quinta-feira, fevereiro 26, 2009

Carnaval na Serra

Tão mau como passar férias em Agosto no Algarve é, seguramente, ir gozar o carnaval na Serra da Estrela, em Ovar, em Torres Vedras, na Mealhada ou em qualquer outro sítio de multidões, onde a rapaziada vai soltar a sua apetência foliona que esconde dentro de si durante o resto do ano.

Mas a Serra tem um chamamento especial - a neve. É certo que lá não se encontram nem a animação dos desfiles das escolas de samba nem aquelas meninas meio despidas que se abanam todas não sei se pela dança se pelo frio do inverno que temos por cá, mas o fascínio de ver todo aquele branco contrastando com o negro dos penhascos é, de facto, motivo mais do que suficiente para que se registem as “excursões” que enchem a Serra nesta altura.

E se a beleza é fantástica, ainda por cima este ano em que havia neve com fartura, por outro lado, não pode haver, como referi, pior altura para se visitar a Serra. São filas infindáveis de veículos estrada acima, em ritmo lento ou parado, desgastando as embraiagens e fazendo disparar os consumos para níveis impensáveis.

Percebe-se, todavia, que em tempo de férias da pequenada, a neve seja um bom motivo para a descoberta daquela brancura só vista em filmes ou para um lazer diferente do quotidiano. Quanto aos outros, os que não têm crianças, aqueles que poderiam ter-se deslocado uma ou duas semanas antes, em que teriam encontrado certamente ainda mais neve, não se percebe porque é que só agora se lembraram de se meter em tamanhas confusões? Talvez porque, por tradição, o casamento entre a neve e o carnaval é demasiado apelativo, se bem que de carnaval na serra, não tenha visto rigorosamente nada. Nem uma máscara sequer, um só miúdo vestido de polícia que fosse.


Uma nota final, esta sim algo “singular”, para um folheto que nos foi distribuído em plena serra pela Cruz Vermelha Portuguesa da Covilhã que dava conta de 12 conselhos úteis. Genericamente úteis, concedo, mas que atendendo a que estávamos em plena estrada de montanha, não consegui entender como é que nos safaríamos se tivesse havido algum problema. Avisos como:

“Deve trazer correntes para poder circular sobre a neve”; ou
“Deve circular com o depósito cheio de combustível”; ou ainda
“Deve colocar anti-gelo no radiador da sua viatura”.

Bem, de qualquer forma, são boas as intenções e, como tal, se não foram assim tão proveitosas nesta visita podê-lo-ão ser numa próxima. Assim como, numa próxima, a elaboração dos folhetos deverá ter um cuidado acrescido na redacção do português, evitando erros como:

“afim de …” em vez de “a fim de …”, ou a não utilização do hífen em palavras como “pára-brisas”.

Enfim, casos em que a expressão “É Carnaval ninguém leva a mal” não pode ser levada tão à letra.

sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Vingança

No início deste ano publiquei aqui no blogue uma mensagem/poema de Carlos Drummond de Andrade. Hoje revisito-o.

Admiro Drummond de Andrade como poeta e escritor mas a sua ironia admirável surpreende-me e diverte-me quase sempre.

Gostaria de partilhar convosco uma crónica do grande autor brasileiro



“Satânico é meu pensamento a teu respeito, e ardente é o meu desejo de apertar-te em minha mão, numa sede de vingança incontestável pelo que me fizeste ontem. A noite era quente e calma, e eu estava em minha cama, quando, sorrateiramente, te aproximaste. Encostaste o teu corpo sem roupa no meu corpo nu, sem o mínimo pudor! Percebendo minha aparente indiferença, aconchegaste-te a mim e mordeste-me sem escrúpulos.
Até nos mais íntimos lugares. Eu adormeci.
Hoje quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em vão.
Deixaste em meu corpo e no lençol provas irrefutáveis do que entre nós ocorreu durante a noite.
Esta noite recolho-me mais cedo, para na mesma cama, te esperar. Quando chegares, quero te agarrar com avidez e força. Quero te apertar com todas as forças de minhas mãos. Só descansarei quando vir sair o sangue quente do seu corpo.
Só assim, livrar-me-ei de ti, pernilongo (1) Filho da Puta!!!!”


