quinta-feira, outubro 29, 2009

Como o tempo passa


Parece que foi ontem e, sem darmos por isso, já passaram 40 anos. De tão presente que está na nossa vida, quase somos capazes de jurar que sempre tivemos ao nosso dispor esta magnífica “ferramenta” que dá pelo nome de e-mail. A fórmula mágica que nos permite enviar e receber mensagens a toda a hora, independentemente do lugar em que estejamos.


Pois é. Faz hoje 40 anos (29.10.1969) que foi enviada a primeira comunicação entre dois computadores situados em locais distantes.


Para além do significado relevante do facto, o curioso é que o texto dessa primeira mensagem electrónica continha apenas duas letras e um ponto – “LO.” – isto porque o sistema foi abaixo a meio da transmissão, antes mesmo do emissor conseguir escrever a palavra “LOGIN”.


Quarenta anos passaram. Apesar disso, o e-mail é cada vez mais importante em todo o Mundo quer pela facilidade de utilização quer pela possibilidade que dá em poder anexar ficheiros às mensagens.


Facilidade essa que, ao contrário de outros meios tecnológicos que entretanto surgiram, permitiu a adesão maciça de pessoas com vários tipos de instrução e, sobretudo, com as mais diferentes idades.


O e-mail faz hoje quarenta anos. Esta é a efeméride que queremos sublinhar. Ah, e já agora, já pensaram se conseguiriam sobreviver caso não tivessem internet e e-mail?

quarta-feira, outubro 28, 2009

A diferença

Se calhar não repararam. Talvez até nem se recordem do que aconteceu há quatro anos. Provavelmente não é importante.

Mas eu lembro que em 2005, aquando da tomada de posse do primeiro Governo chefiado por José Sócrates, enquanto os membros do Governo cessante e os representantes dos órgãos de soberania assistiram à cerimónia sentados, o então Presidente da República, Jorge Sampaio, e os membros do novo executivo, ficaram de pé.

Esta semana, porém, e pela primeira vez na História, os presentes na tomada de posse do XVIII Governo Constitucional, também liderado por Sócrates, todos estiveram sentados, todos mesmo, incluindo o Presidente da República e o Primeiro-Ministro.

Achei sensata esta medida e eles terão achado mais cómodo e … mais prudente. É que as emoções destes actos às vezes pregam partidas. Que o diga Cavaco Silva quando, precisamente numa cerimónia destas, se sentiu mal e desmaiou.

terça-feira, outubro 27, 2009

Violência


O Governo agora empossado tem pela frente tarefas bem difíceis para resolver. E urgentes. E não só na área económica.


A intervenção na justiça é, claramente, prioritária. Se até agora tem sido demasiado lenta e com enormíssimos problemas corporativos para resolver, a partir de ontem, e logo depois do jogo em que o Benfica bateu o Nacional da Madeira por 6 a 1, o Ministro Alberto Martins, recém-chegado ao Governo, tem pela frente uma dificuldade acrescida, um novo tipo de “criminalidade” que vem anunciado nas primeiras páginas dos jornais de hoje.


“Benfica arrasa com um bom Nacional”.


“… em que o Nacional foi bom … mas o Benfica é violento”


Mais, segundo revelou recentemente um jornal diário, as hostes da Luz, lideradas por Jorge Jesus prometem atacar de novo. E as expressões não deixam dúvidas:


“O Benfica 2009-10 devia ter um aviso à volta a dizer: atenção, perigo de explosão"


“Jorge Jesus (o actual treinador) vai lidar com a mesma dinamite com que Hagan (treinador entre 1972 e 1974) lidou”


“O Movimento das Forças Armadas já lá vai e agora Jesus tenta combater com armas para implodir qualquer defesa”


Perante estas ameaças, e mesmo contando com a solidariedade institucional manifestada ontem por Cavaco Silva no discurso de posse do novo Governo, José Sócrates vai ter que se esforçar muito. Urge acabar com tamanha e tão desproporcionada violência. A ver vamos.

segunda-feira, outubro 26, 2009

O ambiente agradece

Todos sabemos que a água é um bem escasso e que temos que a usar parcimoniosamente. E, em minha opinião, as pessoas já vão tendo alguma consciência dessa necessidade.

