sexta-feira, março 28, 2008

Ao que nós chegámos

Um irritante problema informático não me permitiu comentar na altura certa o vídeo que passou em todas as televisões e que mostrou a briga entre uma aluna e uma professora da Escola Carolina Michaelis no Porto. Infelizmente, a cena não é invulgar mas a verdade é que chocou e revoltou muitos portugueses. Segundo consta, este tipo de desacatos - violência verbal e física de alunos a professores, de pais de alunos a professores e de alunos entre si - acontecem com demasiada frequência nas nossas escolas.

Claro que neste momento o que mais se ouve são as recriminações à Ministra e ao Ministério da Educação. Mas, em consciência, ninguém de boa-fé pode atribuir culpas unicamente aos Ministros e Ministérios (a todos eles e ao longo dos anos) que têm presidido aos destinos da educação no nosso país.

Quanto a mim o que aconteceu tem a ver com o estado da própria sociedade em que vivemos e, a responsabilidade, se a quisermos apurar, pode ser imputada à escola, aos professores, ao Ministério da Educação e aos seus ministros, aos pais dos alunos e, naturalmente, aos próprios alunos.

É tempo de deixar de ter medo de dizer que os alunos são tão culpados como quaisquer outros agentes e é absolutamente necessário responsabilizá-los e castigá-los quando eles são os causadores dos problemas.

No caso presente, uma turma de desordeiros – que não têm outro nome - que sentiu toda a legitimidade para enfrentar e maltratar a professora só pelo facto de ela ter tentado tirar um telemóvel a uma aluna que, abusivamente, o estava a utilizar.
E vimos todos como a professora indefesa, isolada e desmoralizada não conseguiu impor qualquer autoridade sobre uns fedelhos que riam alarvemente e usavam um palavreado impróprio.
Uma corajosa professora, digo eu, cujo o único senão foi o de se encontrar numa escola que não tem as condições de segurança necessárias que lhe teria permitido “fugir” àquele braço de ferro e sair imediatamente da sala de aula em busca de auxílio.

Ao que nós chegámos! A indisciplina, o desrespeito e a desautorização. A mais desprezível
baixeza.

E esta total inversão de valores requer a tomada de medidas urgentes e firmes.

Já se sabe que a tal aluna vai ser transferida de escola mas, isso, não será sanção suficiente para punir um acto que, para além da indisciplina demonstrada, constitui também um crime face à legislação vigente.


Quanto ao aproveitamento político deste caso por parte da oposição, é simplesmente vergonhoso. Melhor seria, já que não se fez mais cedo, que todos os políticos, das diferentes áreas, se entendessem e que através de medidas que deveriam por em prática urgentemente, recolocassem no seu devido lugar, a dignidade e a autoridade dos professores.

A bem do ensino e a bem da Nação.



quarta-feira, março 26, 2008

Os noivos, a invasão da privacidade e o fisco



Confesso que achei uma certa piada a todo este ruído que se fez à volta da intenção do governo de “pedir” aos noivos informação sobre quem foram os seus fornecedores e quanto é que lhes pagaram por todos os serviços prestados com o casamento.

Até há pouco, toda gente se insurgia pelo facto de só pagarem impostos os que trabalhavam por conta de outrem, enquanto que os profissionais liberais, tivessem eles a profissão que tivessem, fugiam invariavelmente às suas obrigações fiscais. Chamavam-lhes malandros, aos que fugiam ao pagamento e aos governos que não os conseguiam caçar, e lamentavam-se por só eles terem que aguentar tamanho fardo.

Até que houve um governo qualquer que obrigou os bancos a serem controladores e denunciantes dos seus clientes para que estes não pudessem contrair empréstimos se não tivessem em dia os pagamentos à segurança social. Nessa altura, os Bancos e os seus empregados argumentaram que o Estado estava a delegar nas entidades bancárias uma tarefa que competia por inteiro aos próprios serviços do Estado. Embora com algumas trafulhices pelo meio, devido à concorrência desenfreada dos próprios bancos, o certo é que muitos empresários tiveram mesmo que regularizar as suas dívidas sob pena de não conseguirem os tão almejados empréstimos.

