sexta-feira, março 07, 2008

A "batalha" na educação

Para quem tem acompanhado o “duelo” entre o Ministério da Educação e os professores, facilmente se apercebe que as posições que são assumidas por cada uma das partes estão de tal forma radicalizadas que ninguém quer ceder um milímetro que seja. É que ceder pode ser interpretado pelo opositor como um recuo e recuar significa ser derrotado.

Nada mais errado, contudo. Recuar pode ser apenas uma pausa para um novo avanço. Por vezes é necessário recuar um passo para mais tarde avançar dois. Mais, um recuo é muitas vezes um acto de inteligência.

Mas quando se chega ao ponto em que a coisa está, os argumentos e as relações entre os dois lados estão irremediavelmente inquinadas e, por isso, não se vislumbra qualquer solução que permita um entendimento.

O problema está de tal forma extremado que já ultrapassou quer a própria reforma que o Ministério pretende fazer, quer a mera discordância dos professores quanto à avaliação (ou à forma de avaliação) e à gestão das escolas. Estamos perante uma questão puramente política em que ninguém quer perder.

Discute-se, pois, uma reforma que, apesar de todos reconhecerem (há mais de 40 anos) ser absolutamente necessária, teve o condão de criar um verdadeiro cisma entre a vontade de um governo que quer pôr em prática um determinado projecto e a contestação de uma corporação que está frontalmente contra muitos dos argumentos e dos modelos que a reforma pressupõe. Desacordo que a coberto de razões aparentemente aceitáveis, mais não é, em meu entender, que a resistência à mudança e a defesa da manutenção de certos privilégios que tinham como adquiridos.

E enquanto nós cidadãos assistimos incrédulos a esta guerra em que não deveria haver vencidos nem vencedores, vamos pensando que tudo acabará por afectar não o governo, não os professores, mas os alunos.

No próximo sábado espera-se em Lisboa uma enorme manifestação de professores vindos de todo o país. Uma demonstração de força que se prevê, ainda assim, não ser capaz de abalar a determinação do governo, pelo que, a confrontação e a irredutibilidade das partes se vai manter.

Face a este imbróglio aparentemente inultrapassável seria de todo desejável que quer o Ministério quer os professores e os seus sindicatos tivessem algum bom-senso e reflectissem sobre o que foi dito no último “Prós e Contras” da RTP, nomeadamente pelos Professores Lobo Antunes e António Câmara.

Enquanto que o primeiro sugeria a nomeação de um grupo de personalidades credíveis na nossa sociedade, que pudessem arbitrar as duas posições irredutíveis, o segundo propunha que as medidas propostas pelo governo fossem, pelo menos, experimentadas por tempos e locais escolhidos e só depois aceites, rejeitadas ou melhoradas.

No meio de tanta intransigência, duas opiniões inteligentes e em que todos deveriam meditar.

Mas continuar esta situação de confronto é que nos parece inadmissível.

Quanto a quem vai ganhar a contenda, isso é difícil de afirmar. No entanto, a situação faz-me lembrar uma frase de um familiar de um amigo meu que dizia:

“O mais valente é o que não dá nem leva”.



6 comentários:

Anónimo disse...

Discute-se apenas avaliação dos professores e gestão das escolas. E quando é que se começa a discutir a sério o conteúdo dos cursos?

Anónimo disse...

“O mais valente é o que não dá nem leva”

Frase sábia essa!

Anónimo disse...

Neste dia em que oitenta mil professores se manifestaram nas ruas, gostaria de lembrar uma frase dita por José Miguel Júdice no programa A Regra do Jogo, da SIC Notícias:

“Não queria que os meus netos tivessem aquela gente como professores”

Foi o antigo Bastonário da Ordem dos Advogados que o afirmou, não fui eu ...

Anónimo disse...

Ah, ou a afirmação do Emídio Rangel ao Correio da Manhã:

“Tenho vergonha destes pseudo-professores que trabalham pouco, ensinam menos, não aceitam avaliações” ...

... “Eles aí estão ‘em estágio’. Faz-me lembrar os hooligans quando há uma disputa futebolística em causa. Chegaram pela manhã em autocarros vindos de todo o País, alugados pelo Partido Comunista. Vestem de preto e gritam desalmadamente” ...

... “Eu nunca tinha apreciado professores travestidos de operários da Lisnave, como aqueles que cercaram a Assembleia da República, nos anos idos de 1975, com os cabelos desalinhados, as senhoras a fazerem tristes figuras, em nome de nada que seja razoável considerar” ...


Foi o Emídio Rangel, não fui eu que disse ...

Anónimo disse...

Mesmo que não tivessem sido 80 mil mas 100 mil professores a desfilar pelas avenidas de Lisboa, esta questão das enormes manifestações de rua a funcionarem como forma de pressão para que as grandes (e necessárias) reformas não sejam levadas por diante e que, portanto, tudo fique na mesma, leva-me a considerar se em democracia nunca se poderão realizar reformas de fundo, as verdadeiras reformas que façam o país andar para a frente. Sim, porque hoje são os professores, amanhã os magistrados, depois os varredores e por aí fora. Uma manifestação de uns milhares de pessoas fazem com que as reformas vão para a gaveta. Será mesmo isto que se pretende?

Anónimo disse...

Isso! Proibam-se as manifestações e resolvem-se todos os problemads do país!
E que se lixem os professores, os magistrados, etc... em nem sou professor nem magistrado!