Porém, quando se toma conhecimento que uma ONG brasileira – a SOS Mata Atlântica – incentiva a prática do chichi durante o duche, é natural que alguns de nós possamos ficar um tanto ou quanto surpresos.

Digo alguns porque, segundo o resultado de um inquérito realizado na internet, cerca de 75% dos entrevistados admitiram que costumam fazer chichi enquanto tomam duche.

A grande questão, portanto, está em avaliar se com medidas deste tipo estamos, ou não, a preservar o ambiente. Dizem os especialistas que cada descarga de autoclismo chega a gastar 12 litros de água e que, consequentemente, seriam utilizados qualquer coisa como 4 380 litros de água potável por pessoa e por ano. Isto se cada cidadão se limitasse a um único chichi por dia, o que é altamente improvável.

Ainda que os tais peritos garantam que o chichi na banheira é inofensivo, embora o recomendem no início do duche, a verdade é que, culturalmente, não estamos para aí virados.

Quem sabe se a solução não passa por novos mecanismos de fluxos de água nos autoclismos ou pelo reaproveitamento de águas já utilizadas em banhos anteriores?

A propósito, lembro-me de uma antiga colega, recém-divorciada, a quem o ex-marido deixou duas filhas e uma longa lista de dívidas para pagar que, perante as dificuldades em satisfazer os compromissos, teve que “meter” um empréstimo ao Banco. Recusado o pedido deram-lhe, no entanto, algumas dicas para diminuir as despesas e poder começar a satisfazer os compromissos. Uma delas, a sugestão para que ela e as filhas só tomassem banho uma vez por semana.

Ora aí está uma boa maneira de pouparmos água. O ambiente agradece. A higiene pessoal é que não.

sexta-feira, outubro 23, 2009

Escândalos


Hoje trago-vos um inédito de Cesário Verde, de Agosto de 1874, que vi publicado no “Expresso” há uns tempos.


Dizia o semanário: “Aqui se transcreve, ipsis verbis (apesar de arrepios ortográficos, sobretudo no derradeiro e cínico verso, em resposta à mulher de fogo):



Escândalos



Fallava-lhe ella assim:

Não sei porque me odeia,

Não sei porque despreza a luz dos meus olhares,

Se o adoro com fervor, se não me julgo feia,

E o meu olhar eguala as chammas singulares

Do incêndio de Pompeia!


Instiga-me o aguilhão do vício fatigante,

E crava-me o capricho os vigorosos dentes,

Não quero o doce amor platónico de Dante

E sinto vir a febre as pulsações frequentes

Ao vel-o, ó meu amante!


As ancias, as paixões, os fogos, os ardores,

Allucinada e louca, eu vejo que abomina,

E ignoro com que fim, em tempos anteriores,

Enchia-me de gosto a bôca purpurina,

E o seio de calores!


E elle ao vel-a excitante, hysterica, exaltada,

Volveu lhe glacial, britannico, insolente:

“A tua exaltação decerto não me agrada,

E, ó minha libertina! eu quero-te somente

Para mecher salada!”


quarta-feira, outubro 21, 2009

Pregões


Ontem tive que me deslocar ao Porto e, deixem-me que lhes diga, não podia ter escolhido melhor dia para viajar. Apanhei chuva intensa todo o caminho, para lá e para cá, ventos fortes e vários acidentes graves. Um mimo para andar na estrada.


Durante a viagem e embora com toda a atenção que a condução exigia, o meu espírito foi divagando. Vá lá saber-se porquê (o tempo estava agreste e cheguei a ter frio), fui lembrar-me de gelados. E, claro está, não pude deixar de recordar outros tempos quando a alternativa, em termos de sabores, aos gelados de chocolate, de morango e de baunilha eram precisamente o chocolate, o morango e a baunilha.


