quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Político honesto


Ontem falámos em política, hoje em políticos.

Provavelmente já terão a opinião formada sobre o assunto, ou seja, pensarão que políticos honestos não existem ou que serão uma pequena excepção. Mas, por via das dúvidas, para aqueles que ainda têm esperança em encontrar um político sério, convido-os a seguir as instruções que abaixo são indicadas:

1 - Entre no Google:
www.google.pt
2 - digite o seguinte: "politico honesto"
3 - prima em "Sinto-me com sorte" e não em "Pesquisa do Google"
4 - veja o resultado (leia com atenção)!


E que tal, ficaram convencidos?

Descontraiam-se e bom fim-de-semana.

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Política

A entrevista do primeiro-ministro José Sócrates na passada semana à SIC e ao Expresso levantou as mais apaixonadas análises quer da oposição quer dos muitos comentadores políticos.

Houve quem referisse que o primeiro-ministro se limitou a um auto-elogio à acção do seu governo e a si próprio e a papaguear números e mais números referentes à gestão de três anos de mandato.

Houve até quem dissesse que Sócrates exigiu que os temas da entrevista se confinassem à áreas da Economia, Educação e Saúde, por forma a que restassem uns escassos quatro minutos para falar em política. Ou seja, para que a entrevista resultasse num saldo positivo para José Sócrates - a quem a agitação social não tem deixado sossegado nos últimos tempos – ela não lhe deveria deixar tempo suficiente para falar propriamente em política, que é como quem diz, sem tempo não poderia anunciar qual o seu projecto político ou qual a sua visão de futuro.

Pois meus amigos, eu não alinho nesse coro das políticas politiqueiras. Embora tenha consciência que actualmente se considera que a política é sobretudo a gestão das expectativas, para mim, a política é uma outra coisa, é a arte de conseguir melhorar as condições de vida dos cidadãos.

Pretender que um governante diga publicamente qual é o seu projecto político três anos depois de ser eleito e apenas a um ano e meio de distância de novas eleições, não me parece que seja lá muito acertado.

Isso exige-se aos candidatos que concorrem às eleições, quando quem vai votar necessita saber qual o rumo que determinado partido ou personalidade pensa dar ao país e o que é que se propõe fazer para isso.

Pode Manuela Ferreira Leite argumentar que “governar é também acima de tudo agir politicamente, é falar para fora”, que, ainda assim, e com todo o respeito que tenho pela ex-ministra das finanças, continuo a pensar que um governante mais do que falar deve, sobretudo, levar a cabo os desígnios a que se propôs e que foram sufragados pelos cidadãos. E esses têm sido repetidamente ditos, estejamos ou não de acordo com eles.

Concordarão comigo que já temos a nossa dose de políticos que baseiam a sua nobre actividade na demagogia, no bota-abaixo e no ataque pessoal.

terça-feira, fevereiro 26, 2008

Pobreza


Como sempre sucede quando as sociedades se encontram em crise, perturbadas por convulsões sociais e económicas, os mais afectados são os idosos e as crianças.

O desemprego e a precariedade de emprego, os baixos salários, a pouca qualificação dos trabalhadores, o endividamento e o número cada vez maior de famílias mal estruturadas ou monoparentais, entre outros factores, são as principais causas do agravamento das condições de vida da maioria dos cidadãos em Portugal, que são particularmente sentidas pelos idosos e pelas crianças. Uma situação que se tem vindo a agravar nos últimos anos.

E por ter consciência deste estado de coisas, foi sem surpresa que tive conhecimento de um Relatório da Comissão Europeia que dá conta que um quinto das crianças portuguesas está em risco de pobreza. Segundo a UE só a Polónia consegue piores resultados. E nem nos serve de consolação que países como a Espanha, Grécia, Itália, Lituânia e Luxemburgo tenham níveis de pobreza igualmente altos nas crianças.

Revolta saber que em Portugal, em pleno século XXI, uma em cada cinco crianças é muito pobre e tem enormes carências.

Admito que muita gente se preocupe com este flagelo, mas nunca será demais que se fale no assunto e nunca serão excessivas as campanhas de alerta para despertar consciências.

Sou voluntário de uma Instituição Particular de Solidariedade Social que apoia centenas de outras Instituições de Solidariedade com o encaminhamento de alimentos para distribuição gratuita a pessoas carenciadas. E asseguro-vos que oiço frequentemente os responsáveis dessas Instituições afirmarem:

“Muitas das nossas crianças apenas se alimentam com o que lhes é servido aqui. Em casa não comem absolutamente mais nada”

É importante que tenhamos a noção que o risco de pobreza nas crianças não é decorrente, apenas, dos tais factores acima referidos. Na verdade esse risco abrange também as crianças que vivem com adultos desempregados mas igualmente aquelas que vivem em lares onde não há desemprego. Ou, ainda, as que pertencem àaquela mancha de população – cada vez maior, infelizmente – que vive naquilo a que se convencionou chamar “a pobreza envergonhada”.

