quinta-feira, outubro 30, 2008

Irresponsabilidade?

Não podia estar mais de acordo. Tanto a líder do PSD como o presidente da Associação Nacional das Pequenas e Médias Empresas afirmaram que a actualização do salário mínimo em 2009 é uma irresponsabilidade. E é.

Quando um governo, apanhado por sucessivas crises financeiras e especulativas que vieram desabar sobre uma economia tão pobre como a nossa, se lembra de aumentar o salário mínimo a uns quantos privilegiados – cerca de 200 mil – o que é que nos passa pela cabeça? Ou que não faz a mínima ideia do que anda a fazer ou que já está a pensar nas eleições que se vão realizar no próximo ano.

Convenhamos que, para quem já aufere 426 euros todos os meses, começar a ganhar 450 euros é absolutamente exagerado. Um aumento de 27 euros mensais é obsceno. Um aumento de 378 euros por ano é inacreditável. E depois venham falar dos aumentos dos administradores ...


Fez bem Manuela Ferreira Leite dizer que, como não se sabe como vai estar a economia em 2009, o governo deveria ter sido mais prudente.

Fez bem Augusto Morais, presidente da Associação Nacional das PME dizer que os postos de trabalho de cerca de 43 mil trabalhadores com contratos a termo certo poderão estar em risco.


Irresponsabilidade do primeiro-ministro? Será certamente, tanto mais que com 27 euros a mais em cada mês estou mesmo a ver que vai disparar o consumo e a inflação.

quarta-feira, outubro 29, 2008

Não há bela sem senão



A Évora associam-se sem esforço palavras como encanto, História, monumentalidade, gastronomia e simpatia (das suas gentes). Todas elas de uma forma espontânea e natural.

Talvez por isso a cidade nos reclame a presença constante. E é bom calcurrear as suas ruas e encontrar a cada esquina pedaços de História e de histórias que só os alentejanos sabem contar.

A visita é obrigatória, como obrigatório se torna levar os sentidos bem despertos para “absorver” uma cidade que de “Museu” se tornou em “Património da Humanidade”.

Évora tem, pois, encantos multifacetados e maravilhosos.


Mas não há bela sem senão. De uma cidade com tais características esperava-se um pouco mais. Sobretudo mais cuidado com o estado em que se encontram os arcos que ladeiam a Praça do Giraldo e seguem pela Rua João de Deus, a caminho da Porta Nova. Quem passa sob as suas arcadas, imediatamente se apercebe do mau estado em que estão as paredes e os tectos desses arcos. Falta de pintura, carência de reboco, lâmpadas de iluminação à vista e mal arranjadas e, provavelmente, o pior dos piores, a existência de imensas teias de aranha que se espalham um pouco por toda a parte e, pelo tamanho que têm, há já bastante tempo. É uma pena.


Admito que a Câmara Municipal tenha prioridades que obriguem a desviar verbas para outras coisas, porventura mais urgentes. Contudo, não me parece que as reparações que são necessárias efectuar atinjam valores por aí além.

Os responsáveis pela autarquia e pelo turismo têm que fazer um esforço. Os eborenses e os visitantes exigem e merecem que a dignidade do centro histórico da cidade venha a ser recuperada.











terça-feira, outubro 28, 2008

Sigamos o cherne, minha Amiga

De vez em quando gosto de revisitar Alexandre O’Neill



“Sigamos o cherne, minha Amiga”



Sigamos o cherne, minha Amiga ...!
Desçamos ao fundo do desejo
Atrás de muito mais que fantasia
E aceitemos, até, do cherne um beijo,
Senão já com amor, com alegria ...


Em cada um de nós circula o cherne,
Quase sempre mentido e olvidado.
Em água silenciosa de passado
Circula o cherne: traído
Peixe recalcado ...


Sigamos pois o cherne, antes que venha,
Já morto, boiar ao lume de água,
Nos olhos rasos de água,
Quando, mentindo o cherne a vida inteira,
Não somos mais que solidão e mágoa ...


segunda-feira, outubro 27, 2008

Insaciáveis

Ao terminar a crónica de ontem perguntava “Onde estão os responsáveis e o que lhes vai acontecer?”. Pois relativamente ao assunto de hoje, os responsáveis já estão localizados, só não sei o que lhes vai acontecer.