(1) É, no Brasil, uma variedade de mosquito.




quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Homens de saias?

A minha idade e inteligência há muito que me aconselham a que não diga não a novos usos e costumes por mais estranhos que pareçam. Ao fim e ao cabo, tento seguir o velho adágio popular que sugere “Não digas que desta água não beberei”.

Vem isto a propósito de um movimento que nasceu em França no ano passado e que agrupa uns quantos homens que querem adoptar a saia como peça de vestuário habitual. Nem mais.

É o grito do Ipiranga masculino. São os homens a exigirem o direito de livrar-se da “ditadura das calças” e a pretenderem libertar-se do guarda-roupa tradicional que, até aqui, era um símbolo dos varões, muito embora as mulheres já vistam calças há muito.

Mas isso faz-nos reflectir. Se as mulheres lutaram duramente ao longo de anos e acabaram por conseguir usar trajes tipicamente masculinos (as calças e as gravatas são bons exemplos disso) porque não, agora, os homens quererem usar roupas que até aqui lhes eram proibidas? E, convenhamos, a motivação para isso bem pode ser apenas o conforto, o prazer ou a vontade de quererem ser diferentes.

Este fim-de-semana ouvi o estilista Miguel Vieira dizer que o movimento dos “com saia” está a alastrar de tal forma que tem recebido encomendas de todo o mundo. Vieira esclareceu que não se trata de saias femininas para serem usadas por homens mas peças de roupa desenhadas especificamente para eles. E, note-se, esta tendência começa a ter alguma força e não é, de forma alguma, uma pura manifestação de excêntricos ou de homens efeminados.

Deixemos, pois, os puritanismos de lado e esqueçamos aquele ensinamento da Sagrada Escritura que diz “A mulher não se vestirá de homem, nem o homem se vestirá de mulher, e aquele que o fizer será abominável diante do Senhor, seu Deus”.


Provavelmente mais cedo do que se possa imaginar veremos nas nossas ruas homens elegantemente vestidos com … saias.

E depois? É o admirável mundo novo!


Os eremitas

A SIC passou em vários telejornais uma reportagem que mostrava dois homens que vivem em grutas às portas da capital. Sem água canalizada, sem electricidade, sem conforto, sem higiene e cujo sustento é conseguido nos caixotes do lixo.


No mesmo dia o Diário de Notícias informava que um outro homem, de 80 anos, vive há cinco numa caverna escavada entre duas pedras, no concelho de Oliveira do Hospital. Uma pessoa que, aliás, tem milhares de euros para receber da sua reforma, dinheiro que ele nem sequer pretende receber.

Tem algum jeito nunca ter dado nada ao Estado e agora querem dar-me a mim?", questiona.

Sobrevive de algum trabalho na floresta e de uns cabos de enxada que faz e que vende pelas feiras. Alguma lavoura (semeia centeio para fazer o pão) e carne que compra de vez em quanto asseguram-lhe os hábitos frugais.


São casos chocantes que dão que pensar. O que terá levado estes homens a refugiar-se nestes seus universos? Será que foi tão-só a vontade de serem inteiramente livres ou, pelo contrário, foram vítimas dos azares e desencontros da vida?

São pessoas que “vivem” sós, acompanhados apenas pela sua liberdade, pelo seu mundo, pelo seu pensamento e, quem sabe, pela sua felicidade.

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Era uma vez … um buraco negro

Se bem me lembro, a História da Carochinha que tanto ouvi em pequeno era mais ou menos assim:


Era uma vez uma carochinha que achou cinco réis ao varrer a cozinha. Com eles, foi comprar laços, fitas e enfeites para ficar mais bonita e pôs-se à janela para ver quem queria casar com ela:

- Quem quer casar comigo, que sou bonita e boazinha?
Passou um burro e respondeu-lhe:
- Quero eu, quero eu.
- Como te chamas?
- Om, im om, om im om.
- Não serves para casar comigo porque tens uma voz muito grossa.

No outro dia passou um cão e ela tornou a perguntar:
- Quem quer casar comigo?
- Quero eu, quero eu.
- Como te chamas?
- Ão, ão, ão.
- Não serves para casar comigo porque tens uma voz muito feia.

