quarta-feira, setembro 30, 2009

E então, nada …

Já em Julho do ano passado Cavaco Silva sobressaltou os portugueses com o anúncio de uma comunicação ao país. Ninguém sabia (nem pouco mais ou menos) o que se iria passar, se os espanhóis tinham invadido o Alentejo, se tinha sido descoberto petróleo em Peniche ou se ele se iria demitir. Resultado, Cavaco só queria informar o país que não estava de acordo com aquela história do Estatuto dos Açores apresentado pelo Governo. Interrompeu ele as suas merecidas férias para, afinal, dizer nada que verdadeiramente interessasse ao Zé-povinho.


Como não aprendi com o sucedido, o anúncio de novo discurso para a abertura dos telejornais da última noite voltou a deixar-me nervoso. Tanto mais que, desta vez, adivinhava-se que a “inventona” das escutas e da demissão do assessor presidencial iriam, finalmente, ser explicadas em pormenor. Mais, pressentia-se que, de uma vez por todas, os culpados teriam nomes e as muitas dúvidas que perpassavam pelas cabeças de todos iriam ser clarificadas.


Nada disso. O Presidente foi agressivo, confuso, deixou todos com mais dúvidas ainda e não deu azo a que houvesse contraditório, por mais pequeno que ele fosse. Depois do comunicado “fechou a loja” e todos ficámos com montes de perguntas entaladas na garganta.


Foi um discurso estranho com justificações demasiadas. Pergunta-se, tanta agitação para isto?

terça-feira, setembro 29, 2009

Impossibilidades


Quase a atingir o final da primeira década do século XXI, quando todas as tecnologias não param de se superar e de nos surpreender, não podemos deixar de ficar perplexos sobre situações anacrónicas que teimam em persistir.


Como esta de no ciclo eleitoral em curso estarem recenseados mais de 9,4 milhões de eleitores, dos quais – e segundo um estudo de dois investigadores do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa – 930 mil eleitores registados não poderem votar, a maior parte por … já terem morrido.


Na verdade, sabe-se que a existência destes eleitores-fantasmas provoca um nível de abstenção acrescido (mais dez por cento que a abstenção “normal”) e pode, eventualmente, influenciar a obtenção (ou não) de uma maioria parlamentar. Como aconteceu, de resto, em 1999 quando este tipo de situação terá deixado António Guterres a um passo de ter a maioria no Parlamento.


Mas se esta questão não se colocou na eleição de domingo, porque é que eu fui falar no assunto? Apenas porque não aceito a eternização dum erro com base numa justificação no mínimo bizarra – “relativamente às pessoas mortas é tecnicamente muito difícil alterar os registos dos cadernos eleitorais”.

É que já nem falo daqueles que saíram ou entraram no país. Admito que a esses seja difícil controlá-los. Estou a referir-me apenas aos que morreram mesmo. Será que não existe forma de “abatê-los” nos cadernos? Meus senhores estamos na era da informática e neste campo não há impossibilidades. Pode ser mais caro, levar mais tempo mas, em querendo, tudo se faz.

O próprio secretário-geral da Administração Interna reconheceu em Agosto que há 107 mil mortos que não podem ser descarregados. Não podem? PORQUÊ?

Tem que haver uma solução. A de continuarmos a ter “mortos-vivos” que estão legalizados é que ninguém pode aceitar.




segunda-feira, setembro 28, 2009

Já ganhámos


Calma, calma. Com o “já ganhámos” eu não disse que o partido que apoio ganhou as eleições para as legislativas. Tão-pouco estou a dizer que o partido que apoio não ganhou estas eleições. Ainda menos disse que o partido em quem confio, ganhando ou não as eleições, devia fazer coligações com outras forças partidárias. Mas também não leram em lado nenhum que eu gostaria que o meu partido não devesse coligar-se. Não disse nada disso.


Eu sei que ficariam mais descansados se eu declarasse já e publicamente em quem votei mas, a esse respeito, direi apenas o que algumas figuras públicas costumam responder: “O voto é secreto”, ponto.


O que afirmei é que já ganhámos … um novo governo. Melhor, ganhou um partido que fará um novo governo, nada mais.


Mas, já agora e continuando a não revelar onde pus a cruzinha, digam-me lá uma coisa para ver se apostei no “cavalo certo”. Quem ganhou as eleições? É que as televisões anunciaram que CDU, BE e CDS tinham aumentado o número de votos e de deputados no Parlamento e por isso ganharam. O PSD, embora descesse na votação, ganhou também porque conseguiu acabar com a maioria absoluta dos socialistas. O PS conseguiu trinta e tal por cento dos votos expressos, sete e meio por cento acima do partido que ficou em segundo lugar e, consequentemente, venceu. Isto para não falar da abstenção (maior do que nas últimas legislativas) que ainda teve mais votos do que o PS que ficou em primeiro lugar. Então, quem é que, afinal, ganhou estas legislativas?


