quinta-feira, novembro 27, 2008

Vamos a isso


Meus Amigos

Hoje pretendo apenas lembrar que no próximo fim-de-semana, dias 29 e 30 de Novembro, os Bancos Alimentares Contra a Fome levam a cabo uma nova campanha de recolha de alimentos em 1.119 estabelecimentos comerciais das zonas de Lisboa, Porto, Coimbra, Évora e Beja, Aveiro, Abrantes, São Miguel, Setúbal, Cova da Beira, Leiria-Fátima, Oeste, Algarve, Portalegre e Braga.

De salientar que só na área de actuação do Banco Alimentar Contra a Fome de Lisboa, os produtos recolhidos nesta campanha serão distribuídos a partir da próxima semana a 283 Instituições de Solidariedade Social previamente seleccionadas, que apoiarão cerca de 62.800 pessoas com carências alimentares comprovadas.

E é tão fácil aderir a esta causa. Basta aceitar um saco de plástico entregue pelos voluntários do Banco Alimentar Contra a Fome devidamente identificados (localizados à entrada de cada um dos estabelecimentos comerciais), colocando no seu interior bens alimentares de preferência não perecíveis, tais como leite, conservas, azeite, bolachas, açúcar, farinha, massas, óleo, etc.

Vá, o recado está dado. Vamos a isso.















Perguntar não ofende

Perante todo o descalabro financeiro a que temos assistido nos últimos tempos e, particularmente em Portugal, com o recente escândalo do BPN e a eventual queda do BPP, é natural que os cidadãos se interroguem quanto à segurança dos seus depósitos e poupanças na Banca.

Por isso, não é de estranhar que surjam dúvidas e preocupações legítimas que se possam manifestar, por exemplo, numa pergunta endereçada ao banco, que poderia ser a seguinte:

“Se um dos meus cheques for devolvido por "INSUFICIÊNCIA DE PROVISÃO", como é que eu poderei saber se isso se refere a mim ou a vocês?"

quarta-feira, novembro 26, 2008

Ganância

Recentemente a imprensa deu conta da preocupação manifestada pelo Presidente da União de Misericórdias Portuguesas, Manuel Lemos:

“Há cada vez mais famílias a retirar idosos de lares das misericórdias para os levarem para casa e obterem, assim, mais uma fonte de rendimento"


O "retirar idosos de lares para os levarem para casa" parece-me bem. Seria desejável que as famílias pudessem assumir essa atitude e ter junto de si os seus idosos. Como acontecia antigamente.

No entanto, as condições de vida de hoje são bem diferentes das de outrora e poucos são aqueles que podem acolher os seus idosos. Às famílias foge-lhes o tempo (porque todos os da casa trabalham) e sobram-lhes a situação económica desesperante e as enormes dificuldades em arranjar pessoas minimamente qualificadas para cuidarem dos seus. E, sejamos claros, talvez a razão maior para que esse impedimento aconteça, seja o resultado daquilo que o nosso egoísmo gerou - a ideia de que o “natural” é “despachar” os velhos para qualquer lado, a bem do conforto e da tranquilidade daqueles que lhes deviam bastante mais.

Por cruel que pareça e que isso nos custe a admitir, o destino da maioria de nós está já traçado. Mais dia menos dia encontrar-nos-emos numa sala de um qualquer lar, casa de repouso ou, para os mais afortunados, uma residência sénior. É a vida!

Porém, o que mais me indignou, foi a constatação de que muitas pessoas retiram os seus velhos dos lares, não para que eles se sintam mais aconchegados em casa na última fase da vida, mas apenas para lhes sacarem as suas magras pensões que servirão como fonte adicional de receita para as despesas da família.

Não é o amor que os move, apenas a ganância.

Atitude torpe e desumana.


segunda-feira, novembro 24, 2008

E se Obama fosse africano?

Nunca deixo de transcrever textos inteiros (ou fragmentos), quando a sua leitura me deixa impressionado. Desta vez trago-vos uma crónica (um pouco longa para um blogue, admito, mas, ainda assim, imperdível) de Mia Couto, um escritor que admiro e um homem que é uma referência de honradez e coragem em África.
Foi publicada no jornal moçambicano “Savana” no passado dia 14. É um texto brilhante e a análise de Mia Couto é lúcida e inteligente, como sempre.

“Os africanos rejubilaram com a vitória de Obama. Eu fui um deles. Depois de uma noite em claro, na irrealidade da penumbra da madrugada, as lágrimas corriam-me quando ele pronunciou o discurso de vencedor. Nesse momento, eu era também um vencedor. A mesma felicidade me atravessara quando Nelson Mandela foi libertado e o novo estadista sul-africano consolidava um caminho de dignificação de África.