Outro dia passou um gato e ela tornou a perguntar:
- Quem quer casar comigo?
- Quero eu, quero eu.
- Como te chamas?
- Miau, miau, miau.
- Não serves para casar comigo porque tens uma voz muito fina.

Num outro dia passou um rato e ela tornou a perguntar:
- Quem quer casar comigo?
- Quero eu, quero eu.
- Como te chamas?
- Sou o João Ratão.
- Ah! Sim. Tu serves para casar comigo.

O João Ratão e a Carochinha lá casaram e foram felizes até que um dia aconteceu uma desgraça. Um domingo, a Carochinha foi à missa e o João Ratão ficou em casa.
- Não mexas no tacho que está em cima do fogão – preveniu a Carochinha.
Mas o João Ratão, como era muito guloso, mal ela saiu foi logo espreitar lá para dentro e truz, catrapus, caiu dentro do caldeirão.
Quando a Carochinha regressou a casa e não o encontrou, procurou, procurou, correu a casa toda e nada. Pensou em ir comer sozinha. Quando foi tirar a comida apanhou um grande susto porque viu lá dentro o seu querido marido. Começou a chorar e a dizer:
- Ai, meu rico João Ratão, morreu cozido e assado no caldeirão! Ai, meu rico João Ratão, morreu cozido e assado no caldeirão!



Recordo-me que esta era uma das histórias que mães e avós contavam às suas crianças. E, provavelmente, contaram-na durante gerações.

Hoje os tempos são outros mas as histórias quase as mesmas. Só que a ingenuidade e a curiosidade de antanho foram substituídas pela ambição desmedida de agora.

Por isso me lembrei da História da Carochinha quando vi o vídeo que se segue





domingo, fevereiro 15, 2009

Cartas de Amor

Embora com algumas horas de atraso não posso deixar de falar no dia dos namorados que se celebrou ontem.

Quero recordar o dia, mas não naquilo em que ele se tornou, uma mera troca de prendinhas para animar o comércio. Prefiro lembrar outros tempos quando os apaixonados faziam questão de exaltar o amor e o romantismo.

Para além de ofertas sem significado que hoje os namorados oferecem um ao outro, como que para assinalar a data e nada mais, seria bem melhor que continuasse a existir o sentimento de outrora, manifestado em cartas, bilhetes-postais e objectos simbólicos. Coisas, frases e poemas um tanto ou quanto românticos mas assumidamente “ridículos”.

Fernando Pessoa sublimou esse espírito no poema

"Cartas de Amor"


Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
_________
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
_________
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
________
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
______
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
______
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
_______
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

E um pouco de paciência, não?

As novas tecnologias têm vindo a conquistar as diversas gerações. Sucessivas reportagens de televisão dão conta de pessoas de idade bem avançada que se mostram encantadas com a descoberta do computador, em cujo teclado vão compondo lentamente as mensagens que já se aventuram a enviar pela internet aos seus familiares.

Nos supermercados vêem-se cada vez mais idosos a usar cartões de débito e de crédito.

Constatamos com satisfação a existência de pessoas que embora não tenham “nascido” com a informática, não a repudiam e tentam vencer a todo custo as suas fragilidades evidentes.


Há pouco tempo, numa fila de caixa de supermercado, um jovem que estava atrás de mim dizia entre dentes que devia ser proibido os “velhos” usarem cartões. Isto porque o senhor que utilizava a maquineta de pagamento estava a ser demasiado lento. Ainda por cima o senhor não fizera a pressão suficiente sobre as teclas e para cúmulo, o pior dos crimes, enganou-se a introduzir o código e teve que recomeçar com a operação.

Sei que toda a gente anda muito apressada na correria do dia-a-dia mas seria bom que houvesse um pouco mais de paciência para com quem – neste caso os idosos - deveria merecer um respeito acrescido. E são merecedores dessa consideração, em primeiro lugar pela idade que têm e, depois, porque mesmo sem terem tido a preparação necessária para a utilização destas tecnologias, mesmo assim, não desistiram de lutar, não quiseram sentir-se infoexcluídos e não baixaram os braços nem se submeteram àqueles que detêm agora o “poder” das máquinas. Ao contrário, devemos louvar o seu esforço e temos que mostrar compreensão para com essas pessoas “mais lentas”.