Bom, enquanto espero pelo vosso esclarecimento, e para que não digam que eu não vos conto nada, confidencio-vos (aqui só entre nós que ninguém nos lê) que fui convidado para assessor do Senhor Presidente da República. Como ele revelou que mostra alguma atrapalhação em falar aos jornalistas, contrataram-me para ajudá-lo a desenvolver a técnica de “falar, falar, para dizer nada”.




sexta-feira, setembro 25, 2009

Remédios para todos os males


A exemplo do que acontece com outras actividades, proliferam por aí muitos “profissionais” que se propõem resolver todos os nossos problemas. São quase sempre africanos negros, astrólogos, quiromantes e especialistas em artes ocultas e todos – sem excepção – professores ou mestres. Recentemente, foi-me entregue em mão um folheto pelo próprio Professor Facoli que se ofereceu para me ajudar, garantindo-me total sucesso na resolução de males que outros não conseguiram solucionar.


Dizia o prospecto:


“Grande cientista, espiritualista e curandeiro, descendente de uma antiga e rica família com poderes de magia negra e branca. Especialista em todos os problemas sentimentais, abandono do lar, separações, aproximação e afastamento de pessoas amadas, alcoolismo, drogas ou outros vícios maiores, doenças espirituais, maus-olhados, invejas, impotência sexual, negócios, e outros problemas ou preocupações graves, etc. Efectua trabalhos com CADEADO VERDE, técnica simples e eficaz e rápido que faz voltar ao domicílio conjugal uma esposa ou marido. 100% de resultado no espaço de uma semana. Consultas todos os dias das 09h00 às 20h00. Contacto …”


Dias depois recebi de um outro “especialista” que me pareceu não ser o mesmo (não sou muito dado a fisionomias) mais um folheto que dizia pouco mais o menos o mesmo. Pelo que, deduzi, que ambos façam parte do mesmo “escritório de astrólogos” e que, por isso, andem numa grande campanha de angariação de almas desesperadas.


Bom, mas o queria dizer é que encaminhei os tais folhetos para umas certas pessoas – e não insistam que eu não digo quem são – para que consigam melhorar dos males de que se queixam. Sobretudo com o auxílio da técnica do CADEADO VERDE que, sendo simples, é capaz de ser eficaz e rápida.


Cá por mim, vou continuando fiel ao chá “Hipericão do Jerez”. É um multiusos conhecido e não há maleita que lhe resista.





quinta-feira, setembro 24, 2009

Crónica um bocado nojenta

Hesitei em escrever sobre o tema que vos trago hoje, tanto mais que, para quem se lembra da coisa, “a coisa” propriamente dita é um bocado nojenta. E se é verdade que fez parte do dia-a-dia de um passado ainda recente, é igualmente verdade que nos custa acreditar que esse costume tenha sido considerado como um princípio higiénico a seguir.


Apesar das dúvidas e das pressões que foram feitas para não falar do assunto (não, não foram do Governo nem passou por aqui a “asfixia democrática”), decidi mesmo escrever sobre ele porque pensei que os meus amigos seriam levados a considerar que esta é uma típica crónica de final de verão, daquelas que são fruto de um pouco mais de sol na moleirinha.


Mesmo assim, devo dizer que a inspiração surgiu quando assistia a um concerto ao vivo dos “Deolinda”. Para quem nunca os viu actuar – e eu só os conhecia de ouvido – digamos que é um conjunto simpático, ela canta bem, é expressiva e os três músicos, todos de cordas e familiares entre si, têm uma sonoridade interessante, embora o conjunto me pareça situado – desculpem se ofendo as vossas sensibilidades e gostos – entre o popular e o “naif”.


Mas não quero fugir com o dito à seringa. Neste grupo, que agora está muito em voga, uma das coisas que achei mais divertida foi o facto de quase todas as canções serem previamente explicadas como se os presentes tivessem alguma dificuldade em perceber as letras. Em muitas delas o tempo gasto na tal explicação era praticamente igual ao tempo da própria canção.


A certo momento, a Ana Bacalhau, a solista dos “Deolinda”, empregou a palavra “escarrar”. Ouviram bem, “escarrar”, e é aqui que entra a parte um bocado nojenta deste texto.