Na noite de 5 de Novembro, o novo presidente norte-americano não era apenas um homem que falava. Era a sufocada voz da esperança que se reerguia, liberta, dentro de nós. Meu coração tinha votado, mesmo sem permissão: habituado a pedir pouco, eu festejava uma vitória sem dimensões. Ao sair à rua, a minha cidade se havia deslocado para Chicago, negros e brancos respirando comungando de uma mesma surpresa feliz. Porque a vitória de Obama não foi a de uma raça sobre outra: sem a participação massiva dos americanos de todas as raças (incluindo a da maioria branca) os Estados Unidos da América não nos entregariam motivo para festejarmos.

Nos dias seguintes, fui colhendo as reacções eufóricas dos mais diversos recantos do nosso continente. Pessoas anónimas, cidadãos comuns querem testemunhar a sua felicidade. Ao mesmo tempo fui tomando nota, com algumas reservas, das mensagens solidárias de dirigentes africanos. Quase todos chamavam Obama de "nosso irmão". E pensei: estarão todos esses dirigentes sendo sinceros? Será Barack Obama familiar de tanta gente politicamente tão diversa? Tenho dúvidas. Na pressa de ver preconceitos somente nos outros, não somos capazes de ver os nossos próprios racismos e xenofobias. Na pressa de condenar o Ocidente, esquecemo-nos de aceitar as lições que nos chegam desse outro lado do mundo.

Foi então que me chegou às mãos um texto de um escritor camaronês, Patrice Nganang, intitulado: " E se Obama fosse camaronês?". As questões que o meu colega dos Camarões levantava sugeriram-me perguntas diversas, formuladas agora em redor da seguinte hipótese: e se Obama fosse africano e concorresse à presidência num país africano? São estas perguntas que gostaria de explorar neste texto.

E se Obama fosse africano e candidato a uma presidência africana?
1. Se Obama fosse africano, um seu concorrente (um qualquer George Bush das Áfricas) inventaria mudanças na Constituição para prolongar o seu mandato para além do previsto. E o nosso Obama teria que esperar mais uns anos para voltar a candidatar-se. A espera poderia ser longa, se tomarmos em conta a permanência de um mesmo presidente no poder em África. Uns 41 anos no Gabão, 39 na Líbia, 28 no Zimbabwe, 28 na Guiné Equatorial, 28 em Angola, 27 no Egipto, 26 nos Camarões. E por aí fora, perfazendo uma quinzena de presidentes que governam há mais de 20 anos consecutivos no continente. Mugabe terá 90 anos quando terminar o mandato para o qual se impôs acima do veredicto popular.

2. Se Obama fosse africano, o mais provável era que, sendo um candidato do partido da oposição, não teria espaço para fazer campanha. Far-Ihe-iam como, por exemplo, no Zimbabwe ou nos Camarões: seria agredido fisicamente, seria preso consecutivamente, ser-Ihe-ia retirado o passaporte. Os Bushs de África não toleram opositores, não toleram a democracia.

3. Se Obama fosse africano, não seria sequer elegível em grande parte dos países porque as elites no poder inventaram leis restritivas que fecham as portas da presidência a filhos de estrangeiros e a descendentes de imigrantes. O nacionalista zambiano Kenneth Kaunda está sendo questionado, no seu próprio país, como filho de malawianos. Convenientemente "descobriram" que o homem que conduziu a Zâmbia à independência e governou por mais de 25 anos era, afinal, filho de malawianos e durante todo esse tempo tinha governado 'ilegalmente". Preso por alegadas intenções golpistas, o nosso Kenneth Kaunda (que dá nome a uma das mais nobres avenidas de Maputo) será interdito de fazer política e assim, o regime vigente, se verá livre de um opositor.

4. Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato. Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio rosto. Não que a cor da pele fosse importante para os povos que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um "não autêntico africano". O mesmo irmão negro que hoje é saudado como novo Presidente americano seria vilipendiado em casa como sendo representante dos "outros", dos de outra raça, de outra bandeira (ou de nenhuma bandeira?).
5. Se fosse africano, o nosso "irmão" teria que dar muita explicação aos moralistas de serviço quando pensasse em incluir no discurso de agradecimento o apoio que recebeu dos homossexuais. Pecado mortal para os advogados da chamada "pureza africana". Para estes moralistas – tantas vezes no poder, tantas vezes com poder - a homossexualidade é um inaceitável vício mortal que é exterior a África e aos africanos.

6. Se ganhasse as eleições, Obama teria provavelmente que sentar-se à mesa de negociações e partilhar o poder com o derrotado, num processo negocial degradante que mostra que, em certos países africanos, o perdedor pode negociar aquilo que parece sagrado - a vontade do povo expressa nos votos. Nesta altura, estaria Barack Obama sentado numa mesa com um qualquer Bush em infinitas rondas negociais com mediadores africanos que nos ensinam que nos devemos contentar com as migalhas dos processos eleitorais que não correm a favor dos ditadores.