Sem entrar em detalhes que já todos conhecem, o que eu quero aqui sublinhar é a imensa falta de carácter de algumas pessoas que são postas à frente de empresas públicas que, ao invés de gerirem
com competência e sobriedade essas empresas de dinheiros dos contribuintes, acumulam aselhices e aldrabices umas atrás das outras, sem o mínimo de decoro e vergonha.

Foi o que se passou na Gebalis, uma empresa da Câmara de Lisboa, responsável pela gestão de bairros municipais da autarquia e que, em 2006, registou um prejuízo de 4,97 milhões de euros.

Perante tal situação, os seus administradores, se fossem pessoas sérias, deveriam ter centrado a sua atenção na recuperação da empresa. Mas não, pelos vistos, não foi isso que aconteceu. Em vez das medidas drásticas que se impunham, decidiram ajudar a “afundá-la” ainda mais.
Gastaram à tripa forra, sem qualquer pudor e não se coibiram de viajar para o estrangeiro, tendo almoçado em restaurantes do maior requinte gastronómico da Europa, Brasil e Índia, onde nunca faltaram sequer os vinhos de preços elevados, o whisky velho e o marisco.

E para que ninguém pensasse que eram egoístas, Francisco Ribeiro, Clara Costa e Mário Peças, os três “honestos” ex-administradores da Gebalis, retiraram, segundo frisa o despacho de acusação do Ministério Público, dinheiro vivo do Fundo de Caixa da empresa “para pagar refeições para si próprios, para os amigos, para as pessoas do seu círculo particular ou até de outros funcionários”.

Uma verdadeira sem-vergonhice. Em pouco mais de um ano e meio estes senhores, (ir)responsáveis de uma empresa pública em dificuldades, passearam-se e banquetearam-se em diversas capitais europeias, no Brasil, na Índia e em Marrocos e causaram, segundo o Ministério Público, um prejuízo de 200 mil euros.

A finalizar, e como nota de rodapé, os três ex-administradores apesar de terem “comido à conta e à grande” nunca abdicaram de receber os respectivos subsídios de almoço que a Gebalis lhes concedia. Insaciáveis!

domingo, outubro 26, 2008

Não, não entendo

Hoje levantei-me bem disposto e achei que era giro fazer qualquer coisa de diferente. Criar uma empresa, por exemplo. Não sei se de comércio, de indústria ou de serviços, não interessa para o caso, desde que fosse uma PME que é, ao que parece, as que vão agora ser mais apoiadas pelo Estado.

Como sou um tipo organizado, pensei imediatamente que a empresa tinha que ter uma estrutura sólida, capaz de fazer andar o negócio de forma sustentada. Desde logo, imaginei um organograma que contemplasse áreas de planeamento, contabilidade, jurídica, marketing e publicidade e por aí fora.

Pelos meus cálculos a empresa começaria a funcionar e seria natural que pedisse pareceres aos técnicos para melhor fundamentar as minhas decisões. Só que cismei na possibilidade de que os pedidos pudessem não ser devidamente analisados pelos meus especialistas por que eles, vá lá saber-se porquê, os iriam “reenviar” para gabinetes de consultadoria externos. Ou seja, eu teria contratado uma série de pessoas para tratarem dos problemas da empresa e viria a descobrir que todos os assuntos estariam à espera das opiniões de gabinetes contratados no exterior. Isto é, eu pagaria aos meus empregados e também aos consultores externos. Era bom não era? Claro que não. Desisti da ideia e fiquei mal disposto para o resto do dia.


Pois se a minha história não passa de uma mera conjectura, a verdade é que, no nosso país, por deficiente organização dos serviços de Estado, foi possível que esse disparate acontecesse.

