segunda-feira, abril 30, 2007

Um barbeiro previdente

Como se sabe, o Eça de Queiroz escrevia de uma forma clara e fácil, de forma a que todos pudessem entender. O mesmo não acontece com muitos escritores, cineastas, dramatugos e outros artistas que tais, que depois do seu processo de criação, as suas obras apenas são entendíveis por eles próprios, e, quando muito, por mais uns quantos pseudo-intelectuais.

O mesmo se passa com os escritos e relatórios que são elaborados em muitas empresas, que deveriam ser lidos por vários destinatários mas que, infelizmente, os respectivos textos, por tão complexos e arrevesados que são, não chegam a ser percebidos por esses receptores.

A mesma coisa se pode dizer de muitas leis que são tão pouco claras que nem os próprios juristas conseguem chegar a um acordo quanto à sua interpretação.



Mas porque o senhor José Bonito Gomes, distinto barbeiro em Beja, quis escarrapachar preto no branco o que queria realmente transmitir aos seus clientes, e para que não restassem quaisquer dúvidas, não foi de modas e arranjou um cartaz que até pode não ser muito artístico, mas que não podia ser mais claro.




Porque a imagem pode não ser suficientemente visível para se perceber o que lá está escrito, reproduzo o que o Sr. José Bonito escreveu:

Sábados - estou aqui das 9,30 h da manhã até às 07,30 h da tarde.

Domingos - estou aqui das 9,30 h da manhã até às 02,00 h da tarde.

Feriados - estou aqui das 9,30 da manhã até >às 02,00 h da tarde.

2ª Feira - chego aqui às 7,00 h da tarde e estou até às 08,30 h da noite.

3ª Feira - chego aqui às 7,00 h da tarde e estou até às 08,30 h da noite.

4ª Feira - chego aqui às 7,00 h da tarde e estou até às 08,30 h da noite.

5ª Feira - chego aqui às 7,00 h da tarde e estou até às 08,30 h da noite.

6ª Feira - chego aqui às 2,30 h da tarde e estou até às 3,15 h da tarde,

depois saio ao cabrito só chego às 7,00 h da tarde e estou

até às 8,30 h da noite.

. AMIGO CLIENTE, SE NÃO ESTIVER AQUI NA BARBEARIA POSSO ESTAR EM MINHA

CASA, EM CASA DO MEU IRMÃO OU NO CAFÉ DA CELESTE. OU CASA DO PAI.

. SE ME FOR CHAMAR A MINHA CASA, A CAMPAINHA ESTÁ POR BAIXO DA CAIXA DO

CORREIO.

Nem o Eça de Queiroz, que não era de Beja mas da Póvoa do Varzim, teria feito melhor!

sexta-feira, abril 27, 2007

Porque é que se ganha um concurso?

Uma das coisas que eu nunca consegui aceitar é que alguém ganhe um concurso sem que eu perceba realmente porquê. Ganhou porque tinha uma cultura geral acima da média ou porque teve apenas sorte? Não interessa, em qualquer dos casos, ganhou o concurso e eu bato palmas. Mas se não vejo nada disso e o “artista” ganha na mesma é claro que fico aborrecido.

Foi o que se passou quando Salazar ganhou na televisão pública o concurso de “O maior português de sempre”. Eu nunca consegui atinar com o porquê. Eu sei que foram os votos dos portugueses que o levaram à vitória. De uma maneira não muito transparente, convenhamos, mas, assim mesmo, foi o primeiro e, de facto, com os votos de milhares de portugueses.

Mas o que eu não percebia mesmo é o que é levava tantos portugueses a votar no homem. Seria a saudade? Seria a esperança, qual D. Sebastião, que ele conseguisse endireitar um país que, para muitos, está completamente perdido?

Até que, alguém me fez chegar às mãos um documento que me fez abrir os olhos e perceber, finalmente, o porquê. Afinal, os portugueses tinham toda a razão para eleger António de Oliveira Salazar como o melhor, ou ele não tivesse uma personalidade e um “currículo” impressionante e imbatível.

Senão, apreciem algumas das “suas obras” :