Inconclusivas conclusões.

Fique claro: existem excepções neste quadro generalista. Sabemos todos de que excepções estamos falando e nós mesmos moçambicanos, fomos capazes de construir uma dessas condições à parte.

Fique igualmente claro: todos estes entraves a um Obama africano não seriam impostos pelo povo, mas pelos donos do poder, por elites que fazem da governação fonte de enriquecimento sem escrúpulos.

A verdade é que Obama não é africano. A verdade é que os africanos - as pessoas simples e os trabalhadores anónimos - festejaram com toda a alma a vitória americana de Obama. Mas não creio que os ditadores e corruptos de África tenham o direito de se fazerem convidados para esta festa.

Porque a alegria que milhões de africanos experimentaram no dia 5 de Novembro nascia de eles investirem em Obama exactamente o oposto daquilo que conheciam da sua experiência com os seus próprios dirigentes. Por muito que nos custe admitir, apenas uma minoria de estados africanos conhecem ou conheceram dirigentes preocupados com o bem público.

No mesmo dia em que Obama confirmava a condição de vencedor, os noticiários internacionais abarrotavam de notícias terríveis sobre África. No mesmo dia da vitória da maioria norte-americana, África continuava sendo derrotada por guerras, má gestão, ambição desmesurada de políticos gananciosos. Depois de terem morto a democracia, esses políticos estão matando a própria política. Resta a guerra, em alguns casos. Outros, a desistência e o cinismo.

Só há um modo verdadeiro de celebrar Obama nos países africanos: é lutar para que mais bandeiras de esperança possam nascer aqui, no nosso continente. É lutar para que Obamas africanos possam também vencer. E nós, africanos de todas as etnias e raças, vencermos com esses Obamas e celebrarmos em nossa casa aquilo que agora festejamos em casa alheia."

domingo, novembro 23, 2008

A caça à multa

O número deste mês da revista do Automóvel Club de Portugal publica uma reportagem interessante sobre a caça à multa no nosso país.

Com o sugestivo título “Os militares não se escondem!”, nela se dá conta de:

- agentes da Brigada de Trânsito da PSP e da GNR que se disfarçam atrás de pilares de pontes ou no interior de carrinhas sem identificação, munidos com radares;

- carros da corporação (com radar) encobertos pela vegetação;

- radares instalados em carros descaracterizados ou em sinais de sinalização.

Todos escondidos nos sítios mais extraordinários, unica e exclusivamente com o intuito de multar.

Aliás, facturar é a palavra de ordem. O Estado arrecadou 58,4 milhões de euros, entre Janeiro e Setembro deste ano, só em multas decorrentes das infracções ao Código da Estrada, mais quatro milhões do que as multas cobradas no período homólogo, mais 7%, portanto, do que no ano anterior.

E eu que até sou a favor da intensificação da fiscalização, acho que esta não é a melhor forma de actuar. Seria óptimo que houvesse uma presença mais assídua dos agentes nas nossas estradas. Mas deveria ser uma presença que fosse, sobretudo, geradora de uma efectiva dissuasão das más práticas dos condutores.

Mas não é isso que acontece. Em Portugal, ao contrário do que sucede com as principais polícias europeias, há uma verdadeira política de repressão e não de prevenção.

E o próximo ano vai ser ainda pior. No OGE para 2009, o Governo espera arrecadar 97,4 milhões de euros em multas do Código da Estrada.

Até já há quem diga que “o melhor é ir roubar para a estrada”.

Cuidado, pois, meus amigos. Nada de pé no acelerador nem manobras perigosas desnecessárias. É que pagar multas sai caro e não pagá-las pode levar à penhora das contas bancárias, bens e, inclusivamente, do ordenado do infractor.

quinta-feira, novembro 20, 2008

Quando o jeito não abunda ...

Os portugueses estão demasiado fartos dos políticos e das polémicas geradas por assuntos que não têm qualquer interesse para o seu quotidiano. E, também estão cansados da indiferença com que muitos desses políticos ignoram as matérias que, essas sim, têm a ver com o dia-a-dia dos cidadãos e com o estado do país.

Daí que não me tenha incomodado em demasia com as afirmações que Manuela Ferreira Leite proferiu durante um almoço na Câmara do Comércio Americana em Portugal.

Segundo a líder do PSD a enorme dificuldade em reformar certos sectores contra a vontade das respectivas classe profissionais, poderia justificar um tipo de medidas mais drásticas. “Até nem sei se não seria bom estar seis meses sem democracia para pôr tudo na ordem e depois voltar à democracia”, disse Ferreira Leite.