Segundo o Tribunal de Contas só entre 2004 e 2006 o Estado gastou com consultores externos cerca de 134 milhões de euros em estudos, consultadorias, pareceres, auditorias e projectos, muitos dos quais não tiveram sequer qualquer aplicação prática.

Mas, perguntar-se-á, não existiam nos serviços da Administração, técnicos capazes para atender as necessidades? Deveria haver, digo eu. Pelo menos existiam e existem vários órgãos nas estruturas e, em cada uma delas, certamente que havia lá uns quantos especialistas que deveriam estar aptos a estudarem os diversos assuntos. Para isso é que foram contratados.

Por isso não entendo como é que se recorre tão facilmente a gabinetes externos quando dentro da “máquina” existem tantos peritos que poderiam e deveriam ser capazes de dar os pareceres requeridos. Pedir um estudo a um escritório de advogados quando os diversos Ministérios têm acessorias jurídicas em que abundam bandos de juristas e advogados? Não, não compreendo.

Estamos falados, portanto, quanto às adjudicações efectuadas que, a maior parte das vezes, estariam perfeitamente desajustadas face à existência de competências nos diversos serviços.

Porém, o assunto não se esgota ainda. Então, e depois da adjudicação (isto quando havia adjudicação, por que em muitos casos a coisa fez-se por ajuste directo) que controlo é que existia sobre o andamento dos casos? Segundo o Tribunal de Contas, em 38% dos estudos pedidos a consultores externos, as entidades do Estado não faziam a mínima ideia da fase em que se encontravam.

O trabalho do TC diz respeito apenas a três anos e a 13 entidades. E só por nesta amostra “voaram” 134 milhões. E nos outros departamentos, o que terá acontecido, quanto é que nós gastámos desnecessariamente?

Perante a falta de “transparência” e a “opacidade” detectadas pelo Tribunal de Contas na auditoria ao Sector Público Administrativo do Estado, não posso deixar de perguntar, embora adivinhe a resposta:

Onde estão os responsáveis e o que lhes vai acontecer?

quinta-feira, outubro 23, 2008

Basta de machismos




Soube-se há pouco que o regulamento do uniforme da TAP é muito claro sobre o uso da “lingerie” do pessoal feminino. É obrigatório que todas usem roupa interior e o “soutien” deverá ser sempre de cor branca ou cor de pele.




Basta de machismos, digo eu. Se para elas existem regras escritas e rigorosas quanto ao uso da farda, por que não para eles? Ou será que a TAP não vê qualquer problema em que os seus funcionários masculinos não usem cuecas ou, vestindo-as, que elas sejam em cor-de-rosa vistoso e com corações debruados?

quarta-feira, outubro 22, 2008

O fosso

A OCDE, organismo internacional cuja credibilidade ninguém discute, anunciou esta semana que Portugal é o 3º país mais desigual na distribuição da riqueza.

Nada que não suspeitássemos já mas, ainda assim, custa-nos saber que a situação é de tal forma grave que, no conjunto dos países onde o fosso entre os ricos e os pobres é mais acentuado e onde a distribuição dos rendimentos dos cidadãos é mais desigual, o nosso país conseguiu um
desonroso 3º. lugar no pódio dos países mais injustos, a par dos Estados Unidos e só superado pela Turquia e pelo México.

Curiosamente, em entrevista dada ontem à SIC Notícias, Bagão Félix, ex-ministro da Segurança Social e do Trabalho e ex-ministro das Finanças, afirmou:

“os gestores, devido ao capitalismo global, deixaram de pensar em estratégias financeiras a médio e longo prazo, preocupando-se apenas com o curto prazo e com os bónus que recebem”.

Ele deve saber do que fala …

Às vezes as ideias baralham-se e dá nisto. Nem sei por que é que me lembrei de fazer a ligação entre o facto de, em Portugal, os gestores terem ordenados obscenos (expressão do próprio Bagão Félix) e o fosso cada vez maior entre os que mais têm e os que mal sobrevivem.