Por isso, naquela fila de caixa de supermercado, fiquei tão indignado que não pude deixar de encarar o jovem que estava atrás de mim e disse-lhe com cara de poucos amigos

“E um pouco de paciência, não?”


quarta-feira, fevereiro 11, 2009

Ajude os Bancos Alimentares com o … IRS




Não venho, desta vez, apelar para a vossa habitual colaboração nas recolhas de alimentos que são feitas pelo Banco Alimentar Contra a Fome. Disso tratarei na altura própria.
Agora, quero apenas recordar-lhes que se aproxima o tempo de tratarmos do IRS. E lembro que os prazos para envio da Declaração de IRS de 2008 são os seguintes:

Declarações entregues em suporte papel:
-de 2/Fevereiro a 16/Março para declarar exclusivamente rendimentos das categorias A e H;
-de 16/Março a 30/Abril, nos restantes casos.
Declarações enviadas pela internet:
-de 10/Março a 15/Abril para declarar exclusivamente rendimentos das categorias A e H;
-de 16/Abril a 25/Maio, nos restantes casos.


Mas porque é que eu me lembrei de vir hoje com esta conversa?

É que, já que somos obrigados a satisfazer esta obrigação fiscal, poderemos fazê-lo de uma forma mais solidária e, ainda por cima, sem que isso nos custe um único cêntimo.

Que fazer, então?

basta que no
Modelo 3 - Anexo H - Benefícios fiscais e deduções no
Quadro 9, campo 901 - Consignação de 0,5% do Imposto Liquidado
Escreva: Federação Portuguesa dos Banco Alimentares Contra a Fome
NIPC - 504 335 642

Ajude os Bancos Alimentares com o seu IRS.
Termino, como de costume
"Alimente esta ideia"

terça-feira, fevereiro 10, 2009

“Parte-lhe os rins”

Só hoje consigo falar no assunto porque, desde domingo, ainda estou a tentar recuperar daquela situação traumática. Não, não estou a falar da grande penalidade que o árbitro do Porto-Benfica “viu” quando estava a um metro da jogada e que eu, que já não tenho a visão de outrora, não tive dificuldade em avaliar que ali não houve falta alguma.

Do que eu estou a tentar recuperar é da “furiosa” vivacidade que os meus companheiros de sala manifestaram durante todo o jogo. Eram exclamações de ansiedade, de desolação, de fúria e também de alegria.

As interjeições acompanhavam o erguer furioso dos assentos e ouviam-se expressões muito curiosas que, suponho, fazem parte da gíria futebolística, como aquela que um amigo meu, ferrenho do clube da Luz, gritou algumas vezes “Parte-lhe os rins”, como que a incentivar o jogador benfiquista a deixar o adversário tripeiro completamente fora de si e da jogada.

Não que me incomodassem com todo aquele barulho, para além do barulho é claro, mas confesso que me faz alguma impressão ver toda aquela rapaziada a levantar-se gritando um “Ohhhhhh!” longuíssimo e prolongado, quando o atacante da sua equipa disparava para a baliza adversária, desolados por a bola não ter entrado por uma unha negra. Só que no jogo que eu estava a ver (não sei se era o mesmo que os meus companheiros), a tal bola passou pelo menos a dez metros do poste. Porventura alguém duvidava que a bola ia para fora?

Claro que não sou um adepto que sirva de referência a quem quer que seja. Sou tremendamente frio a ver um desafio e as minhas reacções de alegria não passam de um braço que ergo discretamente, de um pezinho que alongo sem dar nas vistas, de umas palmas contidas e pouco mais. “Low Profile”, será o termo que, talvez, melhor traduza o meu estilo de adepto. E não sofro ou exulto com os lances? Claro que sim, mas para dentro.

Por isso, todo o entusiasmo que transbordava na sala daquele restaurante onde estava plantado o ecrã gigante, se bem que contagiante para a maioria, não chegou para eu gritar de raiva ou de satisfação. Isso deixei para aqueles adeptos entusiásticos que não se cansavam de apoiar a sua equipa ou de invectivar os adversários e, principalmente, o árbitro.

E, já que volto a falar do árbitro, penso que é tempo de quem dirige a classe mandar os seus árbitros a consultas de rotina de oftalmologia. É que se não são incompetentes nem corruptos, muitos deles têm que saber se as suas dioptrias ainda são as adequadas.

