sexta-feira, março 30, 2007

Um cartaz perigoso

Não gostaria de dar demasiado espaço à questão, a juntar àquele que os meios de comunicação social já fizeram, mas não posso deixar de me referir a um cartaz nacionalista agora aparecido no centro da capital, que apela à expulsão dos imigrantes em Portugal.

Por iniciativa do Partido Nacional Renovador (PNR) foi colocado no Marquês de Pombal, um sítio nevrálgico de Lisboa, com muita visibilidade e por onde passam diariamente milhares de pessoas, o tal cartaz que diz explicitamente

“Basta de Imigração – Nacionalismo é Solução – Portugal aos Portugueses”.

conjunto que é completado com a imagem de um avião com a legenda "façam boa viagem", ou seja, vão-se embora.


Esta campanha surge, curiosamente, dias depois de Salazar ter ganho o concurso da RTP “Os Grandes Portugueses”. E partindo a iniciativa de um pequeno partido que obteve nas últimas eleições pouco mais de dez mil votos, vem demonstrar que existe um desespero ultra-nacionalista que ofende profundamente não apenas os 400 mil imigrantes que diariamente constróem connosco o país e que são pessoas com direitos iguais aos dos emigrantes portugueses espalhados pelo mundo, mas também, a memória histórica dos portugueses, um povo tradicionalmente emigrante.

A mensagem nem sequer é nova e as frases são decalcadas das que a extrema direita francesa emprega para pressionar a saída de França dos muitos imigrantes estrangeiros, entre eles cerca de um milhão de portugueses.


É uma campanha injusta, xenófoba e racista, lançada precisamente no “Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades".


quarta-feira, março 28, 2007

O Maior Português de Sempre


Apesar de, em termos políticos, esta semana ter sido, ao que parece, bastante agitada, não só pela actividade intensa daqueles que já tinham uma saudade danada em voltar às luzes da ribalta – refiro-me, evidentemente, a Paulo Portas e a Santana Lopes – mas também, pela “peixeirada” que tem havido lá pelo CDS/PP, apesar disso, posso garantir-vos que tive uma semana muito bem passada e que me soube muitíssimo bem.

Agradeço a todos aqueles que tiveram a gentileza de me desejar boas férias e bom regresso. Muito obrigado!


E regressei precisamente no dia em que terminou o concurso da RTP, “O Maior Português de Sempre”. Embora não tivesse acompanhado algumas das sessões, mantive sempre a curiosidade em saber em quem é que iria recair a preferência dos portugueses, quem é que eles iriam considerar como o maior de todos nós.

Pela lista dos dez mais, achei que muitos foram os portugueses ilustres que poderiam figurar nessa galeria de honra, mas admito que não caberiam lá todos. Para já, acho que todos notaram que na lista final faltaram dois nomes incontornáveis e que teriam grandes possibilidades de chegar à vitória final. O meu, como me parece óbvio, e o de Jorge Nuno Pinto da Costa, embora quanto a este último, tivesse lá um homónimo de peso, D. Nuno Álvares Pereira. Mas adiante ...

Este concurso teve o mérito de aproveitar um espaço televisivo de grande audiência para divulgar junto do público, alguns dos maiores vultos da nossa História, e nas mais diferentes áreas, explicando em pormenor quem eram todos eles, o que fazem ou fizeram, o que significam ou significaram para o país e enaltecendo as qualidades e defeitos de cada um. Só por esse facto, o programa merece nota positiva.

Quanto à votação em si, aí a coisa já fia mais fino. Como, de resto, na maior parte das votações, há que ter em conta a personalidade, a cultura (ou a falta dela), a ignorância da história e da própria vida, as opções partidárias e ideológicas, as dificuldades económicas, os ressentimentos, os protestos e até as pressões internas ou externas de quem vota. E, provavelmente, muitas outras explicações se poderiam inventariar para justificar os porquês que levam os cidadãos a votarem desta forma e não de outra.