Anos depois, o governo, não sei se da mesma cor do outro governo, lembrou-se de dizer aos contribuintes que deveriam pedir sempre facturas nos restaurantes. O coro da discórdia já se começava a ouvir quando alguém se lembrou de acrescentar alguma coisa à tal solicitação. Se pedirem as facturas nos restaurantes, parte desse montante pode ser abatido no IRS. E o coro, surpreendentemente (ou talvez não), calou-se e os proprietários dos restaurantes tiveram que começar a pagar os impostos devidos. Pelo menos os respeitantes aos valores inscritos nas facturas que tinham que passar.

Agora (um agora que teve início já em 2004) foi a vez do governo olhar para toda a indústria (cada vez mais próspera) que gira à volta dos casamentos. Os que vendem os fatos de noiva, os que arrendam espaços para as festas, os restaurantes e as empresas que fornecem os cattering, os fotógrafos, os que animam os copos-de-água, as floristas e todos os demais, estão sob o olhar do fisco que pretende saber, através dos noivos, quem é que eles contrataram e quanto lhes pagaram.

Perante esta investida, um bruá enorme se levantou e as acusações de “querer controlar os contribuintes” e de “tentativa de invasão de privacidade” não se fizeram esperar.

Mas, afinal, onde reside o problema? O Estado não pretende saber como é que os noivos, que até podem estar desempregados ou ganham uma miséria, conseguiram oferecer uma festa de estadão aos seus convidados. Provavelmente alguém lhes pagou as despesas ou recorreram a empréstimo bancário. Ninguém está a pedir contas aos noivos. O que o fisco quer é saber quem é que prestou os serviços e se esses fornecedores estão, ou não, a pagar os impostos devidos. Não é o que toda a gente pretende, que todos, e não só alguns, paguem os impostos para que este país possa ser um pouco mais justo? Não é, afinal, uma forma de travarmos a evasão fiscal?

Para além de que não estou a ver como é que se podem conhecer as verbas realmente auferidas por cada um dos fornecedores se não existem quaisquer registos de controlo?

Frequento de vez em quanto um “snack-bera” cujo o dono faz as contas aos clientes no próprio toalhete que serve de toalha. Quem é que vai saber quantas refeições é que são servidas por dia naquela casa se quase ninguém pede facturas? Serão duzentas por dia ou apenas as cinquenta declaradas? Em termos de impostos, esta é a diferença que faz uma enorme diferença.

O único pecado do governo nesta matéria é, quanto a mim, a “ameaça” que faz aos nubentes caso eles não apresentem os dados solicitados. Arriscam-se a ter que pagar uma coima entre os cem e os dois mil e quinhentos euros. Se o legislador tivesse optado por uma outra solução, por exemplo, que os recibos ou facturas das despesas com o casamento pudessem entrar como benefícios fiscais no IRS, então, outro galo cantaria ...

Ah, e o governo cometeu ainda um outro pecado, e este gravíssimo. Dar aos recém-casados quinze dias para responder ao fisco, não lembra a ninguém. É que quinze dias, em plena lua-de-mel, são demasiado preciosos para resolver uma montanha de coisas ... e não, propriamente, esse tipo de coisas.

terça-feira, março 25, 2008

Depressões

Segundo a conclusão de estudos feitos, simultâneamente, por cientistas norte-americanos e portugueses, cuidar de idosos, lavar fraldas de bebés e servir às mesas são três das principais causas de depressão.

Nunca tinha imaginado tal.

Se no que diz respeito ao servir às mesas não consigo descortinar o que de tão grave possa determinar tal consequência, a não ser a forte pressão dos patrões ou da clientela, já relativamente às outras duas, mas sobretudo à primeira – cuidar de idosos - penso que existe alguma lógica para que isso aconteça. Não pelas actividades em si mesmas, mas porque para exercê-las é necessário que quem as executa tenha que ter um perfil adequado e que não veja naquilo que faz apenas um emprego.

É que cuidar de idosos requer níveis especiais de jeito, de atenção e de carinho que nem todos têm a capacidade de dar. Daí que, muitos, por não estarem devidamente preparados, técnica e psicologicamente, sejam mais susceptíveis de poderem vir a sofrer de estados de depressão mais ou menos graves.

terça-feira, março 18, 2008

Uma nova possibilidade para reclamar


Afinal por onde é que anda o tal direito à indignação de que tanto se fala? Não estou a pensar na que é expressa através das manifestações de rua, mas na que tantas vezes sentimos quando somos mal atendidos ou quando temos razões de queixa relativamente a qualquer serviço ou produto. Temos o direito e o dever de mostrar o nosso descontentamento. Mas como fazê-lo?