Nessa época só se comia gelados no Verão e o sítio mais apropriado para o fazer era, naturalmente, a praia, depois de um belo banho de mar, de preferência daqueles em que os “banheiros” nos davam uns quantos mergulhos (que nós detestávamos) que eram obrigatórios porque os nossos papás acreditavam que os tais mergulhos nos protegeriam de várias maleitas, nomeadamente ao nível das vias respiratórias.


E quando o pregão do homem dos gelados irrompia pelos ares enchendo a praia, os nossos corações de crianças ficavam naturalmente sobressaltados.


“Olha o gelado fresquinho”, ou


“Fruta ou chocolate”, ou ainda


“Rajá fresquinhoooooooooo! olha o Rajá”


Rajá, para quem não tem essa memória, era uma das poucas marcas de gelados existentes no mercado da época e que por ser a mais conhecida, levava as pessoas a pedirem um Rajá, ainda que aquela não fosse a marca que estava perante nós ou que o gelado fosse tão artesanal que nem sequer tivesse qualquer marca.


Mas o pregão do vendedor dos gelados era, nesse tempo, tão aliciante, tão saborosamente desejado por miúdos e graúdos como os anúncios, também eles apelativos, de


“Bolos, olha os bolos fresquinhos”, ou


“Bola de Berlim, olha o Pastel de Nata”


Bolos que saíam do interior de caixas de folha branca, que os vendedores carregavam penosamente sobre a areia, muitas vezes demasiado quente, e quase sempre em equilíbrios instáveis sobre as cabeças.


Um outro pregão que desatinava toda a gente era


“Língua da sogra, olha a língua da sogra estaladiça”


Para muitos, a “língua da sogra” que se vendia na praia, era a única coisa boa que existia, em termos de sogra. Mas o que era, afinal? Era, ao fim e ao cabo, uma massa que faz lembrar a do actual cone de gelado mas redonda e menos dura.


O vendedor trazia a tiracolo uma caixa vermelha cilíndrica e de dentro dela tirava a quantidade de unidades que eram pedidas pelos clientes. Algumas dessas caixas tinham uma particularidade. Na parte exterior da tampa havia uma espécie de roleta, que o comprador fazia girar e cujo resultado determinava o número de “línguas da sogra” a que teria direito.


Outros tempos. Tempos em que o marketing e a publicidade eram substituídos pela ingenuidade e pelo capricho dos veraneantes e onde não havia sequer estudos de mercado. Outros tempos em que os vendedores de praia nem sequer necessitavam gritar


“Chora, chora, que o papá compra!”


terça-feira, outubro 20, 2009

Triste sina


Há dias vi um artigo que dizia que o número de portugueses que emigrava era infinitamente maior do que os estrangeiros que pediam acolhimento no nosso país.


No Expresso do último sábado foi publicada uma notícia que referia que mais de 100 licenciados deixam o país todos os meses. Falta de saídas profissionais, trabalho mal remunerado ou mesmo não remunerado fazem emigrar centenas de jovens licenciados para outros países onde vão encontrar o conforto de um salário superior ao que poderiam encontrar por cá e um reconhecimento que no seu país também não encontrariam.


E a fuga de jovens qualificados, de todas as áreas, é cada vez maior. Segundo o Banco Mundial, Portugal é o terceiro país da OCDE mais afectado pela debandada, apenas atrás da Irlanda e da Nova Zelândia. Da Irlanda que está ainda pior do que nós e para onde, curiosamente, o nosso país tanto “exporta” estes jovens talentos.


Quanto aos que não querem ou não podem “dar o salto” vão tentando sobreviver com empregos precários em call centers, balcões de cafés ou pastelarias ou, para os mais sortudos, com a ajuda familiar.


Eu sei que não existem lugares que cheguem para todos. Mas será que, quando tanto se fala em melhorar o crescimento económico e em mais e melhor educação, nos podemos dar ao luxo de desprezar uma mais-valia desta importância? Tanto mais que apenas 9,6 por cento dos portugueses têm habilitação superior, um dos valores mais baixos da OCDE.