Uma sugestão financeira

Em tempos tão difíceis como os que vivemos, em que os mercados flutuam mais do que cascas de noz em mar picado e em que os ataques cardíacos acontecem ao sabor dos trambolhões das bolsas, a pergunta de quem vai tendo, ainda, algum dinheiro é:

“E agora, o que é que eu faço? Onde é que vou aplicar a “massa”?

Bem, sem querer influenciar quem quer que seja, peço-vos que leiam uma história contada por um leitor da “BBC online”:


“Quem tenha comprado 1000 dólares de acções da Nortel, tem agora 49 dólares. Se fossem da Enron, os 1000 iniciais já só valem 16,5. Se fossem acções da United Airlines, o saldo seria zero. Porém, se tivessem comprado 1000 dólares de cerveja em lata e, depois, a bebessem toda (à cerveja, está claro), só pela venda das latas para reciclagem receberiam nada menos de 214 dólares.
Portanto, o melhor investimento é beber muita cerveja e reciclar as latas”.



Atenção, não estou certo que o resultado seja exactamente o que foi sugerido pelo divertido leitor inglês. No entanto, acredito que quem esteja na disposição de comprar (e de beber) tantos litros de cerveja, possa não ficar rico mas, seguramente, sentir-se-á muito mais “aconchegado”. No mínimo... digo eu.

segunda-feira, outubro 20, 2008

Pobres, pobres, pobres

Não é a primeira vez que escrevo sobre pobres e pobreza no nosso país.

E se o caso não fosse tão grave diria, como na anedota, “sobre este assunto tenho duas coisas para contar, uma boa e uma má. Qual querem ouvir primeiro?”.

Digo-vos, então, primeiro, a Boa : Desde 2000, quando a União Europeia assumiu o compromisso de lutar contra a pobreza, Portugal foi o país da Comunidade em que o número de pobres mais caiu.

Agora, a Má : Mesmo assim, estamos dois pontos acima da média dos outros Estados-membros.

Apesar de termos conseguido alguns resultados positivos, a verdade é que Portugal tem actualmente um milhão e 800 mil cidadãos que vivem com um salário mensal de 360 euros, ou seja, no limiar da pobreza.

E estes números dizem respeito apenas aos chamados “pobres tradicionais”, nomeadamente os idosos com pensões baixíssimas, os desempregados e os que têm os denominados “salários low cost” que, para além de ínfimos, são resultantes de empregos de grande precariedade.

Mas, para além desses e de todos os outros de quem sem diz “terem uma pobreza envergonhada” – aqueles que não constam para as estatísticas - começaram a aparecer há uns tempos os “novos pobres”´, estes, vítimas das múltiplas crises nacionais, internacionais e dos azares da própria vida que desabaram sobre as suas cabeças, e que, mesmo com empregos e com ordenados fixos, já não conseguem honrar os seus compromissos pessoais e familiares.

Todos eles a viverem situações de uma aflição excessiva e, a maior parte, a sobreviver com quase nada. Daí já não nos admirarmos que sejam cada vez mais as pessoas que recorrem ao auxílio das instituições de solidariedade social.

Uns por que passam pela pobreza sem serem pobres mas a maioria com o destino inevitavelmente traçado de sofrerem as agruras da miséria extrema.

Perante tal “sorte” cabe ao Estado e à Sociedade acudir a quem está em situação tão difícil. Sem desconfianças mas com um olhar atento para evitar ou minimizar os casos de abuso e de fraude.

domingo, outubro 19, 2008

Outros tempos ...

“Sou de um tempo onde não se ia à praia – ia-se para a praia”. Assim começava uma crónica de Manuel Serrão publicada há pouco numa revista em que ele revisitava as suas memórias de infância e onde lembrava que a praia desses tempos “não era uma questão de moda mas uma terapia”.

Tenho mais uns anitos que o Manel e, por isso, e por privilégio, também vivi toda a felicidade dos meses de verão passados na praia com a família, onde o pai só estava presente no mês de Agosto e aos fins de semana e onde, entre o jogo do prego e os mergulhos (dois ou três por dia, obrigatórios, por que faziam bem à saúde) do Sr. António(o velho banheiro), se faziam boas amizades que, na maioria dos casos se perderam pelos anos.