Para além do livro de reclamações que todos os estabelecimentos são obrigados a ter – e é bom que saibam que os portugueses pedem cada vez mais o Livro de Reclamações - podem agora utilizar um outro meio.

Se querem reclamar de um mau serviço, de uma empresa, de um produto, etc. acedam a

Por outro lado, se têm dúvidas sobre determinada empresa, podem fazer uma busca no próprio sítio.

Não deixem de divulgar as vossas queixas.

Reclamando, estaremos a ajudar outros a não caírem na mesma asneira de contratar (maus) serviços ou de comprar produtos que não prestam.

Quantas mais reclamações forem registadas, menos possibilidades são dadas a quem trabalha mal.

Todos temos o direito à indignação e devemos exercê-lo.


PS: Espero que não usem este sítio para reclamar deste blogue ou do seu autor

BOA PÁSCOA!

segunda-feira, março 17, 2008

D. João VI


Estamos desde há alguns meses a comemorar os 200 anos da transferência da corte portuguesa para o Brasil, medida que foi tomada para fugir aos efeitos das invasões napoleónicas e poder manter mais ou menos intacta a soberania de Portugal a partir do Rio de Janeiro.

Mas para além do lançamento de um selo comemorativo em Salvador e da presença do Presidente da República Cavaco Silva no Rio de Janeiro, que mais é que sabe a generalidade dos portugueses sobre o que significou, de facto, a ida da corte para o Brasil?

Sem pretender efectuar o relato detalhado dos acontecimentos que podem, eventualmente, ser maçadores para quem não demonstra grandes interesses pelo conhecimento da nossa História, direi apenas que a família real era constituída pela Rainha D. Maria I, o Príncipe regente D. João (futuro D. João VI), sua mulher Carlota Joaquina e todo o seu enorme séquito.

E sobre a figura do rei, a quem muitos consideravam medroso, solitário e que tinha dificuldades em tomar decisões, gostaria de dizer que a sua presença no Brasil veio a manifestar-se muito importante. O Brasil era, nessa altura, uma colónia atrasada e sem identidade nacional. D. João em apenas 13 anos conseguiu transformar esse enorme território, onde as províncias eram rivais entre si, num verdadeiro país. Num país único, com os contornos que hoje tem e com a pujança que se lhe conhece, que sem a sua intervenção poder-se-ia ter transformado em meia dúzia de repúblicas, como aconteceu na restante América espanhola de então.

E é curioso que o nosso D. João VI, de seu nome João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís António Domingos Rafael de Bragança, cognominado “O Clemente” foi sempre mais querido no Brasil do que no seu próprio país de origem.

Todo este período histórico é muito rico e merecedor de leituras mais aprofundadas, por interessantes. Mas este espaço é apenas um blogue e não uma cátedra de História. Por isso, e para terminar, deixo-vos hoje com um poema/canção delicioso de A. Rodrigues e R. Calado, sobre precisamente D. João VI, que se intitula:


“D. João VI e a mulata”

Quando a corte de D. João VI
Chegou a Paquetá
Tudo servia de pretexto
P’ra censurar, p’ra criticar
Certa mulata que havia lá

Diziam que ela era um perigo
Que ela era uma tentação
E que um marquês de novo antigo
Desdenhava o rei, não cumpria a lei,
P’ra ser só dela o cortesão.

Mas quando alguém o censurasse
Pedindo ao rei que a exilasse
Pelo mal que fazia
D. João VI trincava uma coxinha
De frango ou de galinha
E sempre respondia
Já lhes disse que aqui em Paquetá
Eu sigo a lei da corte de Lisboa
E não me digam que a mulata é má
Porque eu decreto que a mulata é boa

Certa noite muito escura
A moça se assustou
Vendo surgir uma figura
Gorda, a ofegar
Que sem falar
Nos gordos braços logo a apertou
Ela sentiu-se muito aflita
Como dizer que não
Até na treva era bonita
E lá fez de conta, que ficava tonta
Sem saber que era o seu D. João.