Pois é, não só temos muito poucos licenciados como nem sequer a estes conseguimos dar-lhes trabalho capaz. Por outras palavras, desprezamos o investimento que é feito e vamo-nos preparando para ver partir os nossos jovens. Triste sina esta.




segunda-feira, outubro 19, 2009

Bloqueios


Acreditem que o assunto de hoje nada tem a ver com o facto de muitos Amigos nossos não poderem aceder ao meu blogue “Baú” a partir dos seus locais de trabalho. Isto porque o blogue só apresenta vídeos do YouTube, cujo acesso não é autorizado em muitas empresas.


E a questão das empresas permitirem ou não que os seus colaboradores utilizem – durante o trabalho - as denominadas redes sociais é altamente polémica. A meu ver, pode até acontecer que todas as partes tenham pelo menos um bocadinho de razão. Tal como os partidos em dia de eleições, em que todos ganham.


Vejamos, então, os argumentos.


Dizem as empresas – quer as do sector privado quer as do público - que, pelo facto dos trabalhadores andarem a “viajar” pelos blogues, no twitter, no Messenger e quejandos, a produtividade é reduzida e pode até provocar problemas de segurança no que respeita à protecção de dados. Daí que estejam a adoptar, cada vez mais em todo o mundo, o bloqueamento das páginas da chamada Web 2.0, a internet dos blogues e das redes sociais.


Por outro lado, dizem os trabalhadores, e há um estudo da Universidade de Melbourne que vai no mesmo sentido, que a possibilidade de estarem “ligados” é fundamental para o bem-estar e equilíbrio dos funcionários.


E se a proibição é defensável, quando se sabe que as PME portuguesas suportam cerca de 1,5 milhões de euros por ano pela utilização da net por cinco minutos diários gastos pelos seus trabalhadores, custo esse que pode chegar aos 18 milhões se o tempo passar dos cinco minutos para uma hora, há também quem defenda que 20% do tempo passado no escritório, se gasto com a internet, pode fazer recuperar a concentração dos colaboradores e aumentar a produtividade.


Ainda bem que não tenho que decidir a contenda. Tanto mais que ainda sou do tempo em que o horário de trabalho – de oito e mais tarde de sete horas – eram mesmo para trabalhar com apenas breves instantes de intervalo, os suficientes para beber um café e para almoçar. E ninguém pensava, como alguns agora proclamam, que mais de 20 minutos seguidos de concentração são uma violência para o nosso cérebro.


A sensatez é um bem inestimável. Seria bom que todos pensassem em colocar-se, um bocadinho que fosse, na pele da parte contrária.


Bom senso e diálogo poderão ser as palavras-chave para a resolução do problema. E, claro, regras de funcionamento prévia e convenientemente estabelecidas.


Ah, e quanto a acederem ao “Baú”, se não podem fazê-lo enquanto estão a trabalhar, façam-no pelo menos quando chegarem a casa. São capazes de gostar.



sexta-feira, outubro 16, 2009

Inacreditável




Candidato nas listas do PSD por Braga, João de Deus Pinheiro renunciou ao mandato de deputado, logo no primeiro dia de trabalhos do Parlamento. Aliás, ao fim da manhã do primeiro dia.


Por motivos pessoais, disse ele ao Expresso. Não duvido que essas razões tenham sido muito fortes já que fez uma campanha para ser eleito, já que convenceu os eleitores a elegerem-no, já que não se importou em defraudar as expectativas de quem o elegeu nem a confiança da líder do seu partido que o nomeou para cabeça de lista pelo Distrito.


Cansou-se cedo demais de uma Assembleia que se prevê animada nos próximos tempos. E por cansaço, desilusão, desinteresse ou pelos tais motivos pessoais fortes, anunciou rapidamente a renúncia. Há quem diga que o verdadeiro motivo foi outro, a promessa de Manuela Ferreira Leite em dar-lhe a Presidência do Parlamento caso o PSD ganhasse as legislativas, o que não veio a acontecer.