Eu, por exemplo, teria preferido que tivesse ganho Aristides de Sousa Mendes, exemplo máximo de compaixão e de defesa dos direitos humanos, que demonstrou uma solidariedade única por dezenas de milhares de pessoas que nem sequer conhecia, livrando-as de uma morte certa. Com a sua acção, enfrentou corajosamente o governo de quem dependia, ignorando as suas instruções, e acabando por ser castigado com a pior das penas. Foi completamente esquecido e despojado de todas as suas honras e morreu na miséria. Um grande homem, cujo o bom nome só foi reabilitada depois de 25 de Abril de 1974, que deve merecer o orgulho e a gratidão de todos os portugueses.


Contudo, o resultado foi outro e outro o vencedor. Salazar ganhou o concurso da RTP e foi considerado “O Maior Português de Sempre”. Ainda que para isso, e de acordo com as notícias vindas a público na imprensa, tivesse ajudado as correrias que umas dúzias de cabeças rapadas fizeram pela cidade, fazendo chamadas de diversas cabinas telefónicas públicas, provavelmente para oferecer mais uns votos ao seu líder ideológico.



Mas aquilo que eu considero mais curioso neste resultado, e isto é naturalmente a minha perspectiva, é que tendo sido esta a vitória de Salazar (no concurso), ela foi, provavelmente, a sua pior derrota de sempre.


Salazar conseguiu ser falado, discutido, enaltecido e até ganhar um concurso em plena democracia, um regime que ele nunca permitiu. Um concurso que, com estas características, nunca teria sido possível realizar durante a sua longa ditadura. Esta a sua grande derrota.

quinta-feira, março 15, 2007

São só uns dias

Se não se incomodam muito, vou uns dias de férias.

Voltarei, em princípio, no próximo dia 28 deste mês (quarta-feira).

Abraços e beijinhos

Desonestidade!


Eu pasmo-me com o descaramento e a desonestidade de algumas pessoas que, em princípio, por serem tão confiáveis, estariam sempre a cima de qualquer suspeita.

Será que alguém teria a ousadia de desconfiar da honradez de um administrador de uma instituição como o Supremo Tribunal de Justiça que, ao comprar certas “prendas institucionais” destinadas a serem oferecidas, essas mesmas prendas eram, afinal, para seu próprio uso? Ninguém, por certo.

E vejam como se enganaram. O tal administrador comprou dois relógios caríssimos para serem, alegadamente, oferecidos ao Presidente da República e à Primeira Dama, e comprou também pinturas e serigrafias, em número não apurado, de artistas de renome, também, supostamente, para serem oferecidos pelo Supremo Tribunal de Justiça.

Este jovem jurista, de apenas 32 anos, apesar da idade, provou que, de facto, era tão competente, que o Supremo Tribunal de Justiça não teve dúvidas em lhe atribuir, em acumulação, as funções de chefe de gabinete e de administrador financeiro do Supremo, entre 2002 e 2006.

E o Dr. Ricardo Campos Cunha, assim se chama o burlão, perdão, o administrador, tão apto se mostrou, que entendeu comprar – de forma ilícita – uma enorme série de “ofertas” que se estima possam ter custado ao erário público, qualquer coisa como 250 mil euros.

Como noutros casos, mais uma vez se confiou cegamente nas pessoas e os mecanismos de controlo, se é que existem, voltaram a não funcionar.
Só espero que este competentíssimo jurista e administrador, que se sabe ser muito ligado à religião católica e um frequentador assíduo da Igreja, venha a ser condenado pela lei divina, mas que seja, também, severamente punido pela lei dos homens, pelo uso e abuso do dinheiro dos contribuintes.

Perguntar por perguntar


Decerto temos encontrado ao longo da vida miríades de pessoas que passam a vida a perguntar coisas. Seja por curiosidade, por vontade de aprender ou, simplesmente, por vontade de perguntar, essas pessoas não param de fazer perguntas. Conheço mesmo algumas pessoas, cuja vontade de fazer perguntas é tão obsessiva , que elas saem a uma velocidade estonteante, umas atrás das outras e de tal forma, que essas pessoas nem sequer têm tempo, ou vontade, de ouvirem as respostas.