Mas quando alguém o censurasse
Pedindo ao rei que a exilasse
Pelo mal que fazia
D. João VI trincava uma coxinha
De frango ou de galinha
E sempre respondia
Já lhes disse que aqui em Paquetá
Eu sigo a lei da corte de Lisboa
E não me digam que a mulata é má
Porque eu já sei como a mulata é boa.



domingo, março 16, 2008

Burrice


Apesar das inúmeras campanhas de informação sobre a sida levadas a cabo nestes últimos anos, chega-se afinal à conclusão que de pouco ou nada serviram. Pelo menos é a ideia com que se ficou, depois de esta semana ter sido noticiado o resultado de um inquérito realizado pela investigadora Aliete Cunha-Oliveira, da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.

Segundo se apurou, um em cada dez estudantes acha que a pílula anticoncepcional protege da sida.

Revela-nos ainda esse estudo, que apenas 52,6% dos inquiridos afirmou usar sempre preservativo.

Perante estes dados, das duas uma, ou a rapaziada está completamente a leste dos reais perigos que põem em risco a sua saúde e a dos seus parceiros sexuais e, isso, é uma tremenda inconsciência, ou, pior ainda, agem como se já houvesse tratamento eficaz para a essa doença mortal e pensam que a sida não passa de uma enfermidade corriqueira mais ou menos do género da gripe. Resumindo, uma tremenda burrice.

Tanto mais que estamos a falar de uma faixa de população que deveria, em princípio, ter conhecimentos sobre o assunto, Não só porque são estudantes universitários, mas também porque têm um melhor acesso à informação.

A sensação com que se fica é que perante esta inesperada constatação, há muito trabalho para fazer. A aparente negação social e psicológica do problema da sida leva-nos a repensar no tipo de acções que são necessárias desenvolver e a brevidade com que têm ser concretizadas.

Pílulas anticoncepcionais que protegem da sida?

Se não fosse para chorar, diria que o caso fazia rir. Mais do que a burrice assumida, é a demonstração cabal de uma ignorância preocupante.

sexta-feira, março 14, 2008

Os Computadores do Futuro


A Fundação Portuguesa das Comunicações, para além de outros motivos de interesse que justificam a nossa atenção e a nossa visita, tem promovido desde há algum tempo, sob o título “Falar Global”, uma série de debates sobre diversos assuntos.

O de ontem, quinta-feira 13, teve como convidado especial o Professor Doutor António Câmara, Cientista, Investigador, Professor Universitário, Director-Geral da Ydreams e vencedor do Prémio Pessoa 2006, que dissertou sobre o tema “os computadores do futuro”.

Na sua forma clara e directa, o Professor António Câmara falou para uma enorme plateia sobre as virtualidades e as transformações que as novas tecnologias poderão assumir e sobre a interacção que os computadores do futuro poderão vir a ter com os utilizadores.

Segundo ele, tudo poderá passar por objectos e formas hoje existentes no nosso quotidiano – paredes, espelhos, mesas, etc. – em que o comum dos mortais pode explorar o que mais lhe interessa apenas com um simples aceno de mão ou um gesto, sem que tenha que recorrer a coisas tão banais, desinteressantes e desactualizadas como ratos, teclados e monitores.

Um futuro que se desenha e que assume actualmente múltiplos aspectos que ultrapassaram a imaginação mais fértil e que estão já a ser aplicados na prática em Portugal e em vários pontos do mundo.

Mas todo o avanço já conseguido e as novidades que nos reserva o futuro da computação, não deixa de nos colocar questões para as quais ainda não temos resposta, como sejam:

Apesar de todo o avanço tecnológico que se afigura imparável, será que tudo isso nos vai trazer mais felicidade? Ou posto por outras palavras, mesmo com a vida muito facilitada pelas novas eras da computação, essa vantagem vai ser suficiente para sermos mais felizes?

E quanto à inteligência e criatividade, será que as futuras gerações de computadores vão ser capazes de substituir todas aquelas capacidades que, tradicionalmente, são inerentes à natureza humana.

Um debate/conferência que foi muito interessante e em que, como sempre, o Professor António Câmara foi brilhante.

Mas todas estas incertezas levam-me a recordar uma conhecida frase de Charles Chaplin que dizia mais ou menos isto:

“O nosso cérebro é o melhor brinquedo que já foi criado. Nele se encontram todos os segredos, inclusive o da felicidade”.

quarta-feira, março 12, 2008

As janelas do quarto de António Gedeão

De António Gedeão

"As janelas do meu quarto"


Tenho quarenta janelas,
nas paredes do meu quarto,
sem vidros nem bambinelas,
posso ver através delas,
o mundo em que me reparto.

