quarta-feira, janeiro 23, 2008

A verdadeira identidade de Mona Lisa





Depois de alguns séculos em que a maioria dos cidadãos deste planeta desesperava perante todo o mistério que o sorriso enigmático da Mona Lisa deixava transparecer, sem conseguir ao menos saber quem é que realmente servira de modelo a Leonardo da Vinci, eis que uns brilhantes cientistas da universidade alemã de Heidelberg anunciaram – bombasticamente, de resto - que tinham descoberto de uma vez por todas a identidade daquela que desde mil quinhentos e poucos constituiu um dos maiores mistérios da História da Arte.

De facto, nas últimas semanas, todo o mundo ficou mais descansado.


Durante anos e anos especulou-se sobre a identidade do modelo de Da Vinci. Disse-se que a mulher poderia ter sido sua amante, que seria talvez a sua própria mãe e houve até quem alvitrasse (provavelmente por má fé) que se poderia tratar do auto-retrato do pintor italiano.


Afinal, a figura da mulher mais misteriosa do mundo, cuja expressão introspectiva, tímida e sedutora era, pasmem-se, uma aristocrata de Florença Lisa Gherardini, mulher do comerciante têxtil Francesco del Giocondo.


Daí que a Mona Lisa seja também conhecida por “La Gioconda” ou, ainda, “Mona Lisa del Gioconda”.


Esclarecidas as dúvidas sobre a verdadeira identidade da Mona Lisa e acalmados os ânimos de todos aqueles que desesperavam perante tanto e tão demorado desvendar do mistério, fiquei eu a braços com as minhas recordações que envolvem, naturalmente, a distinta e fidalga esposa de Francesco del Giocondo.


A primeira recordação tem a ver com a oportunidade que tive, já lá vão longos anos, de contemplar ao vivo, frente a frente, o quadro exposto no Museu do Louvre em Paris. Ali estava ela a Mona Lisa, diante de mim com o seu sorriso restrito, mostrando timidamente os dentes, como que a tentar seduzir-me.


A segunda recordação leva-me até aos idos anos setenta do século passado e a uma empregada que trabalhou lá em casa durante bastante tempo, a Senhora Ana. E lembro-me, sobretudo, porque ela tinha um medo horrível só de olhar, ainda que de soslaio e apressadamente, para uma reprodução da Mona Lisa que eu comprara precisamente no Louvre e que compunha uma das paredes da sala. Um medo que nem eu nem ela própria conseguimos alguma vez perceber.


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