terça-feira, março 03, 2009

Palavras leva-as o vento

Uma das principais diferenças entre um cidadão anónimo e uma figura pública é que, enquanto que a primeira passa perfeitamente despercebida no meio da multidão, a figura pública está constantemente exposta e, por isso, tudo o que diz e faz é fatalmente julgado pela opinião pública e por uns quantos comentadores de serviço que estão sempre prontos a cascar forte e feio à menor escorregadela.

Quem é muito conhecido, quem aparece frequentemente nas televisões e nos grandes palcos, não pode dar-se ao luxo de se pôr a jeito de, ao mínimo deslize, ser transformado em saco de pancada.

Mesmo aqueles desconhecidos que pretendem “dar ares”, utilizando conhecimentos que não têm, são muitas vezes desmascarados e, no mínimo, ninguém os livra do ridículo.

No entanto, a esses, é mais fácil dizerem-se eruditos e mencionarem títulos de obras escritas por autores mais ou menos obscuros. Se proclamarem que o livro “A minha aventura em África” foi escrita por um tal Mário Jorge, quem os ouve fica de olhos desmedidamente esbugalhados perante tamanho saber, apenas e só porque não fazem a mínima ideia se aquele escritor existe ou existiu e se há ou houve essa tal obra citada pelo orador.

Com as figuras públicas, porém, tanta eloquência e sapiência (ou falta delas) podem ser facilmente detectáveis, uma vez que o auditório é imensamente mais vasto e, dentro dele, pode haver alguém mais esperto ou mais sabedor do que o farsante. É, pois, necessário ter mais cuidado para não correr riscos inúteis. E não são poucos os casos em que as ditas figuras metem o pé na argola.

Há uns anos
Clara Pinto Correia copiou uma boa parte de um texto publicado na revista “The New Yorker” e publicou-o num artigo para a Visão como se ela tivesse sido a autora. Foi descoberta e despedida.

Agora foi Pedro Passos Coelho que deu para tornar público toda a sua vasta cultura, citando nomeadamente os livros e os filmes que influenciaram a sua formação. Às tantas, tropeçou em tanto saber e vá de lembrar a leitura da “Fenomenologia do Ser” de Sartre. Tropeçou e caiu porque Jean-Paul Sartre jamais escreveu tal coisa e Pacheco Pereira, que não perdoa este tipo de falhas, denunciou o caso no seu blogue.


A terminar, e sem querer desculpar o “lapsus Linguae” de Passos Coelho, sempre quero dizer que li (eu li mesmo) “A Oeste Nada de Novo” de Erich Maria Remark numa versão portuguesa intitulada “Nada de Novo na Frente Ocidental”. A mesma obra e o mesmo autor, provavelmente com traduções feitas por diferentes pessoas, o que poderia, se ele nos lesse, incomodar a língua viperina de José Pacheco Pereira.



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