Perante tamanha tragédia, ocorre-me perguntar: Quando é que passamos do plano das frases feitas do “o melhor do mundo são as crianças” para a vida concreta, para a vida real do “vamos fazer um mundo melhor para as crianças?”


domingo, fevereiro 24, 2008

As leis e os filhos


Na passada quinta-feira, na RTP1, Judite de Sousa entrevistou o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa.

Quando lhe foi colocada a questão do chumbo do Tribunal de Contas sobre o empréstimo que a autarquia pretendia contrair, e “se ele, o Presidente da Câmara, não estaria a ser vítima da lei que ele, enquanto Ministro, aprovou”, António Costa respondeu com uma expressão muito curiosa:

“as leis são como os filhos, ganham vida própria”

Nunca tinha pensado na questão nestes termos mas, vendo bem as coisas, existe alguma verdade quanto ao conceito. Senão vejamos:

Genericamente, os princípios, quer os que, enquanto pais, transmitimos aos filhos, quer os que os legisladores incorporam na elaboração das leis, são, à partida, os melhores.

Os pais porque pretendem que a vida dos filhos seja pautada por valores como a honestidade, o trabalho, a solidariedade, a justiça, enfim, por todos aqueles valores tradicionais que devem estar subjacentes à vida de qualquer cidadão. Os legisladores porque querem que as leis que produzem sejam, de facto, “construídas” com competência e que possam e devam ser exequíveis e cumpridas.

Portanto, no plano dos conceitos, eles aplicam-se por igual aos filhos e às leis, ou seja, para ambos apenas se pretende o melhor.

Só que, quer a vontade dos pais e dos educadores, quer o propósito dos legisladores são muitas vezes distorcidos por múltiplos factores que conduzem a que os propósitos inicialmente previstos não se realizem.

Os filhos porque a vida, a sua personalidade e vontade própria nem sempre os fazem cumprir os “caminhos” mais desejados pelos pais. O que não quer dizer que os tais princípios não tenham sido interiorizados. Só que se podem manifestar, por vezes, de forma diferente.

As leis porque embora bem idealizadas e elaboradas de acordo com os objectivos previamente definidos, nem sempre satisfazem, seja por falhas das próprias leis ou porque os diferentes agentes não as souberam interpretar convenientemente ou não as souberam pôr em prática da melhor forma.

E se, perante estes “desvios”, no que diz respeito aos filhos, a nossa acção pressupõe continuarmos a acompanhá-los e a dar-lhes apoio no seu percurso, relativamente às leis existe sempre a possibilidade de as corrigir para melhorar, quer o seu âmbito, a sua aplicação e o seu cumprimento. Sem medos sequer de termos que as refazer mais umas quantas vezes até serem “perfeitas”, ou quase, para que desse modo possam dar as respostas necessárias e servirem o fim para que foram criadas.

Tanto num como noutro caso “filhos e leis ganham (ou podem ganhar) vida própria".

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Chocante e imoral


Para início de conversa, devo dizer que não sou cliente nem accionista do BCP pelo que, a prosa de hoje sobre a forte queda dos lucros apresentados pelo maior Banco privado português, não representa o reflexo de qualquer preocupação financeira pessoal mas, simplesmente, o resultado da observação e da análise dos factos que têm vindo a público.

Nos últimos tempos muito se tem falado daquele Banco, dos seus inúmeros e infindáveis escândalos e da gestão pouco clara das diversas administrações que por lá passaram. E, naturalmente, esses factos, para além de terem deixado cair em desgraça alguns dos nomes que a maioria das pessoas considerava acima de quaisquer suspeitas, veio a reflectir-se nos resultados do exercício de 2007.

Mas, perguntar-se-á, esses escândalos e essa gestão foram assim tão ruinosos que fizessem perigar a continuidade da instituição? Não, longe disso, apesar de todos os desmandos, o BCP apresentou resultados líquidos de 563 milhões de euros.

É claro que comparando com os lucros de 2006 – 787,1 milhões de euros - são alguns milhões a menos, mas, ainda assim, o Banco, mesmo com todas as dificuldades que atravessou, teve uns óptimos resultados.

O que me leva a interrogar como é que é possível que uma instituição financeira consiga alcançar tamanhos lucros no meio de tanta turbulência e de tantas aparentes irregularidades.