Por uma entra a luz do sol,
por outra a luz do luar,
por outra a luz das estrelas,
que andam no céu a rolar.

Por esta entra a Via Láctea,
como um vapor de algodão,
por aquela a luz dos homens,
pela outra a escuridão.

Pela maior entra o espanto,
pela menor a certeza,
pela da frente a beleza,
que inunda de canto a canto.

Pela quadrada entra a esperança,
de quatro lados iguais,
quatro arestas, quatro vértices,
quatro pontos cardeais.

Pela redonda entra o sonho,
que as vigias são redondas,
e o sonho afaga e embala,
à semelhança das ondas.

Por além entra a tristeza,
por aquela entra a saudade,
e o desejo, e a humildade,
e o silêncio, e a surpresa.

E o amor dos homens, e o tédio,
e o medo, e a melancolia,
e essa fome sem remédio,
a que se chama poesia.

E a inocência, e a bondade,
e a dor própria, e a dor alheia,
e a paixão que se incendeia,
e a viuvez, e a piedade.

E o grande pássaro branco,
e o grande pássaro negro,
que se olham obliquamente,
arrepiados de medo.

Todos os risos e choros,
todas as fomes e sedes,
tudo alonga a sua sombra,
nas minhas quatro paredes.

Oh janelas do meu quarto,
que vos pudesse rasgar,
com tanta janela aberta,
falta-me a luz e o ar.



segunda-feira, março 10, 2008

Novas oportunidades precisam-se ...


O tempo em que se arranjava emprego com alguma facilidade e que, em querendo, era para toda a vida, já lá vai há muito.

Actualmente, para além de ser muito difícil arranjar emprego, existem outros problemas associados como a precariedade de emprego e a exploração dos trabalhadores, nomeadamente com a “oferta” de baixos salários e de “contratos” a (falsos) recibos verdes.

Hoje, ao contrário de outras épocas, o jovem trabalhador tem que interiorizar que vai ter que mudar de emprego e, eventualmente, de actividade, várias vezes durante a sua vida activa. O que os leva fatalmente a questionar para que é que afinal estiveram tantos anos a preparem-se para uma actividade específica que, se calhar, nunca chegarão a exercer?


Daí que, recentemente, dezenas de jovens engenheiros portugueses tenham sido atraídos por propostas de empresas norueguesas.

Aliás, numa das últimas semanas, Nicolau Santos contava que um amigo dele, maestro e pianista, por falta de trabalho em Portugal, teve que aceitar um emprego temporário no estrangeiro. Como maestro? Não, tão-pouco como pianista. Durante quatro meses o nosso maestro/pianista foi dirigir uma fábrica de línguas e caras de bacalhau numa ilha gelada do Norte da Europa. Uma curiosidade, conseguiu ver satisfeita a única exigência que colocou, a de lhe porem um piano na ilha.


Quando é que o nosso país vai finalmente aproveitar os talentos de que dispõe? Enquanto esse dia não chega, os nossos melhores valores continuarão a preocupar-se em arranjar colocação em qualquer outra parte do mundo.

À procura de novas Oportunidades ou de oportunidades únicas?

domingo, março 09, 2008

"Bem-vindos ao mundo real"

Tinha pensado não voltar a escrever sobre o assunto. Quando a matéria é controversa e o debate se torna estéril, a discussão, por não resolver absolutamente nada, torna-se inútil. No entanto, e por outro lado, acho que é importante continuarmos a manifestar as nossas opiniões e convicções quer porque vivemos num estado democrático quer porque isso constitui, também, um acto de cidadania.

Mas o que me trás de novo à liça, é saber que no que respeita à reforma da educação, estou acompanhado por alguns outros cidadãos cujo o pensamento é próximo do meu, nomeadamente José Miguel Júdice, Emídio Rangel e o nosso companheiro de blogue “Suponhamos”.

Estarão neste momento a interrogar-se, mas afinal de que lado é que eu me posiciono, apoio a Ministra ou apoio os professores? No texto que escrevi na passada sexta-feira penso que deixei claro que prezo sobretudo o bom-senso e a capacidade que todos têm que ter para que duas posições antagónicas não caiam num radicalismo tão profundo e tão exacerbado que impossibilite a concretização de uma solução razoável para ambas as partes.