Pedro Proença, o árbitro do Porto- Benfica, apesar de ter reconhecido logo após o final da partida que errou ao marcar a grande penalidade que possibilitou o empate do Porto e de ter pedido desculpas a toda comitiva encarnada, não pôde evitar um grito unânime de revolta e de ódio de todos os adeptos do glorioso. Até eu fiz uma careta de desagrado.

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Dura Lex Sed Lex

Soube-se há dias de mais uma situação que brada aos céus, igual a tantas outras que têm acontecido ao longo dos anos. Desta vez foi o Tribunal Constitucional que divulgou que todos os candidatos à Presidência da República em 2006 infringiram a lei ao cometerem, em conjunto, 47 irregularidades.

Perante isto, é natural que se pergunte. Então, e o que é que lhes aconteceu ou vai acontecer? Nada, rigorosamente nada. Essas faltas foram assinaladas há já um ano, mas como o Ministério Público não aduziu qualquer acção contra os infractores, o Tribunal Constitucional acabou por arquivar o processo.

“Dura Lex Sed Lex”, é a frase que se costuma empregar quando se pretende dizer que a lei existe e é para ser cumprida por todos. Rigorosamente por todos.

Nada de mais falso. Por princípio, as leis devem ser cumpridas pelos cidadãos. Mas não por todos. Fazem-no apenas aqueles que são cumpridores por natureza e por destino e os que a elas não podem fugir. Quanto aos mais poderosos, aos que têm mais dinheiro ou acesso a melhores meios de defesa, aí, sempre existem possibilidades de uma escapadela que a própria justiça facilita e sem que haja lugar a sanções.

Não será bem assim, dirão alguns. Pois eu acho que sim, infelizmente. Perante a complacência dos poderes instituídos e o nosso encolher de ombros resignado, continuamos a coleccionar casos de abjecta diferenciação entre os cidadãos.

Senão, como poderemos entender que estes senhores candidatos ao mais alto cargo da Nação – todos eles figuras distintas da nossa política – nem sequer tenham sido convidados a pagar uma coima que fosse?


quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Boa notícia

Foi anunciado nos últimos dias que vão abrir este ano em Portugal 71 novos hipermercados e supermercados.

À primeira vista e face à conjuntura adversa, tanta fartura parece ser contraditória. Se por um lado, a maioria da população tem que fazer uns esforços danados para sobreviver, reduzindo certos consumos, inclusive os alimentares, por outro, e em suposto contra ciclo, vão abrir dezenas de novos espaços comerciais.

E essa aparente contradição torna-se ainda mais evidente quando se sabe que o desemprego não pára de crescer. Só no mês passado foram anunciados mais de 2 200 despedimentos em Portugal. E o número vai continuar a aumentar.

Não havendo, portanto, trabalho nem dinheiro pergunta-se, para quê, então, a abertura das novas catedrais de consumo?

A resposta é clara. Apesar de todas as dificuldades, as empresas promotoras dessas superfícies fazem questão de demonstrar confiança na economia do país e propõem-se investir vários milhões de euros nestes empreendimentos. E para que possam levar por diante as suas iniciativas vão ter que criar novos postos de trabalho.

Nos tempos que correm, é ou não é uma boa notícia?

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Será viável?

Prevê-se que em 2009 o número de desempregados em todo o mundo atinja os 230 milhões. É, por isso, absolutamente necessário que os governos tomem medidas ainda mais eficazes do que estão a fazer actualmente. Até por que, neste momento, a estratégias de todos eles quase se confinam a “ir tapando buracos” quando surgem novos problemas. Vão navegando conforme o estado dos mares.

Mas as coisas estão cada vez mais feias e adivinha-se uma crise social grave.

E a pergunta que todos fazem é como minimizar a situação? Há quem defenda que a solução passe por uma redução imediata de impostos. Há quem advogue que o problema poderá ser resolvido com uma forte redução da despesa pública. No entanto essas medidas têm encontrado resistências dos diversos governos e, ainda que fossem aplicadas, ninguém sabe ao certo se seriam suficientes.