Quando se tem já idade suficiente para isso, é curioso fazerem-se comparações entre os hábitos de uma determinada época e os que estavam em uso umas décadas antes.

Há dias, jantava com a família num restaurante. Eram quase onze horas e as pessoas continuavam a chegar para o repasto. Um dos presentes na mesa, oitenta e dois anos muito presos aos costumes e tradições de toda a sua vida, não parava de se espantar com a hora tão tardia a que muitos iam iniciar a refeição da noite.

Embora ainda longe dos oitentas, recordo-me bem que na casa dos meus pais almoçava-se à uma e jantava-se às oito horas em ponto e com toda a família sentada à mesa. O rigor das horas das refeições era sagrado. Ditado pela “moda” da época e pelo autoritarismo sem oposição do chefe da família.

quinta-feira, outubro 16, 2008

Trabalhar, trabalhar, trabalhar


“Trabalhar com dedicação faz bem ao coração”

“Trabalhar com moderação faz bem ao coração”

“Trabalhar na perfeição faz bem ao coração”


Estas algumas das frases escritas em azulejos que encontrei à venda numa festa popular de uma pequena aldeia do nosso país.

Mas ainda que seja verdade que o trabalhar (com dedicação, com moderação ou mesmo com perfeição, conforme
o desígnio de cada um), faça bem ao coração, recordo o que um grande amigo meu me disse há uns anos:

“Trabalhar é anti-natural. Já viste que, dos animais, só o homem e a formiga é que trabalham?"


quarta-feira, outubro 15, 2008

O busílis

O Governo atrasou-se a entregar na Assembleia da República o Orçamento Geral do Estado para 2009.

De facto, as coisas não correram bem e registaram-se três problemas de uma assentada. O primeiro, um atraso de três horas e meia na entrega do OGE (estava previsto para as 16h00 e acabou por ser às 19h30). O segundo, porque o Orçamento apresentado numa “pen usb” não foi entregue na totalidade (faltavam elementos essenciais). O terceiro, porque o que faltara na véspera (os mapas, o PIDDAC e o relatório que acompanha a proposta orçamental) só chegaram à AR durante esta noite e manhã.

Portanto, o Governo falhou!

No entanto, e embora considere que este tipo de erros não devem acontecer, acreditem que não fiquei nada espantado com o coro de protestos que foi orquestrado por toda a oposição pelo redondo “espalhanço” do Executivo. Falou-se de desrespeito pela Instituição AR e pelos deputados e agitaram-se punhos irados contra o Governo relapso.

E não me espantei, porque estou já demasiado habituado a que no nosso país se discuta o acessório enquanto que o fundamental só é considerado – quando o é – lá mais para as calendas. É uma característica das nossas classes política, sindical e empresarial.

Mas, mesmo reconhecendo que o Governo falhou, sobretudo porque o que está em causa é o conteúdo (ou a falta de) da “pen”, um acessório tão caro a governantes que tanto prezam e apregoam as novas tecnologias, o que questiono é se tal erro vai impossibilitar a discussão da proposta do OGE na Assembleia.

E a resposta parece-me clara: NÃO, DE FORMA ALGUMA.

É que o calendário parlamentar quanto ao Orçamento prevê a discussão na generalidade nos dias 5, 6 e 7 de Novembro e a a votação na especialidade e votação final global nos dias 27 e 28 de Novembro.

Portanto, o busílis da coisa não foi o conteúdo da proposta em si, com todo o leque de divergências, insuficiências e demagogias que ela pudesse conter (ainda mais com um calendário eleitoral à vista) mas o atraso de umas quantas horas na entrega da mesma.

Já agora, e para enterrar um pouco mais o Governo (por mais um atraso), refira-se que o primeiro-ministro Sócrates chegou hoje com cerca de uma hora de atraso à Cimeira de chefes de Estado e de Governo da União Europeia, em Bruxelas, justificando o sucedido com o facto de ter viajado desde Lisboa num voo comercial.
Foram muitos atrasos em tão pouco tempo...


terça-feira, outubro 14, 2008

Quem fala assim ...