Diz o BCP que, para além de muitas outras razões – que por serem tão técnicas nem as transcrevo - os resultados foram influenciados pelos custos com reformas antecipadas de colaboradores e de membros do Conselho de Administração Executivo.
E é aqui que o meu espanto tem a sua expressão maior. Só as reformas dos administradores custaram 80 milhões de euros. Ou seja, dos 121,8 milhões gastos nas reformas antecipadas, 41,8 milhões foram para colaboradores e 80 milhões para os membros do Conselho de Administração Executivo.

Os números – todos eles - são demasiadamente significativos. E mais do que assombro e a indignação, o mínimo que poderei dizer é que tudo isto é chocante e imoral.

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

O computador e o sono


Já tinha notado que, às vezes, depois de ter estado a trabalhar no computador pouco antes de me deitar, ficava com alguma agitação que me deixava às voltas na cama antes de conseguir dormir.

Nunca me apercebi que houvesse uma relação directa entre as duas coisas – o computador e o sono - mas admitia que a tensão provocada, por exemplo, pela criação de um texto ou de uma pesquisa para um trabalho mais elaborado me pudessem criar uma certa dose de ansiedade susceptível de me dificultar a chegada do sono.

Continuo a não saber em concreto o que é que uma coisa tem a ver com a outra, mas ao ler uma notícia que tinha por título “Ver e-mails é como tomar um expresso duplo” fiquei pelo menos a suspeitar porque é que me acontecia ter um princípio de noite tão mal dormido.

Dizia a tal notícia que um grupo de hotéis procurou averiguar as razões pelas quais os homens de negócios sofrem tanto com noites passadas em branco. E a pesquisa concluiu que ver e-mails antes de dormir tem o mesmo efeito no corpo humano que tomar um expresso duplo.

Por isso começaram a aconselhar os seus clientes a desligar os computadores uma hora antes de dormir, a tomar um duche de água morna e a evitar assistir a filmes violentos.

Segundo um especialista do Centro de Sono de Edimburgo que participou neste estudo, o stress do trabalho é o factor que mais influi na má qualidade do sono.

Pelo sim pelo não, e à experiência, vou tentar esquecer o computador pelo menos uma hora antes de ir para a cama. Vale a pena tentar!


terça-feira, fevereiro 19, 2008

Arrogância


Não raras vezes assistimos a manifestações de superioridade por parte dos ingleses, muitas delas com uma arrogância e uma sobranceria tamanha que já ninguém suporta.

Ainda há pouco, e a propósito do desaparecimento da pequena Madie Macann, desencadearam uma campanha muito agressiva em que puseram em causa todos aqueles que tiveram a “desdita” de nascer neste cantinho luso, sobretudo os investigadores da nossa judiciária, quando se sabe que mais de 80% dos desaparecimentos na Grã-Bretanha nunca chegam a ser resolvidos.


Pois sendo eles tão despachados e tão superiormente superiores quase que é difícil acreditar no resultado de uma sondagem realizada a 3000 ingleses que concluiu o seguinte:

- 23% acreditam que Winston Churchill, que foi primeiro-ministro de 1940 a 1945 e de 1951 a 1955, não passa de uma personagem de ficção;
- 47% afirmaram que Ricardo I, que ficou para a História como Ricardo Coração de Leão, nunca foi Rei de Inglaterra;
- 4% acredita que Cleópatra e 3% que Gandhi e Charles Dickens eram personagens de ficção;
- 58% disseram acreditar que Sherlock Holmes, a personagem criada por Sir Arthur Conan Doyle, existiu mesmo.


Onde está, afinal, essa superioridade toda que não chega para ocultar tanta ignorância?

Lá como cá os problemas da Educação são grandes. Só que nós, portugueses, somos mais humildes e não nos pomos em bicos dos pés a gritar que somos os maiores, mesmo que saibamos que D. Isabel II é Rainha do Reino Unido e que a grandiosa selecção nacional de futebol inglesa não se classificou para o Europeu de 2008, ao contrário da nossa pequena e modesta selecção.

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Nada a declarar


Embora o Carnaval já tenha passado, mas talvez inspirado pelo texto que aqui publiquei às primeiras horas de hoje que falava em Carnaval e em escolas de samba, lembrei-me de um conto escrito por José Eduardo Agualusa a que chamou “Nada a declarar”.

É um belíssimo texto de Agualusa, extraído do seu livro “Passageiros em Trânsito – Novos contos para viajar”, em que o escritor angolano demonstra toda a sua sensibilidade literária, de forma simples e bem-humorada.