Não vou entrar em detalhes sobre o significado do termo, deixo isso ao vosso cuidado, mas os mais velhos lembrar-se-ão daqueles recipientes em porcelana que se viam em muitos sítios - nas repartições públicas, nos consultórios médicos e em alguns cafés - conhecidos por “escarradores”. Um nome horrível e nojento, convenhamos, mas que, em alguns casos, até tinham uma aparência exterior bem janota, como se vê nos dois exemplares que estão “plantados” aqui ao lado, um da Vista Alegre e o mais rebuscado, do Rafael Bordalo Pinheiro. Um aparato para onde, ditavam os bons costumes da época, os cidadãos deviam dirigir o respectivo “escarro”.


“Bons costumes”, que, felizmente, foram sendo alterados com os tempos. Hoje os bons tornaram-se muito maus costumes e os cada vez menos frequentes seguidores de tal hábito (mesmo sem as tais porcelanas) são olhados com desdém e muitas vezes invectivados com apropriados impropérios pela sua conduta pouco (nada) higiénica.


Mas vejam como as coisas mudam. A pensar que li há tempos uma crónica escrita em 1933 que dizia, nomeadamente, o seguinte:

Pouca gente até á data se tem preocupado com o bem estar comum.
Existem meios de defeza a que a maioria das entidades não ligam aquela importância que deviam ligar e neste caso temos a utilidade do escarrador obrigatório nas casas publicas.

O uso do escarrador tem sido descurado no paiz.


Raras são as entidades que o utilisam. Aparte, algumas Repartições publicas, alguns barbeiros e não o vemos nas casas de espectáculos, nos hotéis, casas de hospedes, nas casas de pasto e nos diferentes estabelecimentos comerciais onde o publico aflui com mais frequência ...”


O português é o daquele tempo, os sublinhados são meus e minhas são as desculpas pelo conteúdo algo nojento da crónica de hoje.




quarta-feira, setembro 23, 2009

O ideólogo

José Pacheco Pereira saiu hoje a terreiro para afirmar publicamente que com a demissão do assessor de imprensa do Presidente da República, “Cavaco interferiu nas eleições … Cavaco Silva já está inevitavelmente comprometido com o resultado das eleições”.


Logo os partidos de esquerda se apressaram a dizer que esta “intromissão” presidencial esvaziou de vez a campanha do PSD. A “inventona” das alegadas escutas em Belém esfumou-se e isso pode ter prejudicado o partido social-democrata.


O mesmo pressentimento que deve ter sentido Pacheco Pereira, o velho ideólogo (ai, que saudades, já não dizia esta palavra há anos) primeiro do seu PCP-ML, o partido marxista-leninista de inspiração maoísta de que fundou a secção no norte do país nos bons velhos tempos e agora também ideólogo de Manuela Ferreira Leite.


Aliás, foi Ferreira Leite quem o foi buscar à cadeira de comentador político na televisão e nos jornais para a inspirar na sua acção política desde que chegou à presidência do PSD.


É, de resto, muito curioso, que Pacheco Pereira retorne à ribalta quando o partido atravessa momentos mais delicados.


Como quando aconteceu em Junho de 1998 quando subiu à tribuna da Assembleia da República para, depois de um prolongado silêncio parlamentar do PSD, proferir um discurso muito duro em que arrasou o governo de António Guterres e o PS.


A resposta veio no final do debate pela voz do então Ministro da Administração Interna, Jorge Coelho, que tecendo rasgados elogios à inteligência de Pacheco Pereira rematou da seguinte forma:


“O PSD quando está com problemas vai buscar Pacheco Pereira à prateleira. Pacheco Pereira funciona hoje como o Viagra do grupo parlamentar social-democrata”.


terça-feira, setembro 22, 2009

História mal contada

Sempre achei que frequentar cafés discretos na Avenida de Roma não era lá grande ideia. Não por serem uns cafés modestos mas porque a Av. de Roma já não tem o encanto de outrora, quando ela era uma das Avenidas Novas e o Café Vává albergava várias gerações de artistas e revolucionários e era, de alguma forma, o símbolo de uma certa inteligência urbana.

Pois, ao que parece, não foi isso que pensou o agora ex-assessor para a comunicação social do Presidente da República que hoje foi afastado do cargo pelo próprio Cavaco Silva.

E se calhar pensou mal. Se ele soubesse que aquele “eventual pedido” para publicação de um artigo no Público (para fazer crer que havia “alegadas escutas” em Belém mandadas fazer por um governo enxerido) e se soubesse que um “alegado e-mail” que comprometia o Presidente iria aparecer em vários jornais, certamente que o senhor ex-assessor de imprensa e homem de confiança de Cavaco, não se teria dado ao trabalho de ir tomar um café, num café discreto da Avenida de Roma.