A afirmação é, de facto, preocupante e os partidos à sua esquerda e à sua direita reagiram prontamente, indignando-se pelo posicionamento anti-democrático da líder do PSD, a qual, disseram alguns, mostrou a sua verdadeira cara.

Mas dentro do próprio PSD choveram, também, inúmeras críticas contra a Drª. Manuela. Luís Filipe Menezes não perdeu a ocasião de sublinhar que a esta “gafe” juntam-se outras igualmente graves como foram os discursos sobre o aumento do salário mínimo e sobre os cabo-verdianos e ucranianos.

E é neste contexto de tamanha crispação, de guerras de palavras e de lutas intestinas, que os portugueses, bem mais preocupados com a crise económica que lhes afecta os bolsos, olham desinteressados e desiludidos para a classe política que temos.

Mesmo admitindo que Manuela Ferreira Leite quis colocar no discurso uma dose de ironia (de que não nos apercebemos), mesmo que saibamos que existem muitos exageros em períodos pré-eleitorais, mesmo assim, penso que não é admissível ouvir a responsáveis políticos tantos e tão graves dislates.

No caso de Manuela Ferreira Leite, porém, já todos percebemos que o problema maior acaba por não ser a substância do que diz mas sim a enorme falta de jeito e a inabilidade política que lhe é característica. E, quando o jeito não abunda ...



terça-feira, novembro 18, 2008

Oitenta aninhos

18 de Dezembro de 1928. Faz hoje 80 anos que nasceu o Rato Mickey. Um desenho animado (e uma banda desenhada) criado por Walt Disney que depressa se tornou uma das personagens mais conhecidas do mundo.

Todos nós (quase todos) crescemos tendo por perto aquela figura simpática. A minha infância foi enfeitada pela alegria do Mickey e dos seus amigos. O Donald, o Pluto, o Pateta, a Minnie e tantos outros.







É bom recordar!


Parabéns MICKEY

segunda-feira, novembro 17, 2008

Silogismos

Antes de mais, devo dizer que sempre achei piada a esta palavra. E, embora esquisita e pouco usada, sei o que ela quer dizer. Acredito, no entanto, que haja pessoas não façam a mínima ideia sobre o seu significado. Dito por outras palavras, para não melindrar alguém, todos empregam frequentemente os seus mecanismos mas alguns não conhecem o seu nome técnico. Está bem assim?

De um modo simplista poder-se-á dizer que o silogismo é um argumento ou raciocínio formado por duas ou três proposições (premissas) e uma conclusão.

Ou seja, é um encadeamento de argumentos que permite obter uma ilação.

Segundo a Wikipédia, o filósofo grego Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) definiu que um silogismo é uma argumentação lógica perfeita.


Vejamos dois exemplos:

- Toda a regra tem excepção.
Isto é uma regra. Logo, deveria ter excepção.
Portanto, nem toda a regra tem excepção.


- Hoje em dia, os trabalhadores não têm tempo para nada.
Já os vagabundos têm todo o tempo do mundo.
Tempo é dinheiro.
Logo, os vagabundos têm mais dinheiro do que os trabalhadores.



Toda a a estrutura destes dois silogismos está perfeita: duas ou três premissas e uma conclusão. Só não sei é se todas as conclusões terão sempre lógicas perfeitas.

domingo, novembro 16, 2008

O órgão de controlo


Descansem que não vou escrever sobre o Banco Popular de Negócios. E não o faço, apenas por que todo este caso é uma enorme embrulhada que ultrapassa há muito as normais operações efectuadas pela banca e passou a ser um mero (mas complicado) caso de polícia. Muito embora haja quem diga que a procissão ainda vá no adro, já toda gente percebeu que estamos perante uma trafulhice imensa e um lamaçal de transacções fraudulentas, pensadas e levadas a cabo por uma teia de malandros, muitos deles já identificados. Um caso de polícia, portanto, que deve ser tratado pela polícia e pelos tribunais.

Por isso, prefiro, hoje, analisar o tema BPN na perspectiva da regulação e supervisão bancária e, concretamente, sobre o órgão responsável por essa missão específica. E vou fazê-lo com os olhos do cidadão comum que observa com perplexidade o imenso imbróglio que explodiu diante de nós.

Se eu fosse polícia e perguntasse a um automobilista
“num cruzamento, se vier da esquerda, deixaria passar os outros veiculos que se apresentassem pela direita?”
o que acham que o condutor me responderia? Obviamente que, feita a pergunta desta maneira, a resposta só poderia ser “quem vem da direita tem a prioridade”. Ainda que, no dia-a-dia, o tal condutor se estivesse a marimbar para os outros e considerasse que ele tinha sempre a prioridade, viesse da direita ou da esquerda.

