domingo, maio 17, 2009

“À mulher de César…”

Acredito que Cavaco Silva seja um homem sério. Mas, digo-o com todo o respeito, mostra-se, por vezes, demasiado simplório quando fala.

Agora foi na Turquia. Ao terminar a visita oficial àquele país, deslocou-se à região da Capadócia onde, perante os jornalistas, afirmou:

"Visitar a Capadócia era desde há muito tempo um sonho da minha mulher. E depois de ler alguns livros sobre a Capadócia, eu próprio comecei a sentir-me atraído por esta parte da Turquia que considero extraordinária".

Senhor Presidente, eu sei bem o que sentiu ao fazer essa visita. Já estive também na Capadócia e concordo em absoluto que é uma região extraordinária onde, a cada passo, se respira História.

Mas há um porém. É que eu fiz essa viagem pagando-a do meu bolso. Quanto à visita do casal presidencial (e de mais toda aquela gente que os acompanhava – deputados, empresários e até a fadista Kátia Guerreiro - que nós vimos nas televisões) não estamos seguros de quem é que suportou a despesa. Sobretudo, precisamente, na ida até à Capadócia.

Admito, no entanto, que o acrescento ao roteiro oficial tenha sido oferecido pelo governo turco. Estou certo de que foi, ainda por cima tendo em conta que o apoio de Portugal à entrada da Turquia na União Europeia é precioso.
Mesmo assim, o senhor Presidente deveria ter tido um pouco mais de cuidado com as suas palavras. Provavelmente não terão soado nada bem a quem enfrenta tantas dificuldades no dia-a-dia e que não consegue sequer “matar” as suas necessidades essenciais quanto mais satisfazer sonhos, por mais simples que sejam.
E dizer que "visitar a Capadócia era desde há muito tempo um sonho da sua esposa", poderá ter levado algumas pessoas a pensar que, depois da visita de Estado, a excursão extra estava a ser paga pelo erário público.

É que, como se costuma dizer, “ À mulher de César não basta ser, tem também que parecer”.

2 comentários:

provocador disse...

O Presidente pode-se engasgar às vezes mas as “graças” dele não passam despercebidas. Como aquela resposta que deu agora quando lhe perguntaram o que é que achava sobre aquele imbróglio em que se meteu Lopes da Mota, o Presidente do EUROJUST, :

Essa sua pergunta não é justa, “just” aqui na Turquia, mesmo quando o espírito é “euro”, ou seja europeu.

Palavra que me fartei de rir.

Vexata disse...

Netas coisas da escuta, apanhámos uma telex em percurso descendente na A2. Aqui partilho convosco:

- As saudades que tenho de Boliqueime e do cheiro a gasolina!
Ainda me sinto ai.
C.S.