Mas há um outro tipo de pessoas que, perguntando por perguntar, fazem-no de forma completamente idiota, já que as respostas são tão óbvias que, se tivessem tido o cuidado de pensar um pouco, as perguntas nunca teriam sido formuladas.
Como se percebe nos dois exemplos que se seguem:

1 – Há muitos anos, um mancebo estava a fazer a inspecção militar para ingressar no curso de oficiais milicianos. É necessário dizer, para quem não sabe, que para se ser oficial do exército, era necessário, nesse tempo, ter, pelo menos, o antigo sétimo ano do liceu. O que pressupõe que os candidatos teriam obrigatoriamente de saber ler, escrever e contar. No mínimo, como é evidente.

Pois o sargento que fazia aquela espécie de exame ao mancebo, virou-se para ele e atirou-lhe de chofre: Olha lá, e tu sabes ler?

É capaz de ter sido só perguntar por perguntar, pois se o rapaz para ali estar, tinha que ter pelo menos o 7º ano, era suposto que devia saber ler. Ou não?


2 – Gael Garcia Bernal, um actor de origem mexicana contou “Para entrar nos Estados Unidos, já atravessei a fronteira em muitos sítios: Juárez, Tijuana, Tecate. É uma espécie de ritual de humilhação. Fazem-nos perguntas às quais nem sabemos responder de tão ridículas, tipo: “Vem de onde?” Do México, de onde havia de ser?”.

De facto, e sabendo-se que os Estados Unidos apenas fazem fronteira a sul com o México, sendo o homem mexicano e querendo entrar nos states, de onde é que ele devia estar a chegar? Da Roménia, do Brasil, talvez?


Ele há cada pergunta!

terça-feira, março 13, 2007

In(justiças)


Sabemos que em Portugal existem graves problemas para resolver (também) na área da justiça. E existe uma certa unanimidade em reconhecer que, ou não temos leis que abranjam determinadas situações, ou as que temos não protegem suficientemente o cidadão e as instituições, ou temos leis que na prática não são aplicadas. Para além, claro está, de termos uma justiça cara e, sobretudo termos uma justiça demasiado lenta. O que torna, claramente, injusta a nossa justiça.

Mas, apesar disso, é consensual que o nosso ordenamento jurídico, está ao nível dos mais avançados do mundo civilizado, que tem as leis consideradas fundamentais e que elas foram bem elaboradas. Só que, muitas dessas leis, não são cumpridas.

E exemplos não faltariam para ilustrar esta afirmação. Contudo, hoje quero referir-me a uma situação gravíssima que está a acontecer no nosso país e, ao que parece, não é a única.

No nosso regime jurídico, a Lei 265/79, impõe medidas especiais de segurança, e nomeadamente o isolamento, cujo prazo não pode ser superior a um mês.

Diz a Lei que não pode, mas na prática, há presos que estão no isolamento por períodos superiores a 30 dias.

É o caso de um recluso do Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira, que se encontra detido em isolamento há 482 dias, sem que a Direcção-Geral dos Serviços Prisionais justifique esse isolamento ou responda aos requerimentos entretanto enviados pelo seu advogado.


Muito embora o recluso em questão tenha um historial nada abonatório e seja, de certa forma, considerado um indivíduo perigoso, o facto é que, de acordo com a Lei em vigor, "o isolamento ininterrupto de um recluso em cela especial de segurança, visa exclusivamente o restabelecimento da normalidade da situação. Se no final dos 30 dias se mantiverem os motivos que originaram o isolamento, o recluso deve ser transferido para um estabelecimento de segurança”.


Temos, pois, um caso, onde existe legislação clara mas, na prática, ela não se cumpre, fazendo com que o recluso se encontre em situação ilegal.

Porquê, pergunto? Com que justificação?

segunda-feira, março 12, 2007

O julgamento


Recordo-me de um concurso que passou na televisão há alguns anos, que se chamava, salvo erro, “A Cadeira do Poder”, apresentado por Artur Albarran, e onde também participava a agora vice-presidente do PSD, Paula Teixeira da Cruz. Nesse programa os concorrentes “vestiam a pele” de políticos e o intuito de cada um deles era o de, através dos seus argumentos, levar de vencida os respectivos adversários. Se bem me lembro, chegou a haver debates muito interessantes.