Deixo-vos, então, com “Nada a declarar”


“Marina estudou o funcionário. Era um homem cinzento, fatigado, e estava ali como num velório. Mal olhava os viajantes. Perguntava alguma coisa, dobrado sobre o seu próprio tédio, folheava os passaportes, carimbava-os e devolvia-os:
- Tenha uma boa estada.
Quando chegou a sua vez sentiu que lhe tremiam as mãos. Suava. Hesitou entre enfrentá-lo, olhos nos olhos, aparentando segurança, ou, pelo contrário, fingir-se distraída. Estendeu-lhe o passaporte, já aberto na página com a sua fotografia, ao mesmo tempo que remexia nervosamente na carteira.
- A moça é portuguesa?! Pode dizer-me em que se ocupa?
E ela, num sopro:
- Eu? Sou mulata!
Ia acrescentar: “A tempo inteiro”, mas então reparou no espanto do homem e percebeu que trocara as palavras, mulata ao invés de modelo, e não conseguiu dizer mais nada. O funcionário animou-se. Endireitou o tronco. O rosto ganhou um súbito fulgor:
- Estou vendo, muito mulata mesmo ...
Murmurou isto com um ar expressivo, avaliando-a desde os tacões dos sapatos à revolta cabeleira negra, um metro e setenta e sete da mais fina mistura de raças:
- E o que vem a moça fazer ao Rio de Janeiro?
Marina estremeceu. Desembarcara, enfim, no país do Carnaval. A vida inteira esperara por aquele dia. Veio-lhe à memória a imagem de uma menina sambando numa festa de casamento. Os pais, os tios e os primos em redor, todos rindo e aplaudindo. Nunca mais deixara de sambar. Percorria as cidades da província, as vilas remotas, dançando o samba em bares ou festas populares. Volta e meia posava para anúncios de chocolates e marcas de café. Também se vestia de sambista para promover produtos tropicais nos grandes supermercados. Levara cinco anos a poupar dinheiro para aquela viagem.
- Vim ver o Carnaval, claro. Você não gosta de Carnaval?
O funcionário assentiu, feliz:
- E quem não gosta? Seja então bem-vinda, Marina – disse, imitando o sotaque português – Pelo que estou vendo a moça torce pela Mangueira.
Marina trazia uma blusa cor-de-rosa, rendada nos pulsos, e umas calças de um verde-pálido, talvez demasiado justas. Noventa de peito. Sessenta de cintura. Cento e dois de quadris. Aqueles dois centímetros de arrogante desafio às leis da gravidade faziam a diferença em qualquer palco. Rodopiou uns segundos, ali mesmo, diante do espanto divertido dos turistas, deu uns passos curtos, e Deus parou para ver. O funcionário sacudiu a cabeça, perplexo:
- Você é mesmo portuguesa? – O homem disse aquilo com admiração. Não era a dúvida metódica de um polícia de fronteira, era um elogio. – Tem a certeza?...
Marina sorriu com orgulho:
- Sou portuguesa, com certeza! Tão portuguesa quanto o fado, que antes de ser português foi brasileiro. Tão portuguesa quanto a Carmen Miranda, antes de ser brasileira. Tão portuguesa quanto o bacalhau da Noruega. Sou portuguesa do Alto da Cova da Moura!
O brasileiro nunca ouvira falar no Alto da Cova da Moura. Parecia-lhe que havia um desvario algures naquele nome, uma contradição nos termos, mas, ao mesmo tempo, soava-lhe bem, como se fosse o título de um samba-enredo inspirado em lendas árabes. Mil e uma noites. Aladino e o génio da lâmpada. O tapete voador. Algo assim:
- Maravilha! – exclamou. – Deve ser bonito, lá ...
A rapariga hesitou. Bonito? Não podia negar esse consolo a um estrangeiro. Disse-lhe que sim. Acrescentou, para ser sincera, que o que havia de mais bonito no bairro eram as pessoas. O funcionário carimbou o passaporte e devolveu-o. Inspirou fundo a ganhar coragem:
- Meu nome é Paulinho. Esta noite tem uma festa da Mangueira no Canecão. Você não quer ir comigo?
Marina sorriu. Cantarolou:
- Me leva que eu vou, sonho meu, atrás da verde-e-rosa só não vai quem já morreu.
E assim, poucas horas depois de desembarcar no Rio de Janeiro, Marina estava no Canecão, vendo desfilar no palco, num cenário a lembrar uma roda de samba, Alcione, Emílio Santiago, Beth Carvalho, Milton Nascimento, Djavan, Jamelão e Chico Buarque. Quando a porta-bandeira entrou no palco já Marina estava em transe. Os amigos de Paulinho cercaram-no com perguntas:
- Onde você achou a mina?
- É portuguesa...
Os amigos riram:
- Não brinca, cara, portuguesa onde?
- Juro! Toda ela é portuguesa...
Então um deles, um jovem alto, com uma calvície precoce, suspirou profundamente, resumindo numa só frase a incredulidade geral:
- Tá certo Paulinho, afinal foram eles quem inventou, eu não sabia é que tinham lançado um upgrade.
Marina, alheia ao escândalo da sua própria beleza, levantou-se e foi sambar.”