. 1931 - O estudante V. Branco foi morto pela PSP, durante uma manifestação no Porto;
. 1932 - Armando Ramos, um jovem, é morto em consequência de espancamentos; Aurélio Dias, fragateiro, é morto após 30 dias de tortura; Alfredo Ruas, é assassinado a tiro durante uma manifestação em Lisboa;
. 1934 – 18 de Janeiro - Américo Gomes, operário, morre em Peniche após dois meses de tortura; Manuel Vieira Tomé, sindicalista ferroviário morre durante a tortura; Júlio Pinto, operário vidreiro, é morto à pancada; a PSP mata um operário conserveiro durante a repressão de uma greve em Setúbal;
. 1935 - Ferreira de Abreu, dirigente da organização juvenil do PCP, morre no hospital após ter sido espancado na sede da PIDE;
. 1936 - Francisco Cruz, operário da Marinha Grande, morre na Fortaleza de Angra do Heroísmo, vítima de maus tratos(tinha sido deportado do 18 de Janeiro de 1934); Manuel Pestana Garcez, trabalhador, é morto durante a tortura;
. 1937 – Morte de Ernesto Faustino, operário; José Lopes, operário anarquista, morre durante a tortura, sendo um dos presos da onda de repressão que se seguiu ao atentado a Salazar; Manuel Salgueiro Valente, tenente-coronel, morre em condições suspeitas no forte de Caxias; Augusto Costa, operário da Marinha Grande, Rafael Tobias Pinto da Silva, de Lisboa, Francisco Domingues Quintas, de Gaia, Francisco Manuel Pereira, marinheiro de Lisboa, Pedro Matos Filipe, de Almada e Cândido Alves Barja, marinheiro, de Castro Verde, morrem no espaço de quatro dias no Tarrafal, vítimas das febres e dos maus tratos; Augusto Almeida Martins, operário, é assassinado na sede da PIDE (PVDE)durante a tortura; Abílio Augusto Belchior, operário do Porto, morre no Tarrafal, vítima das febres e dos maus tratos;
. 1938 -António Mano Fernandes, estudante de Coimbra, morre no Forte de Peniche, por lhe ter sido recusada assistência médica, sofria de doença cardíaca; Rui Ricardo da Silva, operário do Arsenal, morre no Aljube, devido a tuberculose contraída em consequência de espancamento perpetrado por seis agentes da Pide durante oito horas; Arnaldo Simões Januário, dirigente anarco-sindicalista, morre no campo do Tarrafal, vítima de maus tratos; Francisco Esteves, operário torneiro de Lisboa, morre na tortura na sede da PIDE; Alfredo Caldeira, pintor, dirigentedo PCP, morre no Tarrafal após lenta agonia sem assistência médica;
. 1939 - Fernando Alcobia, morre no Tarrafal, vítima de doença e de maus tratos;
. 1940 - Jaime Fonseca de Sousa, morre no Tarrafal, vítima de maus tratos; Albino Coelho, morre também no Tarrafal; Mário Castelhano, dirigente anarco-sindicalista, morre sem assistência médica no Tarrafal;
. 1941 - Jacinto Faria Vilaça, Casimiro Ferreira, Albino de Carvalho, António Guedes Oliveira e Silva, Ernesto José Ribeiro, operário, e José Lopes Dinis morrem no Tarrafal;
. 1942 - Henrique Domingues Fernandes morre no Tarrafal; Carlos Ferreira Soares, médico, é assassinado no seu consultório com rajadas de metralhadora, os agentes assassinos alegam legítima defesa (?!); Bento António Gonçalves, secretário-geral do P. C. P. Morre no Tarrafal; Damásio Martins Pereira, fragateiro, morre no Tarrafal; Fernando Óscar Gaspar, morre tuberculoso no regresso da deportação; António de Jesus Branco morre no Tarrafal;
. 1943 - Rosa Morgado, camponesa do Ameal (Águeda), e os seus filhos António, Júlio e Constantina, mortos a tiro pela GNR; Paulo José Dias morre tuberculoso no Tarrafal; Joaquim Montes morre no Tarrafal com febre biliosa; José Manuel Alves dos Reis morre no Tarrafal; Américo Lourenço Nunes, operário, morre em consequência de espancamento perpetrado durante a repressão da greve de Agosto na região de Lisboa; Francisco do Nascimento Gomes, do Porto, morre no Tarrafal; Francisco dos Reis Gomes, operário da Carris do Porto, é morto durante a tortura;
. 1944 -General José Garcia Godinho morre no Forte da Trafaria, por lhe ser recusado internamento hospitalar; Francisco Ferreira Marques, de Lisboa, militante do PCP, em consequência de espancamento e após mês e meio de incomunicabilidade; Edmundo Gonçalves morre tuberculoso no Tarrafal; assassinados a tiro de metralhadora uma mulher e uma criança, durante a repressão da GNR sobre os camponeses rendeiros da herdade da Goucha (Benavente), mais 40 camponeses feridos a tiro.
. 1945 - Manuel Augusto da Costa morre no Tarrafal; Germano Vidigal, operário, assassinado com esmagamento dos testículos, depois de três dias de tortura no posto da GNR de Montemor-o-Novo; Alfredo Dinis (Alex),operário e dirigente do PCP, é assassinado a tiro na estrada de Bucelas; José António Companheiro, operário, de Borba, morre de tuberculose em consequência dos maus tratos na prisão;
.1946 - Manuel Simões Júnior, operário corticeiro, morre de tuberculose após doze anos de prisão e de deportação; Joaquim Correia, operário litografo do Porto, é morto por espancamento após quinze meses de prisão;
. 1947 - Jose Patuleia, assalariado rural de Vila Viçosa, morre durante a tortura na sede da PIDE;
. 1948 - Antonio Lopes de Almeida, operário da Marinha Grande, é morto durante a tortura; Artur de Oliveira morre no Tarrafal; Joaquim Barreiros, marinheiro da Armada, morre no Tarrafal após doze anos de deportação; Antonio Guerra, operário da Marinha Grande, preso desde 18 de Janeirode 1934, morre quase cego e após doença prolongada;
. 1950 - Militão Bessa Ribeiro, operário e dirigente do PCP, morre na Penitenciaria de Lisboa, durante uma greve de fome e após nove meses de incomunicabilidade; Jose Moreira, operário, assassinado na tortura na sede da PIDE, dois dias após a prisão, o corpo é largado por uma janela do quarto andar para simular suicídio; Venceslau Ferreira morre em Lisboa após tortura; Alfredo Dias Lima, assalariado rural, é assassinado a tiro pela GNR durante uma manifestação em Alpiarça;
. 1951 - Gervásio da Costa, operário de Fafe, morre vítima de maus tratos na prisão;
. 1954 - Catarina Eufémia, assalariada rural, assassinada a tiro em Baleizcão, durante uma greve, grávida e com uma filha nos braços;
. 1957 - Joaquim Lemos Oliveira, barbeiro de Fafe, morre na sede da PIDE no Porto após quinze dias de tortura; Manuel da Silva Júnior, de Viana do Castelo, é morto durante a tortura na sede da PIDE no Porto, sendo o corpo, irreconhecível, enterrado às escondidas num cemitério do Porto; Jose Centeio, assalariado rural de Alpiarça, e assassinado pela PIDE;
. 1958 - Jose Adelino dos Santos, assalariado rural, e assassinado a tiro pela GNR, durante uma manifestação em Montemor-o-Novo, vários outros trabalhadores feridos a tiro; Raul Alves, operário da Póvoa de Santa Iria, após quinze dias de tortura, é largado por uma janela do quarto andar da sede da PIDE, à sua morte assiste a esposa do embaixador do Brasil;
. 1961 - Cândido Martins Capilé, operário corticeiro, é assassinado a tiro pela GNR durante uma manifestação em Almada; José Dias Coelho, escultor e militante do PCP, é assassinado à queima-roupa numa rua de Lisboa;
. 1962 - Antonio Graciano Adágio e Francisco Madeira, mineiros em Aljustrel, assassinados a tiro pela GNR; Estêvão Giro, operário de Alcochete, e assassinado a tiro pela PSP durante a manifestação do 1º.de Maio em Lisboa;
. 1963 - Agostinho Fineza, operário tipógrafo do Funchal, é assassinado pela PSP, sob a indicação da PIDE, durante uma manifestação em Lisboa;
. 1964 - Francisco Brito, desertor da guerra colonial, é assassinado em Loulé pela GNR; David Almeida Reis, trabalhador, assassinado por agentes da PIDE durante uma manifestação em Lisboa;
. 1965 - General Humberto Delgado e a sua secretaria Arajaryr Campos assassinados a tiro em Vila Nueva del Fresno (Espanha), os assassinos, o inspector da PIDE Rosa Casaco e o sub-inspector Agostinho Tienza e o agente Casimiro Monteiro;
. 1967 - Manuel Agostinho Góis, trabalhador agrícola de Cuba, more vítima de tortura na PIDE;
. 1968 - Luís Antonio Firmino, trabalhador de Montemor, morre em Caxias, vítima de maus tratos; Herculano Augusto, trabalhador rural, é morto espancado no posto da PSP de Lamego por condenar publicamente a guerra colonial; Daniel Teixeira, estudante, morre no Forte de Caxias, em situação de incomunicabilidade, depois de agonizar durante uma noite sem assistência;
. 1969 - Eduardo Mondlane, dirigente da Frelimo, assassinado através de um atentado organizado pela PIDE;
. 1972 - José Antonio Leitão Ribeiro Santos, estudante de Direito em Lisboa e militante do MRPP, assassinado a tiro durante uma reunião de apoio à luta do povo vietnamita e contra a repressão, o seu assassino, o agente da PIDE Coelha da Rocha, viria a escapar-se na "fuga -libertação" de Alcoentre, em Junho de 1975;
. 1973 - Amílcar Cabral, dirigente da luta de libertação da Guiné e Cabo Verde, é assassinado por um bando mercenário a soldo da PIDE, chefiado por Alpoim Galvão;
. 1974 – 25 de Abril - Fernando Carvalho Gesteira, de Montalegre, José Barreto, de Vendas Novas, Fernando Barreiros dos Reis, soldado de Lisboa, e José Guilherme Rego Arruda, estudante dos Açores, assassinados a tiro pelos pides acoitados na sua sede na Rua António Maria Cardoso, ainda feridas duas dezenas de pessoas.
A PIDE acabou como começou, assassinando.