Talvez por influência desse programa de TV, ou pelos muitos “Big Brothers” que encheram noites e noites de televisão, o Major Valentim Loureiro apareceu em várias manchetes de jornais, nestes últimos dias, a dar conta que, uma vez que tem mesmo que ser julgado, então que o julgamento seja público e através da ... televisão.



Com excepção daqueles julgamentos em que o número de arguidos, de advogados e de testemunhas é tão grande que não cabem numa vulgar sala de audiências, por maior que ela seja, e por isso têm que recorrer a outras salas mais amplas, normalmente em salões de bombeiros ou de juntas de freguesia, que eu saiba, os julgamentos em Portugal fazem-se nos tribunais.

Mas Valentim Loureiro, ao seu jeito, e com a impetuosidade e o calor verbal que se lhe conhece, tratou de contra-atacar fortemente o ter que ser julgado, considerando o procurador de Gondomar que efectuou a investigação “um romancista, e o juiz que o vai julgar de ser ainda mais “ficcionista” que o próprio procurador. Aos olhos de muitos, um contra-ataque de manifesto desespero.

E, com este estado de alma, tratou de lançar o repto:

“Quero ser julgado publicamente. Já os desafiei a levarem advogados e juizes para me julgarem na televisão. Já percebi que os tribunais não me levam a sério”.

O Major que é acusado de 27 crimes e que jura a pés juntos que não se vai demitir dos cargos que ocupa, o do Metro do Porto e o de Presidente da Câmara Municipal de Gondomar, gostaria, se chegasse a ser julgado na televisão, de conseguir o mesmo resultado que obteve na última eleição para a Câmara,

“Quando votaram, os gondomadorenses que me deram a maioria, já conheciam todas as acusações”.



É precisamente nisso que Valentim está a apostar. Querer ser julgado na TV para, com a força incontestável do seu mediatismo, tentar convencer os juizes da bondade da sua argumentação.

É certo que não pode, agora, recorrer à velha manobra de oferecer electrodomésticos aos seus munícipes, mas continua a acreditar que o seu ar desafiador e confiante junto de milhões de telespectadores, possam influenciar, de alguma forma, a decisão dos juizes.

Eu creio, Major, que ninguém lhe vai dar essa oportunidade. Nem mesmo acreditando na sua afirmação de que os tribunais não o levam a sério. Eles, lá saberão porquê.

Acima de tudo, a decência e o bom senso impedem certamente que a sua vontade se realize. O julgamento deverá ser feito, sim, mas no tribunal. E é aí que o senhor vai ter que convencer os juizes da sua inocência.



domingo, março 11, 2007

Bem prega Frei Tomás ...


Quanto toda a gente, um pouco por todo o mundo, procura estar na onda do politicamente correcto, falando sobre o aquecimento global e dissertando em colóquios e seminários sobre a mais que provável subida das águas, o aumento do nível do CO2 na atmosfera, o desaparecimento das florestas e das espécies, a invasão frequente de tornados, furacões, terramotos e sunamis, enfim, tudo o que de pior se possa imaginar, eu, em princípio, acredito que essa gente está cheia de boas intenções. Acredito, embora com reservas, que eles apenas pretendem alertar governos e cidadãos para as ameaças reais que pairam sobre o Universo e para a necessidade de começarmos a ter outro tipo de comportamentos que possam contribuir para a solução do problema.


Recentemente o antigo vice-presidente dos Estados Unidos da América, Al Gore, um homem com quem eu até simpatizo, esteve em Portugal (pela segunda vez num curto espaço de tempo) para dizer-nos o que, afinal, todos já conhecem. Que na última década todos os fenómenos que acima referenciámos aumentaram de intensidade, pelo que temos que cuidar muito melhor do nosso planeta.



O senhor Al Gore, considerado um “paladino das causas ambientais”, veio, afinal, alertar-nos para os perigos que corremos (que corre a Humanidade, claro está) se não arrepiarmos caminho.



Mas, para além de não nos trazer quaisquer novidades sobre o assunto, Al Gore não será, na minha opinião, a pessoa mais credível para vir falar nestas temas. É que, enquanto nos avisa que temos que travar o aquecimento global, nomeadamente, com a alteração dos nossos comportamentos no que respeita a minimizar os consumos de energia, que tanto poluem o ambiente, ele próprio, na sua mansão de 20 quartos no Tenessee, gasta 12 vezes mais energia do que a média das famílias do Estado em que reside. Um consumo que contraria claramente as teses de poupança que defende.