O certo é que o homem ficou sem o emprego. O certo é que a história continua por esclarecer. Houve ou não escutas em Belém? Quem as fez, quem as ordenou, porque não houve esclarecimentos até agora do Presidente da República? Nem uma confirmação nem um desmentido sobre as denúncias das “alegadas espionagens”.

Os cidadãos têm o direito a saber a verdade. Mesmo que essa verdade passe apenas pela divulgação das razões que levaram ao despedimento deste assessor (“alegado mandante” da tal notícia), pelo aproveitamento político-partidário neste ciclo eleitoral que atravessamos ou, ainda, por um imbróglio bem urdido para “alegados e mais vastos ataques” a certos órgãos de comunicação social.

Para mim o assunto continua a necessitar de explicações.





segunda-feira, setembro 21, 2009

Certificação política


Na minha tertúlia de amigos falava-se este fim-de-semana sobre as próximas eleições. Conjecturavam-se cenários, delineavam-se políticas e discutiam-se as últimas sondagens, as compras de votos dentro dos partidos, as alegadas e tolas escutas em Belém, a paranóia da asfixia democrática aqui no Continente e as consequências que o projecto do TGV poderia acarretar para as gerações futuras. De repente, um dos presentes exclamou:


“Ah, isso é como lá na Ásia quando há cheias. Quando o rio sobe, o Bangla …desh”.


Assim, sem mais nem menos. Um trocadilho inteligente (!!!) que teve o condão de provocar a risota geral e desanuviar o ambiente.


Voltámos, no entanto, ao assunto das eleições mas, agora, abordando-o por uma outra perspectiva. O voto (que não é obrigatório no nosso país) deveria, ou não, ser uma prerrogativa de todos ou apenas concedida a alguns?


Era uma grande questão que até agora ainda ninguém tinha colocado. Afinal, se é necessário estar habilitado para se executarem certas tarefas porque não exigir aos cidadãos votantes uma certa preparação política, uma qualificação que fosse capaz de os preparar convenientemente para serem eleitores conscientes.


Disparate, disseram alguns. Então para se exercer o direito de voto vamos ter que criar uma espécie de certificação política?


Foi aí que a discussão começou a ficar mais acesa. Houve quem argumentasse que até para conduzir era necessária uma licença específica. Porque não para votar?


Um chegou mesmo a questionar se uma coisa desse género (a tal certificação) não seria de se aplicar também a quem pretendia ter filhos. E justificava que muitos dos casais (já com filhos) que conhecia não tinham a menor qualificação para assumirem essa responsabilidade.


Essa mesma falta de responsabilidade (política) que pode ser imputada a muitos eleitores. Vocês já viram aquelas entrevistas com os chamados “homens comuns” que passam na televisão? Muitas delas mostram bem que a maior parte dos eleitores vai lá pôr a cruzinha no boletim de voto por uma questão de simpatia pessoal com determinado candidato, porque certo partido lhes deu umas bugigangas giras ou porque ouviram um qualquer demagogo dizer que os iria beneficiar nisto ou naquilo. A alguns foi-lhes sacada a confissão de que estavam naquele comício mas não sabiam bem qual era o partido nem quem era o seu líder. Tinham-nos enfiado num autocarro e foram de passeio com umas sandes na bagagem.


O que nos levava a questionar onde é que, afinal, a consciência política se situa no meio disto tudo?


A noite ia caindo e o grupo começou a dispersar-se. Porém, fiquei com a ideia que esta história amalucada de uma certificação política para quem vai votar - por mais utópica que pareça – ficou a bailar na cabeça de todos nós.

sexta-feira, setembro 18, 2009

O “truca-truca”


Ainda embalado pela ironia do poema que publiquei no último post, achei que seria bom acabar esta semana bloguística com um registo de humor refinado, inteligente e, neste caso, espontâneo.

Vou recordar uma história verídica.

Em Março de 1982, o Deputado do CDS João Morgado, defendia durante um debate parlamentar sobre a despenalização do aborto até às 12 semanas o seguinte:


“a posição que defendo em relação ao aborto é exactamente igual à posição da Igreja Católica que proíbe o aborto porque entende que quando se pratica o acto sexual é para se ver o nascimento de um filho …”


Natália Correia, poetisa, intelectual, activista social e mulher inteligente, então Deputada do PSD, espantada com o que tinha ouvido, debruçou-se sobre a bancada e, logo ali no hemiciclo, tratou de escrever um poema que ficou célebre:


O acto sexual é para ter filhos – disse ele

já que o coito – diz Morgado –

tem como fim cristalino,

fazer menina ou menino;

e cada vez que o varão

sexual petisco manduca

temos na procriação

prova de que houve truca-truca.


