terça-feira, janeiro 08, 2008

Entusiasmos ...


Quando em 17 de Dezembro do passado ano aqui escrevi um texto a que chamei “O sucesso da Presidência Portuguesa da União Europeia”, o nosso amigo Zeboma, que reside actualmente no Canadá, enviou-me um mail em que fazia o seguinte comentário:

“Pareceu-me entusiasmado com o PS no poder ... mas entretanto a mim desaponta-me muito sobretudo no estilo.. o que acha? E o PM, o chefe dos "putos", pode ser uma "fera" determinada, mas sempre o achei bastante vácuo na substância de discurso, já de há muitos anos. O que acha?”


Pois bem, meu amigo, respondo-lhe com todo o gosto.

Não retiro uma palavra ao que então escrevi. Continuo a considerar que a Presidência Portuguesa foi de facto um sucesso, porque todos os objectivos projectados foram inteiramente cumpridos e, note-se, eles eram bem ambiciosos e de difícil concretização.

Basta referir o acordo entre os 27 do Tratado Reformador, agora conhecido pelo Tratado de Lisboa e as cimeiras entre a União Europeia e África, com o Brasil, a China e a Índia.

Convenhamos que, independentemente dos resultados que poderão daí avir e do trabalho empenhado que a anterior presidência alemã nos prestou, a organização portuguesa foi impecável. Portugal, a sua diplomacia, o seu governo e o primeiro-ministro Sócrates demonstraram merecer sem qualquer dúvida o respeito e a admiração dos nossos parceiros.

A Presidência correu bem a Portugal e a José Sócrates. Daí o meu entusiasmo.

Mas, não nos deixemos inebriar. Sócrates é apenas um homem, o seu momento e a sua circunstância. Agora que 2008 despontou e que já ficam mais distantes os holofotes da Europa que tanto o fizeram brilhar, chegou a hora de Sócrates olhar para uma outra realidade, a interna, a que tem que enfrentar a pobreza, o desemprego, as relações com os sindicatos, os (muitos) problemas em aberto na justiça, na saúde, na educação, na cultura, no ambiente e em tantos outros domínios.

E aqui, meus amigos, não notarão em mim tanto entusiasmo.

As assimetrias sociais estão a aumentar, os portugueses perderam 25% do poder de compra nos últimos anos e já nos encontramos atrás da República Checa, de Chipre, talvez até abaixo da Letónia, da Roménia e da Bulgária. Somos um país de pobres. Entre os dez milhões de portugueses haverá, quanto muito, uns dez mil que vivem muito bem, os tais que compram carros e casas de luxo, enquanto os restantes continuam a viver muito mal, cada vez pior. A classe média está a desaparecer e não tarda que sejamos uma sociedade onde existam apenas a classe dominante, a rica, e a outra, a muito pobre.

E quem vai conseguir mudar este estado de coisas, quem vai implementar políticas que, finalmente, consigam fazer aproximarmo-nos dos nossos parceiros europeus, nos devolvam a auto-estima e a dignidade?

A oposição? Mas onde é que ela está?

O PS? Também não creio. Hoje o Partido Socialista é José Sócrates, apenas ele. Não existe oposição interna, não existe uma massa crítica que discuta as opções do governo. Nem mesmo Manuel Alegre, que de quando em vez se faz ouvir, consegue abanar o partido, mesmo que suavemente.

E assim o PS, sem ideologia, sem ideias e sem vontade de alterar o status quo, já não constitui o partido que nos dê uma perspectiva de mudança. Como se vai combater a corrupção e a pobreza, como se vão travar as desigualdades cada vez mais gritantes, qual vai ser o modelo de desenvolvimento do país.

Claro que o PS tem feito algumas coisas, tem levado a cabo ou estão em curso algumas reformas estruturais, mas o tempo para isso acabou porque está à vista um novo ciclo eleitoral. E nós sabemos o que isso significa.

Caro Zeboma, meus amigos. Este vai ser um ano muito difícil. Como deu para perceber é escasso o meu entusiasmo. Por isso, e dentro de uma lógica o mais optimista possível, direi que as minhas expectativas para 2008 são de “desânimo esperançoso”. Dá para perceber?

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