Inacreditável, de qualquer forma. Mais um golpe que desprestigia a classe política portuguesa, já tão debilitada perante a opinião pública. E, neste caso, mesmo que ele tivesse todas as razões para ter dado o passo atrás, a vergonha e o brio do ex-ministro e ex-deputado europeu deveriam tê-lo obrigado a seguir aquele ditado brasileiro:


“Ajoelhou, tem que rezar”


Seria mais digno.

quinta-feira, outubro 15, 2009

Transtornos


Há tempos que o assunto me inquietava. Como poderia continuar a aceitar a uma situação tão injusta que afectava centenas de trabalhadores, ainda por cima trabalhadores que ganham salários tão baixos (cerca de seis mil euros mensais mais 298 euros de “diária”)? Felizmente imperou o bom senso e a coisa resolveu-se. Ainda bem.


Na verdade, não era admissível, não era justo, que os eurodeputados há pouco eleitos continuassem a passar pelos incómodos provocados pelos tempos perdidos nas viagens. Até que foi decidido compensá-los por isso. Como? Dando-lhes mais uns trocos. Um denominado subsídio de “tempo perdido”, aquilo a que eles próprios chamam o “subsídio de transtorno”. E sabemos bem como as viagens causam imensos transtornos.


A solução que, naturalmente, peca por tardia, em termos económicos não teve grande impacto. Ao que sabemos, a rubrica orçamental teve um pequeno aumento de 32 milhões. Nada de especial, portanto, apenas um acréscimo de trinta e dois milhõeszitos de euros no orçamento para compensar os tais sacrifícios. Um pequeno aumento que ninguém estranha mesmo sabendo que na presente legislatura há menos 49 deputados do que na anterior.


Para mais não nos devemos esquecer que uma viagem até Bruxelas ou Estrasburgo pode durar, consoante o local de origem dos deputados, umas duas horas em média. O mesmo tempo que eu levo em dias de chuva e de tráfego completamente impossível para me deslocar até ao emprego que dista uns curtos 20 quilómetros da minha casa. Só que eu não recebo subsídios de compensação que me comprem uma reles embalagem de calmantes. Mas, também, o meu salário não se compara nada ao dos senhores eurodeputados. Infelizmente.

quarta-feira, outubro 14, 2009

"Olvidame"


Nunca fui muito chegado ao uso de t-shirts com desenhos ou frases estampados na frente ou no verso das camisetas, quando não em ambos os lados. Umas de tipo turístico, do género “Recuerdo de Punta Cana”, “Amo-te Ericeira” ou “Já fui muito feliz na Praia do Meco”. Outras com cariz puramente informativo como “Cada povo tem o Governo que merece” ou “Eu não votei no PS”. Outras ainda com chancelas publicitárias ou com assuntos a puxar pela imaginação mais ou menos criativa de cada um.


Como aquelas que vi num concorrido restaurante algarvio “A inveja mata, a sardinha trata” e “Já vou, Porra!!!” Ou aquela outra que era vestida por um jovem que dizia “Eu fui feito numa Bimby”.


Mas embasbacado mesmo foi como fiquei quando dei de caras com uma miúda muito, muito gira, que vestia uma t-shirt de um verde lindo sobre o qual tinha estampada a palavra “OLVIDAME”. Surpreendido primeiro, apalermado depois, o certo é que não consegui desviar o olhar daquele conjunto tão, como dizer, tão harmonioso.


O verde era magnético e as letras divinais. Bem desenhadas, fortes, desafiadoras e bem colocadas num enquadramento perfeito. O design não podia ter sido melhor conseguido e as letras O e E estavam, como percebem, e como diriam “nuestros hermanos”, “em su sítio”.


Um espanto, um desafio, uma provocação!


“OLVIDAME”, apesar da falta do hífen (melhor seria olvida-me) era claramente um pedido a que ninguém poderia obedecer. Mesmo que quisesse.


terça-feira, outubro 13, 2009

O Prémio Nobel


A atribuição do Prémio Nobel ao Presidente Americano fez-me lembrar um colega meu, por sinal um tipo inteligente mas pouco amigo de trabalhar e a quem não se podia pedir que cumprisse prazos que, em determinada altura, reclamava uma promoção ao nosso Director.