Como é evidente, é necessário que a pergunta seja correctamente formulada e, neste exemplo, a interrogação poderia e deveria ter sido colocada de um outro modo que levasse a uma resposta menos intuitiva.

Seguindo o exemplo do polícia, como acham que os bancos respondem quando o Banco de Portugal lhes faz a pergunta – de forma inocente, é claro – então, digam-me, por favor, se não for muito incómodo, os senhores têm por acaso alguma off shore? A resposta pode muito bem ser “De facto temos duas off shore, uma na Madeira e outra nas Ilhas Caimão”, quando a verdade é que aquele banco tem provavelmente essas duas e mais umas dezenas espalhadas pelo mundo. Só que, desta forma, o Banco de Portugal e a CMVM (se o banco estiver cotado em bolsa) vão acreditar piamente no que lhes foi dito e ficam tranquilos como bébés.

Dá para perceber que as aldrabices no BPN foram muito bem idealizadas. Admito mesmo que o BdP tivesse dificuldades em descobrir que a "escrita" do BPN ia bastante mais além do que os Relatórios e Contas que lhe eram apresentados mostravam. De facto, numa marosca que tinha um banco paralelo e, ainda por cima, com um sistema informático virtual, onde só tinham acesso o presidente do BPN, um administrador e um informático, era complicado detectar o que quer que fosse.

Contudo, quem se dedica ao difícil mester de exercer uma actividade de controlo ou de regulação tem que ser mais perspicaz, porventura mais desconfiado, talvez até mais impertinente. Não pode dar-se por satisfeito, apenas, por ter feito as perguntas. Tem, sobretudo, que exigir as respostas e ... rapidamente. Parece que neste caso do BPN as questões levantadas no início do ano pelo Banco de Portugal ficaram por responder meses e meses, sem que o Banco Central voltasse à carga, o que é inaceitável.

Mas há mais. Alguém compreende que o órgão fiscalizador, perante todas as reservas apresentadas pelos diversos auditores do BPN, em vários exercícios, tivesse ficado mudo e quedo? E o que dizer sobre as duas comunicações enviadas pelo Banco de Cabo Verde ao BdP a alertar para diversas operações suspeitas? E o que fizeram perante os “boatos” que, durante anos, foram publicados na comunicação social? Por que não houve quaisquer reacções?

O Governador do Banco de Portugal bem pode dizer que não é polícia mas, provavelmente deveria sê-lo. O que não se pode admitir é que um órgão de controlo se fique tranquilamente pela leitura e análise dos relatórios que os bancos são obrigados a fornecer. Se calhar está na hora da acção fiscalizadora ser mais interveniente, mais presente dentro das diversas instituições, de modo a tentar, em tempo útil – se possível em tempo real – descobrir as eventuais anomalias que apareçam. Algumas delas fraudulentas.

Acredito que o Banco de Portugal não tenha ainda meios (tecnológicos, digo eu, por que humanos deve ter de sobra) para a tal actuação eficaz. Mas é tempo de investir nessa matéria. Tanto mais que o nível de sofisticação de algumas operações efectuadas pela banca, há muito que justifica igual “requinte” por parte da entidade que tem por missão controlá-la.

sexta-feira, novembro 14, 2008

Casual Friday

Dá-me uma fúria dos diabos quando penso que, enquanto que há uns anos atrás, independentemente da estação do ano ou do dia da semana, a forma de vestir dos homens era determinada pelas administrações das empresas, isto é, do começo do dia ao fim da tarde, todos tínhamos que usar fato e gravata, agora, pelo menos à sexta-feira, a rapaziada tem o privilégio de poder trajar conforme lhe dá na realíssima gana.

Se calhar é melhor abrir um parêntesis para lembrar a época do “PREC – Processo Revolucionário em Curso”, um intervalo na normalidade das vestes (e não só ...) de então em que os homens, qualquer que fosse a actividade em que trabalhassem, mesmo nas mais formais, normalmente envergavam no seu dia-a-dia umas calças de ganga e uma camisa aberta pelo menos até ao umbigo, calçavam umas sandálias ou umas chinelas e, orgulhosamente, punham na cabeça uma boina “à CHE”. Bons tempos!

Mas saltando sobre esse período glorioso, que aos mais novos pouco dirá, voltou-se a vestir à séria, fazendo recordar aos homens que o uso do fato e da gravata é imprescindível e que faz deles uns verdadeiros vencedores. Sem esse traje - que tanto nos custava a suportar durante as longas tardes de verão em que o ar condicionado era um luxo a que poucos tinham acesso - a respeitabilidade que a gravata e um fato sem máculas e sem rugas conferia, não perspectivava uma carreira promissora àqueles que tentavam fugir ao estipulado.