Mas pode-se ainda, referir, duas centenas de homens, mulheres e crianças massacradas a tiro de canhão durante o bombardeamento da cidade do Porto, ordenada pelo coronel Passos e Sousa, na repressão da revolta de 3 de Fevereiro de 1927. Dezenas de mortos na repressão da revolta de 7 de Fevereiro de 1927 em Lisboa, vários deles assassinados por um pelotão de fuzilamento, às ordens do capitão Jorge Botelho Moniz, no Jardim Zoológico.
Dezenas de mortos na repressão da revolta da Madeira, em Abril de 1931, ou outras tantas dezenas na repressão da revolta de 26 de Agosto de 1931. Um número indeterminado de mortos na deportação na Guiné, Timor, Angra e no Cunene. Um número indeterminado de mortos devido à intervenção da força fascista dos "Viriatos" na guerra civil de Espanha e a entrega de fugitivos aos pelotões de fuzilamento franquista, as dezenas de mortos em São Tomé, na repressão ordenada pelo governador Carlos Gorgulho sobre os trabalhadores que recusaram o trabalho forçado, em Fevereiro de 1953. Muitos milhares de mortos durante as guerras coloniais, vítimas do Exército, da PIDE, da OPVDC,dos "Flechas", etc.

Claro que agora percebo perfeitamente porque é que Salazar ganhou o concurso. Naturalmente que esses milhares de votantes não poderiam ter ficado insensíveis a um homem que, para além de deixar o país miseravelmente analfabeto e atrasado, dirigiu e incitou a corja de extorsionários que levaram a cabo a tortura e a matança de tanta gente, apenas e só porque não concordavam com a política do governo. Nunca esses votantes poderiam ter ficado insensíveis a ele e aos seus seguidores e protegidos que tanto perseguiram e destruíram famílias inteiras.
Haja memória!

quarta-feira, abril 25, 2007

Alguém se lembra como era dantes?


Geralmente, nos feriados costumo dar descanso aos meus amigos que costumam ler e participar neste espaço. Mas, por este ser um feriado especial, em que se comemoram os 33 anos sobre o 25 de Abril de 1974, pensei que valeria a pena recordar como era a vida na sociedade portuguesa até à data da Revolução dos Cravos. Recordar para alguns mas, para outros que já nasceram depois, dar-lhes uma noção de como, de facto, se vivia em Portugal nessa época, com usos e costumes impostos e certamente bem diferentes dos que existem actualmente.

Com esse intuito, atrevi-me a seleccionar uns trechos de um artigo da jornalista Ana Cristina Leonardo, publicado no Expresso do passado sábado, cujo texto, muito bem escrito aliás, faz um retracto perfeito do Portugal de então.

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Nem tudo era mau
Não se pense que tudo era mau. Até final dos anos 60, Portugal manteve-se, em muitos aspectos, na «pole position» dos países europeus ocidentais ... Assim: era o único império colonial sobrevivente; podia orgulhar-se do ditador com mais anos no poder; apresentava as mais altas taxas de analfabetismo e mortalidade infantil; o menor número de médicos e enfermeiros por habitante; o mais baixo rendimento por habitante; a menor produtividade no trabalho; o menor número de estudantes no ensino básico e superior; o menor número de pessoas abrangidas pelos sistemas de segurança social, a menor industrialização e a maior população agrícola. No fundo, no fundo, números à parte, tratava-se de um paraíso verde. Além das paisagens bucólicas e das viúvas de portentos buços, havia Fátima, havia fado e havia futebol. E no que toca a futebol, Eusébio era o mais que tudo. Tão mais que tudo, que Salazar lhe vetou a carreira internacional, informando-o, tão simplesmente, de que ele era “património do Estado”.


Só os portugueses em crise de meia-idade, ou já refeitos dela, se podem lembrar de como era antes. E a verdade é que tinha pouca graça. Antes. Claro que nos podemos rir hoje da licença de isqueiro, obrigatória desde os anos 30 e só abolida em Maio de 1970 ... . Claro que mesmo os incondicionais de Chomsky ou Michael Moore já não terão de ir ao Ultramar para beber um gole pecaminoso de Coca-Cola, só comercializada entre nós a partir de 1977. Em Portugal Continental, como se dizia, fora proibida nos anos 30, dela só sobrando a prova dos dotes publicitários de Pessoa que lhe inventara um slogan: “Primeiro estranha-se, depois entranha-se”.


Podemo-nos rir, ainda, do Decreto-Lei nº 31247 de Maio de 1941, que regulava o uso do fato de banho, zelando “pela moralidade pública (...) no sentido de evitar a corrupção dos costumes”, e que obrigava, para elas, a fato inteiro “sem descobrir os seios, com costas decotadas sem prejuízo do corte das cavas ser cingido na axilas”, e para eles o “calção com corte inteiro, justo à perna e reforço da parte da frente, e justo à cintura cobrindo o ventre”, regras a que os “cabos de mar” tiveram de começar a fechar os olhos quando, na década de 60, turistas bem menos atafulhados de roupa desataram a invadir o Estoril e o Algarve.


Continuamo-nos a rir desta obsessão moralista e bafienta (que fez do iconoclasta José Vilhena o autor mais censurado antes do 25 de Abril), com as calças proibidas às raparigas nos liceus e as gravatas obrigatórias para os rapazes, mais as portarias camarárias em prole do decoro vigente. O escritor Luís Sttau Monteiro, cujo pai foi embaixador em Londres até 1943, ano em que bateu com a porta a Oliveira Salazar, contava que, criança, numa audiência a que assistira, o ditador reparara nas suas botas e lhe perguntara onde as comprara. Quando lhe respondeu que fora em Londres, este comentara: “Modernices! Modernices!”


Menos motivos para rir
O sorriso começa a amarelecer quando nos lembramos das cargas da polícia de choque, como as do Verão de 1969, nos Salesianos do Estoril (num festival que misturava bandas rock e os chamados cantores de intervenção), apesar da forma pícara como José Cid recorda os acontecimentos: “uma das cenas mais impressionantes foi a polícia batendo num grupo de turistas japoneses. Quando os policiais começaram a agredir os jovens, que estavam ali pacificamente, numa de música, os japoneses puxaram das máquinas fotográficas e começaram a tirar fotografias; assim que a polícia viu aquilo... "máquinas para cá"“.


O sorriso desmaia à medida em que recordamos o milhão e meio de emigrantes obrigados a dar o salto, entre 1960 e 1973, sangria de pobres que o escritor José Cardoso Pires resumiria de forma lapidar: “Da minha terra natal tenho uma definição simplista: deserto de Pedras, Padres e Pedintes. Aldeia emigrada, portanto”.


O sorriso já se foi por completo quando chegamos aos cerca de 10 mil soldados mortos na guerra colonial e, ajudados pelo livro de Ferreira Fernandes “Lembro-me que…”, nos lembramos, também nós, dos poucos ou nenhuns direitos das mulheres cujas vidas valiam penas de dois anos, como a aplicada a Adélio da Custódia pelo assassínio da mulher Maria Pais Pimenta, explicada assim pelo juiz corregedor do Círculo Judicial de Viseu: “Porque se justifica perfeitamente a reacção do réu contra a mulher adúltera que abandonou o lar, o marido e dois filhos de tenra idade, para seguir um saltimbanco”.


E sem motivo aparente vem-nos à cabeça o drama privilegiado do poeta Alexandre O’Neill, que em Nora Mitrani encontrara “l’amour fou”. Uma francesa de passagem por Lisboa espera agora por ele em Paris, mas a PIDE nega-lhe o passaporte e O’Neill nunca tornará a rever Nora que se suicida em 1961.