Como se costuma dizer “Bem prega Frei Tomás ...”


Al Gore, como tantos outros conferencistas que por aí andam a participar em colóquios e conferências, a maioria deles fazendo-se valer das posições importantes que tiveram no passado, descobriram o filão, e andam a ganhar grossas maquias pelas suas presenças e discursos. Cento e Setenta e Cinco mil euros por conferência é quanto Al Gore cobra a quem o quer ouvir durante hora e meia e a quem está disposto a pagar 1200 euros por entrada.



E enquanto vai saltitando por esse mundo, em inúmera viagens aéreas que vão conspurcando altamente (com duplo sentido, neste caso) os ares, dando conferências atrás de conferências, a fim de transmitir as suas preocupações ambientais e aqueles conselhos, que ele próprio não segue, Al Gore, dizia, vai acumulando uns bons milhares de dólares, ou de euros, enquanto se prepara, quiçá, para ser laureado com o próximo Prémio Nobel da Paz.

sexta-feira, março 09, 2007

Pontualidades


Não era necessário que a AESE – Escola de Direcção e Negócios, uma das boas escolas de negócios a operar no país, viesse agora a terreiro para dizer que os portugueses, de uma forma generalizada, não cumprem horários. Quando muito a AESE vem confirmar, ou se quiserem, vem dar crédito a uma verdade que há muito todos sabíamos.

Mas porque já sabíamos (ou calculávamos) que estávamos perante números terríveis, que não abonam nada em nosso favor, puder-se-ia supor, pelo menos, que as coisas iriam melhorar com o tempo, ainda que fosse devagar, devagarinho.

Noutro país, com outras gentes, talvez. Em Portugal e com os portugueses não, definitivamente não.

Os números não nos deixam dúvidas: 95% dos portugueses não são habitualmente pontuais, 65% das reuniões não começam à hora marcada, 60% das empresas vêem o seu negócio prejudicado pelo incumprimento de prazos.

A situação é, no mínimo, muito desesperante e não há quem consiga achar uma forma de podermos sair dela, o que torna a coisa ainda muito mais preocupante.

Se 95% dos portugueses não são pontuais, isso significa, para já, que essa maioria se está a borrifar para os outros 5% que têm a mania de chegar a horas, e que os considera trouxas, parvos e pouco inteligentes. Mas pode também significar que desses 5% pontuais, alguns deles, fartos de serem os “certinhos” da companhia, na próxima oportunidade, e porque não vale a pena chegar a horas, também eles vão começar a chegar tarde e a engrossar a percentagem dos que não cumprem. Só que agora não será devagar, devagarinho mas sim, eles vão entrar rapidamente no “sistema”, de modo a que um dia destes não haverá um só português que seja pontual.

Quanto a só 35% das reuniões começarem à hora marcada, isso preocupa-me menos. Quem é ou já foi algum dia “profissional de reuniões”, sabe que a maioria delas, de facto não começa à hora marcada porque faltam sempre uns quantos e que, normalmente, são sempre os mesmos. Mas daquelas reuniões que começam mesmo à hora, o normal é que os assuntos que os levaram a reunir-se só comecem a ser debatidos pelo menos meia hora depois do início, pois os desabafos, os queixumes e os cafés que os participantes vão tomando, já passaram a fazer parte da própria reunião.

E, reparem, estou a falar de reuniões que têm uma agenda previamente definida. Quando não há agenda, então ...

Preocupa-me, isso sim, que 60% das empresas não cumpram os prazos. Isso é verdadeiramente dramático e deita por terra a credibilidade de qualquer empresa. Será que existe alguém completamente louco que contrate um serviço, ou compre quaisquer produtos a uma empresa, sabendo de antemão que os prazos indicados por essa empresa nunca irão ser cumpridos? Claro que não.


Então como se poderá alterar este estado de coisas? Não é fácil, não deve ser nada fácil, suponho, senão não estaríamos agora a falar deste assunto.