Não conheço por dentro os contornos da reforma da educação. Centremo-nos, pois, em alguns aspectos relativos à avaliação dos professores, que vieram a público e que me deixaram estarrecido.

Por exemplo, na manifestação de ontem, uma jovem professora contratada mostrava-se ofendida pelo facto de já ter quatro anos de docência e achar que não fazia sentido passar a ser avaliada a partir de agora.

Outros professores presentes na manifestação gritavam revoltados que não concordavam em serem avaliados por outros professores a quem eles não reconheciam competência para tal e porque a Ministra não tinha dialogado com eles sobre a forma de avaliação.

Perante reclamações como estas, só posso dizer aos milhares de professores que estão contra a reforma, “Bem-vindos ao mundo real”.

Trabalhei numa actividade privada (que foi mais tarde estatizada e mais tarde ainda privatizada de novo) durante muitos anos. Até certa altura nunca os trabalhadores foram avaliados. De um momento para o outro (já na fase em que éramos novamente um grupo privado) o Conselho de Administração decidiu avaliar todos os trabalhadores e, calculem, não teve a decência de nos consultar e de saber se estávamos ou não de acordo. Decidiu e, a partir desse momento, começámos a ser avaliados. E, pasmem-se os senhores professores, as avaliações tinham época marcada - duas vezes por ano. E assombrem-se ainda mais os meus caros professores, essas avaliações serviram e continuam a servir para diferenciar o valor que os avaliadores (bem ou mal e com todo o subjectivismo que qualquer avaliação contem) atribuem a cada um dos trabalhadores. Sim porque não temos todos o mesmo valor e essas avaliações constituem a base para a atribuição de prémios de desempenho e para uma eventual progressão nas carreiras, em que nem todos chegam ao topo.

É isto que acontece na vida real. Os trabalhadores – todos – são avaliados e progridem aqueles que mostram mais valor e ficam pelo caminho os que não demonstram tanta qualidade.

Compreendo que os professores se mostrem preocupados e revoltados porque a partir de agora nem todos chegam automaticamente até ao topo da carreira. Com este modelo de reforma é introduzido um sistema de quotas para aqueles que sejam classificados de “Muito Bom” ou “Excelente” e, embora tenham direito ao prémio, só alguns poderão ser promovidos. Contudo, pensem no seguinte, esta questão das quotas há muito que é aplicada na actividade privada.


Penso que o governo não se vai deixar intimidar com estas manifestações, por muitos professores que a elas adiram. E se o fizer, para além de poder ter que confrontar-se com sucessivas manifestações, não só de professores como de quaisquer outros profissionais de outras áreas - umas a seguir às outras - pode comprometer definitivamente as reformas que se propôs fazer e de que o país há tantos anos necessita.

Como diz Miguel Sousa Tavares na sua crónica publicada no Expresso de ontem “A queda da Ministra teria o efeito de um toque a finados por qualquer futura tentativa de reformar o Estado e mudar o país”.

sexta-feira, março 07, 2008

A "batalha" na educação

Para quem tem acompanhado o “duelo” entre o Ministério da Educação e os professores, facilmente se apercebe que as posições que são assumidas por cada uma das partes estão de tal forma radicalizadas que ninguém quer ceder um milímetro que seja. É que ceder pode ser interpretado pelo opositor como um recuo e recuar significa ser derrotado.

Nada mais errado, contudo. Recuar pode ser apenas uma pausa para um novo avanço. Por vezes é necessário recuar um passo para mais tarde avançar dois. Mais, um recuo é muitas vezes um acto de inteligência.

Mas quando se chega ao ponto em que a coisa está, os argumentos e as relações entre os dois lados estão irremediavelmente inquinadas e, por isso, não se vislumbra qualquer solução que permita um entendimento.

O problema está de tal forma extremado que já ultrapassou quer a própria reforma que o Ministério pretende fazer, quer a mera discordância dos professores quanto à avaliação (ou à forma de avaliação) e à gestão das escolas. Estamos perante uma questão puramente política em que ninguém quer perder.