Em época de censura
Chegamos assim à parte que está mesmo, mesmo, fora de moda: a censura e a polícia política do regime. Em entrevista a António Ferro, Dezembro de 1932, a propósito dos boatos que punham em causa o bom-nome da polícia, Salazar explicara-se bem: “(…) quero informá-lo de que se chegou à conclusão de que as pessoas maltratadas eram sempre, ou quase sempre, temíveis bombistas, que se recusavam a confessar, apesar de todas as habilidades da polícia, onde tinham escondido as suas armas criminosas e mortais”. Linhas à frente, surge a prova mil vezes repetida sobre a brandura dos meios e a rectidão evidente dos fins: “Eu pergunto a mim próprio (…) se a vida de algumas crianças e de algumas pessoas indefesas não vale bem, não justifica largamente, meia dúzia de safanões a tempo nessas criaturas sinistras”. E nesta “meia dúzia de safanões” se fundaria o mito urbano que continua a rever e a absolver a tortura, desrespeitando os mortos com nome próprio.


Quanto à censura (uma prática que, em Portugal, verdade seja dita, recua aos tempos da Inquisição praticamente sem interrupções), prévia e de lápis azul em riste, no caso da imprensa, preferia a apreensão ulterior quando se tratava de livros. Segundo a Comissão do Livro Negro sobre o Fascismo, o regime de Salazar/Caetano proibiu cerca de 3300 obras e até o velho Aquilino Ribeiro foi alvo de um processo-crime, pelo crime de ter escrito “Quando os Lobos Uivam”. O Secretariado Nacional de Informação (SNI) mostrava-se quase sempre de uma eficácia imbatível: em 1965, em apenas quatro dias, apreendia 70 mil títulos à Europa-América, em dois anos subtraía à Seara Nova milhares de contos de livros; quanto à editora Minotauro, era simplesmente encerrada.


Música, artes plásticas, filmes ... só entre 1964 e 1967 foram apresentados à censura 1301 filmes, dos quais 145 foram proibidos e 693 autorizados com cortes, e TV a preto e branco (a cores só em 1980), nada escapava à mutilação. A justificação para o zelo recuava ao Decreto-Lei 22469 de Março de 1933: “A censura terá somente por fim impedir a subversão da opinião pública na sua função de força social e deverá ser exercida por forma a defendê-la de todos os factores que a desorientem contra a verdade, a justiça, a moral, a boa administração e o bem comum e a evitar que sejam atacados os princípios fundamentais da organização da sociedade”.


Apesar da bondade expressa dos censores, alguns jornalistas insistiam em desorientar a sociedade. Um dia, no “República”, Vítor Direito discorria a propósito do estado do tempo: “Manhã de nevoeiro transforma a cidade (…) Não se vê um palmo à frente do nariz (…) Andam por aí certos senhores, feitos meteorologistas de trazer por casa, a prever “boas abertas”. Mas o nevoeiro persiste”.


Afinal, eram tempos divertidos. Acabaram com o 25 de Abril.”



Ao lerem este artigo, tenho a esperança que as novas gerações que não viveram o peso da ditadura, nem, muitas vezes, conhecem a real e nefasta situação que nos era imposta, e em que um simples desabafo podia ser escutado por alguém e nos levar à prisão e à tortura, tenho esperança, repito, que saibam valorizar devidamente o facto de viverem em democracia e em liberdade.



segunda-feira, abril 23, 2007

Um anúncio mal conseguido

Nas últimas semanas as televisões têm transmitido um anúncio patrocinado pelo governo, em que figuras bem conhecidas de todos – Judite de Sousa, Pedro Abrunhosa, Carlos Queirós e Maria Gambina – passam a mensagem que eles não seriam quem são, se não tivessem acabado os respectivos estudos.

Nesses anúncios Judite de Sousa é uma balconista de café, Pedro Abrunhosa um empregado que presta apoio a eventos musicais, Carlos Queirós um funcionário que corta a relva de um campo de futebol e Maria Gambina uma costureira.

Naturalmente que foi uma sorte para eles terem tido a oportunidade e o mérito de terem acabado os seus estudos. Mas, pergunto, e se não os tivessem concluído, o que é que teria acontecido? O seu trabalho não seria tão respeitado pelo facto de não terem obtido os diplomas? Para o governo, pelos vistos, e a ilação é bem clara no anúncio, eles não passariam de uns falhados.


Admito que mais uma vez a minha opinião seja susceptível de provocar polémica mas, o governo, ou a agência de publicidade que realizou os anúncios (sempre com a responsabilidade do governo, é claro), cometeu aqui vários lapsos inadmissíveis.

Primeiro, dá a impressão que todas as outras profissões que são desempenhadas por não licenciados, por pessoas que não quiseram ou não puderam estudar, são menos dignas, menores até, que as executadas por pessoas com o “canudo”. E, naturalmente, que todas as profissões para além de dignas são necessárias para a vida de todos.

Segundo, os estudos nunca se acabam. Qualquer profissional minimamente conscencioso sabe que tem sempre de continuar a estudar durante toda a vida, para tentar acompanhar a evolução das novas técnicas e das transformações que as próprias empresas vão sofrendo ao longo dos tempos. Mal dos que pensam que, a partir de certa altura, já nada há para aprender ...

Terceiro, o Governo dá a entender que os estudos apenas servem para alcançar o sucesso e estatuto social, ser famoso, ter poder, e não o contrário, que os estudos são fundamentais, sobretudo, para se saber mais, para se auto-valorizar, para ter mais competências. O resto poderá vir por arrasto, se vier...



Na minha perspectiva este anúncio não foi devidamente avaliado. Com a mensagem (enganadora) que quis transmitir, fez sentir a muitos licenciados que trabalham nas mais variadas profissões, das tais consideradas menores e que, por isso, não chegaram à fama e ao estatuto social que pretendiam, que também eles eram e são uns falhados.


Não acredito que este anúncio leve mais portugueses a voltarem a estudar por forma a conseguir “concluir” os seus cursos. Tanto mais que é público que cerca de 56 mil licenciados estão desempregados e a tendência parece ser a de que o desemprego continue a crescer, afectando sobretudo os licenciados.


Há uma outra questão que tem a ver com a sangria desatada que leva o governo a querer que se atinjam qualificações cada vez mais altas. A verdade é que esse objectivo não tem só a ver com as necessidades reais do país, mas com a necessidade que o país tem de não ficar em posições secundárias nas comparações que são feitas constantemente com os demais países da Europa a que pertencemos.


Mas, voltando ao anúncio, penso que este é um belo exemplo de uma péssima mensagem que menoriza a maior parte dos trabalhadores e das actividades em que trabalham, e que não valoriza nem destaca aquilo que é, de facto, o essencial, e que se deve estimular (com anúncios ou sem eles) que são o estudo e o querer saber mais.

Quanto a estatutos, fama e outras coisas associadas, não é só por se ter um curso superior que se chega lá. Para além da preparação académica, é necessário que haja mais qualquer coisa, como talento, génio e competência.

Que o digam Cristiano Ronaldo, Alexandre O’Neill, Sophia de Mello Breyner, José Saramago e tantos outros ... que, apesar de não terem cursos superiores, não consta que sejam ou tivessem sido uns falhados!

Se calhar, é melhor acabar com isto ... e já!


Eu sei que ninguém me apontou uma arma à cabeça para eu começar a escrever coisas, numa coisa que dá pelo nome de blogue. Mas a verdade é que fui convencido a partilhar textos que, noutras circunstâncias, escreveria só para mim. Fui-me dando a conhecer às pessoas que, aos poucos, começaram a penetrar na minha (i)alma e ficaram a saber, através desses textos, muito mais sobre as minhas angústias, medos, indignações, fantasias e, até, sobre as minhas contradições.

Sem ser, portanto, a isso obrigado, acabei por entrar no imenso mundo da blogosfera, onde vou derramando as minhas opiniões, enquanto cidadão, e tudo o mais que vou achando curioso ou que possa servir de tema para uma troca de opiniões, o que, infelizmente, não tem acontecido com muita frequência.