Podem-se aplicar castigos, pecuniários ou de outro tipo, mas não tenho a certeza que dessa maneira se consigam alcançar grandes sucessos.


Para mim (ingénuo como sempre) o princípio de tudo está na educação. Mas a educação pressupõe também o exemplo e esse é que é, precisamente, o busílis da questão. Se quem manda, se quem educa e forma não tiver na prática uma conduta coerente com o que está a determinar ou a ensinar, então adeus ilusões, continuaremos a ser o tal povo em que 95% das pessoas não cumprem qualquer tipo de horários.


terça-feira, março 06, 2007

Era rico mas queria ser muito mais rico


É frequente falar-se sobre a falta de ambição dos portugueses e da inexplicável ausência de auto-estima que nos atinge, de uma forma geral. Quando surge, porém, um indivíduo que, provavelmente, insatisfeito pela vidinha que não lhe corre de feição, que decide "dar o salto" e, ainda por cima, consegue fazer fortuna, aí todo o mundo lhe cai em cima, quase sempre para gritar que o homem é um ladrão e que tudo o que conseguiu foi, certamente, à custa de algum negócio sujo.

Foi o aconteceu a um médico, de nome João Aurélio Duarte. O homem já vivia bem, era um médico próspero e conhecido em Santarém e, ele e a mulher, eram donos ou geriam sete clínicas em Lisboa, no Cartaxo e no Pinhal Novo. Tinha, portanto, uma boa vida, mas queria mais.

Como disse, o homem já era bem sucedido mas como ainda não estava satisfeito com o muito que já tinha, pôs-se a pensar, fartou-se mesmo de pensar como poderia melhorar de vida, até que encontrou uma forma de ganhar muito mais dinheiro do que até então. E à conta de quem, perguntarão? Da ADSE, ou seja, dos contribuintes, como é evidente.

Como ele descobriu que o Estado não controlava convenientemente as despesas de saúde dos funcionários no activo, familiares e aposentados, e que se limitava, apenas, a verificar se os papéis estavam correctamente preenchidos, pôs-se a inventar expedientes atrás de expedientes, iniciativas que o fizeram ganhar uma pipa de massa.

Então, fazia-se cobrar de consultas, tratamentos e sessões de fisioterapia que nunca foram feitos, receitas e prescrições falsas com assinaturas falsificadas de médicos e pacientes, prescrição de exames ginecológicos a homens e consultas de pediatria a reformados da função pública.

Burlas atrás de burlas que lhe renderam quase quatro milhões de euros.

Quando, finalmente a ADSE descobre que algo ia mal no Reino da Dinamarca, João Duarte mudou de vida. Foi de viagem até ao Brasil onde arranjou uma nova mulher e fundou uma rede de clínicas com mais de cinquenta mil clientes e seis mil funcionários, e onde, provavelmente, esperava adoptar o método que tão bons resultados deram cá no burgo. Entretanto, e porque às vezes, a vida tem destas coisas, foi detido no Brasil e extraditado para Portugal, onde está em prisão preventiva.

Pergunta-se pois, qual a moral da história? Um médico que burlou o Estado, ou um Estado que não estava preparado para exercer o necessário controlo numa área tão sensível e complexa como a da saúde?

O que não se pode dizer, isso não, é que o homem não tinha ambição e que não era empreendedor. Pena foi que tais “virtudes” não fossem aproveitadas da forma mais correcta.


Mas que diabo, doutor, prescrever exames ginecológicos a homens e consultas de pediatria a reformados, foi mesmo gozar com o pessoal, não foi?

segunda-feira, março 05, 2007

A vida excitante dos vereadores da CML


A vida da Câmara Municipal de Lisboa está a tornar-se verdadeiramente excitante. Não por causa da quantidade de vereadores do PSD que são considerados arguidos (o que já não é lá muito bom, pese embora sejam apenas arguidos e não culpados), nem sequer porque um deles já tenha sido constituído arguido há um ror de tempo, coisa que só o próprio presidente da autarquia sabia e mais ninguém. Não, não é só por isso que aquilo começa a estar animado,

O que eu acho que dá uma grande adrenalina a tudo isto, é aquela brincadeira que dantes se usava muito e que dá pelo nome da dança das cadeiras.