Em Julho de 2007, SALETE LEMOS, jornalista da TV Cultura do Brasil, teve o “atrevimento” de fazer um comentário indignado sobre o enriquecimento despudorado e ilícito dos bancos brasileiros.


Desta forma, com esta veemência e desassombro.


Foi despedida, já se vê.



Tendo em conta as devidas diferenças (lá é o real e aqui o euro) não vos parece que a jornalista está a falar do que se passa em Portugal?


Só que se fosse cá, quem tivesse a coragem de exprimir opiniões deste jaez e com esta frontalidade, além de despedido teria, certamente, um processo judicial para se entreter.

segunda-feira, outubro 13, 2008

Finalmente!

Lá por que ainda não tinha escrito sobre o assunto não quer dizer que me tivesse esquecido. Não, claro que não. Estava só à espera de encontrar o momento próprio. E o momento é este.

Para quem costuma frequentar este espaço não estranhará que eu diga que foi com manifesto prazer que li nos jornais que Alberto João Jardim foi condenado a pagar 20 mil euros por insultos a Edite Estrela.

ALBERTO JOÃO FOI CONDENADO PELA JUSTIÇA – FINALMENTE!

Ao longo de 30 anos, Alberto João Jardim tem primado por utilizar uma linguagem vulgar, desbocada, grosseira e insultuosa nos seus discursos que não poupam adversários nem correligionários.

Durante todo este tempo os visados ignoraram as suas “bocas”, as ofensas e a má educação, fingindo nada ter escutado, como se todo aquele arrazoado de impropérios lhes passasse ao lado e não lhes fossem directamente dirigidos.

Com complacência demasiada para o meu gosto, refira-se. Por que, como diz o povo, “Quem não se sente, não é filho de boa gente”.

Mas Edite Estrela “sentiu-se” e, farta de tanta impunidade, avançou com uma acção judicial.

E porquê? Porque a um comentário político que a candidata socialista ao Parlamento Europeu fez durante a visita à Madeira, Alberto João mais não fez que “vomitar” injúrias e acusar a deputada de “deliquente socialista” e de “insolência colonial, porque se atreveu a perorar e salivar sobre a nossa estratégia de desenvolvimento, que não é a deles, os rectangulares”.

Desta vez, porém, a justiça não teve receio de Alberto João Jardim. Isto teria que suceder um dia. Foi agora. E embora eu não tenha grandes esperanças que isso venha a acontecer, pode ser que “a partir deste momento, doravante e p’ro futuro”, como dizia o outro, Jardim pense um pouco antes de principiar a vociferar despautérios contra quem quer que seja. Ainda que a contragosto.

domingo, outubro 12, 2008

Pobres contribuintes

Dado que não somos todos iguais é natural que, perante situações idênticas, as pessoas possam reagir de formas diferentes.

Se eu perdesse o emprego ou se a minha situação económica/familiar se degradasse de tal modo que não conseguisse vislumbrar qualquer luz de esperança lá no fundo do túnel, provavelmente ficaria muito deprimido e tentaria pôr em prática um plano rigoroso de redução das despesas.


Admito, contudo, que os executivos da área de seguros do Fortis, perante as dificuldades que o banco belga estava a atravessar, tivessem assumido uma reacção bastante diferente daquela que eu teria abraçado. E assim, por que a situação financeira do Fortis era mesmo muito má, de tal maneira que o banco teve que ser nacionalizado, acharam que a melhor maneira de lamentarem a crise que se tinha abatido sobre eles seria a de juntarem 50 pessoas para almoçar no prestigiado restaurante Louis XV, do Hotel Paris-Monte Carlo, o mais caro do principado do Mónaco. Refeição que ficou por uns módicos 150 mil euros, qualquer coisa como três mil euros por pessoa, o que, convenhamos, para quem atravessa uma situação tão má, nem é de todo cara.