E já ando nisto há mais de ano e meio.

Mas depois de saber que o Procurador-Geral da República disse no Parlamento que “os blogues são uma vergonha” e de ouvir na entrevista que José Sócrates concedeu à RTP que “os boatos começam na blogosfera”, começo a ter algumas dúvidas sobre a utilidade – para mim e para os outros – da existência dos blogues em geral e do “Por Linhas Tortas” em particular.

Claro está que quem fala em blogosfera não está a falar de nada em especial. Está apenas a generalizar.

Isto porque na blogosfera existem blogues literários, políticos, de admiradores de cantores ou grupos musicais, de empresas, de adolescentes, de escritores frustados (ou não), de culinária, de mulheres nuas, de medicina e de tudo o que imaginar se possa.

Continua firme, no entanto, a minha vontade de escrever, e de forma responsável, aquilo que entendo e no meu próprio espaço. Isto é, tenho a possibilidade, sem me esconder no anonimato, de exercer livremente o direito à indignação, de falar sobre política, escritores, poesia e o supremo poder de criar textos de ficção que só poderiam surgir da pena de um escritor frustado como eu. Tudo isso leva-me a que considere a possibilidade de continuar a escrever, embora alguns de vós possam questionar “e para quê?...”

Afinal, não acredito que, quer o Procurador-Geral, quer o Primeiro Ministro se estivessem a referir a este blogue. Não, creio que não, porque ele nem sequer é conhecido. Porque se eu suspeitasse que o “Por Linhas Tortas” estaria incluído nesse lote de blogues que o PG disse serem uma vergonha, então, o melhor era acabar com isto ... e já!

quinta-feira, abril 19, 2007

Promoções



A imagem dá que pensar. Será que esta coisa de vender bolos da véspera, a título de promoção, não passa de um tremendo descaramento, ou, pelo contrário, quem promoveu tal acção comercial é uma pessoa honesta, que, tendo ainda bolos que lhe sobraram da véspera, não quis enganar os eventuais fregueses e não teve qualquer problema em anunciar que os bolos já não eram do dia?

A julgar pelo preço indicado no cartaz – 3 bolos por 1 euro – acredito que o vendedor em questão é mesmo uma pessoa séria. Em princípio, se fossem bolos do próprio dia, eram capazes de custar um pouco mais.

Mas, convenhamos, este caso é algo insólito. Como este, só me consigo recordar de um vendedor de castanhas que no seu carro ambulante tinha um cartaz que dizia:

“O Rei das Castanhas

Podres ... mas boas!”

Afinal, "o rei vai nú"


“No comer e no coçar, o mal está em começar”. Este provérbio há muito conhecido, começa agora, numa fase em que ninguém sabe de nada mas que de tudo se desconfia, a permitir que se pense na sua reformulação, que poderá muito bem vir a ser “Na desconfiança e na investigação, o mal está em começar”.

Para além da “novela Sócrates” que já começa a enfadar os portugueses, mais preocupados que estão com os reais problemas do país, surgem agora mais umas pessoas que, afinal, não são exactamente aquilo que diziam ou aparentavam ser.

É o caso do actual reitor da Universidade Independente (sempre ela ...), Jorge Roberto, que apresenta como habilitações um doutoramento em Comunicação e Documentação pela Universidade de Badajoz, local onde também se doutorou um dos vice-reitores, Raul Cunha. Ambos não têm os doutoramentos registados, o que não lhes permite usar legalmente os graus académicos de doutor.

É também o caso de Luís Arouca que em 1995 se assumiu Reitor da Independente (ela, outra vez...) quando, de facto, o cargo era ocupado pelo catedrático Ernesto Costa.

É ainda o caso de António Maria Ramalho Raposo, um “professor” de matemática, com uma carreira de 30 anos de ensino e supostamente licenciado em Economia e Finanças pelo Instituto Superior de Economia da Universidade Técnica de Lisboa, estabelecimento de ensino que nunca frequentou".

Pressinto que nesta altura muitas pessoas, pelo menos aquelas que têm mais exposição pública, que usam e abusam dos seus títulos académicos, possam não estar muito confortáveis com a possibilidade de virem a ser investigados e, eventualmente, poder-se chegar à conclusão que, afinal, "certas irregularidades" lhes possam impedir que continuem a ostentar os títulos que até agora têm utilizado impropriamente.

Se, por acaso, essas investigações forem um dia em frente, não sei se não chegaremos à triste conclusão que este país de doutores e engenheiros, não será, afinal, mais do que um país de habilidosos, prontos a assumir em plenitude, e com as vantagens daí decorrentes, títulos que, de facto, não possuem mas que lhes enchem a vaidade e os bolsos.

E, então, será caso para dizer que, afinal, “O rei vai nú”!

terça-feira, abril 17, 2007

A Lei das Incompatibilidades


Ainda hoje me pergunto (cheio de perplexidade, aliás) como é que eu, em tempos idos, pude achar alguma piada a Alberto João Jardim. Talvez há muito (esta é a desculpa que consigo arranjar para me justificar) ele dissesse coisas que me faziam rir, pela atitude vagamente anarquista que fazia passar.

Mas isso foi há muito tempo. Com a passagem dos anos, Alberto João, tornou-se debochado e arrogante, ao que juntou a fase da vitimação, teoria que tem feito passar intensamente junto dos madeirenses em especial, e na qual, todos os continentais (os cubanos, como outrora fazia questão de apelidar os que nasceram em Portugal Continental) o perseguem e o querem destruir.

E essa postura que assumiu, foi-o tornando cada vez mais detestável aos olhos dos portugueses. Sempre em crescendo, Alberto João, nunca perde a oportunidade para desdenhar de tudo e de todos e para achincalhar quem se lhe atravesse pelo caminho, incluindo as figuras do seu próprio partido de quem antes fora próximo.

E quanto a Portugal, enquanto pátria, a atitude é rigorosamente a mesma. Começou por se referir ao Continente como “o rectângulo” e, agora, mais recentemente, por “Marrocos de Cima”. Uma falta de respeito a que ninguém, por incrível que pareça, põe cobro.

A gota de água que provocou este último caudal de impropérios, a roçar a loucura, foi a recente “Lei das Incompatibilidades” que já foi votada na generalidade pela Assembleia da República e que Alberto João já garantiu que não vai ser aplicada na Madeira.

Penso que ninguém entenderá que numa parte do território português – a Madeira – possa haver dois pesos e duas medidas. Por um lado, mostra-se sempre pronta a receber (o muito) dinheiro do Orçamento Geral do Estado e, por outro, não quer aplicar uma lei emanada da Assembleia da República que é feita para todo o país, incluindo naturalmente as Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira.

É incompreensível! Mas a verdade é que Alberto João não é insensível aos inúmeros interesses dos deputados do PSD Madeira, que acumulam a sua actividade parlamentar com a gestão das múltiplas empresas que fazem chorudos negócios com o Governo Regional.

E enquanto o presidente demissionário do Governo Regional da Madeira - que como demissionário, deveria apenas tratar dos assuntos de gestão corrente - continua a andar em folclórica pré-campanha eleitoral a fazer inaugurações diárias, ao mesmo tempo, vai insistindo na cabala contra a Madeira e vai disparando com o maior dos desplantes, frases como estas

“Vão aprovar uma Lei (das incompatibidades) que aqui a Madeira se recusa a aplicar”, ou

“Fazem as leis só para aborrecer”.