Pois a CML achou que, para que de alguma forma, se pudesse “matar” a monotonia que se estava a instalar diariamente na Câmara com os sucessivos afastamentos dos autarcas do PSD, seria interessante recuperar o tradicional jogo das cadeiras.

Foi assim que, entre cadeiras e protagonismos, agora dos vereadores do Partido Socialista, as coisas se foram animando.

E entusiasmaram-se, sobretudo, quando Gaioso Ribeiro e Dias Baptista, ambos do PS, se sentaram lado a lado na primeira fila da sala de reuniões dos Paços do Concelho, deixando o vereador social-democrata Amaral Lopes sem assento. Claro que o PSD rejeitou a situação, alegando que aquele lugar lhe pertence, facto que obrigou Dias Baptista a voltar ao seu lugar na fila de trás.

Mas, afinal qual dos vereadores do PS tinha razão? Dias Baptista, que sempre se sentou na segunda fila, agora que lidera a vereação socialista, acha que tem que ter um lugar compatível, logo tem que se sentar na primeira fila.

Gaioso Ribeiro, número dois de Carrilho e automaticamente número um, depois da saída deste, não abdica da herança do mestre e, obviamente o seu lugar só pode ser, também, na primeira fila da sala.

Eu sei que, por detrás da dança das cadeiras há muito mais coisas para contar, pois as divergências entre os dois já vêm de longe, mas mais não é preciso para achar que a vida dos vereadores da Câmara Municipal de Lisboa está realmente a tornar-se muito excitante.

quinta-feira, março 01, 2007

Dois poemas de Sophia de Mello Breyner Andresen







Sophia de Mello Breyner Andresen


(1919 - 2004)


È considerada por muitos como a maior poetisa contemporânea de Portugal.

Um nome que se transformou em sinónimo de Poesia e de Musa da própria poesia.




MUSA



Aqui me sentei quieta


Com as mãos sobre os joelhos


Quieta muda secreta


Passiva como os espelhos




Musa ensina-me o canto


Imanente e latente


Eu quero ouvir devagar


O teu súbito falar


Que me foge de repente









LIBERDADE


Aqui nesta praia onde

Não há nenhum vestígio de impureza,

Aqui onde há somente

Ondas tombando ininterruptamente,

Puro espaço e lúcida unidade,

Aqui o tempo apaixonadamente

Encontra a própria liberdade.

Afinal, os humanos também sabem farejar ...


Um surpreendente estudo recente, divulgado pela revista Science Now, afirma que as pessoas podem seguir um cheiro num campo de relva se, para tal, se dispuserem a andar de gatas com o nariz no chão.

Acreditava-se, até agora, que os humanos eram muito fracos a farejar, melhor dizendo, a usar o olfacto, especialmente se comparados a cães e a roedores, mas ainda poucos se tinham lembrado de testar esta capacidade.

Pois agora, uma equipa da Universidade da Califórnia lembrou-se de fazer uma experiência inovadora e, para isso, mergulhou 10 metros de fio em essência de chocolate e colocou-o num campo, de forma a desenhar duas linhas direitas ligadas num ângulo de 135 º.

Depois, vendaram os olhos a 32 estudantes e colocaram-lhes auscultadores, luvas grossas e joelheiras, de modo a evitar que usassem outros sentidos, que não fosse apenas e só o seu olfacto.

Quando largados no campo, dois terços dos estudantes seguiram o odor, zigezagueando sobre o fio como verdadeiros perdigueiros.

Quase todos relataram que a tarefa foi um desafio, e quatro deles conseguiram mesmo ter melhores resultados à medida que iam praticando.

Apesar de tudo, os resultados ficaram muito aquém daqueles que foram obtidos com as outras pesquisas em que foram utilizados cães. Ou seja, chegou-se à conclusão que, por enquanto, o olfacto humano ainda não é tão apurado como o dos nossos fiéis amigos.
A descoberta, seguramente, não deixará, por enquanto, os cães no desemprego, mas muitos deles poderão, a partir de agora, ter um pouco mais de respeito pelo, até aqui desprezado, olfacto dos humanos.