O mesmo sentimento tiveram os executivos da AIG que, depois da Reserva Federal dos Estados Unidos ter injectado 85 mil milhões de dólares para que a seguradora não fosse à falência, decidiram “reunir-se” durante uma semana no St. Regis Monarch Beach, um luxuoso resort da Califórnia, onde gastaram quase meio milhão de dólares. Os quartos custaram 200 mil dólares, as refeições 150 mil, o SPA 23 mil e, espantem-se meus amigos, só no cabeleireiro “voaram” 1.400 dólares.

A verdade é que os executivos do Fortis e da AIG não se mostraram preocupados com as despesas absurdas que fizeram, justamente numa altura em que se impunha uma redução drástica dos custos.


Como disse, eu teria adoptado uma via diferente. Mas, claro está, eu sou eu, penso de forma diferente e, sobretudo, não tenho os contribuintes belgas e norte-americanos que “entraram com a massa” para aguentar estes colossos financeiros à beira da insolvência.

Fico é com curiosidade em saber o que é que esses contribuintes estarão a pensar desses excessos. Se isso acontecesse cá, podem ter a certeza de que eu ficaria muito furioso. Ah isso ficava.

quinta-feira, outubro 09, 2008

Negligência

A história conta-se em duas palavras. Um homem com sinais de estar a ter um ataque de coração apresentou-se no Centro de Saúde de Alpiarça e a médica que o atendeu mandou-o, de imediato e sem nada fazer, para o Hospital de Santarém.

Nada de especial haveria a dizer se o homem em questão:

- não fosse um doente cardíaco crónico,

- não estivesse com dores muito fortes no peito, formigueiro nos braços e uma enorme falta de ar, quando se dirigiu ao Centro de Saúde,

- não tivesse que conduzir o seu próprio automóvel entre Alpiarça e Santarém.


Porém, às circunstâncias descritas, juntaram-se o facto do homem ter parado no meio da ponte D. Luís I, em Santarém, para ... recuperar a respiração e o de ter, na viagem, sofrido dois enfartes agudos do miocárdio. Situações que, forçosamente, nos levam a pensar na atitude tomada pela médica, que até já conhecia o passado clínico do paciente.

A história conta-se, de facto, em duas palavras, mas o doente esteve em risco de não chegar a tempo de a contar. A sorte, o destino, o não ser o “dia dele”, fê-lo ficar de fora da lista das 22 mil mulheres e dos 18 mil homens que, devido a acidentes vasculares cerebrais, a enfartes de miocárdio e a outras doenças do coração morrem em cada ano no nosso país.

E para responder à questão que, provavelmente, vai ser colocada pelo nosso amigo “provocador”, vou já dizendo que, obviamente estava à espera que o paciente fosse conduzido ao Hospital de Santarém, de ambulância e com pessoal médico especializado.

É que não lembra a ninguém dizer a uma pessoa com sintomas de estar ter um enfarte, que se meta no seu carrinho e o vá a conduzir para algum sítio, quem sabe se até à morte. A ninguém, excepto à senhora doutora do Centro de Saúde de Alpiarça.

E, a essa "lembrança", eu chamo-lhe, simplesmente, negligência.

À beira da bancarrota

Publicamente confesso a minha ignorância. Da Islândia sabia apenas que é uma ilha que fica ali, mais ou menos, a noroeste da Europa, entre o Oceano Atlântico e o Mar da Noruega, que a capital é Reykjavik e que, constava, tinha um alto padrão de vida, e os seus naturais viviam muito bem.

Pelas notícias dos últimos dias fiquei a saber também que é o quinto país mais rico do mundo, que as taxas de desemprego são baixas e que a distribuição dos rendimentos é generosa. O paraíso? Julgo que não, pelo menos nos dias que correm.

É que parece existir aqui uma contradição. Como é que este país, que parece ser um verdadeiro modelo capitalista, consegue, por um lado, “dar” aos seus cidadãos tão elevado nível de vida quando, por outro, a sua economia depende quase exclusivamente da pesca e das indústrias associadas, que constituem 70% do total das exportações que, ainda por cima, são feitas maioritariamente para os Estados Unidos.