Sendo pai só de um rebento,

lógica é a conclusão

de que o viril instrumento

só usou – parca ração! –

uma vez. E se a função

faz o órgão – diz o ditado –

consumada essa excepção

ficou capado o Morgado.


quinta-feira, setembro 17, 2009

Poeminha de Louvor ao “Strip-tease” Secular

De Millôr Fernandes

Poeminha de Louvor ao "Strip-tease" Secular


Eu sou do tempo em que a mulher
Mostrar o tornozelo
Era um apelo!
Depois, já rapazinho, vi as primeiras pernas
De mulher
Sem saia;
Mas foi na praia!

A moda avança
A saia sobe mais
Mostra os joelhos
Infernais!

As fazendas
Com os anos
Se fazem mais leves
E surgem figurinhas
Em roupas transparentes
Pelas ruas:
Quase nuas.
E a mania do esporte
Trouxe o short.
O short amigo
Que trouxe consigo
O maiô de duas peças.
E logo, de audácia em audácia,
A natureza ganhando terreno
Sugeriu o biquíni,
O maiô de pequeno ficando mais pequeno
Não se sabendo mais
Até onde um corpo branco
Pode ficar moreno.

Deus,
A graça é imerecida,
Mas dai-me ainda
Uns aninhos de vida!

quarta-feira, setembro 16, 2009

Os eternamente insatisfeitos

No último fim-de-semana assisti à inauguração de uma escola no Distrito de Santarém.


A obra, um conjunto de 3 edifícios localizados em diferentes freguesias do Concelho de Rio Maior, constitui um bom exemplo daquilo que se pode fazer quando a vontade de servir dos autarcas (independentemente dos partidos a que pertencem) e o interesse das comunidades é maior do que a politiquice palerma que tantas vezes se vê por aí.


Como se pode perceber na fotografia, tudo aquilo estava um mimo. As cores são alegres e o equipamento didáctico e de lazer são em quantidade e qualidade. Um regalo para o olhar e certamente um prazer para as crianças que os vão usufruir.


Ainda por cima, este conjunto de infra-estruturas levou mês e meio para fazer o projecto e recorrer a fundos comunitários e à Banca e sete meses apenas para executar. Tudo dentro do maior rigor técnico, onde nem sequer houve derrapagens orçamentais. Nem um dia nem um cêntimo a mais do que estava previsto.


Mais do que o suficiente para que os presentes estivessem satisfeitos e orgulhosos, certo?


Não, errado! Pois consegui descobrir entre a multidão alguém que estava indignado porque os cabides para as roupas das crianças estavam, na sua opinião, colocados um bocadinho mais alto do que a estatura média de miúdos de cinco ou seis anos.


É a velha mania de não valorizarmos devidamente aquilo que é bom e é bem feito e de salientarmos pela negativa uma coisinha que se consegue “inventar”, por mais insignificante que seja, só porque …eu sei lá, só porque sim.


Se eu vivesse em Rio Maior teria ficado vaidoso com o conforto e as condições duma escolinha como aquela. Só que, desgraçadamente, há gente que prefere valorizar o que está menos bem (e que é susceptível de ser melhorado) e de desprezar as capacidades de realização e tudo aquilo que serve (bem) o bem comum.


Feitios, como diria o outro.

terça-feira, setembro 15, 2009

Ricardo Araújo Pereira entrevista José Sócrates


Pela oportunidade, pelo bom humor e porque em Portugal é, provavelmente, a primeira vez que um Primeiro-Ministro se expõe num programa deste tipo, faço questão de passar dois trechos deste encontro improvável.


José Sócrates esteve muito bem e Ricardo Araújo Pereira foi excelente. Uma engraçadíssima entrevista onde também se falou de coisas sérias.





segunda-feira, setembro 14, 2009

Voyeurismo político


Terminaram os debates entre os líderes dos maiores partidos concorrentes às legislativas do próximo dia 27. Foram dissipadas algumas dúvidas que ainda nos inquietavam mas mantêm-se as imensas incógnitas sobre quem vai vencer as eleições e a forma como o país vai ser governado a partir daí.


Enquanto continuamos a reflectir, achei que seria interessante assistir a uns momentos de descontracção verificada antes do debate entre José Sócrates e Francisco Louçã.