Discute-se, pois, uma reforma que, apesar de todos reconhecerem (há mais de 40 anos) ser absolutamente necessária, teve o condão de criar um verdadeiro cisma entre a vontade de um governo que quer pôr em prática um determinado projecto e a contestação de uma corporação que está frontalmente contra muitos dos argumentos e dos modelos que a reforma pressupõe. Desacordo que a coberto de razões aparentemente aceitáveis, mais não é, em meu entender, que a resistência à mudança e a defesa da manutenção de certos privilégios que tinham como adquiridos.

E enquanto nós cidadãos assistimos incrédulos a esta guerra em que não deveria haver vencidos nem vencedores, vamos pensando que tudo acabará por afectar não o governo, não os professores, mas os alunos.

No próximo sábado espera-se em Lisboa uma enorme manifestação de professores vindos de todo o país. Uma demonstração de força que se prevê, ainda assim, não ser capaz de abalar a determinação do governo, pelo que, a confrontação e a irredutibilidade das partes se vai manter.

Face a este imbróglio aparentemente inultrapassável seria de todo desejável que quer o Ministério quer os professores e os seus sindicatos tivessem algum bom-senso e reflectissem sobre o que foi dito no último “Prós e Contras” da RTP, nomeadamente pelos Professores Lobo Antunes e António Câmara.

Enquanto que o primeiro sugeria a nomeação de um grupo de personalidades credíveis na nossa sociedade, que pudessem arbitrar as duas posições irredutíveis, o segundo propunha que as medidas propostas pelo governo fossem, pelo menos, experimentadas por tempos e locais escolhidos e só depois aceites, rejeitadas ou melhoradas.

No meio de tanta intransigência, duas opiniões inteligentes e em que todos deveriam meditar.

Mas continuar esta situação de confronto é que nos parece inadmissível.

Quanto a quem vai ganhar a contenda, isso é difícil de afirmar. No entanto, a situação faz-me lembrar uma frase de um familiar de um amigo meu que dizia:

“O mais valente é o que não dá nem leva”.



quinta-feira, março 06, 2008

A lei é p’ra se cumprir

Enquanto a população se preocupa com a insegurança que vai crescendo um pouco por todo o país e haja até quem garanta que as autoridades não actuam devidamente, eis que veio a público a notícia que desmistifica a situação de calamidade instalada.

Em Chaves, as autoridades apanharam dois homens que infringiram o estipulado no “Código de Posturas Municipais” ao serem apanhados a urinar na via pública. Aos dois cidadãos foram aplicadas duas coimas de 40 euros.

E então? Como vêem podemos confiar plenamente nas nossas autoridades. Elas estão alerta e conscientes de que “A lei é p’ra se cumprir”.






terça-feira, março 04, 2008

Eurodeputados burlões




Já não é a primeira vez que se ouve falar em fraudes cometidas por eurodeputados. Casos isolados, como alguns nos querem fazer crer.

Depois de ainda não há muito tempo ter vindo a público o escândalo das viagens dos eurodeputados, viagens que eles nunca fizeram mas que não se esqueceram de receber os respectivos valores, depois ainda de se saber que deputados europeus tinham como assessores os seus próprios familiares, os senhores deputados conseguiram, desta vez, chegar a um requinte de trafulhice que supera tudo o que se poderia imaginar.

Através de um relatório secreto do Parlamento Europeu, soube-se que existem por lá uns quantos eurodeputados que desviam milhões para fins privados.

Ao que parece, o dinheiro que seria destinado ao pagamento dos tais assessores era utilizado para uso próprio desses deputados (uma vez que nalguns casos nem assessores tinham) ou para financiar empresas fictícias ou para familiares.

Numa primeira análise, sem se saberem todos os contornos da fraude, calcula-se que o desvio de fundos rondará os 140 milhões de euros.


A sem-vergonhice está instalada. Pena é que o Parlamento Europeu pretenda manter secreto alguns detalhes que nós, contribuintes europeus, gostaríamos de conhecer. Nomeadamente os nomes e nacionalidades dos burlões.

segunda-feira, março 03, 2008

O nome do Presidente

Se hoje trago para tema de conversa o nome do actual presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, não se deve apenas ao facto de ele ter vencido as eleições presidenciais de domingo, à primeira volta e com 69,6 por cento dos votos. Isso já era sobejamente esperado, ainda que tivessem sido detectados mais de 200 situações de violação da lei eleitoral.