Francamente, já não há pachorra!


segunda-feira, abril 16, 2007

Parabéns Vanessa


Apesar de pertencer ao chamado “sexo forte”, não tenho nem nunca tive qualquer espécie de prurido em reconhecer e exaltar os feitos conseguidos pelas mulheres.

Foi assim que há dias (na quinta-feira passada) dei conta do êxito da judoca portuguesa Telma Monteiro e, hoje, aqui estou de novo a falar de uma outra mulher, Vanessa Fernandes, aliás a quem já tinha dedicado um outro texto em Setembro do ano passado.

E estou a falar da Vanessa porque ela venceu a segunda prova da Taça do Mundo de triatlo, disputada em Ishiagaki, no Japão e, com mais este triunfo, conseguiu a sua 15ª vitória em provas da Taça do Mundo da especialidade.

De destacar, ainda, que a portuguesa Vanessa Fernandes comanda com todo o mérito o ranking mundial de triatlo.

Parabéns Vanessa!

domingo, abril 15, 2007

A inversão dos valores


Mais do que me escandalizar com a verba astronómica (de 25 mil euros por dia) que Cristiano Ronaldo aufere, muito mais me espantou o acórdão do Supremo Tribunal de Justiça sobre o diferendo entre o Sporting e o Jornal Público, texto esse que consagra um princípio inédito na nossa jurisprudência:

“uma notícia mesmo que verdadeira e provada, não isenta um jornalista da responsabilidade dos danos que ela possa causar a outrém”.

Ou seja, um jornal que publique uma notícia que seja verdadeira, está sujeito a ser processado porque a publicação da mesma, apesar de ser verdadeira e de interesse público, pode pôr em causa o bom nome das pessoas ou entidades noticiadas, ainda que estas tenham cometido um crime.

Foi o que aconteceu ao Jornal Público. Quando este jornal publicou a notícia que o Sporting devia 480 mil euros ao Fisco, o clube decidiu processar o jornal por “ofensas ao seu bom nome”. Em primeira e em segunda instância provou-se que a notícia era verdadeira mas, em recurso final para o Supremo, este decidiu dar razão ao Sporting porque a notícia, embora verdadeira, poderia pôr em causa o bom nome do Clube. E o Público foi condenado a pagar 75 mil euros.

É do senso comum que dizer mentiras pode ofender, mas, a partir de agora, dizer verdades também. Que o mesmo é dizer “com a verdade me ofendes”.

Este inusitado acórdão faz tremer o futuro de quem faz jornalismo ou de quem comenta factos em Portugal, ainda que verdadeiros. E, no limite, leva-nos a pensar que a liberdade de imprensa poderá estar ameaçada por um tipo de censura que julgávamos banida para sempre.


sexta-feira, abril 13, 2007

Falando de Viagens


Nunca acho demais falar sobre viagens e, hoje, vou recordar uma história verídica, que se passou precisamente à volta desse tema e a forma como se encara a organização das mesmas, que difere, naturalmente, de pessoa para pessoa.

Quem me conhece, sabe quanto gosto de viajar e do prazer que tenho em preparar uma viagem. E, porque disso não faço segredo e porque me entusiasmo bastante quando estou em processo de criação, um dia um colega (que eu não digo o nome, mas que alguns já estão mesmo a ver quem é) perguntou-me quanto tempo, em média, é que eu dedicava à preparação de cada viagem que me propunha fazer.

Num impulso respondi-lhe que, para mim, a preparação de uma viagem levava normalmente um ano. Claro está que àquele meu colega, que, aliás, também gostava de viajar, mas que era aquele tipo de pessoa que nós consideramos um “cinzento”, uma daquelas pessoas que tudo complica e que faz com que as coisas fáceis, pareçam o mais terrível dos problemas, enfim, um tipo que, como se costuma dizer, é um grandessíssimo chato, embora boa pessoa, a resposta saiu-me de pronto, e exageradamente exagerada, mas eu tive um prazer enorme em deixá-lo de boca aberta.

“Um ano?”, exclamou…

É verdade, uma ano, mais coisa menos coisa. E, perante a estupefacção dele, expliquei:

Bem vê, os primeiros sete meses são dedicados à escolha do destino, do meio de transporte a utilizar, à análise dos custos prováveis e do suporte financeiro necessário, à procura dos consensos que possam satisfazer os gostos de todos os que irão participar na viagem, à pesquisa nos muitos sites da Internet dos pontos de maior interesse para visitar, nomeadamente o património da cidade ou da região escolhida, como igrejas o outros monumentos, museus, miradouros, enfim, o que houver para ver. Depois e para certos países, a procura passa pela ida às próprias embaixadas ou aos representantes desses países em Portugal. A seguir há que construir um orçamento muito mais rigoroso do que o primeiro e, tanto quanto possível, com uma fiabilidade muito próxima dos 100%, para depois contactar e contratar a viagem com uma agência de viagens, se for caso disso, e assegurar o bom andamento do processo quer quanto a voos quer quanto a hotéis. Há, também, que começar a elaborar um guião de viagem (já existem alguns livros de viagem para certos países ou cidades mas todos eles ou são demasiado genéricos ou imensamente chatos e nunca – nunca – são organizados ao nosso jeito) guião esse, que nos vai permitir ter um conhecimento muito aproximado do que iremos encontrar.

“Mas é necessário ser-se assim tão rigoroso nesse livro que, mais parece ser um manual?” Perguntou receoso o meu colega, ainda mais estupefacto que há pouco.

Claro que sim, continuei a exagerar, é nesse guia que podemos incorporar o que nos der na real gana, tudo aquilo que a nossa imaginação ou a nossa curiosidade entenda, tal como a história do país e das cidades que vamos visitar, a descrição dos monumentos mais significativos, os museus mais importantes ou aqueles que tenham as exposições que mais nos pareçam interessantes, a gastronomia local e os restaurantes aconselhados, os tipos de transportes existentes e o estudo das melhores ligações entre os vários pontos que pretendemos visitar, os espectáculos previstos para a época, o tempo que costuma fazer, o conhecimento do custo médio de vida e do valor aproximado dos bilhetes dos transportes, dos museus e dos restaurantes, a elaboração de um plano diário de visitas para que se verifique um aproveitamento mais adequado do tempo, a elaboração de uma lista de contactos úteis como moradas e telefones das embaixadas ou dos consulados, dos hospitais e centros de saúde, polícia, companhias de seguros, etc.
Ainda neste período, há que não esquecer os documentos necessários à viagem, como passaportes e respectivas validades, visos ou vistos de entrada para certos países, vacinas, revisão do carro (se esse for o transporte) e não esquecer nunca de confirmar que todos os assuntos e contas por pagar têm que ficar assegurados antes de sairmos.

“Bolas, nunca pensei que fosse necessária tanta coisa … eu também costumo viajar, mas, palavra de honra, eu nem fazia ideia que…“

Eu juraria que o meu colega, homem de pouco mais de metro e meio de altura, tinha ficado nesse momento com alguns centímetros a menos. Estava estarrecido, mais, estava aterrado.

Continuei, então, para dizer que, só depois, é que a viagem propriamente dita começava, o que podia durar vinte dias, duas semanas, às vezes só uma semana ou pouco mais, dependendo, enfim, de uma série de factores.

Por fim, e nos restantes quatro meses do ano, é o tempo que se destina à revelação das fotografias, à sua classificação e arrumação em álbuns e à montagem dos filmes de vídeo.

Quando acabei, o meu colega estava lívido. Que loucura, terá pensado. Estar um ano preocupado com a porcaria de uma viagem de uns quantos dias, quando para ele, viajar era apenas isso mesmo. Meter-se num transporte e ir a qualquer lado.