E do oito quase que passámos para o oitenta. Da obrigatoriedade séria, diária e rigorosa transigiu-se de tal forma que fomos dar ao à-vontade das actuais sextas-feiras, isto é, ao “Casual Friday”. Aliás, com a cumplicidade das empresas da chamada “Nova Economia”, que foram as principais responsáveis pelo abandono dos códigos rígidos do vestuário masculino de outrora.
No entanto, e ao contrário do que alguns pensam, não se aligeirou a vestimenta às sextas só para serem simpáticos para os trabalhadores. Não, isto “pegou” apenas por que parece bem e é moderno. Traduzindo, virou moda, nada mais.

Contudo, meus caros, até para se ter um “look” informal é necessário ter bom gosto. Andar vestido à-vontade não significa andar de qualquer maneira.

Não se deve abusar da informalidade nem fugir muito ao que habitualmente é associado a uma imagem profissional e de autoridade. É preferível optar-se pelos tons “tradicionais”, como o preto, o azul e o cinzento, contrastando, eventualmente, com alguns tons mais claros como o bege. Tem mais classe, podem crer.

E, em último caso e para terminar, mandem às ortigas o conceito do “casual” e voltem a vestir, se assim o entenderem, o tradicional “fato e gravata”…Não será isso, certamente, que vos tornará homens mais respeitáveis e credíveis e em profissionais de eleição. Mas uma fatiota a preceito, acreditem, ficar-vos-á bem.

quarta-feira, novembro 12, 2008

"Mama África"



Para as novas gerações o nome de Miriam Makeba pouco dirá. No entanto, e de forma sucinta, diga-se que Makeba foi uma cantora sul-africana de sucesso na década de 60 (e não só) e, sobretudo, foi uma grande activista dos direitos humanos e contra o apartheid no seu país.


Anteontem, aos 76 anos, sofreu um ataque cardíaco que a vitimou, quando agradecia em palco os aplausos do público que assistia ao espectáculo em que participava. Morte impressionante, talvez a que sempre ambicionara, de uma mulher a quem muitos chamavam "Mama África", que lutou continuamente pela igualdade de direitos e por uma sociedade justa e não racista.


Como homenagem a Miriam Makeba recordemo-la na sua canção Pata Pata, que se tornou um enorme sucesso mundial.








terça-feira, novembro 11, 2008

A turba à solta

Quando três centenas de manifestantes, entre alunos e professores, bombardearam com ovos e palavras de ordem o carro da Ministra da Educação, obrigando-a a abandonar a cidade de Fafe onde tinha uma sessão agendada, o mínimo que se pode dizer é que a turba está à solta.

Independentemente de se gostar ou não da Ministra e das políticas de educação do Governo, este tipo de comportamento é absolutamente vergonhoso e intolerável. Os manifestantes, “empurrados” por uma coligação de sindicatos-professores-alunos-oposições apenas conseguiu dar uma péssima imagem de um movimento de professores que tenta defender as suas convicções.

Tem razão o Presidente da Câmara Municipal de Fafe em se dizer envergonhado com o que se passou. O que se viu não foi uma manifestação contra a Ministra da Educação. O que se assistiu foi a falta de educação que nenhum ministro, de qualquer cor política, por mais competente que seja, consegue transmitir a quem a não tem.

segunda-feira, novembro 10, 2008

Embirrações

Sempre embirrei com as montras de vidros espelhados que teimam em devolver a imagem de quem passa à sua frente. Desde sempre, é verdade, mas esse sentimento tem aumentado substancialmente com o passar dos anos. Por que será?

Não é, certamente, por uma questão de (mau) feitio mas, quem sabe, por que a imagem do meu corpo esbelto que vejo reflectido no vidro, parece mostrar um certo volume abdominal que, de facto, eu não tenho, não quereria ter ou não gosto de ver.

Já tentei ignorar todas as montras que caminham ao meu lado. Melhor dizendo, desprezei-as pura e simplesmente. Contudo, nem sempre consigo manter o olhar firme para a frente, acabando por ceder, aqui e ali, ao olhar de soslaio que, com vaidade, procura o meu outro eu, o tal que se impõe pela sua pujante elegância, lindo como um Deus do Olimpo.

Percebem, agora, por que odeio esses malditos vidros espelhados?



domingo, novembro 09, 2008

Descaramento




Tive alguma dificuldade em escolher o tema para hoje, tantos foram os assuntos que deram que falar nestes últimos dias.

No entanto, e sem prejuízo de que ainda possa vir a escrever sobre alguns deles, acabei por optar por um episódio que demonstra inequivocamente o ridículo, o descaramento e a insensatez de que são protagonistas algumas figuras públicas do nosso país. Neste caso, refiro-me concretamente a Fátima Felgueiras.



