segunda-feira, junho 09, 2008

Junho, um mês complicado

Vá lá, começámos bem. Apesar de todo o entusiasmo e fervor demonstrado pela nossa selecção de futebol, havia algum receio de que a equipa pudesse claudicar, tanto mais que a fase de qualificação não nos tinha corrido da melhor forma. Corrigidos os problemas, a selecção portuguesa venceu por 2-0 a Turquia, no primeiro jogo da fase final do Campeonato da Europa realizado em Genebra. Jogámos bem, fomos indiscutivelmente a melhor equipa em campo e merecemos vencer.

Já aqui afirmei, em tempos, de que gosto de futebol, sobretudo quando bem jogado. Mas o gosto por esta modalidade não me faz “devorar” os jornais desportivos e os programas sobre futebol que são transmitidos pelos canais de televisão. Não tenho pachorra sequer para ler e ouvir todas as notícias relativas aos jogadores e à selecção, nem para acompanhar as inúmeras e infindáveis crónicas de todos os jornalistas desportivos que não param de analisar as estratégias, as tácticas, as preocupações, as motivações e desmotivações da equipa técnica e dos jogadores, os mesmos que são alvo das maiores especulações sobre as suas vidas profissionais e pessoais, que chegam ao cúmulo de desvendar os mais ínfimos pormenores, incluindo os seus amores e desamores, o que comem, o que vestem e quantas vezes vão à casa de banho.

E o interesse do zé-povinho é tanto que no dia em que a selecção partiu para a Suiça, os quatro canais generalistas de televisão e mais a SIC Notícias apresentaram, em simultâneo, reportagens em directo da deslocação da equipa até ao Palácio de Belém (para uma cerimónia com o Presidente da República) e, daí, até ao aeroporto.

Nesse dia, e durante algumas horas, o país parou perante tão relevante facto. Os telejornais abriram com as mesmas reportagens que já tinham exibido durante a tarde e com elas ocuparam muito mais de metade do tempo que estava destinado a todas as notícias do país e do mundo.

Mas, aquilo que mais me surpreendeu, foi ouvir o senhor Presidente, com a simpatia e a boa-educação próprias de um anfitrião, afirmar aos jogadores, à sua equipa técnica e aos seus dirigentes, que era uma grande honra recebê-los.

Alguma coisa ter-me-á escapado, certamente. Ou então houve aqui uma troca de hierarquias que ninguém percebeu. Não deveria ter sido antes a comitiva a manifestar a honra por serem recebidos pelo Senhor Presidente da República?


Sempre tive a convicção de que existe um grande exagero no papel que o futebol assume na vida da maioria dos portugueses. Aliás, acho que toda esta euforia, esta loucura se assim me posso exprimir (com todo o respeito que tenho pelas pessoas), parecem ser completamente despropositadas. Nós, portugueses, não temos grandes motivos para andar satisfeitos. Ao contrário, os nossos problemas são tão graves que não me parece que haja sequer vontade de andar por aí com tamanhas demonstrações de felicidade.

A não ser que as inúmeras dificuldades que sentimos e as consequentes frustrações por as não vermos resolvidas, tenham como contrapartida, e como escape, as emoções prestadas pelo fenómeno futebol e os seus actores, que têm tanto de entusiasmantes como de irracionais. Ou seja, as nossas desilusões acabam por ser substituídas por todos aqueles júbilos levados à mais alta expressão.

E isto ainda agora começou. Vai ser um mês bastante agitado. Sobretudo se a nossa selecção conseguir ultrapassar os obstáculos que irá ter pela frente. E espero bem que consiga vencê-los a todos. Ficaria muito feliz. Mas, atenção, é cedo ainda para começar a cantar vitória. Todos sabemos como nós passamos da euforia à depressão num ápice.

Por isso preparem-se. Este mês de Junho vai ser bem cheio de jogos, resumos, notícias, reportagens, directos, entrevistas e opiniões. Tudo vai ser dissecado até à exaustão.

Com tanta dose de futebol, Junho vai ser um mês que nos exigirá muita resistência.

2 comentários:

Anónimo disse...

Mais uma vez em sintonia completa. O nacional-futebolismo de que há dias falava está aí no seu "melhor". Para comemorar a vitória não faltaram os passeios de automóvel a buzinar e com gente pendurada nas janelas. Provavelmente era com gasolina guardada desde a fase de qualificação, porque se fosse com os preços actuais - e a crer nas opiniões manifestadas nos espaços televisivos extra-futebol - não haveria hipótese de fazer esses floreados.

Porcos no Espaço disse...

Um mês inteiro de futebol. Sócrates respira de alívio por um bocadinho.