O que eu nunca lhe contei é que a tal preocupação, falida que estava a ideia do turismo do bronze, porque já se não usa nem a cor nem o conceito, me dava um gozo enorme e dava-me também a possibilidade de enriquecer os meus conhecimentos durante a pesquisa a países e povos, enfim às culturas locais dos sítios que ia conhecer.
Quando partia, já levava um capital de conhecimento que me permitia abrir outras portas e que me deixava apreciar, de uma forma muito mais proveitosa, os locais a descobrir.

Para além do mais, o meu colega desconhecia, certamente, a frase de José Saramago:

“O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E, mesmo estes, podem prolongar-se em memória, em lembranças”.

quinta-feira, abril 12, 2007

Parabéns Telma


Não foi por esquecimento, seguramente, que não comentei o facto na altura devida.

Logo eu que sempre procuro exaltar as pessoas e as coisas que atingem padrões de excelência e que projectam o nome de Portugal, certamente que não deixaria passar em claro o nome de uma jovem de 21 anos – Telma Monteiro – que conquistou a medalha de ouro do Campeonato da Europa de Judo, na categoria de 52 kg, em Belgrado (Sérvia), repetindo assim o êxito obtido no ano passado na Finlândia.

Conseguir dois títulos europeus seguidos é, apenas, o mais importante feito na história do judo português, nunca antes concretizado por nenhum atleta masculino ou feminino nacional. Isto depois de, nos dois anos anteriores, ter também conquistado duas medalhas de bronze. É obra!

Mas para além desta proeza que nos enche de orgulho, Telma Monteiro é, neste momento, a primeira classificada da sua categoria a nível mundial.

Como é que eu poderia esquecer tamanho feito? Confesso, no entanto, que me esqueci de verificar se os jornais desportivos do último fim-de-semana deram o destaque necessário que a Telma merece, ou se a notícia foi dada como nota de rodapé, escondida por entre tantas outras notícias, decerto muito mais importantes, como sempre oriundas do dominante mundo do futebol.




terça-feira, abril 10, 2007

Lições de Português (!)


Como ontem referi, no hotel que em ficámos instalados, nos arredores de Salvador da Bahia, durante as curtas férias que fizemos, havia a preocupação de fornecer diariamente aos seus hóspedes um folheto com a indicação de todas as actividades e animação programada para o próprio dia, uma secção de cultura e uma outra secção em que se tentava ajudar os turistas, traduzindo de inglês para português expressões e termos mais usados no dia-a-dia. E faziam-no tendo em conta duas particularidades. Quer procedendo à tradução dos termos para uma utilização mais formal e séria dos mesmos, quer traduzindo as tais expressões para um tipo de linguagem que bem poderemos chamar de calão, ou de gíria, quanto muito.

E por ter achado muito curiosos os termos em calão, resultantes da tradução inglês/português (brasileiro) que se ouvem correntemente no Brasil, apontei alguns deles, que considerei mais engraçados.

Aqui estão alguns exemplos:




How are you? - E aí?

I’m fine, thank you - Beleza, valeu

Get mad with - Pirou

That is right - É isso aí!

May I help you? – O que está pegando?

Are you ok? - Você está legal?

Group of persons - Galera

I have to go - Vou partir!

I like you! – Você é massa!

I love you! – Eu te adoro!



Beleza, galera. Show de bola!

segunda-feira, abril 09, 2007

Futebois


Normalmente, os comandantes dos aviões têm, apenas, duas ou três intervenções durante os voos, quase sempre para transmitir saudações aos passageiros, para fornecer dados relativos ao tempo, à altitude, às horas prováveis de chegada, enfim, indicações de natureza geral que, aliás, na maioria das vezes, não se conseguem entender na íntegra, devido a deficiente instalação do som ou à imperfeita colocação da voz.

Desta vez, porém, a voz do comandante do avião que nos trazia de regresso a Lisboa, era clara e foi com evidente boa disposição que informou os senhores passageiros que no jogo de qualificação para o Euro 2008, realizado nessa noite, Portugal jogara e batera a Bélgica pelo expressivo resultado de quatro a zero.
Nesta informação, não tinha falhado a instalação sonora, a voz do comandante era perfeitamente perceptível e, sobretudo, Portugal tinha ganho. Ainda que por efeito do futebol, senti um certo orgulho por ser português.

Uns dias depois, e para a mesma competição, a selecção portuguesa de futebol empatou na Sérvia por um a um, o que não sendo um resultado por aí além, não compromete as naturais aspirações de classificação para a fase final do torneio.



Estas duas jornadas de futebol, fizeram-me lembrar um folheto diário publicado no hotel onde estávamos instalados, que dava conta das diversas actividades programadas para cada dia, quer para crianças quer para os adultos. Nele eram, também, incluídas instruções e notícias de interesse diverso e publicavam, ainda, uma rubrica denominada Arte & Cultura, onde pretendiam enriquecer a cultura geral dos seus hóspedes, com um “cheirinho” de uma determinada actividade, que todos os dias era diferente.

Num dos dias falaram sobre o futebol. E, sabendo embora, que existe um número considerável de histórias diferentes sobre quem inventou o futebol e em que data, achei curiosa a forma como o folheto nos apresentou a sua versão sobre o desporto colectivo mais praticado em todo o mundo.


Dizia-se, então, nesse artigo:

“o futebol moderno é uma criação atribuída aos ingleses. Muitos afirmam que os romanos introduziram o “harpastum” na região, mas isso não foi confirmado historicamente. No século doze depois de Cristo, jovens britânicos já praticavam um jogo semelhante. Cidades vizinhas disputavam uma batalha campal. O desporto já se chamava futebol e fazia muitas vítimas. Ainda não havia limites, nem de tempo, nem de jogadores. Toda uma cidade chutava uma bola contra outra cidade, empurrando-a até à meta com socos e pontapés. Essas partidas tinham a duração de vários dias e muitos jogadores morriam nessa “batalha”. Alguns reis reprovavam esse desporto por ser muito violento. Eduardo III pô-lo na lista dos desportos estúpidos e inúteis. Henrique IV e Henrique VI assinaram éditos contra o futebol.
Em Florença jogava-se o futebol com o nome de cálcio. Maquiavel jogava-o. No Vaticano, alguns Papas também jogavam o cálcio. A Igreja Católica não proibiu de forma alguma o futebol. O cálcio sempre foi muito defendido pelos padres”.



Enfim, não sei se esta versão acrescentou alguma coisa à cultura geral de quem leu o texto. Considero que se trata de uma nova perspectiva que, admito, poderá não ter grande credibilidade, mas que, de qualquer forma, não deixa de ser curiosa, mesmo que não passe de pura fantasia.


domingo, abril 08, 2007

Será que foi só “um acto humorístico”?

Não creio que os “Gato Fedorento” pretendessem apenas fazer humor com o desgraçado daquele cartaz polémico do PNR e com a sua mensagem. Acho mesmo que, de uma forma inteligente e extraordinariamente oportuna e célere, eles quiseram mostrar a sua oposição enquanto cidadãos e, ao fazê-lo, estiveram, obviamente, a fazer pouco de um cartaz de um partido político. E isso é um gesto político.

O cartaz já foi retirado, já que ele não foi devidamente autorizado pela Câmara Municipal de Lisboa. A posição dos “Gato Fedorento”, porém, já foi amplamente divulgada e, rindo-se-lhes na cara (do PNR), já puseram a nu a imbecil proposta daquele partido de extrema direita.

