terça-feira, maio 20, 2008

Betinhos e Companhia

O Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT) achou que o seu sítio na net seria o local indicado para esclarecer jovens e adolescentes sobre o verdadeiro significado de palavras como “betinho”, “cocó” ou “careta”. Palavras de calão corrente, que já são do tempo do ronca, mas que o IDT teve receio que a rapaziada de hoje não conseguisse descodificar.

E o melhor que conseguiram fazer para “traduzir” as tais palavras foi : é «aquele que não consome droga e, por isso, é considerado conservador, desprezível e desinteressante».

Claro que não tardou a estalar a polémica e saltaram a terreiro quer a Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação (CNIPE) quer a Confederação Nacional das Associações de Pais (CONFAP), que não concordaram com a posição do IDT por consideram que “o Dicionário do Calão pode suscitar a curiosidade dos jovens, atraídos pela linguagem usada, em vez de ser preventora de comportamentos”.

Confesso que não estou nada preocupado com a curiosidade dos jovens e adolescentes. Genericamente falando, a curiosidade é salutar e mau seria que eles fossem absolutamente amorfos. O que me inquieta, isso sim, é a forma como pessoas e instituições que têm responsabilidades de formar e informar, demonstrem tão pouco bom-senso nas campanhas que decidem promover e que acabam por ter efeitos precisamente contrários aos que desejariam.

Na minha juventude, essas palavras já faziam parte da nossa gíria e o seu significado era muito claro para nós. “Betinhos” eram os miúdos queques, os da linha (do Estoril) ou os de Alvalade (do Bairro de), “caretas” eram as pessoas mais velhas e conservadoras que não afinavam pelos nossos padrões e “cocós” eram os excrementos (nós dizíamos outra palavra que, desculparão, não posso repeti-la aqui).

Hoje, pelos vistos, o significado das palavras é outro. Ainda assim, dizer aos jovens que um betinho é aquele que não consome droga e, por isso, é considerado conservador, desprezível e desinteressante é o mesmo que instigar a rapaziada a correr ao primeiro dealer que encontrarem para comprar uns pacotinhos de uma erva qualquer.

Quem é que, na minha juventude ou agora, queria/quer passar por betinho? Seguramente ninguém. Portanto, para que isso não aconteça, para que jamais alguém pense ou diga que o rapaz é um betinho, um tipo conservador, desprezível e desinteressante e, ainda por cima, que não consome droga, o melhor é começar a consumir. Ainda mais se já tiverem ouvido dizer que as drogas, apesar de fazerem muito mal à saúde, proporcionam sensações agradáveis.

João Goulão, o responsável pelo IDT diz que “um jovem que desconheça o termo pode sentir-se menorizado”. Pois eu acho que o jovem corre muito mais perigo se fizer fé no modo como o Instituto “traduziu” as tais palavras.

2 comentários:

Stamp disse...

Tou pasma, afinal sou betinha.

Anónimo disse...

Olá betinhos, bem vindos ao grupo dos não drogados.