Uma alternativa nova começa a ser discutida mas irá certamente ser muito contestada pelas pessoas que até agora têm sido menos afectadas. São cada vez mais os que sugerem que os salários mais altos possam vir a sofrer uma redução de 5% a 10%, de forma a tornar sustentável as empresas sem que seja necessário despedir pessoal.

A questão está em saber se essa possibilidade, a verificar-se, só será viável através de uma imposição, ou se pela aceitação solidária daqueles que ainda têm vencimentos muito generosos.

Nunca em tal se pensara até agora. Mas é bom que se comece a encarar tal hipótese. A bem de todos.

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

De novo a questão das empresas de rating

Na última quarta-feira publiquei aqui um texto em que dava conta das minhas dúvidas sobre a actuação das empresas de rating e sobre as suas notações que eu considero serem, em muitos casos, tendenciosas, destorcidas e, no mínimo, incompetentes.

Na edição do Expresso do passado sábado, Nicolau Santos também escreveu sobre o mesmo assunto, numa crónica a que deu o título “A fraude do rating da S&P”, de que passo a transcrever uma parte:



“ … a Standart & Poors avisou quatro países da zona euro de que o seu rating estava sob vigilância e, menos de uma semana depois, a três deles (Grécia, Espanha e Portugal) baixou-lhes o rating para AA+ sem apelo nem agravo. O quarto, a Irlanda, cujas previsões de recessão (-5%), défice orçamental (-11%) e situação do sistema financeiro são bem piores do que em Espanha e em Portugal, continua a manter a classificação de AAA. Também o Reino Unido mantém o triplo A, confirmado a 13 de Janeiro, apesar de em termos relativos a economia inglesa se ter afundado muito mais e da banca estar falida e à beira de ter de ser nacionalizada.
Isto é injusto, incoerente, não tem qualquer justificação e afecta profundamente a vida dos cidadãos dos países a quem a S&P, como os imperadores romanos, decide que têm de pagar mais do que outros em situação pior.
Além do mais, a S&P falhou redondamente na crise do crédito imobiliário nos Estados Unidos, tendo de rever, no mesmo dia, a notação de mais de 90 (!) activos financeiros ligados aquela área de actividade. E falhou no rating da AIG, da Lehman Brothers, da Islândia. Falhou, falhou, falhou. E até agora não pediu desculpa, não se retratou, e está a dar ratings onde beneficia claramente os países anglo-saxónicos em detrimento dos países mediterrânicos...”


As opiniões deste bloguista não passam disso mesmo, de humildes opiniões. No entanto, a coincidência de pensamento sobre esta matéria, vinda de vários sectores, começa a ter um peso significativo. E concordo em absoluto com Nicolau Santos quando afirma que é tempo da Comissão Europeia avançar com a criação de uma agência europeia de rating que ponha cobro a quem, de forma clara e despudorada, tem beneficiado os países anglo-saxónicos.


As suspeitas, os suspeitos e os outros

Todo este enredo do Freeport de que se tem falado até à exaustão nas últimas semanas, cheio de conspirações e histórias mal contadas, de trafulhices quase certas e de politiquices garantidas, aponta em várias direcções e em direcção a vários suspeitos.

Porém, quase nunca mencionam o nome de uma personagem que, certamente, não terá grande relevância para a investigação deste caso, mas que não deixa de ser uma pessoa a ter em devida conta.
Refiro-me a Sean Collidge, fundador do grupo Freeport que, por mero acaso, veio muitas vezes a Portugal justamente para tratar do projecto de Alcochete, e que no Reino Unido onde caiu em desgraça, foi acusado de perjúrio, fraude e desvio de dinheiro da própria empresa.
Pelos vistos Colidge nada terá a ver com as alegadas corrupções que poderão ter inquinado o licenciamento do outlet da margem sul, o maior da Europa. Pelo menos a polícia portuguesa e a ... comunicação social cá do burgo não o indicam como suspeito. Até agora, pelo menos.
No entanto, e por que não vá o diabo tecê-las, talvez não fosse despropositado fazer recair sobre o homem uma suspeita, por pequenina que ela fosse. É que, segundo declarou a um jornal inglês
"Sinto-me feliz por poder roubar seja o que for a quem quer que seja"
Como diria o saudoso Fernando Pessa "E esta, hein?"