É que para além da xenofobia e do racismo que todos vimos ali patenteados, esqueceram-se os do PNR que esses imigrantes que eles tanto desprezam, valem 7% da riqueza nacional. E esqueceram-se, também, que esses 5% da população geram uma riqueza de 11 mil milhões de euros por ano, tanto quanto a Portugal Telecom, a maior empresa nacional.

Para além disso, o cartaz dos “Gato Fedorento”, ali plantado logo ao lado do outro do PNR, tem pilhas de graça e foi das mais directas, rápidas, contundentes e inéditas respostas que eu me lembre de ter visto, alguma vez, em Portugal.

Com um cartaz que é uma cópia do outro, mas ao contrário, conseguiram de forma magistral responder, taco a taco, a todas as provocações. Enquanto o avião do PNR está a partir o dos “GF” está a chegar, ao “basta de imigração” eles dizem “mais imigração” e ao “nacionalismo é a solução” eles respondem “nacionalismo é parvoíce”.

E a genealidade dos “Gatos” atinge o extase quando, no seu cartaz, juntam às fotografias dos quatro elementos do grupo, todos eles com um ar absolutamente alucinado, se possível mais alucinado ainda do que o do próprio dirigente do PNR, uma saudação de boas vindas e uma frase de antologia “A melhor maneira de chatear estrangeiros é obrigá-los a viver em Portugal”

Com aquele cartaz, os “Gato Fedorento” conseguiram a proeza de criar o tal “acto humorístico” que pôs a rir milhares de pessoas. Mas eles conseguiram, também, com esta demonstração inédita de cidadania, dar a resposta pronta e adequada à mensagem tola do PNR que, ela própria, nos deveria ter provocado uma gargalhada se não estivéssemos a torcer-nos de tanta indignação.





quarta-feira, abril 04, 2007

Não vá o diabo tecê-las …


Para evitar o que se passou na quarta-feira de Páscoa do ano passado, quando no hemiciclo estavam presentes para as votações apenas 110 dos 230 deputados eleitos (portanto, 120 deputados não puseram os pés na Assembleia nesse dia, antecipando-se desta forma à tolerância de ponto para a função pública que estava concedida só a partir da tarde do dia seguinte), os nossos representantes resolveram, este ano, antecipar para ontem, terça-feira, as votações das leis agendadas.

Assim, nesta quarta-feira (hoje), ninguém vai dar por falta daqueles que decidirem baldar-se às suas obrigações, pelas quais são devidamente remunerados.

terça-feira, abril 03, 2007

Apesar dos resultados, restam as dúvidas ...


Os CTT tiveram em 2006 um resultado líquido que cresceu 286% face ao período homólogo anterior. De 17,3 milhões de euros de lucros em 2005, passaram para 66,9 milhões em 2006.

À partida, aquilo que tão grande subida (286%, repito) sugere, é que a empresa está a ser dirigida com tão grande rigor, que conseguiu ter, num só ano, um aumento percentual dos seus lucros, bastante superior aos conseguidos pelos principais bancos portugueses, que já de si, são enormes.

Mas aquilo que mais me espantou é que, face aos bons resultados obtidos, os CTT, pela primeira vez na sua história, vão distribuir dividendos.

Para aqueles que não estão tão familiarizados com estas questões financeiras, recordo que os dividendos são uma parte dos lucros que as administrações decidem distribuir pelos associados ou accionistas. E, relativamente a este exercício histórico da vida de uma empresa que nos tinha habituado a sucessivos prejuízos, os CTT decidiram propor a distribuição de um dividendo de um euro por acção.

Mas aqui surge a minha primeira dúvida. Ora se os dividendos são distribuídos aos accionistas, e o accionista único dos CTT é o Estado, a quem vão eles distribuir os dividendos? Ao próprio Estado? Quer dizer, o Estado retira de uma algibeira e embolsa na outra, quem sabe se para com esse dinheiro amortizar a dívida pública um pouco mais...

A minha segunda dúvida tem a ver com o facto de ignorar se esta subida vertiginosa dos lucros tem a ver, de facto, com a cuidada e rigorosa gestão que já referi ou, pelo contrário, com a falta generalizada de pagamento de horas extraordinárias, com a ausência de investimento em formação, com a proliferação de contratos precários ou com a cada vez maior existência de mão de obra não especializada que tantos prejuízos tem provocado aos utentes.

Finalmente, a minha terceira dúvida baseia-se na desconfiança que por detrás dos belos resultados apresentados, quiçá graças a uma engenharia financeira bem executada, poderá estar a vontade de colocar em destaque o Dr. Luís Nazaré, presidente da empresa, para poder lançá-lo para mais altos voos, porventura para integrar um lugar no governo.

São dúvidas apenas, apenas dúvidas ...

segunda-feira, abril 02, 2007

A novo "look" da Cova da Moura





O Bairro da Cova da Moura, do concelho da Amadora, geralmente tão badalado pelos piores motivos, decidiu que era hora de dizer às pessoas que a imagem do Bairro estava a mudar.

Assim, e a partir de agora,
Cova da Moura é marca de roupa.

Na foto jovens vestem t-shirts com a marca K.M (Kova da Moura) criada por dois jovens deste bairro.

Parabéns!

domingo, abril 01, 2007

E tu, o que é que queres ser quando fores grande?


Durante anos e anos fizeram-me esta pergunta. E, certamente, que à maioria das crianças.

A resposta foi variando conforme os anos iam passando. Depois da fase em que quis ser bombeiro ou polícia, acalentei a ideia de vir a ser revisor dos comboios. Mais tarde, tive muita vontade de ser um cantor famoso e, mais tarde ainda, jogador de futebol.

Tudo sonhos de crianças, cujas motivações tinham a ver com os momentos que se viviam e com a projecção na cena social, de certas actividades e figuras. Sonhos comuns a tantas crianças, os quais, na maioria, se vão desvanecendo à medida que crescem e a vida os conduz para outras direcções.

Há tantos anos atrás, porém, eu não podia ter sonhado em ser uma coisa que só muito mais tarde foi inventada. Agora, é a vez das crianças de hoje responderem - e suponho que com toda a convicção - que quando crescerem vão querer ser gestores. E se eu pudesse recuar uns anos, eu também quereria responder da mesma forma

“quando for grande quero ser gestor”.

E não teria razão para querer?

Claro que depois de termos vindo a assistir às escandalosas indemnizações que as empresas públicas e semi-públicas pagam aos seus gestores, quando eles deixam os seus postos, todos gostariam de ser gestores.

Veja-se o caso da Portugal Telecom que pagou a quatro dos seus administradores executivos, pela não renovação do contrato, quase dez milhões de euros.

Na EDP, empresa onde o Estado é ainda o maior accionista, os administradores cessantes da equipa liderada por João Talone receberam, em 2006, um total de 6,375 milhões de euros. Só o presidente da comissão executiva (Talone) recebeu cerca 1,3 milhões de euros.


Perante esta realidade abjecta e imoral, que as crianças (felizmente) não têm, por enquanto, a devida percepção de tal enormidade, resta-me observar que parece haver gente no nosso país que ainda gosta de proporcionar e assistir à felicidade dos outros, fazendo com que haja quem receba indemnizações de milhões, ao deixar de trabalhar numa empresa.


A verdade, porém, é que tanta sorte - de tão poucos - causa inevitavelmente a revolta do País inteiro, onde a maioria não recebe um cêntimo que seja, quando se vê na contingência de ficar sem trabalho.


Não se estranhe, por isso, que quando fazemos a tal pergunta sacramental às nossas crianças, elas respondam com toda a naturalidade

“quando for grande quero ser gestor!”.