Quando as opções são discutíveis ...


A notícia veiculada pela Agência Financeira e divulgada nos jornais da última quinta-feira caiu como uma bomba:

“CTT gastam 15 mil euros em patrocínio a escola de samba brasileira”.

Pelos vistos, os Correios portugueses patrocinaram a escola de samba “Unidos da Tijuca”, no carnaval brasileiro deste ano, financiamento esse que foi já reconhecido pela respectiva Administração.

E se, à primeira vista, não percebemos que razões poderiam estar na base de tal decisão, sabemos agora o que a Administração dos CTT veio justificar. Que tal patrocínio mais não é do que um investimento na divulgação da filatelia portuguesa no Brasil, tanto mais que o dinheiro terá sido empregue na reprodução em painéis gigantes de selos portugueses, selos que foram um dos temas escolhidos pelos “Unidos da Tijuca” para o último carnaval.

Podem até argumentar que a opção tomada foi um investimento na visibilidade internacional da filatelia portuguesa e que é relevante, porventura, no crescimento do volume de negócios da filatelia lusa no Brasil.

Talvez, talvez eu seja pessimista mas não acredito que os coleccionadores brasileiros corram, por via desta campanha, a comprar os belíssimos selos portugueses. Penso que a argumentação não é suficientemente esclarecedora, e tenho sérias dúvidas, tal como a Comissão de Trabalhadores dos CTT, que esse investimento venha a produzir algum retorno capaz.

Aliás, e porque se trata de uma empresa cujo o accionista único é o Estado, gostaria muito que em momento oportuno fossem divulgados os ganhos obtidos com esta campanha.

Gosto de empresas empreendedoras mas “quando as opções são discutíveis” o mínimo que se pede é que haja uma total transparência.



quinta-feira, fevereiro 14, 2008

De mãos nos bolsos ...

Tenho tentado por várias vezes não dar muita atenção ao assunto. Afinal não tenho nada a ver com isso e se os homens fizerem má figura é lá com eles. Mas a verdade é que é difícil, cada vez vejo mais homens na rua e na televisão a falarem com as pessoas com a mão, ou até mesmo as duas, enfiadas pelos bolsos dentro.

Será que o fazem porque se sentem inseguros, têm medo, nervosismo ou inabilidade? Ou será que se trata de uma mera questão de timidez?

Seja como for, nada justifica o facto e os homens têm que ter consciência que falar com alguém com as mãos nos bolsos é uma grosseira falta de educação.

E se em certos casos podemos até desculpar a falta de maneiras de determinada pessoa porque a vida e a família não lhe proporcionaram melhores condições de educação, em muitos outros observamos indivíduos que tiveram todas as possibilidades de educação e de formação e que cometem a mesmíssima falta e, estes, sem qualquer desculpa que os valha.

Irrita-me ver políticos, jornalistas, homens de negócios, pessoas que têm visibilidade pública a terem atitudes deselegantes e rudes, mostrando-se autênticos burgessos e servindo de (mau) exemplo a todos os outros e sobretudo aos mais novos.

Urge acabar com a coisa.

A não ser, digo eu, que tal atitude tenha a ver não com algum tipo de insegurança ou de moda, mas apenas com a necessidade de segurar as calças por falta de um cinto.

A verdadeira razão


Sem querer retornar ao assunto do tabaco, mas já o estando a fazer, gostaria de tecer um breve comentário sobre o tema de que tanto se tem falado ultimamente.

Se julgavam que o intuito do governo ao proibir o uso do tabaco em recintos fechados, foi para que a rapaziada ficasse mais saudável e com bom aspecto, receio que venham a ter uma enorme desilusão. É claro que eles também querem isso, mas ...

Se, por outro lado, imaginavam que a preocupação principal do executivo foi a de proteger os não-fumadores, a fim de garantir a sua liberdade e a sua saúde, lamento desapontá-los mas também não acertaram. É claro que eles também querem isso, mas ...

Se pensam que os fumadores abrandaram o seu vício por causa do senhor António Nunes e da sua gente da ASAE, estão igualmente errados. É claro que a ASAE impõe um certo respeito, mas ...

Ou será que foram as leis impostas por Bruxelas? Esqueçam, os eurocratas europeus nada tiveram a ver com isso.