Já se disse quase tudo sobre este enredo que dura há dez anos. Agora, finalmente, acabou o julgamento e a autarca foi condenada a três anos e três meses de prisão, embora com pena suspensa por igual tempo.

Considero que os crimes que deram origem à dita condenação acabaram por ser menores, digamos assim, mas foram estes, e só estes, que o tribunal considerou estarem provados, embora eu desconfie, e comigo muitos portugueses certamente, que haveria matéria muito mais “quente” para condená-la.

Mas a situação que eu achei perfeitamente surrealista foi a saída triunfante de Fátima Felgueiras do tribunal. Era vê-la contentíssima como se nada se tivesse passado, gritando vitória, apregoando que se tinha feito finalmente justiça, que afinal ela sempre dissera a verdade e que não tinha sido condenada mas sim libertada.

O jornalista Fernando Madrinha, escrevia a este propósito no Expresso do passado sábado: “... uma autarca descarada e sem escrúpulos, que achincalhou a Justiça e se serviu do voto dos eleitores para “lavar” a sua imagem, sai do tribunal de Felgueiras a rir-se como no dia em que chegou ao aeroporto da Portela, qual vedeta de telenovelas brasileiras”.

Subscrevo, por inteiro, as suas palavras. Na verdade, os cidadãos ficaram defraudados perante a forma como as coisas acabaram e a justiça foi, uma vez mais, enxovalhada. Nem sequer a fuga para o Brasil, teve qualquer consequência, o que nos leva a pensar que, também desta vez, o crime acabou por compensar.

Porém, e apesar do seu riso vitorioso e alvar, é bom lembrar que Fátima Felgueiras, embora com a pena suspensa, foi, de facto e indiscutivelmente condenada.




quinta-feira, novembro 06, 2008

A inenarrável senhora Palin



Agora que a derrota foi assumida pela candidatura republicana à presidência dos Estados Unidos, chegou a hora de sacudir responsabilidades pelo fracasso e de apontar o dedo àqueles que, em princípio e segundo a opinião de alguns, foram os principais causadores de tão grande desastre.

E o pessoal que acompanhava o candidato McCain não tardou a dizer que Sarah Palin era indiscutivelmente a maior responsável.

Segundo disseram, “ficaram chocados com a falta de conhecimentos da governadora do Alaska nos briefings”, por exemplo, “Ela não percebia que África era um continente e não um país e chegou mesmo a perguntar se a África do Sul não era apenas parte de um país”.

Ainda de acordo com a mesma fonte – o editor-chefe de política da conservadora Fox News, Carl Cameron - “Palin também não conseguia indicar os países que faziam parte da NAFTA (a zona de comércio livre na América do Norte), um dos temas importantes da campanha.
Cameron revelou também que “as tensões entre a candidata e o staff da campanha de McCain aumentaram e por vezes as discussões acabavam com elementos da equipa a chorar”.

Felizmente que a candidata à vice-presidência dos EUA, e potencial Presidente dos Estados Unidos da América, não chegou ao poder. Tanta ignorância aliada às declarações (perigosas) que fez sobre política externa durante a campanha, não auguravam nada de bom para o país e para o mundo.

Mas é isto que eu acho extraordinário nos Estados Unidos. De lá podemos sempre esperar que nos chegue o melhor e o pior que se possa imaginar. No limite, poder-se-á até dizer que lá acontece tudo, o melhor dos melhores ou o pior dos piores. E, neste caso, convenhamos, a senadora Sarah Palin pertence a este último grupo.

quarta-feira, novembro 05, 2008

O nome do dia

Como não podia deixar de ser, o nome que foi mais pronunciado hoje foi o de Barack Obama.
Ele é indiscutivelmente o nome e o homem do dia.


Depois de uma renhidíssima e longa campanha, esta madrugada foi eleito Presidente dos Estados Unidos. Na verdade uma vitória histórica, quer por que Barack Obama é o primeiro presidente americano negro, mas sobretudo, por que a sua campanha arrastou, e não só nos Estados Unidos, multidões que esperam que a esperança e a confiança que depositaram nele se tornem numa verdadeira oportunidade de mudança.


Milhões e milhões de cidadãos da América e também de todo o mundo, anseiam por alterações quer das políticas internas americanas, quer das relações entre os Estados Unidos e os demais países.


Todos estarão de acordo que os Estados Unidos se mantenham como a grande referência mundial que é, mas o que pretendem é que essa liderança tenha por base uma relação de confiança e entreajuda entre os diversos parceiros e não, apenas, que seja motivada pelo seu potencial bélico.


É curioso que a imprensa de hoje dos países reconhecidamente “inimigos” dos americanos, melhor dizendo, de George W. Bush, desde Cuba à Venezuela, tenha manifestado essa esperança e afirmado que os seus países estão disponíveis para o diálogo, agora possível com a nova Administração americana.


