quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Chocante e imoral


Para início de conversa, devo dizer que não sou cliente nem accionista do BCP pelo que, a prosa de hoje sobre a forte queda dos lucros apresentados pelo maior Banco privado português, não representa o reflexo de qualquer preocupação financeira pessoal mas, simplesmente, o resultado da observação e da análise dos factos que têm vindo a público.

Nos últimos tempos muito se tem falado daquele Banco, dos seus inúmeros e infindáveis escândalos e da gestão pouco clara das diversas administrações que por lá passaram. E, naturalmente, esses factos, para além de terem deixado cair em desgraça alguns dos nomes que a maioria das pessoas considerava acima de quaisquer suspeitas, veio a reflectir-se nos resultados do exercício de 2007.

Mas, perguntar-se-á, esses escândalos e essa gestão foram assim tão ruinosos que fizessem perigar a continuidade da instituição? Não, longe disso, apesar de todos os desmandos, o BCP apresentou resultados líquidos de 563 milhões de euros.

É claro que comparando com os lucros de 2006 – 787,1 milhões de euros - são alguns milhões a menos, mas, ainda assim, o Banco, mesmo com todas as dificuldades que atravessou, teve uns óptimos resultados.

O que me leva a interrogar como é que é possível que uma instituição financeira consiga alcançar tamanhos lucros no meio de tanta turbulência e de tantas aparentes irregularidades.

Diz o BCP que, para além de muitas outras razões – que por serem tão técnicas nem as transcrevo - os resultados foram influenciados pelos custos com reformas antecipadas de colaboradores e de membros do Conselho de Administração Executivo.
E é aqui que o meu espanto tem a sua expressão maior. Só as reformas dos administradores custaram 80 milhões de euros. Ou seja, dos 121,8 milhões gastos nas reformas antecipadas, 41,8 milhões foram para colaboradores e 80 milhões para os membros do Conselho de Administração Executivo.

Os números – todos eles - são demasiadamente significativos. E mais do que assombro e a indignação, o mínimo que poderei dizer é que tudo isto é chocante e imoral.

2 comentários:

Anónimo disse...

Como que a documentar o texto, o Correio da Manhã, publicou hoje em primeira página:


“A Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) teve de enviar ao Millennium BCP uma equipa de funcionários para apressar a recolha de documentação. As diligências de recolha de documentação (que os bancos são obrigados a respeitar sob pena de incorrerem no crime de desobediência) ocorreram entre 7 e 23 de Dezembro e o objectivo era obrigar a administração de Filipe Pinhal a clarificar a situação do banco antes da realização da assembleia geral extraordinária (que se realizou a 15 de Janeiro)”

Anónimo disse...

Estou inteiramente de acordo que é deveras chocante e imoral que meia dúzia de administradores levem, só à sua parte, 80 milhões de euros relativo a indemnizações, para além de reformas milionárias.

Para o Banco (e para os seus accionistas), porém, e embora os resultados de 2007 não tivessem sido assim tão “maus”, o que deve realmente estar a preocupar é a fuga de investidores, face à péssima cotação em Bolsa das acções do BCP.

Tendo em conta o preço de fecho da última sexta-feira - 1,725 euros -, o valor do Banco caiu 650 milhões numa semana. Só em três dias o BCP perdeu em Bolsa 560 milhões de euros.

Está quase na hora de começar a comprar!