A verdadeira razão porque o governo decidiu aprovar estas medidas tão impopulares para cerca de 20% da população tem a ver unicamente com o facto de

Fumar aumenta risco de calvície

De facto, um estudo realizado por cientistas do Far Eastern Memorial Hospital, em Taipei (Taiwan), sugere que os homens fumadores correm mais riscos de virem a sofrer de calvície. A pesquisa observou 740 homens com idade entre os 40 e os 90 anos e analisou o histórico de calvície na família, a intensidade com que fumavam e a idade em que começaram a perder cabelo. A conclusão do estudo é clara, aqueles que fumam 20 ou mais cigarros por dia têm duas vezes mais hipóteses de ter queda de cabelo moderada ou severa do que aqueles que nunca fumaram.

A pesquisa indica ainda que o risco de calvície permanece elevado mesmo entre os ex-fumadores.

Segundo os cientistas, fumar danifica a estrutura genética dos folículos capilares, que são responsáveis pelo crescimento do cabelo. O fumo pode ainda afectar as raízes das células necessárias para a circulação de sangue e hormonas.


Portanto, a verdadeira razão que levou o governo a legislar pela proibição de fumar em recintos fechados é apenas – e este apenas tem uma força enorme – porque a calvície masculina, conhecida cientificamente como alopécia androgénica, atinge dois terços dos homens adultos.

E é isso que o governo e o nosso primeiro-ministro atleta querem evitar a todo o custo. Que o Portugal do futuro seja um país de carecas. Melhor dizendo, de homens carecas.

Sim porque o estudo não fala nas mulheres fumadoras. Mas que as há ... lá isso há, e muitas!

terça-feira, fevereiro 12, 2008

Obrigado Nuno

Para quem não viu ainda (ou para quem quer recordar) esta belíssima exibição de dança, deixo-vos com

Nuno Markl
Nuno, embora não te conheça pessoalmente, no último sábado deste-me uma prova de amizade que nunca esquecerei.

Ao “dançares” o tango daquela forma, inovadora como tu próprio disseste, transmitiste-me a força que me faltava há anos e acredita que a minha auto-estima subiu de imediato.

Dançar não é apenas o deslizar graciosamente pela sala, em requebros elegantes e em movimentos sensuais. Quem pensava – e eu era um deles – que só o Fred Astaire e a Sónia Araújo sabiam de facto dançar constatou, finalmente, que não basta mostrar graciosidade ou mover o corpo ao som da música.
Tu demonstraste inequivocamente como se deve conduzir o par, com determinação, com um ar mais ou menos marcial e, sem dúvida alguma, com a garra bem assumida de um “macho latino”. Performance notável e irrepreensível.

Razão teve a jurada Rita Blanco ao conceder-te o máximo da pontuação – nove.

Quanto a mim, que nesta arte sou apenas um pouco melhor do que tu, e que na dança sempre me equiparei a um elefante num bazar de porcelanas, ao ver-te, deixei de sentir que o meu pé pesado como chumbo poderia continuar a ser um empecilho para uma bela noite de rodopios.

Fico a dever-te esta, Nuno Markl.

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

A decisão do empresário


Um empresário alemão perante a reivindicação de três funcionários para que o patrão disponibilizasse sala adequada à sua condição de não fumadores, decidiu duas coisas: despedir pura e simplesmente aqueles três empregados e, para além disso, resolveu que a partir daquele momento só daria emprego a quem fosse fumador.

Embora eu tivesse a intenção de não voltar a falar sobre a questão dos fumadores e da nova lei do tabaco, não posso deixar de fazer um pequeno comentário à história - verdadeira - com que iniciei estas linhas.

Claro que não vou bater de novo na tecla dos direitos que cada um tem à sua privacidade e, particularmente, ao direito legítimo que os não fumadores têm de não aspirar o fumo dos outros no intuito de preservar a sua saúde.

Não posso deixar, contudo, de manifestar a minha indignação à forma discricionária e prepotente como agiu aquele empresário alemão. Não só porque não cumpriu a lei em vigor no seu país (que é muito semelhante à nossa, ou seja, que em recintos fechados não se pode fumar), mas isso, enfim, é lá com ele e com as autoridades alemãs, mas sobretudo, porque começou a contratar – discriminatoriamente – só as pessoas que fumem, marginalizando assim todos aqueles candidatos que se venham a apresentar como não fumadores.

Se é verdade que ele é o patrão, a empresa é dele, o dinheiro é dele e ele tem todo o poder para escolher aqueles que julga mais adequados para serem seus empregados, não pode, no entanto, rejeitar os aspirantes a trabalhadores só pelo simples facto de não fumarem, de serem de cor, de terem determinado credo ou tendência política ou sexual.

Só conheço a parte da história que vos contei, mas espero sinceramente que a lei germânica seja implacável e não condescenda com tão inqualificável injustiça.



domingo, fevereiro 10, 2008

Telmo, o despachado!




