueira em que fica a sala ao acenderem as luzes.

O vício é tal que, certamente, estas pessoas têm dificuldade em dissociar o acto de assistir a um filme ao de manter as mandíbulas em movimento.

Sinto-me incomodado pelos pipoqueiros, o que me leva frequentemente a procurar salas, filmes e sessões com a mais baixa taxa de probabilidades de lá encontrar pipocas. Ou seja, fujo deles, tal como tenho de evitar fumadores.

Eu sonho com um mundo melhor, com cinemas livres de pipocas - PIPOCAS FREE - e snacks free, já agora. Deixem-me ir ver um filme em sossego e em condições dignas de higiéne, por favor. Se não sabem ver um filme no cinema, vejam televisão.

Eu podia estender o assunto durante horas, mas prefiro não me alongar muito mais e terminar dizendo que concordo com a tentativa de compromisso referida no post.

Verdadeiros amantes da sétima arte, insurjam-se!

Anónimo disse...

Aqui fica mais uma contribuição para o lobbying contra as pipocas...