Um voyeurismo político, se quiserem.



domingo, setembro 13, 2009

História de como ela gostava tanto de caramelos ou “contra os espanhóis, marchar, marchar”


Apesar de ter nascido em berço de ouro, desde cedo Manuela deixou-se encantar com as viagens que fazia com a família a Badajoz para comprar caramelos. Ir ao estrangeiro nesse tempo, nem que fosse só para estar do outro lado da fronteira e ter mais uns carimbos no passaporte não era coisa pouca. Espanha e os espanhóis, apesar das dificuldades que eles atravessavam nessa época, eram uma atracção.


Manuela cresceu. Durante os estudos soube que uma corajosa padeira desancou à pazada os castelhanos em Aljubarrota. Tomou-a como exemplo e decidiu ser como a Brites de Almeida – a partir dali caramelos e espanhóis nunca mais.


Mais crescida ainda foi política e, sabe-se lá como (por acaso eu sei) um dia foi administradora de uma instituição espanhola que, não vendendo caramelos, vendia aquilo com que se compram os mesmos. A vida tem destas coisas.


Arrependida de ter arrepiado caminho, jurou que voltaria a perseguir os estrangeiros. Vociferou contra os cabo-verdianos e ucranianos e, só para disfarçar, chegou a fazer acordos (ela fez mesmo acordos e não “acórdos”) com os espanhóis para levarem a cabo uma coisa a que chamavam TGV, uma espécie de carros eléctricos mas que andam muito depressa e que, provavelmente, trariam os caramelos para Portugal num piscar de olhos.


Nessa altura, já pessoa importante e até Ministra das Finanças do país, afirmou que esse tal TGV era decisivo e importante para Portugal. Na célebre cimeira luso-espanhola que se realizou na Figueira da Foz ficou decidido que o TGV teria a construção de quatro linhas, tanto mais que esse projecto iria estimular a economia em 1,7 por cento do PIB (eu não sabia bem o que era isso mas o meu vizinho do lado, que é caixa num banco, explicou-me que esse PIB tinha qualquer coisa a ver com a riqueza produzida, ou lá que é).


Vejam bem as voltas que a vida dá. Ela não gostava dos espanhóis mas fez-me amiguinha deles só porque é gulosa e porque queria que os caramelos viessem a ser vendidos (rapidamente) em Portugal.


Mas arrependeu-se, fez birra, zangou-se mesmo. Ontem, ouvi a Senhora Doutora Manuela dizer na televisão que já não quer o raio do TGV e que se está nas tintas para os espanhóis. Só não falou nos caramelos.


Desconfio que anda a fazer dieta.


sexta-feira, setembro 11, 2009

As lavagens



Mesmo sem ligar demasiado a alarmismos e pânicos doentios, a verdade é que a gripe A (ou Suína como continuam a chamar-lhe em muitos países), à velocidade que se tem propagado, prepara-se para atacar cada vez com mais intensidade. E o Outono e o Inverno que se aproximam, supostamente com temperaturas mais baixas, vão ajudar à festa.


Embora se saiba que existe uma encenação apocalíptica sobre as consequências provocadas pela doença - levada a cabo pelas grandes farmacêuticas para sacarem enormíssimos lucros - ainda assim, penso que a maioria da população se sente um pouco mais confortável ao ouvir o Governo falar em todo o rol de medidas que estão pensadas para travar a epidemia, todos os planos de contingência, todos os avisos e todas as precauções nas empresas, nas escolas, na administração pública e até nas equipas de futebol.


Em nome da prevenção, devem-se evitar os contactos sociais (mormente os apertos de mão e os beijinhos) e fugir dos locais com muita gente. A recomendação principal, no entanto, vai para a lavagem das mãozinhas sempre que possível. Lavagem, aliás, é uma das palavras mais pronunciadas actualmente.


Mas, pensem bem, e quanto ao dinheiro, ao seu manuseamento, o que devemos fazer? Querem coisa mais nojenta e que passa de mão em mão?


Solução: Lavar o dinheiro? Não, não se precipitem. É que, perante a lei, a lavagem de dinheiro é crime.


Ou será que estamos a falar de lavagens diferentes?

quinta-feira, setembro 10, 2009

Sempre fica a dúvida


Há uns anos, orientava uma acção de formação destinada a recém-admitidos numa empresa financeira. Como é costume nestas coisas, quis saber quem eram, de onde vinham e qual a formação académica de cada um. Maioritariamente eram jovens licenciados em Gestão, Economia, Direito e Informática, mas uma das formandas era licenciada em … Inseminação Animal.


Recordo que senti algum espanto em constatar que alguém tão preparado em matéria tão específica fosse trabalhar numa área que, em princípio, nada tinha a ver com aquilo para que tinha estudado.



Pois na semana passada li nos jornais um anúncio de emprego do Instituto Financeiro para o Desenvolvimento Regional (IFDR), que tem a seu cargo a aplicação dos fundos europeus FEDER e Fundo de Coesão. E, como requisito, exigia-se formação superior em Economia ou Gestão mas também em … História ou Antropologia.