E porque ninguém lhe enxergava mérito suficiente para que ele fosse promovido por … mérito, ele argumentava que o prémio dever-lhe-ia ser entregue não pelo trabalho desenvolvido mas pelas suas (reconhecidas) capacidades.



Barack Obama ganhou o Nobel mas não obteve o aplauso unânime. Muita gente em todo o mundo pensou que menos de um ano de mandato à frente do país mais poderoso do universo não é tempo suficiente para justificar um galardão desta natureza. Pelo menos por enquanto. Talvez mais tarde …


Há quem, no entanto, afirme que a distinção pode ser interpretada como uma “mensageira de paz”, inspiradora, quiçá, de rumos mais consistentes na pacificação de certas regiões que teimam em sobressaltar as nossas existências.


O Afeganistão, o Irão, o conflito entre Israel e a Palestina são apenas exemplos de situações que já mereceram tomadas de posição firmes da Administração Americana. Mas os resultados são ténues ou ainda inexistentes.


Daí a minha convicção de que os esforços de Obama, embora meritórios e denotando uma grande coragem e determinação, são por ora insuficientes para que sejam merecedores desta tão alta distinção.



Por uma questão de princípio, sempre considerei que os prémios devem ser atribuídos aos que vencem e não aos que se limitam a ser jeitosos ou que, eventualmente, possam vir a ter sucesso.


Razão tinha o meu Director quando achou que não deveria promover o tal colega só porque tinha imensas capacidades. A promoção chegaria no dia em que ele resolvesse desenvolvê-las capazmente.






segunda-feira, outubro 12, 2009

Já ganhámos (outra vez)

Quem leu o texto que aqui publiquei em 28 de Setembro último, no rescaldo das legislativas, com o título “Já ganhámos”, terá constatado que eu não estava a referir-me às vitórias partidárias vibrantemente proclamadas por todos as forças políticas.

Desta feita, nesta nova versão do “Já ganhámos”, a que acrescentei o (outra vez) para disfarçar, também não pretendo analisar os resultados eleitorais das eleições autárquicas que ontem se realizaram. No entanto, não posso deixar de verificar que os maiores partidos, PS e PSD, conseguiram ganhar os dois.

Quem perdeu foi Fátima Felgueiras em … Felgueiras. O que vem confirmar que o povo é sábio, só que às vezes anda distraído.

Entendamo-nos, pois. O que eu queria dizer agora com o “Já ganhámos” é que no jogo do sábado passado, a nossa selecção principal de futebol conseguiu ganhar. Merecidamente, de resto, e mantendo a esperança de nos podermos classificar para o Mundial da África do Sul. Foi apenas isso.

quinta-feira, outubro 08, 2009

Um olhar sobre o comportamento humano


Nunca tinha ouvido falar de Gilberto de Nucci. Porém, um e-mail que recebi fez-me conhecer este brasileiro que é médico, cientista, professor universitário e membro da Academia Brasileira de Medicina.


E embora não seja um filósofo, o seu pensamento, que transcrevo, sobre a imagem do comportamento humano é de uma grande sabedoria:


“Os homens caminham pela face da Terra em linha indiana, cada um carregando uma sacola na frente e outra atrás.

Na sacola da frente nós colocamos as nossas qualidades. Na sacola detrás guardamos todos os nossos defeitos.

Por isso, durante a jornada pela vida, mantemos os olhos fixos nas virtudes que possuímos, presas ao nosso peito. Ao mesmo tempo, reparamos impiedosamente nas costas do companheiro que vai à nossa frente todos os defeitos que ele possui.

E julgamo-nos melhores do que ele, sem perceber que a pessoa que está atrás de nós, está pensando a mesma coisa a nosso respeito”.


Muito curiosa esta reflexão.


quarta-feira, outubro 07, 2009

De pé


Juro que até há pouco não entendia porque é que as pessoas aplaudiam de pé o final das representações de teatro e de ópera.


Eu acho que os artistas iriam ficar eternamente agradecidos mesmo que o público batesse as palmas sentadinho no remanso das suas cadeiras.


