terça-feira, fevereiro 26, 2008

Pobreza


Como sempre sucede quando as sociedades se encontram em crise, perturbadas por convulsões sociais e económicas, os mais afectados são os idosos e as crianças.

O desemprego e a precariedade de emprego, os baixos salários, a pouca qualificação dos trabalhadores, o endividamento e o número cada vez maior de famílias mal estruturadas ou monoparentais, entre outros factores, são as principais causas do agravamento das condições de vida da maioria dos cidadãos em Portugal, que são particularmente sentidas pelos idosos e pelas crianças. Uma situação que se tem vindo a agravar nos últimos anos.

E por ter consciência deste estado de coisas, foi sem surpresa que tive conhecimento de um Relatório da Comissão Europeia que dá conta que um quinto das crianças portuguesas está em risco de pobreza. Segundo a UE só a Polónia consegue piores resultados. E nem nos serve de consolação que países como a Espanha, Grécia, Itália, Lituânia e Luxemburgo tenham níveis de pobreza igualmente altos nas crianças.

Revolta saber que em Portugal, em pleno século XXI, uma em cada cinco crianças é muito pobre e tem enormes carências.

Admito que muita gente se preocupe com este flagelo, mas nunca será demais que se fale no assunto e nunca serão excessivas as campanhas de alerta para despertar consciências.

Sou voluntário de uma Instituição Particular de Solidariedade Social que apoia centenas de outras Instituições de Solidariedade com o encaminhamento de alimentos para distribuição gratuita a pessoas carenciadas. E asseguro-vos que oiço frequentemente os responsáveis dessas Instituições afirmarem:

“Muitas das nossas crianças apenas se alimentam com o que lhes é servido aqui. Em casa não comem absolutamente mais nada”

É importante que tenhamos a noção que o risco de pobreza nas crianças não é decorrente, apenas, dos tais factores acima referidos. Na verdade esse risco abrange também as crianças que vivem com adultos desempregados mas igualmente aquelas que vivem em lares onde não há desemprego. Ou, ainda, as que pertencem àaquela mancha de população – cada vez maior, infelizmente – que vive naquilo a que se convencionou chamar “a pobreza envergonhada”.

Perante tamanha tragédia, ocorre-me perguntar: Quando é que passamos do plano das frases feitas do “o melhor do mundo são as crianças” para a vida concreta, para a vida real do “vamos fazer um mundo melhor para as crianças?”


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