Nos últimos dias toda a gente tem comentado, com espanto e alguma ironia, a azáfama danada que tomou conta do deputado do CDS Telmo Correia na derradeira madrugada em que foi ministro do Turismo do governo de Santana Lopes.

E o facto tem sido tão comentado porquê? Porque Telmo Correia antes de sair do Ministério, fez uma directa e levou a noite inteira a dar despachos. Consta que nada mais nada menos do que 300 despachos. É obra!

Justamente num país em que a produtividade não é famosa, fazem-se processos de intenção só porque um ministro, ao invés de estar a descansar ou a beber uns copos com os amigos, passa a noite a trabalhar no seu gabinete para que o ministro que o vai substituir na tarde do dia seguinte não vá encontrar o serviço atrasado.

Telmo Correia demonstrou, de facto, uma notável capacidade de trabalho e despachou – despachou literalmente, na verdadeira acepção da palavra – todos os dossiers que jaziam em cima da sua secretária.

O que me leva a dizer que, perante tanto despacho dado, Telmo Correia bem se arrisca a ficar conhecido como “Telmo, o despachado”!


quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Os ciganos e os sapos

Devo confessar que sempre senti alguma repulsa pelos sapos. Nem sei porquê mas talvez a sua pele húmida e viscosa tenham a ver, de algum modo, com a repugnância que sinto mal os vislumbro. Mas apenas repulsa e repugnância.

De forma diferente sentem os ciganos, pelo menos os mais velhos, que acreditam que os sapos são um símbolo do azar, discórdia e infortúnio.

É uma superstição levada muito a sério e que é passada de pais para filhos. Para o povo cigano, o sapo simboliza o mal e trás infelicidade às famílias.

De tal modo assumem essa superstição que chegam a dizer "Para nós, essa palavra é proibida. Quando a ouvimos, o dia vai correr mal e os comerciantes não vão conseguir vender...".

E o “medo” chega a um ponto tal que os ciganos evitam a todo o custo cruzarem-se com um sapo e a referência escrita num simples texto fá-los dar um salto na leitura só para evitarem a palavra maldita.

Apenas admitem pronunciar a palavra “sapo” quando querem insultar alguém, o que pode dar origem a uma zanga muito violenta.

Mas se é verdade que existem cerca de 4.800 tipos diferentes de sapos (da espécie animal), dizem por aí que tudo aquilo que tenha figura de sapo - de loiça, de feltro, de puxadores de portas ou o mais que a vossa imaginação conceba com essa figura - afasta definitivamente os ciganos para uma distância considerada prudente.

Só ainda não ouvi falar em ciganos que tenham repudiado, por ter tão amaldiçoado nome, o “Sapo” como portal da internet. Será que este é também susceptível de lhes trazer azar e infelicidade?



quarta-feira, fevereiro 06, 2008

A cavalo dado ...


Há quem pense que não devemos ser demasiado exigentes quando alguma coisa nos é oferecida. Por outras palavras, só porque se trata de uma oferta, a boa educação obriga a que não façamos má cara, mesmo que essa oferenda não nos agrade lá muito. Para além de ser de borla sempre nos ensinaram que “A cavalo dado não se olha o dente”.

Talvez em certas situações isso possa ser assim mas, quanto a mim, a aplicação do adágio não se pode generalizar.

Estou a pensar, por exemplo, nos diversos jornais gratuitos que se têm multiplicado nos últimos tempos. Claro que há uns que são nitidamente melhores que outros, mas relativamente a todos eles, o facto de nos serem oferecidos não deve condicionar o nosso espírito crítico e o nível da nossa exigência.

Ainda há dias num que me foi atirado pela janela entreaberta do carro, reparei, numa leitura muito transversal, em dois erros imperdoáveis.

O primeiro tratava-se de um erro de ortografia e titulava uma pequena notícia desta forma: “Médicos ameação demitir-se com fecho de Oncologia”. Ameação? Ou será que eles queriam escrever ameaçam?

O segundo diz respeito à falta de rigor informativo e escrevia também em título “Três homens perdidos no Gerês”, pormenorizando depois que os tais homens eram funcionários de uma empresa que andariam no local a fazer um levantamento. Na verdade tratava-se de simples caminheiros que foram surpreendidos pelo mau tempo e, pior ainda, eram dois homens e uma mulher e não três homens.

Como podemos, então, acreditar nas notícias que são veiculadas diariamente por esses jornais se detectamos facilmente as asneiras mais grosseiras?