Mas não. Baixa o pano, a comoção salta e o público, como impelido por molas, levanta-se e aplaude arrebatadamente.


Pois só agora percebi essa necessidade colectiva de se erguerem de repente. Não é apenas para mostrarem o seu entusiasmo nem para distenderem as pernas encolhidas durante o espectáculo. Não, a verdade é outra.


É que quando se levantam uns quantos espectadores das primeiras filas, os que estão atrás deixam de ver o palco e, a partir daí, vá de se porem todos de pé. É o suficiente para que um teatro inteiro exulte – em pé - pelo espectáculo a que assistiram.


O que me falta compreender ainda é a razão que leva os tais espectadores entusiastas (e de pé), levados por uma emoção extrema, a gritarem até à exaustão “Bravô”, “Bravô”, “Bravô”. Bastar-lhes-ia dizer BRAVO à portuguesa, era mais nosso, mais genuíno. Enfim, na falta de melhor explicação, acredito que tudo não passe de um mero vociferar bacoco.


terça-feira, outubro 06, 2009

A justificação técnica



Depois de há poucas semanas ter caído uma falésia na Praia Maria Luísa, em Albufeira, que vitimou cinco pessoas, registou-se agora nova derrocada numa outra praia algarvia, a de Santa Eulália, desta vez e felizmente sem danos pessoais.


De repente, as rochas que tanto embelezam as nossas praias parecem ter entrado em colapso. Provavelmente pela erosão do tempo, pensava eu, que percebo pouco destas questões.


Pensava mal. Os especialistas já apresentaram uma explicação bem mais técnica e sofisticada. Segundo a Administração Hidrográfica do Algarve o desmoronamento das arribas deveu-se a, calculem, “fadiga do material”. Nem mais, palavra de perito.


É que estas coisas das palavras e do seu significado tem muito que se lhe diga. Os termos têm um sentido rigoroso e o seu uso não pode ser empregue à toa.


Na verdade, “Fadiga do material” não é a mesma coisa que erosão (corrosão lenta) das areias das encostas provocada por ventos e mares. Uma coisa é uma coisa e uma outra coisa é uma outra coisa, compreendem?




quinta-feira, outubro 01, 2009

“Cadê” o contrato?


Hoje pensei fazer gazeta. Sinto-me cansado, demasiado cansado. Não que tivesse feito um esforço extraordinário durante o dia mas, confesso, fiquei muito fatigado só por pensar no trabalho árduo que tiveram os Procuradores do Ministério Público ao entrarem em vários escritórios de advogados à procura de provas sobre o negócio da compra de dois submarinos conduzido, em 2004, por Paulo Portas, então Ministro da Defesa.


Os coitados continuam a procurar o rasto de 30 milhões de euros pagos, a título de comissão, por uma empresa alemã não se sabe a quem. Isto é, os investigadores andam na peugada de quem foi subornado.


Porém, a coisa não está fácil. Eu sei que há só três anos que o processo dos submarinos foi aberto mas o povo começa a não acreditar que se venha sequer a descobrir o fiozinho à meada. Pois se ainda nem encontraram o contrato de financiamento para aquisição dos ditos submarinos. Os investigadores bem vasculharam computadores e recolheram toneladas de documentos mas o tal contrato está definitivamente desaparecido. Ouvi há pouco no telejornal o Francisco Louçã sugerir que pedissem ao Dr. Portas que procurasse nas 61 893 fotocópias que tirou quando era o titular da Defesa se era capaz de descobrir o documento entre as outras fotocópias. Mas não sei se o Louçã estava a gracejar.


O que sei é que para ajudar à festa, num dos escritórios visitados, o trabalho dos especialistas teve um contratempo – um arreliador “problema informático” atrasou a busca. Bendito problema que veio na hora certa.


Reconheço os esforços das autoridades mas continuo a não perceber como é que depois de tanta investigação, ainda não se lembraram de convocar o Ex-Ministro da Defesa para depor.

Mas isso são conjecturas minhas. Afinal, sou um leigo na matéria.