Barack Obama mobilizou os cidadãos de todo o mundo ao redor de uma nova vontade e de um novo espírito. Espera-se que todo esse capital de confiança conquistado se traduza, na prática, em mudanças reais e num novo padrão de relacionamento entre os países, em que exista paz e cooperação.


Para já Obama demonstrou uma força e uma personalidade invulgares nos líderes da actualidade. Mas o mundo continua cheio de dúvidas e expectativas.






terça-feira, novembro 04, 2008

Aberrações

A história correu célere nos jornais e foi difundida pela internet, onde os mails circularam rapidamente de endereço em endereço. Mesmo assim, não resisto à tentação de a contar, em atenção aos que, por distracção, alheamento, impossibilidade ou por ter coisas mais interessantes para fazer, não chegaram a conhecê-la.

E conta-se em duas palavras. Um assinante de uma operadora de telecomunicações morreu. Perante o infeliz acontecimento, o filho do falecido fez aquilo que qualquer um de nós faria. Escreveu à operadora a comunicar o facto e a pedir que o contrato fosse cancelado.

Em resposta, a dita operadora informou que só poderia dar seguimento ao pedido, se a carta fosse devidamente assinada pelo titular do contrato, isto é, pela pessoa que tinha falecido.

Ora, como tal não é possível – os mortos não costumam assinar cartas - só nos resta perguntar:

- tratou-se de uma distracção?

- o zelo do funcionário que “tratou” do assunto é tamanho que não poderia ter havido um outro tipo de solução?

- Ou, tão simplesmente, as regras são para se cumprir e, portanto, os contratos só podem ser cancelados quando a solicitação for efectuada pelo próprio titular, ainda que esteja morto.


Aberrações destas deviam ser proibidas!

segunda-feira, novembro 03, 2008

Desenrascansos à parte ...

Sempre ouvi dizer que Portugal é o país do desenrasca e os portugueses os mestres do desenrascanso.

Ao fim e ao cabo, acho que com estes epítetos se pretende fazer justiça à forma como, mesmo sem grandes planeamentos, rigores e esforços demasiados, as coisas acabam por aparecer feitas e, na maior parte dos casos, bem feitas. Existem bastos exemplos de obras e organizações que à beira da inauguração ou da entrada em vigor, pareciam ter um tal atraso que ninguém, em seu perfeito juízo, acreditava que estivessem prontos a tempo. Pois enganava-se quem assim pensava, por que, nas últimas horas, nos derradeiros minutos, as questões resolviam-se como por milagre. Daí o falarmos no tal desenrascanso dos portugueses.

Mas aquela que sempre considerámos como sendo uma das principais características dos lusitanos, não é, afinal, o desenrasca mas sim a flexibilidade. Foi deste modo que num dos últimos “Prós e Contras” da RTP, Guta Moura Guedes, “a senhora design” como foi já baptizada, classificou esta habilidade inata das nossas gentes.

É uma maneira elegante e moderna de se rotular uma aptidão que faz parte do nosso código genético.

E, vendo bem, as palavras até são complementares no seu significado. “Desenrasca” quer dizer “livrar-se de uma dificuldade”, enquanto que “flexibilidade” exprime “destreza, agilidade, aptidão”. Ora, como toda a gente sabe, para nos livrarmos de uma dificuldade é necessário, muitas vezes, ter destreza, agilidade e aptidão. Ou não será assim?


domingo, novembro 02, 2008

O Magalhães




Já tenho manifestado aqui o meu apoio a diversas medidas levadas a cabo pelo governo. Na maioria dos casos, em minha opinião, elas visam combater os efeitos trágicos das crises que se abateram sobre nós. Desta vez, porém, devo dizer que não gostei de ver José Sócrates, em plena sessão da cimeira ibero-americana de S. Salvador, a debitar um discurso de vendedor de banha da cobra para convencer os Chefes de Estado e de Governo ali presentes, que a nossa maravilha tecnológica (o computador Magalhães) era uma das maiores invenções à face da terra desde o tempo da descoberta da roda.

Embora perceba que Sócrates estava a tentar, através da denominada diplomacia econónima, vender uns quantos milhões de “Magalhães”, para compensar o abrandamento das nossas exportações para os mercados tradicionais, achei que o papel que ele decidiu assumir foi demasiado humilhante.

De um primeiro-ministro, esperava mais formalidade e a dignidade própria da função.

O computador Magalhães pode até ser o “petróleo” que nos permita sair da situação aflitiva em que vivemos. Tudo bem, vendam-no o mais que puderem. Mas, por favor, façam-no no recato dos gabinetes e nos encontros bilaterais, durante os almoços e recepções.

Agora, numa assembleia como aquela, francamente não gostei de ver.