A verdade é que a economia islandesa cresceu nos últimos dez anos uma média de 4% ao ano e, grande parte deste crescimento, tem a ver com o sector financeiro que, aliás, é muito dependente dos capitais estrangeiros. Ora, com o início da crise nos mercados americanos e o contágio rápido à Europa e ao resto do mundo, os islandeses, ficaram a braços com uma tremenda crise financeira, provavelmente maior da que a dos próprios americanos e correm até o risco que o Estado entre em colapso total, provavelmente em bancarrota.

O sentimento generalizado com que ficaram os pouco mais de 311 mil habitantes do país, depois do discurso catastrófico que o primeiro-ministro Geir Haarde fez na passada segunda-feira é de que muita gente irá perder dinheiro.

E se é verdade que o nível de vida é elevado na Islândia, também é certo que o endividamento para com a banca é excessivo e o crédito mal-parado é extremamente preocupante. De tal modo que os principais bancos já tiveram a intervenção do Estado e o efeito dominó das insolvências ameaça as restantes instituições financeiras da falência.

De maneira que temos um país que é dos mais ricos do mundo, temos uns cidadãos que têm um nível de vida muitíssimo bom mas ... mas tudo isto está em vias de desabar e o Estado poderá entrar em completo colapso financeiro com todas as desgraças que se adivinham.


E se isto acontece na Islândia, nós que vivemos num país bem mais pobre, teremos certamente motivos para ficar muito preocupados. Ou não?

quarta-feira, outubro 08, 2008

Que alívio!

Começam agora a ser conhecidos os primeiros galardoados com os prémios Nobel deste ano, pelo que, muitos de nós, estaremos particularmente atentos ao que acontece na Real Academia de Ciências da Suécia que concede anualmente as distinções mais importantes do mundo em várias áreas do saber.

No entanto, poucas pessoas saberão que existem uns outros galardões – os Prémios IgNobel (também conhecidos por IG Nobel) - que premeiam outros cientistas, e que também são outorgados nesta altura.

À primeira vista (e à segunda, e á terceira ...) poder-se-á pensar que os vencedores dos Nobel são aqueles cientistas que, de alguma forma, com as suas descobertas, promoveram o bem-estar da Humanidade, enquanto que os outros não passam de uns borra-botas sem préstimo. Nada de mais errado, porém. Os IgNobel premeiam cientistas a sério, que descobriram coisas a sério, só que ...

Eis alguns dos galardões atribuídos este ano por uma revista humorística da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos:

Na Biologia, venceram os os franceses Marie-Christine Cadiergues, Christel Joubert e Michel Franc, de Toulouse que realizaram um «estudo comparativo entre o desempenho do salto das pulgas de cães e gatos», que mostra que os insectos nos cães pulam mais.

O da Paz, para uns suíços que concluiram que as plantas têm dignidade.

Na Medicina venceu Dan Ariely, da Universidade Americana Duke (Carolina do Norte), que confirmou as suspeitas de alguns psicanalistas de que um falso remédio caro é mais eficaz do que um barato.

Geoffrey Miller, Josha Tybur e Brent Jordan, da Universidade do Novo México, venceram a categoria de Economia, ao estudarem o impacto do ciclo de ovulação de uma stripper nas gorjetas que ela recebe.

A estatueta de Nutrição foi para Massimiliano Zampini, da Universidade de Trento (Itália), e Charles Spence, de Oxford (Reino Unido), por terem modificado eletronicamente o ruído de uma batata frita para enganar quem a consome, fazendo pensar que é mais crocante e fresca do que parece.


Mais do que fazer rir, estes prémios devem fazer-nos pensar. Pensar sobretudo sobre a real utilidade de tantos anos de estudos sobre ... coisas que, aparentemente, servem para nada.

Nada, não, sejamos justos. É que uma das descobertas agora premiadas pelos IgNobel deixou-me absolutamente descansado depois de, anos a fio, ter tido tantas incertezas. Agora eu sei – finalmente - que as pulgas dos cães saltam mais alto e mais longe do que as dos gatos.

Que alívio!