Afinal, então como agora, sempre existe a possibilidade de se poderem “encaixar” outros saberes em funções que, presumivelmente, apenas estariam reservadas aos especialistas em (neste caso) Economia e Gestão.


Mesmo sem ser desconfiado, tanta “generosidade” coloca-me algumas dúvidas. Se há montanhas de desempregados licenciados em Gestão e Economia porque carga de água é que o anúncio abre a porta a outras aptidões que pareceriam ser melhor direccionadas para outros misteres? Ou será que havia alguém a quem fora prometido o lugar mas que era formado em História ou Antropologia?


quarta-feira, setembro 09, 2009

Logo agora que os miúdos começaram a aprender inglês …



Recuperada da gripe (sazonal) que a afectou aquando da festa do PSD no Chão da Lagoa, Manuela Ferreira Leite decidiu fazer campanha na Madeira e acompanhada pelo seu anfitrião, Alberto João Jardim, passeou-se pelo Funchal num carro oficial do Governo Regional.


Quando alguns jornalistas “picaram” Alberto João chamando a atenção para o facto de que a “boleia” paga pelos contribuintes não combinava lá muito bem com quem tanto se intitula como o arauto da verdade e da transparência, sabem o que o Sr. Presidente respondeu? Sabem, sabem?


Desbocado como sempre, Alberto João, disse com ar altaneiro:



“Fuck Them”



Nem mais.



E é para isto que o Governo do PS achou importante que os miúdos do ensino básico começassem a aprender inglês?

terça-feira, setembro 08, 2009

Em busca das moiras encantadas

O calor intenso que se fazia sentir por volta das quatro da tarde não convidava a visita ao Castelo de Silves. A rua de empedrado irregular sempre a subir mais sugeria que me acolhesse à sombra acolhedora de uma esplanada. Mas um sexto sentido empurrava-me para cima com a esperança de encontrar, quem sabe, alguma misteriosa moira encantada.


O meu primeiro encontro, porém, logo à entrada do castelo, foi com a estátua imponente de D. Sancho, segundo rei de Portugal, também conhecido como “O Povoador”, que em 1189 conquistou Silves aos mouros. Dizem os locais que a estátua que em tempos “morou” dentro do castelo foi colocada depois junto à entrada principal “por ele não pagar a renda”. Coisas do povo.


Enquanto admirava a figura altaneira de D. Sancho passaram por mim umas quantas pessoas. Deu para perceber que não eram turistas, tanto mais que usavam roupas com alguma formalidade e os saltos dos sapatos das senhoras, tão altos e tão finos, eram os menos indicados para pisarem aquele tipo de calçada.


Apesar de ao longo dos últimos quatro anos ter passado demasiado despercebido, reconheci imediatamente quem liderava o grupo, o Ministro do Ambiente Nunes Correia. Acalorados, dirigiram-se para a sombra de uns providenciais chapéus-de-sol ali “plantados” para cobrir umas quantas dúzias de cadeiras, um palanque de onde iriam ser proferidos uns discursos e uma mesa com o inevitável beberete, onde se viam vários tipos de bebidas e os imprescindíveis croquetes e similares.


Fiquei ainda um pouco junto dos pacientes motoristas dos carros oficiais, para tentar perceber o que se iria passar ali. Foi assim que ouvi parte do discurso inicial, dito pela senhora Presidente da Câmara Municipal. Primeiro foram as saudações às entidades presentes (que eram tão escassas que as tais dúzias de cadeiras foram ocupadas pela metade), logo seguidas de um palavreado mal dito, chato e longo. Apercebi-me que a cerimónia tinha alguma coisa a ver com o Programa Polis, o tal que foi tão criticado quando o inventaram mas a que todas as autarquias estendem a mão para dele poderem receber o dinheiro que lhes permitam modernizar e embelezar as suas terras.


Foi quando, entre um bocejo discreto e um limpar de rosto, uma brisa ténue me envolveu suavemente. Voltei as costas àquela plateia e dirigi-me de novo ao castelo. Enquanto subia, jurei que um dia que fosse ministro iria dispensar de bom grado aquele tipo de encenações e empadinhas. Passei por D. Sancho I, entrei no castelo e fui em busca das moiras encantadas.


segunda-feira, setembro 07, 2009

Fui eu!


Movido pelos remorsos que não paravam de me inquietar e, porque não dizê-lo, pela incompetência da Polícia Judiciária que, até ao momento, não arranjou um único culpado credível, resolvi dar a cara para vos dizer que FUI EU que estive por detrás do afastamento da Manuela Moura Guedes.