Embora a maioria dos provérbios continue a reflectir a sabedoria popular, apesar de serem muito antigos, neste caso acho que deveríamos enunciar o ditado de uma outra forma “A jornal dado também se exige rigor”.



terça-feira, fevereiro 05, 2008

Afinal a questão é outra ...


Depois da confusão que se gerou sobre se José Sócrates é ou não engenheiro,

depois de o jornal Público, pela mão do jornalista José António Cerejo ter denunciado que o primeiro-ministro, então engenheiro técnico da Câmara da Covilhã, assinou projectos que não eram seus, de edifícios situados em áreas pertencentes à Câmara Municipal da Guarda,

e depois ainda do mesmo jornalista e do mesmo jornal terem revelado que o ex-deputado Sócrates recebeu o subsídio de exclusividade enquanto acumulava a função de deputado com actividades privadas,

muita gente começou a achar que o engenheiro Sócrates tem manifestado ao longo dos anos uma notável falta de carácter. Muita gente, digo eu, embora ele continue de pedra e cal à frente de todas as sondagens que têm sido feitas, mesmo aquelas que são reconhecidamente insuspeitas.

O que o Público e o seu jornalista de intenções persecutórias não disseram, mas que nós hoje divulgamos, depois de uma profunda investigação à vida mais íntima e privada de José Sócrates, é que o actual líder do PS e do governo, quando frequentava a escola primária de Vilar de Maçada, conseguiu sacar um berlinde a um colega dizendo que tinha um abafador, o qual nunca veio a ser exibido.

E é por este dislate, e não por outros, que o povo tem que aferir da credibilidade e da honestidade do actual primeiro-ministro. Muito mais do que julgar as políticas, incluindo a da saúde, que este governo tenha tomado até agora.

Abafar um “bilas” sem ter um abafador? Onde é que já se viu?

domingo, fevereiro 03, 2008

Preocupações!


Hoje sinto-me completamente à-vontade para reflectir em voz alta, que é como quem diz para escrever descontraidamente, porque sei que todo o mundo está entretido com o Carnaval e ninguém se lembra de vir até aqui espreitar.

E ainda bem. Tenho andado muito preocupado e não me admira que os meus últimos textos tenham reflectido a enorme confusão que me vai na (i)alma. E para além da confusão, estou apreensivo sobretudo o não saber se essa mesma confusão é a consequência de alguns acontecimentos que ocorreram na última semana ou se já é o efeito da minha já longa existência.


Primeiro foi o meu Benfica que depois de uma magnífica e retumbante vitória em Guimarães, que fez tremer o líder do campeonato, ficando a uns escassos e ameaçadores oito pontos do dragão, acabou por sucumbir neste fim-de-semana ao empatar na Luz perante o Nacional da Madeira que esteve até a um passo de vencer. Percebe-se a inquietação e o treinador Camacho não me dá respostas.


Depois foi o caso do ex-ministro da saúde, Correia de Campos, o inimigo público número um, porventura o homem mais odiado e perseguido deste país (sem falar no António Nunes da ASAE), o governante a quem se atribuíam todas as culpas da má saúde da saúde e a quem chegaram até a culpar pela morte de uma criança que já chegara sem vida à carrinha do INEM que a ia socorrer. Pois Correia de Campos ainda estava a transpor a porta de saída e já se ouvia, não o aplaudir de quem tanto o queria ver pelas costas, mas um coro de manifestações a seu favor, de todos os quadrantes políticos e laborais (até da área da saúde, pasme-se), atribuindo-lhe a coragem e a razão pelas reformas que estava a levar a cabo, dizendo mesmo que ele seria a pessoa que mais sabia de saúde em Portugal. Como não ficar confuso com posições tão antagónicas relativamente à mesma pessoa.


Por fim, o polémico e assertivo bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto (há quem lhe chame Márinho, vá lá saber-se porquê), que continua a sua cruzada de há pelo menos vinte anos na denúncia da injustiça e da justiça diferenciada entre pobres e poderosos e na luta contra a corrupção e contra os crimes de colarinho branco, delitos esses cujas condenações se contam pelos dedos. Agora que ele é o representante dos advogados e tem uma visibilidade acrescida, aproveita naturalmente para vociferar ainda mais alto que este estado de coisas tem que terminar, perante as críticas dos próprios advogados e do mundo político em geral que, hipocritamente, se escandaliza com a sua luta. Afinal, ouvem-se constantemente um pouco por todo o lado as mesmas preocupações e desabafos, só que em murmúrios sussurrados, e agora opõem-se àquele que tem a coragem, em nome da justiça e da equidade social, de dar voz aos que temem chamar os bois pelos nomes?


Perante isto, o que pensar? Acho que são demasiadas preocupações que me deixam muitos amargos de boca. Mas provavelmente, não só a mim como a muita boa gente. Não será?