quinta-feira, novembro 15, 2007

"Cesário Verde Um Génio Ignorado"


Cesário Verde, foi sempre um poeta esquecido e que, por ter morrido prematuramente (1855 – 1886), nos deixou uma obra muito curta.


Apesar disso, José Joaquim Cesário Verde, imprimiu na sua poesia um carácter ousado de um realismo lírico e prosaico e a sua obra marcou indelevelmente a segunda metade do século XIX.

Porque o poeta parece ter agora ressurgido e, inesperadamente, voltou a falar-se dele e a descobrir a sua poesia, quis partilhar convosco um dos seus poemas.



A propósito, Maria Filomena Mónica, acabou de publicar um livro sobre Cesário, a que chamou

“Cesário Verde Um Génio Ignorado”,

e sobre ele disse:

“Fiz uma tentativa de revelar o poeta, porque acho que ninguém consegue explicar o Cesário. Ao contrário do Eça, do Júlio Dinis ou do Herculano onde se pode entender como é que o ambiente os levou a escrever, ele foi totalmente incompreensível para mim desde o início e acabei o livro a tirar-lhe o chapéu porque, apesar de todos os esforços, continua a ser muito difícil explicar como é que alguém que nasceu em Lisboa em 1855, que trabalhava numa loja de ferragens do pai, que só foi a Paris durante uma semana, com poucos ou nenhuns contactos com intelectuais estrangeiros, produziu uma obra poética ímpar, não só em Portugal como no mundo.”

E disse, ainda, “... tal como o Eça criou o português que falamos, o Cesário criou a poesia moderna. É o Fernando Pessoa que vai chamar a atenção para o poeta e a partir do pós - I Guerra Mundial é que uma elite muito pequena o vai ler. Mas até à Presença, é um poeta totalmente ignorado, porque escreveu demasiado cedo coisas demasiado boas ... Se Cesário Verde aparecesse hoje na TV era 'best-seller'”.

De Cesário Verde

De tarde

Naquele "pic-nic" de burguesas,

Houve uma coisa simplesmente bela,

E que, sem ter história nem grandezas,

Em todo o caso dava uma aguarela.

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Foi quando tu, descendo do burrico,

Foste colher, sem imposturas tolas,

A um granzoal azul de grão-de-bico,

Um ramalhete rubro de papoulas.

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Pouco depois, em cima duns penhascos,

Nós acampámos, inda o sol se via,

E houve talhadas de melão, damascos,

E pão de ló molhado em malvasia.

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Mas, todo púrpuro, a sair da renda,

Dos teus dois seios como duas rolas,

Era o supremo encanto da merenda,

O ramalhete rubro das papoulas.



1 comentário:

Anónimo disse...

Já tinha saudades de ler poesia neste blog. Muito bom!