Na verdade, o delfim de Putin já era dado como certo no Kremlin e, por isso, todo o processo decorreu conforme o esperado. Medvedev é agora o presidente e, o até aqui todo poderoso presidente, Vladimir Putin, passou do cadeirão da presidência no Kremlin para a cadeira de primeiro-ministro da Casa Branca (a da Rússia, não a dos Estados Unidos, muito menos a da pequena povoação daquele minúsculo país que tem um tal Manuel Pinho como Ministro da Economia, aquele que inventou a tão badalada campanha publicitária “Portugal Europe's West Coast” onde foram gastos (investidos?) 3 milhões de euros.

Portanto, tudo como dantes ... quartel general em Abrantes. Medvedev é presidente e Putin continua a mandar. Da mesma forma que aconteceu recentemente em Cuba, quando Fidel Castro renunciou aos cargos de Presidente do Conselho de Estado e de Comandante-em-Chefe a favor do seu irmão Raul Castro, ficando Raul sentado na cadeira do poder e continuando Fidel a mandar. Por conseguinte, nada de especial a referir.


Então porque razão é que hoje eu estou a falar de Dmitri Medvedev? Apenas para lembrar que a pré-candidata democrata à presidência dos Estados Unidos Hillary Clinton, durante um debate com o outro pré-candidato democrata Barack Obama, não soube dizer com precisão o nome do presidente russo, Medvedev.

Titubeou, engasgou-se e lá disse Med... ou lá o que é!...

Apesar dos Estados Unidos terem montanhas de problemas para resolver assim que conseguirem enxotar o já considerado pior presidente americano de sempre – George W. Bush – o que na verdade sobressaiu nas manchetes dos jornais e na abertura de todos os telejornais do mundo, foi a semi-gaffe de Hillary Clinton. Logo ela que se orgulha dos seus vastos conhecimentos em política externa.

A verdade é que Hillary poderia ter-se saído muito melhor daquela situação se, em vez de tentar dizer o nome do presidente russo, que é arrevesado como o diabo, dissesse simplesmente Dmitri. Pareceria mais íntimo, demonstraria um conhecimento mais profundo do que estava a falar e seria – infinitamente – mais simples.

domingo, março 02, 2008

Um concerto inesquecível



Centro Cultural de Belém, 21h00, 29 de Fevereiro de 2008.


A data já por si não é vulgar. Afinal, 29 dias em Fevereiro só acontecem de quatro em quatro anos. Mas mais invulgar que a data foi o concerto inédito com que Jorge Palma nos presenteou na passada sexta-feira.


Já tínhamos visto e ouvido o cantor/compositor actuar só com a guitarra ou ao piano ou, ainda, acompanhado dos músicos das suas diversas bandas. Agora um concerto em que, para além da guitarra e do piano, pudéssemos assistir ao Jorge acompanhado por um quarteto de cordas, isso era inimaginável. Até agora.


Foi por isso que este concerto foi único. Ao longo de duas horas, Jorge Palma interpretou muitos dos seus temas mais conhecidos, desde a lindíssima (para mim talvez a melhor das melhores) “Estrela da Mar” até ao seu mais recente êxito “Encosta-te a mim”. Pelo meio, ainda nos brindou com uma canção inédita (muito bonita por sinal) e tocou ao piano uma peça de música clássica.


Um espectáculo em que Jorge Palma, para além de se acompanhar à guitarra ou ao piano, teve também por companhia a presença do Quarteto Lacerda, um magnífico conjunto de dois violinos, uma violeta e um violoncelo e do seu filho Vicente Palma (atenção a este jovem cantor e músico que tem confirmado absolutamente que “filho de peixe sabe nadar”), que proporcionaram aos espectadores que encheram o Grande Auditório do CCB uma noite mágica. Tudo servido por um jogo de luzes fabuloso que tornou este espectáculo inesquecível.


E se nunca nos cansamos de o ouvir interpretar as suas canções mais emblemáticas, sempre de uma forma intensa, singular e muitas vezes imprevisível, neste concerto inédito, a que deu o nome de “Carta branca a Jorge Palma”, o cantor mostrou a todos, caso isso ainda fosse necessário, a sua enorme qualidade como músico e a forma virtuosa como domina o piano.


Uma noite mágica e um concerto inesquecível!