Ao confessar a minha culpa quero pedir-vos desculpa pelo tempo que gastaram a fazer conjecturas sobre quem poderia estar por detrás da tramóia, supostamente o Primeiro-Ministro, o Governo ou, eventualmente, alguém do Partido Socialista. Tanto mais que em vésperas de eleições, dava um jeito do caneco que o PS e o seu líder fossem os maus da fita.


A verdade, porém, é que o fim do Jornal Nacional da TVI e (presumo) da Manuela Moura Guedes, teve o meu dedinho. Errou redondamente quem mostrou tanta convicção de que os culpados eram José Sócrates, o Governo, o PS, Zapatero e o PSOE, a Prisa e o diabo a sete. Lamento ter desiludido o Dr. Pacheco Pereira e o Dr. Paulo Portas, os analistas e politólogos encartados e os responsáveis de partidos políticos que afirmaram categoricamente que este “saneamento” tinha sido uma jogada do Partido Socialista para calar uma boca desbocada, perdão, a voz incómoda de Manuela Moura Guedes.


Mas meus amigos, alguém terá dado crédito a tamanha possibilidade? Certamente que ninguém em seu perfeito juízo poderia acreditar em tão grande burrice do PS ou dos seus acólitos (por certo que haverá por lá uns tantos que deixam muito a desejar mas daí a serem todos tolinhos vai uma grande distância). Mesmo assim, a pulga terá ficado atrás de muita orelha. Por isso e para que se acabe de vez com as especulações, aqui estou a confessar que o verdadeiro culpado fui eu!


Arrependido? Nem por isso. Aquele jornal da Manuela mexia-me com os nervos. Não gostava do conteúdo, do estilo, do sensacionalismo e da demagogia de tudo aquilo. Acho que foi um belo serviço público que prestei ao país. E quanto à alegada “asfixia democrática”, tretas meus amigos, já vimos esse filme quando o Santana Lopes mandou afastar o Professor Marcelo e a democracia e a liberdade de imprensa não sofreram beliscaduras.


A campanha eleitoral em curso poderá servir-se desse (mau) argumento, mas o que os cidadãos querem realmente saber é o que é que os candidatos dos diversos partidos se propõem fazer por nós e pelo país. Mesmo tendo em conta todas as “asfixias” e o desconto que lhes devemos dar …



sexta-feira, setembro 04, 2009

Questão cultural?


O Algarve é das regiões onde nos meses de Verão o comércio se anima extraordinariamente e quase morre nos restantes. Sempre me lembro de ouvir dizer que os algarvios trabalhavam três meses no ano e descansavam nos demais. E a verdade é que ao longo dos anos fui conhecendo algumas pessoas que “se enchiam” em Julho, Agosto e Setembro e gozavam dos rendimentos até chegar a próxima época estival.


Tirando os exageros, até se percebe que o trabalho seja maior nestes meses, que se invista num esforço acrescido quando a população aumenta exponencialmente, que se tire, enfim, maior partido dessa situação e se repouse quando o alvoroço acaba.


É por isso que não entendo porque é que os vendedores de Bolas de Berlim – que não acabaram como muitos diziam ou quando a ASAE (parece que) pretendia – que toda a santa semana palmilham os areais a vender aquelas pequenas maravilhas a que poucos resistem, desaparecem, pura e simplesmente, aos domingos.


Eu sei que há direitos sagrados dos trabalhadores e que um deles é o de folgarem uma vez por semana mas, caramba, estamos a falar de três meses (no máximo) de um esforço suplementar. Será que alguém ficaria prejudicado por trabalhar um pouco mais nesta época? Tenho a certeza que nem os donos das fábricas e pastelarias que as fabricam, nem os empregados que vendem as Bolas se queixariam por mais umas horas extras. “Penso eu de que …”, como diria o boneco do Contra-Informação.


Tanto mais que constatei que nesses mesmos domingos em que não havia Bolas de Berlim nas praias, os africanos que povoam as ditas, vendendo óculos de sol, artesanato e bugigangas várias, lá andavam tentando vender aos banhistas o que, ao fim da tarde e noutros lugares, comercializavam em amplas exposições a céu aberto.


Nos mesmos domingos em que os chineses permaneciam firmes nas suas lojas desertas, de ruas igualmente despovoadas, à espera de um único cliente que fosse.


E os vendedores das Bolas, meus amigos, onde estavam eles? Mesmo considerando que até poderiam ter feito bom negócio naqueles dias, a verdade é que o domingo continua a ser sagrado. Provavelmente por uma questão cultural.